quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

KNS049.07. Duas mulheres apaixonadas

Ao passar em frente do «saloon de Mabel decidiu entrar, impulsionado por uma súbita atração. As notas que o piano lançava eram atrativas, e tinham o som próprio para dor mir. Empurrou os batentes e entrou. O «saloon» não estava muito concorrido dados os acontecimentos, mas sim animada.
O que tocava o piano, acompanhava o compasso com todo o corpo, pretendendo que «artista» que se encontrava no palco encontrasse por sua vez o ritmo da música. Encostou-se ao balcão e um criado aproximou-se com uma garrafa.
Tinham sido vários os que o haviam reconhecido, dedicando-se a comentários com os vizinhos. Bebia, quando sentiu a presença de alguém muito próximo de si.
Olhou para o espelho viu Eva. Vestia inteiramente de azul, e o decote era mais discreto do que o que tinha na diligência. Estava muito pintada, mas mesmo assim a cor não era exagerada.
— Julgava-o noutro lugar, Ken.
— E eu a ti. Não temes exibir-te em público?
— Tombstone não tem nem um só amigo de Patton.
— Mas hão de vir.
— Penso da mesma maneira, mas desta vez não me vou embora.
— Porquê?
— Pelo menos só.
Ken interessou-se pelo «whisky».
— Perdoa. Tenho pena.
Bebeu de um trago e procurou uma moeda no bolso.
— A casa paga, Ken. Não se incomode.
— Está bem. Obrigado.
Ia a voltar-se quando a mão feminina lhe agarrou o braço.
— Não tem nada a dizer-me?
 Abanou a cabeça.
— Descansa, Eva. Bem o precisas.
Voltou-lhe as costas e afastou-se na direção da porta. No olhar da rapariga havia uma expressão que não sabia dominar. Mabel aproximou-se dela ainda os batentes não tinham parado da passagem de Ken.
— Não tiveste êxito?
A jovem voltou-se, triste.
— E sem dúvida, amo-o, Mabel.
A dona do «saloon» concordou.
— Eu sei — disse com voz triste.
Eva adivinhou.
— Mabel! — agarrou-a pelos braços, olhando-a fixamente no fundo dos olhos. —Tu também o amas?
Mabel desviou os olhos.
— Que coisas dizes, rapariga.
— Sim! Tu ama-lo!
A formosa mulher fechou os olhos e sacudiu a cabeça.
— Só pode ser para ti.
Eva levou Mabel para o interior do edifício, longe do olhar dos homens. Uma vez num pequeno salão, a jovem insistiu:
— Porque não me disseste antes?
— Estas coisas é melhor tê-las guardadas São... penosas.
— Penoso amar um homem como Ken?
— Não ser correspondida, Eva. Eu não posso pensar nessas coisas. Na minha idade. — Suspirou. — Mas tu és jovem e bonita. Não deixes que saia da tua vida. É a tua grande oportunidade.
Eva torceu as mãos.
— Está tão distante! ...
— Quem sabe se o tens mais próximo dl que imaginas.
— Não é possível. Bem viste a pressa com que se foi embora.
— Ken é tímido.
— Não pode esquecer que é juiz e eu... uma mulher com quem não pode estar seguro.
— Porque dizes isso? Nunca cometeste nenhuma loucura.
— Mas vivo no ambiente de um «saloon» e os homens como Ken, não o esquecem nunca
— Não te dês por vencida antes de luta, Eva. Vai ter com ele e fala-lhe.
— Agora?
— Sim, imediatamente. Não guardes par amanhã, pois pode ser tarde demais.
E dizendo isto, Mabel empurrou-a para a saída do «saloon», ao mesmo tempo que lhe punha pelas costas um xale de cor escura. E assim, envolta nele, Eva saiu para a rua, ao encontro de Ken.

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