Alan Skenton refreou o galope da sua montada e fez que esta se detivesse à beira daquele plaino cinzento e ocre, salpicado de onde em onde de peque-nos e grande catos. Tudo o que o seu olhar alcançava não oferecia particularidade alguma a não ser monotonia e desolação. Nem sequer o rastro de um coiote à distância, nem a mais leve espiral de pó deixavam entrever a possibilidade de existir ali o menor sinal de vida. E, no entanto, Alan estava certo de que. em algum sítio daquela planície estava Walburg com a sua meia centena de casas e o seu acampamento mineiro, à parte as granjas que ainda subsistiam e que eram tudo o que restava dos primeiros colonizadores da região.
Em Dewberry tinham-lhe dito que podia ir até Walburg, sem necessidade de apertar o galope do cavalo, em menos de cinco horas. O dia já estava a declinar e ainda não tinha conseguido achar o menor indício da situação da povoação.
Indubitavelmente, tinha-se desviado do verdadeiro caminho, pensou Alan. Mas, ainda que assim fosse, Walburg não podia estar longe. Talvez subindo ao alto de uma das colinas que lhe cortavam o passo em direção ao norte, se conseguisse orientar e chegar à cidade antes que fosse noite.
Retomou a marcha o encaminhou-se para as elevações que se recortavam sobre um céu azul-turquesa puríssimo. Mas naquelas zonas as distâncias são enganadoras, e isso comprovou Alan pois quando atingiu o sítio que tinha escolhido de antemão já a luz do dia era exígua.
Do outro lado das colinas abria-se uma sucessão de montanhas. Entre duas cadeias que iam elevando gradualmente a sua altura estendia-se um extenso vale. As sombras da noite impediam de distinguir qualquer espécie de construção, mas O olhar penetrante de Alan fixou-se num ponto luminoso que ressaltava das sombras que invadiam a depressão.
Olhou durante algum tempo naquela direção.
Ali havia gente, disse para consigo o rapaz. Era a luz vinda do interior de uma casa, já que, se se tratasse de uma fogueira, teria visto o revolutear das labaredas.
A certeza de que se achava sobre o bom caminho fez que a confiança renascesse no espírito de Alan. Obrigou o seu cavalo a descer a encosta e uns minutos mais tarde encontrava-se à entrada do vale.
Naquele momento o seu ouvido sensível ouviu o ruído dum cavalo lançado a galope. Deteve-se e tratou de verificar qual era a direção que levava; mas o ruído dos cascos foi-se apagando até cessar completamente.
Alan continuou até ao sítio onde tinha visto luz. As árvores encobriam agora a pressuposta casa e via-se obrigado a orientar-se fiado na sua intuição. Estava a agora a percorrer uma região totalmente diferente da que acabava de deixar para trás. O deserto parecia detido no sopé das colinas e, do lado de cá, começava uma região de características muito diferentes. Ali havia vegetação e a vegetação era um indício evidente de que a água não era escassa por ali.
Ao sair daquele disseminado de árvores e arbustos, descobriu de novo a luz que o tinha levado até ali. Estava muito perto e a sua forma retangular advertiu-o que se tratava de uma janela.
Ali havia uma casa e os seus moradores o ajudariam a encaminhar-se para Walburg sem ser necessário andar em pesquisas numa terra que não conhecia sequer um palmo.
Desmontou a pouca distância da casa. Tratava-se duma construção simples, como a de qualquer granja que tinha visto em Dewberry. Um cavalo estava preso a urna estaca, e Alan recordou o galope que tinha ouvido pouco antes.
Naquele momento, um grito lancinante rasgou o silêncio daquelas paragens. Vinha do interior dia casa, e, disso estava certo o rapaz, tratava-se da voz angustiada de uma mulher.
Imediatamente todo o seu corpo sentiu um brusco sacão e os músculos tornaram-se tensos. Abandonou as rédeas do cavalo e lançou-se em direção à porta da granja.
Ao subir os quatro degraus de madeira, escutou ruído de um objeto caindo com estrépito. Depois ouviu uma voz excitada, alterada por um marcado tom de terror e ódio.
Alan não esperou mais. Empurrou a porta e deteve-se no umbral.
A diviso era pequena e estava debilmente iluminada Havia uma pequena mesa tombada e junto a ela um homem e uma mulher lutavam denodadamente. Nenhum dos dois se tinha apercebido da sua entrada. Alan sentiu a respiração arquejante da mulher e as maldições daquele energúmeno que se esforçava por dominá-la.
Dum salto, chegou junto a eles. Agarrando o homem pela camisa, puxou-o com tal força que o separou imediatamente da jovem. O agressor, surpreendido, cravou no rapar um pilhar terrível, cheio de ódio e rancor.
— Mas quem diabo...? — vociferou, apoiando-se na parede da casa.
Sem terminar a sua exclamação, saltou como uma pantera em direção daquele inesperado visitante, mas Alan, que não ignorava as suas intenções, saltou para o lado. O homem encontrou-se então com um punho de ferro que se projetava violentamente contra o seu rosto, fazendo-o cambalear e cair de costas.
Do chão, olhou, aturdido, o seu atacante. E nesse olhar brilhou o desejo de matar. Mas Alan conhecia muito bem o significado por o já ter visto em outras pessoas e preparou-se para replicar adequadamente.
Atirou-se sobre ele no momento preciso em que este fechava já a mão sobre a coronha do revólver que trazia no coldre. Alan agarrou-lhe no braço e conseguiu desviar-lhe o tiro, que foi cravar-se no teto. Com a outra mão golpeou o rosto do enfurecido agressor, que respondeu castigando os flancos do rapaz. Alan, levantando-se um pouco, golpeou com o joelho o queixo do seu contendor, que dobrou a cabeça para trás e ficou estendido sobre o soalho da sala.
De pé, a um passo do caído, Alan observou os dois protagonistas da estranha cena. O homem teria uns quarenta anos e tinha o especto de, ser um proprietário daqueles, sítios. A mulher era ainda bastante jovem; provavelmente não contaria ainda mais do que vinte e três anos. Era esbelta e de feições delicadas, mas descobria-se nela uma estranha energia que explicava a resistência oferecida ao seu agressor até ele fazer a sua aparição.
— O que é. que esse homem queria? --- apontando ..para o que jazia no Chão, e que •Se levan-tava penosamente.
— Veio .:aqui porque sabia que eu estava só!. — ex-clamou a• jovem, tremendo ainda .com a exaltação da luta. — NãO é a priineiTa vez que insiste nas suas; pre-tensões, mas agora... — e a sua voz quebrou-se num soluço — estou só. Julgou que era uma presa fácil para os seus repugnantes propósitos.
— Quem te manda meter nisto? -- falou desta vez homem, .61hanclo Alan . oóm ódio.
— Devia esborrachar-te a cara — advertiu-o Alan. —Só os .coiotes e as, hienas atacam vítimas indefesai!
O homem tinha-se levantado e procurava o revólver que tinha caído para um canto. , -7-
— Isto vai-te custar caro, intrometido — ia dizendo. — Nunca ninguém se ficou a rir de mim.
Ia a apanhar o revólver, mas Alan, adiantando-se--lhe, deu-lhe um pontapé, afastando-o para longe do seu alcance.
— Vai ter que se ir embora sem esse brinquedo — disse-lhe enquanto estendia o braço indicando-lhe a porta. — E procure não voltar se não quer que o receba de uma forma menos agradável!
O homem olhou-o com ódio e apanhou o chapéu que lhe tinha caído no chão nos primeiros momentos de luta com a rapariga. Ao chegar à porta voltou-se para olhar para os dois.
— Saiba que eu tenho o direito a fazer isto! — advertiu-o, sombriamente. — A casa e as terras pertencem-me! Há já um ano que não recebo nem pó do que estava estipulado! A lei protege-me e ela a fará sair daqui! E a ti — dirigiu-se a Skenton — digo-te que te vais arrepender de te teres metido no meu caminho!
Alan avançou até à porta e viu aquele homem montar a cavalo e afastar-se da granja.
Só então, ao apagar-se o rumor dos cascos do cavalo, na distância, decidiu voltar-se para a linda dona da casa.
— Não tenha medo — sorriu ao vê-la assustada — pelo menos, esta noite não voltará.
Foi até junto da mesa que estava voltada e colocou-a de novo em pé. Depois dirigiu-se para o revólver que tinha ficado abandonado no solo e apanhou-o. Examinou-o com atenção e então viu que ela se aproximava silenciosamente.
— Obrigada por tudo — disse timidamente. — Chegou no momento oportuno.
— Não tem importância — riu Alan, deixando a arma sobre a mesa. — O acaso quis que eu chegasse a tempo para a ajudar. Estava precisamente à procura de um lugar chamado Walburg quando de um montículo descobri a luz desta janela.
— Vai a Walburg? — perguntou ela curiosa.
— Sim. Estou muito longe?
A rapariga negou.
— Walburg é mais ou menos a três milhas.
Alan deixou a arma e examinou de novo a sala.
— Este sujeito veio em busca de algo — disse. — É o dono disto?
— Sim — assentiu ela. — O meu pai trabalhou dia e noite para lhe pagar o arrendamento e não conseguiu.
— O seu pai? Onde está ele?
— Morreu.
Alan guardou silêncio. Tinha a intuição da tragédia que envolvia a vida da rapariga e não quis continuar perguntando.
— Morreu assassinado há quinze dias — murmurou ela, reprimindo um soluço. — Dispararam sobre ele pelas costas à traição. Se assim não tivesse sido...
— Compreendo... — disse Alan enquanto olhava para fora, vigiando o seu cavalo, que tinha ficado solto. — Não tem nenhum parente com quem possa viver?
— Não. Pensei que eu mesma poderia ficar nesta casa. Dou lições... sou a mestra da escola — explicou, aproximando-se do jovem. — E como é que tenciona ir para Walburg sem levar armas?
— Não vejo necessidade de as levar — sorriu Alan. — A minha profissão é pacífica.
— O que acaba de acontecer demonstra-lhe a necessidade de trazer sempre consigo um revólver. Walburg o tipo de povoações que nunca sabe o que é a paz e o sossego.
— Estarei prevenido.
— Oh! — corou a rapariga. — Não tenho feito outra coisa senão falar e nem sequer disse o meu nome. Chamo-me Ethel Conway. Esta é a minha casa. Pertence ao homem que acaba de sair e estou atrasada no pagamento... Agora não hesitará em me pôr fora daqui.
— Não o duvido — concordou Alan. -- Esta noite estava exprimindo-se de um modo muito claro.
— É um canalha -- murmurou ela com ódio. — Veio aqui para exigir e depois tentou abusar da sua força. Mas aquilo que você lhe fez nunca lhe perdoará. Vai trabalhar para Walburg?
— É isso que aqui me traz — sorriu ele voltando para junto da mesa. — Terei de continuar o meu caminho, pois já e noite. Não creio que aquele sujeito se torne a aventurar hoje por aqui.
Ethel arranjou com um gesto instintivo o cabelo e dirigiu-se para uma porta que comunicava com o interior.
— Desejaria expressar a minha gratidão de alguma forma — disse hesitante. — Quer jantar comigo?
— Seria causar-lhe muita maçada — desculpou-se Alan, tomando o chapéu que tinha deixado ficar em cima de uma cadeira.
— Oh! Não! De modo algum! Vem de muito longe e por certo terá apetite. Além disso, gostava que contasse coisas que acontecem noutros lugares. Aqui vivemos tão afastados do resto do mundo...
Alan tornou a pousar o chapéu e abriu os braços com um ar resignado.
— Já que assim o deseja...
Ethel entrou na cozinha, mas regressou pouco depois. Alan estava observando uns pequenos quadros que estavam sobre a lareira.
— É a autora deste quadro? ---- perguntou-lhe, apontando umas iniciais que se viam no ângulo inferior esquerdo.
— Sim — assentiu, aproximando-se dele. -- Tive um professor muito paciente. Era um homem que tinha vindo para Walburg há muito tempo. Ensinou-me a pintar e ofereceu-me as suas pinturas. Morreu há dois anos -- acrescentou com ar de pena.
Alan levantou a cabeça e aspirou o aroma do guisado que vinha da cozinha. Ela viu o gesto e riu-se.
— Tudo o que você faz, faz às mil maravilhas — elogiou Alan.
— É possível que mude de opinião quando me conhecer melhor. Vai estar muito tempo em Walburg?
— Não sei. Vim para aqui, com um contrato para a extração do petróleo. Acabo de terminar os meus estudos em St. Louis e esta é a minha primeira oportunidade.
— Engenheiro?
— Sim disse Alan. — Foi um proprietário de Walburg que me mandou buscar. Chama-se Cassley. Deve ser muito conhecido por aqui.
— Cassley? — murmurou Ethel surpreendida. — Sam Cassley?
— É seu amigo?
Alan viu que Ethel empalidecia.
— Meu Deus! — murmurou. — Sabe quem é Samuel Cassley?
— Não o conheço.
— Cassley é o homem que saiu daqui há pouco — disse, com a voz trémula. -- Arranjou nele um inimigo mortal e já viu bem o que fez?
Aquela revelação deixou o rapaz estupefacto. Depressa se refez.
— Sim, percebo perfeitamente o que isto significa — respondeu. — Mesmo assim, merecia muito mais do que o que levou. E, apesar de saber agora quem é, voltaria a fazer o mesmo se o tornasse a encontrar em tais desmandos.
Em Dewberry tinham-lhe dito que podia ir até Walburg, sem necessidade de apertar o galope do cavalo, em menos de cinco horas. O dia já estava a declinar e ainda não tinha conseguido achar o menor indício da situação da povoação.
Indubitavelmente, tinha-se desviado do verdadeiro caminho, pensou Alan. Mas, ainda que assim fosse, Walburg não podia estar longe. Talvez subindo ao alto de uma das colinas que lhe cortavam o passo em direção ao norte, se conseguisse orientar e chegar à cidade antes que fosse noite.
Retomou a marcha o encaminhou-se para as elevações que se recortavam sobre um céu azul-turquesa puríssimo. Mas naquelas zonas as distâncias são enganadoras, e isso comprovou Alan pois quando atingiu o sítio que tinha escolhido de antemão já a luz do dia era exígua.
Do outro lado das colinas abria-se uma sucessão de montanhas. Entre duas cadeias que iam elevando gradualmente a sua altura estendia-se um extenso vale. As sombras da noite impediam de distinguir qualquer espécie de construção, mas O olhar penetrante de Alan fixou-se num ponto luminoso que ressaltava das sombras que invadiam a depressão.
Olhou durante algum tempo naquela direção.
Ali havia gente, disse para consigo o rapaz. Era a luz vinda do interior de uma casa, já que, se se tratasse de uma fogueira, teria visto o revolutear das labaredas.
A certeza de que se achava sobre o bom caminho fez que a confiança renascesse no espírito de Alan. Obrigou o seu cavalo a descer a encosta e uns minutos mais tarde encontrava-se à entrada do vale.
Naquele momento o seu ouvido sensível ouviu o ruído dum cavalo lançado a galope. Deteve-se e tratou de verificar qual era a direção que levava; mas o ruído dos cascos foi-se apagando até cessar completamente.
Alan continuou até ao sítio onde tinha visto luz. As árvores encobriam agora a pressuposta casa e via-se obrigado a orientar-se fiado na sua intuição. Estava a agora a percorrer uma região totalmente diferente da que acabava de deixar para trás. O deserto parecia detido no sopé das colinas e, do lado de cá, começava uma região de características muito diferentes. Ali havia vegetação e a vegetação era um indício evidente de que a água não era escassa por ali.
Ao sair daquele disseminado de árvores e arbustos, descobriu de novo a luz que o tinha levado até ali. Estava muito perto e a sua forma retangular advertiu-o que se tratava de uma janela.
Ali havia uma casa e os seus moradores o ajudariam a encaminhar-se para Walburg sem ser necessário andar em pesquisas numa terra que não conhecia sequer um palmo.
Desmontou a pouca distância da casa. Tratava-se duma construção simples, como a de qualquer granja que tinha visto em Dewberry. Um cavalo estava preso a urna estaca, e Alan recordou o galope que tinha ouvido pouco antes.
Naquele momento, um grito lancinante rasgou o silêncio daquelas paragens. Vinha do interior dia casa, e, disso estava certo o rapaz, tratava-se da voz angustiada de uma mulher.
Imediatamente todo o seu corpo sentiu um brusco sacão e os músculos tornaram-se tensos. Abandonou as rédeas do cavalo e lançou-se em direção à porta da granja.
Ao subir os quatro degraus de madeira, escutou ruído de um objeto caindo com estrépito. Depois ouviu uma voz excitada, alterada por um marcado tom de terror e ódio.
Alan não esperou mais. Empurrou a porta e deteve-se no umbral.
A diviso era pequena e estava debilmente iluminada Havia uma pequena mesa tombada e junto a ela um homem e uma mulher lutavam denodadamente. Nenhum dos dois se tinha apercebido da sua entrada. Alan sentiu a respiração arquejante da mulher e as maldições daquele energúmeno que se esforçava por dominá-la.
Dum salto, chegou junto a eles. Agarrando o homem pela camisa, puxou-o com tal força que o separou imediatamente da jovem. O agressor, surpreendido, cravou no rapar um pilhar terrível, cheio de ódio e rancor.
— Mas quem diabo...? — vociferou, apoiando-se na parede da casa.
Sem terminar a sua exclamação, saltou como uma pantera em direção daquele inesperado visitante, mas Alan, que não ignorava as suas intenções, saltou para o lado. O homem encontrou-se então com um punho de ferro que se projetava violentamente contra o seu rosto, fazendo-o cambalear e cair de costas.
Do chão, olhou, aturdido, o seu atacante. E nesse olhar brilhou o desejo de matar. Mas Alan conhecia muito bem o significado por o já ter visto em outras pessoas e preparou-se para replicar adequadamente.
Atirou-se sobre ele no momento preciso em que este fechava já a mão sobre a coronha do revólver que trazia no coldre. Alan agarrou-lhe no braço e conseguiu desviar-lhe o tiro, que foi cravar-se no teto. Com a outra mão golpeou o rosto do enfurecido agressor, que respondeu castigando os flancos do rapaz. Alan, levantando-se um pouco, golpeou com o joelho o queixo do seu contendor, que dobrou a cabeça para trás e ficou estendido sobre o soalho da sala.
De pé, a um passo do caído, Alan observou os dois protagonistas da estranha cena. O homem teria uns quarenta anos e tinha o especto de, ser um proprietário daqueles, sítios. A mulher era ainda bastante jovem; provavelmente não contaria ainda mais do que vinte e três anos. Era esbelta e de feições delicadas, mas descobria-se nela uma estranha energia que explicava a resistência oferecida ao seu agressor até ele fazer a sua aparição.
— O que é. que esse homem queria? --- apontando ..para o que jazia no Chão, e que •Se levan-tava penosamente.
— Veio .:aqui porque sabia que eu estava só!. — ex-clamou a• jovem, tremendo ainda .com a exaltação da luta. — NãO é a priineiTa vez que insiste nas suas; pre-tensões, mas agora... — e a sua voz quebrou-se num soluço — estou só. Julgou que era uma presa fácil para os seus repugnantes propósitos.
— Quem te manda meter nisto? -- falou desta vez homem, .61hanclo Alan . oóm ódio.
— Devia esborrachar-te a cara — advertiu-o Alan. —Só os .coiotes e as, hienas atacam vítimas indefesai!
O homem tinha-se levantado e procurava o revólver que tinha caído para um canto. , -7-
— Isto vai-te custar caro, intrometido — ia dizendo. — Nunca ninguém se ficou a rir de mim.
Ia a apanhar o revólver, mas Alan, adiantando-se--lhe, deu-lhe um pontapé, afastando-o para longe do seu alcance.
— Vai ter que se ir embora sem esse brinquedo — disse-lhe enquanto estendia o braço indicando-lhe a porta. — E procure não voltar se não quer que o receba de uma forma menos agradável!
O homem olhou-o com ódio e apanhou o chapéu que lhe tinha caído no chão nos primeiros momentos de luta com a rapariga. Ao chegar à porta voltou-se para olhar para os dois.
— Saiba que eu tenho o direito a fazer isto! — advertiu-o, sombriamente. — A casa e as terras pertencem-me! Há já um ano que não recebo nem pó do que estava estipulado! A lei protege-me e ela a fará sair daqui! E a ti — dirigiu-se a Skenton — digo-te que te vais arrepender de te teres metido no meu caminho!
Alan avançou até à porta e viu aquele homem montar a cavalo e afastar-se da granja.
Só então, ao apagar-se o rumor dos cascos do cavalo, na distância, decidiu voltar-se para a linda dona da casa.
— Não tenha medo — sorriu ao vê-la assustada — pelo menos, esta noite não voltará.
Foi até junto da mesa que estava voltada e colocou-a de novo em pé. Depois dirigiu-se para o revólver que tinha ficado abandonado no solo e apanhou-o. Examinou-o com atenção e então viu que ela se aproximava silenciosamente.
— Obrigada por tudo — disse timidamente. — Chegou no momento oportuno.
— Não tem importância — riu Alan, deixando a arma sobre a mesa. — O acaso quis que eu chegasse a tempo para a ajudar. Estava precisamente à procura de um lugar chamado Walburg quando de um montículo descobri a luz desta janela.
— Vai a Walburg? — perguntou ela curiosa.
— Sim. Estou muito longe?
A rapariga negou.
— Walburg é mais ou menos a três milhas.
Alan deixou a arma e examinou de novo a sala.
— Este sujeito veio em busca de algo — disse. — É o dono disto?
— Sim — assentiu ela. — O meu pai trabalhou dia e noite para lhe pagar o arrendamento e não conseguiu.
— O seu pai? Onde está ele?
— Morreu.
Alan guardou silêncio. Tinha a intuição da tragédia que envolvia a vida da rapariga e não quis continuar perguntando.
— Morreu assassinado há quinze dias — murmurou ela, reprimindo um soluço. — Dispararam sobre ele pelas costas à traição. Se assim não tivesse sido...
— Compreendo... — disse Alan enquanto olhava para fora, vigiando o seu cavalo, que tinha ficado solto. — Não tem nenhum parente com quem possa viver?
— Não. Pensei que eu mesma poderia ficar nesta casa. Dou lições... sou a mestra da escola — explicou, aproximando-se do jovem. — E como é que tenciona ir para Walburg sem levar armas?
— Não vejo necessidade de as levar — sorriu Alan. — A minha profissão é pacífica.
— O que acaba de acontecer demonstra-lhe a necessidade de trazer sempre consigo um revólver. Walburg o tipo de povoações que nunca sabe o que é a paz e o sossego.
— Estarei prevenido.
— Oh! — corou a rapariga. — Não tenho feito outra coisa senão falar e nem sequer disse o meu nome. Chamo-me Ethel Conway. Esta é a minha casa. Pertence ao homem que acaba de sair e estou atrasada no pagamento... Agora não hesitará em me pôr fora daqui.
— Não o duvido — concordou Alan. -- Esta noite estava exprimindo-se de um modo muito claro.
— É um canalha -- murmurou ela com ódio. — Veio aqui para exigir e depois tentou abusar da sua força. Mas aquilo que você lhe fez nunca lhe perdoará. Vai trabalhar para Walburg?
— É isso que aqui me traz — sorriu ele voltando para junto da mesa. — Terei de continuar o meu caminho, pois já e noite. Não creio que aquele sujeito se torne a aventurar hoje por aqui.
Ethel arranjou com um gesto instintivo o cabelo e dirigiu-se para uma porta que comunicava com o interior.
— Desejaria expressar a minha gratidão de alguma forma — disse hesitante. — Quer jantar comigo?
— Seria causar-lhe muita maçada — desculpou-se Alan, tomando o chapéu que tinha deixado ficar em cima de uma cadeira.
— Oh! Não! De modo algum! Vem de muito longe e por certo terá apetite. Além disso, gostava que contasse coisas que acontecem noutros lugares. Aqui vivemos tão afastados do resto do mundo...
Alan tornou a pousar o chapéu e abriu os braços com um ar resignado.
— Já que assim o deseja...
Ethel entrou na cozinha, mas regressou pouco depois. Alan estava observando uns pequenos quadros que estavam sobre a lareira.
— É a autora deste quadro? ---- perguntou-lhe, apontando umas iniciais que se viam no ângulo inferior esquerdo.
— Sim — assentiu, aproximando-se dele. -- Tive um professor muito paciente. Era um homem que tinha vindo para Walburg há muito tempo. Ensinou-me a pintar e ofereceu-me as suas pinturas. Morreu há dois anos -- acrescentou com ar de pena.
Alan levantou a cabeça e aspirou o aroma do guisado que vinha da cozinha. Ela viu o gesto e riu-se.
— Tudo o que você faz, faz às mil maravilhas — elogiou Alan.
— É possível que mude de opinião quando me conhecer melhor. Vai estar muito tempo em Walburg?
— Não sei. Vim para aqui, com um contrato para a extração do petróleo. Acabo de terminar os meus estudos em St. Louis e esta é a minha primeira oportunidade.
— Engenheiro?
— Sim disse Alan. — Foi um proprietário de Walburg que me mandou buscar. Chama-se Cassley. Deve ser muito conhecido por aqui.
— Cassley? — murmurou Ethel surpreendida. — Sam Cassley?
— É seu amigo?
Alan viu que Ethel empalidecia.
— Meu Deus! — murmurou. — Sabe quem é Samuel Cassley?
— Não o conheço.
— Cassley é o homem que saiu daqui há pouco — disse, com a voz trémula. -- Arranjou nele um inimigo mortal e já viu bem o que fez?
Aquela revelação deixou o rapaz estupefacto. Depressa se refez.
— Sim, percebo perfeitamente o que isto significa — respondeu. — Mesmo assim, merecia muito mais do que o que levou. E, apesar de saber agora quem é, voltaria a fazer o mesmo se o tornasse a encontrar em tais desmandos.
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