A esperança de ambos em adquirir um rancho, no entanto, não esmorecera, antes pelo contrário.
Queriam demonstrar àquele cobarde que haviam de conseguir os seus intentos, nem que para isso pagassem o dobro, a outro vendedor.
A bela rapariga continuava a fazer milagres para economizar o suficiente.
Certo dia, estava a loja em pleno movimento quando ela sentiu que era observada.
Percorrendo com os olhos os clientes, descobriu à entrada um desconhecido encostado à porta da loja que a fitava com insistência.
Ruborizada, desviou o olhar, ao mesmo tempo que tentava recordar-se de quem seria a estranha personagem.
Voltou a levantar os olhos e notou que o desconhecido a não desfitava. Começou a sentir um certo mal-estar, ao mesmo tempo que uma grande curiosidade despertava no seu ser.
Quem seria aquele homem, de bela aparência que tão descaradamente a fitava?
Nesse momento, um dos clientes reclamava:
— Eu pedi arroz e a menina está a medir uma peça de pano?
— Desculpe-me, senhor Larrigan. Estava completamente distraída. Queira desculpar-me, sim? É a primeira vez que isto me sucede.
— Não tem importância — respondeu Larrigan. — Eu queria cinco quilos de arroz. Lá a patroa encomendou-mo e se o não levo é o cabo dos trabalhos.
Para que tal descuido se não voltasse a verificar, Susy resolveu alhear-se por completo da presença do desconhecido vestido à vaqueiro.
Este, por seu lado, não se mexeu de onde estava, nem disse nada.
Era um rapaz alto e forte, devendo a sua altura andar pelo metro e oitenta. Aparentava ter vinte e oito anos e o seu semblante era viril denotando retidão e nobreza de carácter. Uns olhos azuis sobre um nariz bem feito e uma ampla testa demonstrando inteligência. Seu cabelo era de cor castanha a fugir para o louro.
Tudo isto a rapariga observara, em dois ou três golpes de vista e a presença do forasteiro, embora lhe complicasse com os nervos, fora-lhe simpática. Ela tinha de saber quem era aquele simpático exemplar masculino.
O movimento na loja continuava e só com grande força de vontade a rapariga conseguira que nova reclamação não fosse apresentada. Apesar disso, entornara um pacote de açúcar e partira dois pratos que inexplicavelmente lhe haviam escorregado das mãos...
Impávido e sereno, simulando não ver a atrapalhação da rapariga, o desconhecido não abandonara o seu posto de observação. E à hora de fechar a loja, para irem almoçar, fora o último cliente a sair.
Robert Robinson, por não ter observado o que se passara, não estranhou que alguém caminhasse atrás deles uns metros durante o trajeto para sua casa.
Porém, esse facto não passara despercebido a Susy. Era insistente, aquele homem.
Depois de entrar em casa e sem que seu pai o notasse, a rapariga espreitou atrás das cortinas, para a rua e verificou que ele se detinha e fixava o edifício para onde tinham entrado.
Passados momentos, regressou por onde viera, olhando de vez em quando para as janelas da casa.
O coração da rapariga palpitou.
Não havia 'dúvida de que aquele forasteiro despertara grande interesse no seu coração virgem.
Pela primeira vez, um homem despertara-lhe interesse, mas era um desconhecido e ela teria de ter muito cuidado, não fosse um desses muitos aventureiros que a diversas raparigas já tinham enganado.
Estava esperançada em que aquele não pertencesse a essa nojenta casta.
O seu olhar demonstrava lealdade, mas pelo sim, pulo não, o melhor seria precaver-se e se ele tentasse qualquer abuso, espalmar-lhe-ia a mão na cara como já por diversas vezes se vira obrigada a fazer.
Na parte da tarde, verificara-se o mesmo que da parte da manhã.
Poucos minutos depois da loja aberta, o desconhecido voltara a colocar-se no mesmo sítio e sem dizer uma palavra não desfitava a rapariga.
Esta, que conhecia o feitio de seu pai, temia que este descobrisse qualquer coisa, de modo que não o deixava aproximar-se daquele lado, obrigando-o a atender os clientes no ponto mais afastado do balcão.
Novamente, depois de fechar a loja, o desconhecido os seguira a alguma distância.
À hora do jantar a rapariga resolveu tirar «nabos da púcara» e com certo desinteresse perguntou ao pai, enquanto o servia:
— Nova Orleães está grande, paizinho. Cada vez há mais gente nova.
— É verdade, minha filha — respondeu o comerciante. — Então nesta altura... Está cá muita gente nova que segue numa caravana para Santo António. São colonos que vão transformar aquelas terras, tal como nós fizemos há muito tempo. Está com eles um rapaz que é de Santo António e que lhes servirá de guia.
Com esperança a rapariga perguntou:
— É um rapaz bem parecido, alto e louro?
— Parece que sim, minha filha. Não o conheço. Mas porque o perguntas? Conhece-lo?
— Não, paizinho. É que hoje vi na rua um desconhecido com esses sinais e perguntei por curiosidade. Não quer comer mais batatas? Olhe: que estão muito boas.
— Não, filha, obrigado. Eu vou sair já, pois ando a tratar de uma coisa que por enquanto é segredo. Quero fazer-te urna surpresa.
Fazendo beicinho, mimalha, a rapariga perguntou:
— Não me contas, paizinho? Anda, não sejas mau.
— Pronto, já estraguei tudo. Mas para que diabo eu havia de falar nisto, caramba?
E mudando de tom, continuou paternalmente:
— Pois bem, se queres saber, aí vai. Ando a ver se consigo que vamos para Santo António na caravana. Lá, os terrenos, segundo estou informado, são gratuitos, pois precisam de colonos para fazer a ocupação. Também me disseram que há terrenos que são 'autênticas bênçãos do céu. E eu estou tentado a partir. Qual é a tua opinião, Susy?
Dando pulos de satisfação 'a rapariga pendurou-se ao pescoço do pai.
— Mas que filha maluca eu tenho, Santo Deus —disse o pai com carinho.
— É maluca, sim, paizinho, é maluca por ti. A minha opinião é que preparemos as nossas coisas e partamos com a caravana.
— Bem, não cantes vitória antes de tempo, pois nada está ainda assente. Hoje ficará tudo mais ou menos combinado, pois o tal guia deve ter regressado hoje a Nova Orleães. Ele foi fazer um reconhecimento sozinho pois parece que têm' de atravessar território índio. Amanhã falaremos, minha filha.
Beijando o pai em despedida, Susy retirou-se para os seus aposentos e naquela noite sonhou que ia na caravana, os índios 'atacavam e ela fora salva por um valente homem: O 'desconhecido que durante o dia a não deixara de fitar.
No dia seguinte, quando abriu a loja, a sua primeira preocupação foi procurar com os olhos o homem dos seus sonhos.
Não o viu, mas não estranhou, porque a reunião dos da caravana durara até tarde. O seu pai também ficara a dormir e ela não sabia ainda a que resultados chegaram.
A manhã foi decorrendo e a rapariga não tinha mãos a medir por lhe faltar a ajuda de seu pai.
A meio da manhã este apareceu.
A rapariga correu logo para ele e depois de lhe dar os bons dias perguntou ansiosa:
— Paizinho., chegaste a acordo com os colonos?
— Cheguei, sim, filha. Partimos daqui a quinze dias. Depois falaremos. Agora vamos atender os clientes,
Pai e filha depressa satisfizeram todos os pedidos e dentro em pouco estavam sozinhos.
Preparava-se a rapariga para crivar o pai de perguntas, quando o desconhecido fez a sua aparição.
A rapariga estremeceu e fixou vivamente a garbosa figura do rapaz.
Robinson, notando o movimento da filha, olhou para a porta e um sorriso aberto apareceu nos seus lábios.
— Seja bem-vindo, «mister» Darrow.
— Bom dia, «mister» Robinson — respondeu o forasteiro.
E voltando-se para a rapariga saudou-a com uma cortês vénia.
— Antes de mais nada, não quero que me chame «mister» Darrow. Para os amigos sou Frank e eu considero-o meu amigo. Em segundo lugar terei o máximo prazer em ser apresentado à mais bela flor dos jardins de Nova Orleães.
A bela Susy ficou sem pinga de sangue, receando uma reação violenta da parte de seu pai.
Robinson, porém, não se deu por achado e apresen-tou os dois jovens:
— Frank Darrow, o nosso guia, a quem fui apresentado ontem, mas por quem já sinto intensa amizade. Minha filha Susy, o meu único tesouro, a quem defenderei até à morte.
Susy compreendeu que seu pai, Com este invulgar género de apresentação, dera a entender ao desconhecido como atuaria em caso de qualquer tentativa de abuso.
Simulando não ter compreendido o toque do velho comerciante, o guia da caravana Mirou da cabeça o chapéu de abas largas e com galanteria cumprimentou a rapariga, enquanto murmurava:
— Sinto honra em lhe ser apresentado, Susy.
A rapariga com a emoção nem respondeu e para fugir àquela situação difícil desprendeu a sua mão das do rapaz e foi atender um cliente que acabara de entrar
Os dois homens ficaram sozinhos e embrenharam-se numa conversa amena, enquanto a rapariga atendia alguns fregueses que entravam a seguir.
A certa altura Robert Robinson, dirigindo-se à filha, disse-lhe:
— Frank almoça hoje connosco. Vê lá se nos matas de fome, Susy.
Queriam demonstrar àquele cobarde que haviam de conseguir os seus intentos, nem que para isso pagassem o dobro, a outro vendedor.
A bela rapariga continuava a fazer milagres para economizar o suficiente.
Certo dia, estava a loja em pleno movimento quando ela sentiu que era observada.
Percorrendo com os olhos os clientes, descobriu à entrada um desconhecido encostado à porta da loja que a fitava com insistência.
Ruborizada, desviou o olhar, ao mesmo tempo que tentava recordar-se de quem seria a estranha personagem.
Voltou a levantar os olhos e notou que o desconhecido a não desfitava. Começou a sentir um certo mal-estar, ao mesmo tempo que uma grande curiosidade despertava no seu ser.
Quem seria aquele homem, de bela aparência que tão descaradamente a fitava?
Nesse momento, um dos clientes reclamava:
— Eu pedi arroz e a menina está a medir uma peça de pano?
— Desculpe-me, senhor Larrigan. Estava completamente distraída. Queira desculpar-me, sim? É a primeira vez que isto me sucede.
— Não tem importância — respondeu Larrigan. — Eu queria cinco quilos de arroz. Lá a patroa encomendou-mo e se o não levo é o cabo dos trabalhos.
Para que tal descuido se não voltasse a verificar, Susy resolveu alhear-se por completo da presença do desconhecido vestido à vaqueiro.
Este, por seu lado, não se mexeu de onde estava, nem disse nada.
Era um rapaz alto e forte, devendo a sua altura andar pelo metro e oitenta. Aparentava ter vinte e oito anos e o seu semblante era viril denotando retidão e nobreza de carácter. Uns olhos azuis sobre um nariz bem feito e uma ampla testa demonstrando inteligência. Seu cabelo era de cor castanha a fugir para o louro.
Tudo isto a rapariga observara, em dois ou três golpes de vista e a presença do forasteiro, embora lhe complicasse com os nervos, fora-lhe simpática. Ela tinha de saber quem era aquele simpático exemplar masculino.
O movimento na loja continuava e só com grande força de vontade a rapariga conseguira que nova reclamação não fosse apresentada. Apesar disso, entornara um pacote de açúcar e partira dois pratos que inexplicavelmente lhe haviam escorregado das mãos...
Impávido e sereno, simulando não ver a atrapalhação da rapariga, o desconhecido não abandonara o seu posto de observação. E à hora de fechar a loja, para irem almoçar, fora o último cliente a sair.
Robert Robinson, por não ter observado o que se passara, não estranhou que alguém caminhasse atrás deles uns metros durante o trajeto para sua casa.
Porém, esse facto não passara despercebido a Susy. Era insistente, aquele homem.
Depois de entrar em casa e sem que seu pai o notasse, a rapariga espreitou atrás das cortinas, para a rua e verificou que ele se detinha e fixava o edifício para onde tinham entrado.
Passados momentos, regressou por onde viera, olhando de vez em quando para as janelas da casa.
O coração da rapariga palpitou.
Não havia 'dúvida de que aquele forasteiro despertara grande interesse no seu coração virgem.
Pela primeira vez, um homem despertara-lhe interesse, mas era um desconhecido e ela teria de ter muito cuidado, não fosse um desses muitos aventureiros que a diversas raparigas já tinham enganado.
Estava esperançada em que aquele não pertencesse a essa nojenta casta.
O seu olhar demonstrava lealdade, mas pelo sim, pulo não, o melhor seria precaver-se e se ele tentasse qualquer abuso, espalmar-lhe-ia a mão na cara como já por diversas vezes se vira obrigada a fazer.
Na parte da tarde, verificara-se o mesmo que da parte da manhã.
Poucos minutos depois da loja aberta, o desconhecido voltara a colocar-se no mesmo sítio e sem dizer uma palavra não desfitava a rapariga.
Esta, que conhecia o feitio de seu pai, temia que este descobrisse qualquer coisa, de modo que não o deixava aproximar-se daquele lado, obrigando-o a atender os clientes no ponto mais afastado do balcão.
Novamente, depois de fechar a loja, o desconhecido os seguira a alguma distância.
À hora do jantar a rapariga resolveu tirar «nabos da púcara» e com certo desinteresse perguntou ao pai, enquanto o servia:
— Nova Orleães está grande, paizinho. Cada vez há mais gente nova.
— É verdade, minha filha — respondeu o comerciante. — Então nesta altura... Está cá muita gente nova que segue numa caravana para Santo António. São colonos que vão transformar aquelas terras, tal como nós fizemos há muito tempo. Está com eles um rapaz que é de Santo António e que lhes servirá de guia.
Com esperança a rapariga perguntou:
— É um rapaz bem parecido, alto e louro?
— Parece que sim, minha filha. Não o conheço. Mas porque o perguntas? Conhece-lo?
— Não, paizinho. É que hoje vi na rua um desconhecido com esses sinais e perguntei por curiosidade. Não quer comer mais batatas? Olhe: que estão muito boas.
— Não, filha, obrigado. Eu vou sair já, pois ando a tratar de uma coisa que por enquanto é segredo. Quero fazer-te urna surpresa.
Fazendo beicinho, mimalha, a rapariga perguntou:
— Não me contas, paizinho? Anda, não sejas mau.
— Pronto, já estraguei tudo. Mas para que diabo eu havia de falar nisto, caramba?
E mudando de tom, continuou paternalmente:
— Pois bem, se queres saber, aí vai. Ando a ver se consigo que vamos para Santo António na caravana. Lá, os terrenos, segundo estou informado, são gratuitos, pois precisam de colonos para fazer a ocupação. Também me disseram que há terrenos que são 'autênticas bênçãos do céu. E eu estou tentado a partir. Qual é a tua opinião, Susy?
Dando pulos de satisfação 'a rapariga pendurou-se ao pescoço do pai.
— Mas que filha maluca eu tenho, Santo Deus —disse o pai com carinho.
— É maluca, sim, paizinho, é maluca por ti. A minha opinião é que preparemos as nossas coisas e partamos com a caravana.
— Bem, não cantes vitória antes de tempo, pois nada está ainda assente. Hoje ficará tudo mais ou menos combinado, pois o tal guia deve ter regressado hoje a Nova Orleães. Ele foi fazer um reconhecimento sozinho pois parece que têm' de atravessar território índio. Amanhã falaremos, minha filha.
Beijando o pai em despedida, Susy retirou-se para os seus aposentos e naquela noite sonhou que ia na caravana, os índios 'atacavam e ela fora salva por um valente homem: O 'desconhecido que durante o dia a não deixara de fitar.
No dia seguinte, quando abriu a loja, a sua primeira preocupação foi procurar com os olhos o homem dos seus sonhos.
Não o viu, mas não estranhou, porque a reunião dos da caravana durara até tarde. O seu pai também ficara a dormir e ela não sabia ainda a que resultados chegaram.
A manhã foi decorrendo e a rapariga não tinha mãos a medir por lhe faltar a ajuda de seu pai.
A meio da manhã este apareceu.
A rapariga correu logo para ele e depois de lhe dar os bons dias perguntou ansiosa:
— Paizinho., chegaste a acordo com os colonos?
— Cheguei, sim, filha. Partimos daqui a quinze dias. Depois falaremos. Agora vamos atender os clientes,
Pai e filha depressa satisfizeram todos os pedidos e dentro em pouco estavam sozinhos.
Preparava-se a rapariga para crivar o pai de perguntas, quando o desconhecido fez a sua aparição.
A rapariga estremeceu e fixou vivamente a garbosa figura do rapaz.
Robinson, notando o movimento da filha, olhou para a porta e um sorriso aberto apareceu nos seus lábios.
— Seja bem-vindo, «mister» Darrow.
— Bom dia, «mister» Robinson — respondeu o forasteiro.
E voltando-se para a rapariga saudou-a com uma cortês vénia.
— Antes de mais nada, não quero que me chame «mister» Darrow. Para os amigos sou Frank e eu considero-o meu amigo. Em segundo lugar terei o máximo prazer em ser apresentado à mais bela flor dos jardins de Nova Orleães.
A bela Susy ficou sem pinga de sangue, receando uma reação violenta da parte de seu pai.
Robinson, porém, não se deu por achado e apresen-tou os dois jovens:
— Frank Darrow, o nosso guia, a quem fui apresentado ontem, mas por quem já sinto intensa amizade. Minha filha Susy, o meu único tesouro, a quem defenderei até à morte.
Susy compreendeu que seu pai, Com este invulgar género de apresentação, dera a entender ao desconhecido como atuaria em caso de qualquer tentativa de abuso.
Simulando não ter compreendido o toque do velho comerciante, o guia da caravana Mirou da cabeça o chapéu de abas largas e com galanteria cumprimentou a rapariga, enquanto murmurava:
— Sinto honra em lhe ser apresentado, Susy.
A rapariga com a emoção nem respondeu e para fugir àquela situação difícil desprendeu a sua mão das do rapaz e foi atender um cliente que acabara de entrar
Os dois homens ficaram sozinhos e embrenharam-se numa conversa amena, enquanto a rapariga atendia alguns fregueses que entravam a seguir.
A certa altura Robert Robinson, dirigindo-se à filha, disse-lhe:
— Frank almoça hoje connosco. Vê lá se nos matas de fome, Susy.
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