sexta-feira, 8 de maio de 2015

PAS462. O primeiro dia na vida de um «cow-boy»

Não deu conta que se havia afastado de Abilene e se encontrava em plena pradaria, longe da cidade e em marcha para a sua primeira travessia de «Rota».
Sentiu-se emocionado. Mas depressa deu conta de que o seus trabalho não era tão simples e agradáveis como lhe parecera ao princípio. As pernas doíam-lhe e os braços também, mas continuava a assustar os animais que se mostravam teimosos.
Já tinha montado a cavalo, mas aquele exercício violento era novo para ele e a fadiga apoderou-se dele muito mais cedo do que pensara. A dor nas pernas por as ter apertadas contra o animal, era-lhe insuportável. Por outro lado, o calor aumentava cada vez mais e, ainda que marchando na frente, não sofrendo os efeitos do pó, levantado pelos milhares de patas, sentia--se horrivelmente cansado, como nunca havia estado.
Esperava que fizessem alto por volta do meio-dia, mas viu que o não faziam e que a marcha, interminável, seguia sem parar. Compreendeu então, com inveja e raiva ao mesmo tempo, que aqueles homens mereciam a fama que tinham: eram homens de ferro, gente que não conhecia a fadiga, e que eram capazes de cavalgar todo o dia sem sentir o menor cansaço.
O medo de não poder resistir mais apoderou-se dele e passou horas de indizível angústia, pensando em como os outros troçariam dele se lhes dissesse que não podia prosseguir naquela cavalgada espantosa. Resistiu, não obstante, empertigando o corpo até que deixou de sentir as pernas como se estas se lhe tivessem adormecido para sempre.
Por último, quando o sol se punha, Old, do outro lado da manada, fez um gesto e adiantando-se fez-lhe compreender que chegara o momento de deter o gado. Imitando-o, Max obrigou os animais da dianteira a retroceder, engrossando o grupo que ia aumentando com os que chegavam.
Teve de galopar desesperadamente para evitar que os animais se afastassem do núcleo que Old estava a formar. Depois, quando as reses compreenderam e se imobilizaram parcialmente, Old aproximou-se dele.
— Já não temos de nos preocupar até madrugada. Vamos!
Max galopou atrás do cavalo do seu companheiro, detendo-se finalmente junto do carro.
Os outros já lá estavam.
Uma sensação de felicidade se apoderou do rapaz no pensar que dentro era pouco se poderia estender a descansar. Não tinha outro desejo.
— Eh, tu!
Era o capataz e Max, que acabara de desmontar, fez esforços para se manter de pé.
— Que deseja?
— Tira a sela ao meu cavalo e leva-o com o teu para trás, para junto dos outros. Sabes tratar deles?
— Sim.
— Então desanda!
Max desaparelhou o cavalo de Hopp, fazendo o mesmo ao seu em seguida; depois de lhe ter passado corda pelas patas, levou-os para junto das montadas dos outros vaqueiros.
Voltou para junto do carro.
— Max!
Voltou-se e deu com Pat que o olhava furioso, com único olho que tinha.
— Que quer?
— Onde demónio te meteste? Ignoras os deveres dum vaqueiro novato no grupo?
— Eu...
— Acender o lume! Atrás da carro encontrarás lenha. Logo que o tenhas acendido, vem ter comigo. Há que descascar batatas e cortar toucinho.
Estava tão espantosamente cansado, tão terrivelmente maltratado, que o corpo se lhe cobriu de suor, enquanto acarretava a lenha e acendia a lume. Depois, quando começou a pelar as batatas, olhou com inveja os outros que, estendidos no chão, fumavam tranquilamente.
Novato.
Sim, era-o e por isso não tinha outro remédio do que obedecer à dura lei da «Rota». Mas algum dia deixaria de o ser e faria como aqueles homens: sentar-se ou atirar-se para o chão, depois duma rude jornada, esperando que um «novato» ajudasse o cozinheiro a preparar uma reconfortante refeição.
Pat iniciou a confeção do rancho, cozendo as batatas com pedaços de carne salgada e preparando as tiras de toucinho que o rapaz havia cortado, para as assar na fogueira.
— Max!
— Que é?
— Mói o café.
Doíam-lhe os braços, as costas, as pernas e perguntava-se, estranhado, como podia resistir tanto, como era possível que não tombasse, ali mesmo, completamente adormecido, para só acordar dois dias depois.
Rabe distribuía descuidadamente a comida pelos pratos de ferro.
— Max!
O rapaz aproximou-se, sem responder. Nem tinha forças para falar.
— Serve a comida.
Max Simson foi levando os pratos aos vaqueiros. Reparou que só Al lhe agradeceu e lhe sorria. Os outros nem sequer o olharam.
Quando chegou a vez de pegar no seu prato, Max sentiu náuseas. O apetite tinha-o abandonado e só tinha desejos de descansar, de se deitar e cerrar os olhos àquela tremenda realidade.
Provou, mesmo assim, um pouco de toucinho e bebeu uma chávena de café. Depois, um pouco mais descansado, levantou-se, dirigindo-se para onde havia deixado a sua sela.
— Max!
Pela primeira vez cerrou os punhos com força.
— Tens de me ajudar a lavar os pratos!
Não, não havia direito.
Simson não estava habituada a odiar, mas, naquele momento, experimentou-o com uma força irresistível contra aquele porco que, sentado no carro, desfrutava da única comodidade da «Rota», não cavalgando nem atando do gado.
Não obstante, obedeceu.
Estava a acabar de esfregar os pratos e as chávena com areia, quando Hopp se aproximou dele.
— Rabe chama-te amanhã, rapaz. Quero o meu cavalo aparelhado quando me levantar.
— Muito bem, senhor...
Ao acabar os pratos, Max dirigiu-se, coxeando, par o seu abrigo. Não teve energia nem para desfazer manta e estender-se no solo, apoiando a cabeça na sela. A fogueira estava a apagar-se e depressa a escuridão envolveu, tudo, sob um formoso céu coberto de estrelas.
Urna grande tristeza se apoderou dele.
E, sem poder resistir, apesar de morder os lábios com raiva, até fazer sangue, sentiu as lágrimas ardentes, cáusticas como ácido, caírem dos seus olhos.
— Max!
Alguém, a seu lado, o havia chamado em voz baixa O rapaz ergueu-se, certo de que tinham arranjado mais qualquer coisa com que o importunassem.
Mas viu que a silhueta era de AI, o vaqueiro delgado e sério que se colocou junto dele.
— Estás moído, não é verdade? –
— Sim.
— Tem um pouco de paciência. Depressa encontrarás processo de te desembaraçares disto tudo.
— Já sei que sou um «novato».
— Não é isso. Logo que deram porque eras quase um menino, começaram a abusar de ti.
Max abriu os olhos, de espanto.
— Isso é verdade? É verdade que um novo não faz tudo o que já me obrigaram a fazer?
— Sim, é verdade. Se fosses um homem já, não se teriam atrevido. Mas deves ter paciência, rapaz, muita paciência... E tudo passará.
A mão do homem pousou no ombro, apertando-o cordialmente.
— O primeiro dia é o pior. Doem-te as pernas?
— Muitíssimo.
— Não importa. Continua a apertá-las contra a sela. Aguenta a dor... Nenhum vaqueiro monta doutra forma. Chegará o momento em que o farás sem dar por isso e não terás mais dores. O mal seria abrir as pernas: nunca chegarias a dominar a cavalgadura...
— Assim farei.
— Um vaqueiro deve dominar o seu cavalo com as pernas. As rédeas, a maior parte do tempo, não servem para nada, pois se deve ter as mãos livres. Faze o que te digo, rapaz.
— Muito obrigado.
E o vaqueiro afastou-se.
Max estendeu-se de novo e sentiu-se menos só. Até a fadiga parecia ter desaparecido de repente.
Porque não era o trabalho que lhe havia reduzido a vontade daquele modo, mas a forma como o haviam tratado, a falta de urna palavra de afeto.
«Sou um menino — disse, murmurando — sou um menino».
Mas deixaria de o ser.
E agora, que tinha alguém, que sabia que Al estava do seu lado, redobraria de esforços de vontade e demonstraria aos outros que podia ser como eles: melhor do que eles.
Porque não podia esquecer. a missão que o esperava em Yuma(1). E necessitava de se tornar um homem, dos pés à cabeça, para poder ali chegar um dia e exigir justiça que não podia deixar de se fazer.
Pensando no futuro, repleto de coisas formosas, adormeceu.
(1) Nota do blog: vingar a morte do pai era a missão de Max

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