Cecil dispunha-se a abandonar o pequeno bosque, quando, ao olhar em volta, divisou McCarthy e o seu companheiro que, naquele instante, ultrapassavam um ponto elevado na montanha que os ocultaria definitivamente de San Martin.
Os dois homens tinham sabido escolher o terreno de forma a oferecer a menor visibilidade possível e, uma vez ultrapassado o ponto mais alto, lançaram os seus cavalos a galope, optando pelo caminho mais duro para evitar que ficassem vestígios da sua passagem.
Cecil, deslocando-se com habilidade, conseguira não ser visto pelos dois fugitivos, que, nos seus contínuos esforços para não serem descobertos, tinham fixado o olhar no local onde se desenrolara a última fase da luta.
Rogers, que era quem acompanhava McCarthy, sentiu-se aliviado ao supor-se a salvo de uma possível perseguição.
— Por muito depressa que andem — disse — vai ser muito difícil que nos alcancem.
McCarthy, verdadeiramente preocupado, respondeu com uma pergunta:
— Esse Parker é tão perigoso como Kraft me asseverou?
— É o tipo mais rápido no manejo das armas que encontrei em toda a minha vida. Além disso, acho que uma pessoa nunca consegue descobrir por que lado é que vai atacar.
— Anda mais depressa. Esse teu cavalo tem pouca genica.
— O meu cavalo vai até onde qualquer outro for.
— Tens a língua demasiado solta, Rogers. Acontece-te o mesmo que aconteceu a esse desgraçado do Lodge.
— Quando eu faço uma afirmação é porque posso demonstrá-la. Veja se é capaz de me seguir com esse penco que leva entre as pernas.
Rogers estimulou o cavalo com uma ligeira aplicação das suas reluzentes esporas na ilharga do animal e este avivou o andamento, deixando rapidamente para trás o de McCarthy. O sinistro personagem, mal teve à vista as costas de Rogers, puxou rapidamente de um punhal. No momento em que se preparava para lançar a arma, Rogers voltou-se para perguntar:
— Que acha?...
A pergunta ficou-lhe quase estrangulada na garganta, para dar lugar a um grito de protesto e terror:
— Não! Traidor...
Mas o punhal fendeu os ares vertiginosamente, indo cravar-se certeiro no pescoço do bandido, cujo grito se afogou. Rogers levou as mãos à arma, tentando arrancá-la da carne. Faltaram-lhe as forças, perdeu o equilíbrio e deixou-se resvalar para o chão, onde ficou estendido. McCarthy murmurou friamente:
— Do mesmo modo que atraiçoavas Lodge a meu favor, também me atraiçoarias a favor de quem quer que fosse. Além disso, Parker conhece-te e, pelo criado, chegaria ao amo. A mim não me conhece e mesmo que algum chegue a encontrar-me não poderá jamais imaginar que eu sou Lloyd McCarthy.
O usurário esporeou o seu cavalo e prosseguiu a marcha, ao mesmo tempo que continuava com o seu solilóquio.
— Mudarei de nome, estabelecer-me-ei em qualquer lugar afastado, onde não façam ideia de quem sou. Morto tu, não fica às minhas costas nem um só cúmplice que possa algum dia denunciar-me.
McCarthy estava certo de serem enforcados Kraft e os que tinham sido aprisionados com ele.
— Depois do sucedido, essa gente não vai perdoar a ninguém. Riu-se de forma sarcástica e continuou a avançar.
— Recolherei o meu dinheiro em Lynndyl. Bem, o meu e o desse estúpido do Lodge...
Acariciou a maleta em que levava o último dinheiro que recebera e suspirou, contrariado, ao pensar no que havia emprestado ultimamente e que nunca mais teria ocasião de reaver.
— A verdade é que Parker me estragou o negócio. Mas não podia agir de outra forma se queria que essa gente se mantivesse disciplinada, sem protestar...
A ideia provocou nele um sorriso que desapareceu ao ver aparecer diante dele um cavaleiro em atitude pouco amistosa. Embora nunca tivesse visto Cecil Parker, teve a intuição de ser ele e deitou rapidamente a mão a um «Colt», fazendo fogo.
Cecil que tinha feito um rodeio para lhe sair ao caminho, ficou surpreendido ao ver apenas um bandido. Mas teve a perceção a tempo do ataque do homem e saltou do cavalo, abrigando-se atrás dele. A bala zumbiu ameaçadoramente por cima da sua cabeça e ele, mal tocou o chão, puxou das suas armas. Rodou um pouco até encontrar o parapeito de uma rocha, enquanto McCarthy voltava a fazer fogo, atingindo o cavalo de Parker com um dos tiros.
Passou-se tudo com enorme rapidez. McCarthy, ao falhar os tiros para atingir Parker, voltou a fazer fogo contra o cavalo do jovem e fez retroceder o seu, sem cessar de disparar contra o jovem.
O usurário tentava sair do alcance dos projeteis que Parker lhe pudesse mandar antes de este ter ocasião de disparar. E o jovem, privado da sua montada, não o poderia perseguir. Parker sentia bater contra o solo as balas que o inimigo disparava e compreendeu as suas intenções. Arriscando-se, fez fogo por sua vez, ao mesmo tempo que gritava:
— Não te sairás com a tua, maldito assassino.
Os dois tiros disparados pelo jovem atingiram o cavalo do bandido, o qual, relinchando ruidosamente, levantou as patas, esforçando-se debalde e desesperadamente. Mas acabou por cair morto.
— Já estamos em igualdade de circunstâncias MacCarthy. Não te poderás escapar.
O usurário saltara agilmente para evitar que o cavalo lhe caísse em cima. Tentou, durante a queda, encobrir-se com o animal, mas Parker, que aguardava a ocasião, mal o outro se descobriu umas polegadas, fez dois disparos consecutivos. O primeiro deles atingiu o facínora num ombro, fazendo-o girar como um pião. O segundo apanhou-o no peito e derrubou-o de forma aparatosa. McCarthy gritou desesperadamente:
— Não! Aqui há um erro! Não dispare mais.
O usurário rodou primeiro e arrastou-se depois, perseguido pelos tiros de Parker, que o atingiu com outra bala numa perna. Uma vez que conseguiu abrigar-se atrás de uma rocha, empunhou com mão febril o «Colt» que ainda estava carregado. Parker, do local onde se encontrava, sentia a agitada respiração do bandido.
— Não houve nenhum erro, McCarthy. Se algum existiu foi não ter acabado contigo há mais tempo... Será melhor que te entregues.
— Ainda não me apanhaste, Parker. Se me queres prender, vem até junto de mim...
— Não vale a pena arriscar-me. Acertei-te em cheio e estás a perder sangue... Posso aguardar todo o dia...
McCarthy riu-se de forma bastante forçada.
— Não durarás todo o dia, Parker. Rogers deve ter ouvido os tiros e não demorará em correr em meu auxílio. E como simpatiza bastante contigo...
— Rogers é que estava contigo? Pois que venha quanto antes. Também gostava de lhe meter uma bala entre o peito e as costas. É um patife digno de te servir a ti...
— Já aí vem? Não ouves?...
Efetivamente, percebia-se ao longe o ruido de um cavalo a passo ligeiro. McCarthy sabia de sobra que não podia ser Rogers, a quem deixara prestes a morrer. Estava convencido que se tratava de qualquer outro inimigo, mas tentava provocar em Parker qualquer movimento que o pusesse a descoberto e aproveitar a oportunidade para disparar contra ele. Parker não se moveu e MacCarthy gritou:
— Avança, Rogers, avança. Cuidado com Parker que está desmontado.
Cecil admitiu que podia tratar-se de Rogers e resolveu eliminar MacCarthy, para depois poder fazer frente a quem quer que fosse. Simulou sair por um lado, recuando imediatamente.
O usurário disparou acto contínuo, mas foi surpreendido por Cecil, que, surgindo rapidamente do lado contrário, fez fogo por sua vez, arrancando-lhe a arma das mãos. E, mal o viu desarmado, pós-se rapidamente de pé, voltando a disparar e metendo-lhe uma bala na cabeça.
Advertia-se pelo som que a pessoa que se aproximava, estava já perto. Cecil tornou a carregar as armas, avançando depois cautelosamente ao encontro do recém-chegado. Ultrapassou o local onde MacCarthy tinha tombado, sem sequer deitar um olhar de curiosidade para esse lado. Percebeu que, quem avançava o fazia com todas as precauções.
— Deve ter ouvido o ruido dos tiros e é capaz de ter escutado o aviso de MacCarthy.
O cavaleiro que surgiu, tinha deitado pé em terra e avançava cobrindo-se com o cavalo, que levava pela rédea. Parker viu aparecer o cano de um «Colt» ... Dispôs-se a disparar, mas reconheceu o cavalo e gritou alegremente:
— Amy! Amy Parson!
Deixou todas as precauções e correu ao encontro da jovem, que o contemplou com expressão de verdadeira alegria. Mas mudou repentinamente de expressão, tornando-se séria e fazendo com que Cecil parasse de súbito.
— Que se passa consigo agora, pode saber-se?
— Não se passa nada — replicou Amy, reprimindo-se. — Eles eram dois e você podia correr perigo.
— Passei por isso, sim, mas agora já tudo passou, embora Rogers deva andar por aí perto. Rogers está morto. Apunhalaram-no.
— Quem?
— Não foi você?
Parker voltou a cabeça em direção ao local onde estava o cadáver do usurário.
— Não fui eu. Deve ter sido o próprio McCarthy. Compreendo agora tudo. Considerou-se livre de nós e tratou de eliminar o cúmplice... Bem, tudo terminou já. Obrigado por ter acorrido em meu auxílio.
— Bem. Não foi apenas por isso. Já percebi que você é dos que se podem livrar de vários inimigos ao mesmo tempo. Mas julguei que se ia embora de vez e queria agradecer-lhe. Salvou-nos a vida...
— Nada mais? — perguntou Cecil.
— Que quer dizer? — inquiriu Amy desconcertada.
— Eu não pensava ir-me embota. Tencionava ir à sua procura.
— À minha procura?
— Sim. Não acha que a atraiu, além do que disse, um pouco de carinho por mim?
Amy interrompeu-o bruscamente:
— Ouça lá! Mas o que é que julga?... Você é...
Cecil não a deixou prosseguir:
— Não se irrite. Que tem de especial que me tenha agradado? Estou apaixonado por si e não me envergonho de lho dizer. Ao contrário, estou muito satisfeito e torno a perguntar-lhe: quer casar comigo, Amy?
Ela deu a impressão que ia responder com uma negativa. O jovem continuou, sorridente:
— A uma proposta a sério, Amy. Quero-te muito e ficaria contente que aceitasses, e que me dissesses que sim. Que dizes a isto?...
Amy não respondeu por instantes. O seu rosto passou por mil e uma cambiantes, que fizeram Parker rir-se jovialmente. Finalmente ela olhou para a roupa que usava, a sua expressão tornou-se desolada e dispôs-se a montar a cavalo, ansiosa por fugir dali. Cecil teve de se apressar para a deter, fazendo-a protestar com energia:
— Larga-me! Não me agarres!
— Que é isso? Então pretendes fugir? Não tens vergonha de fugir? Lembra-te que és uma Parson...
— Larga-me. Não vês que estou envergonhada por estar vestida desta maneira?
— Sim, calculo. Mas foi assim que te conheci. Aliás, eu não sou dos que acreditam que um homem com juízo se apaixone por causa dos vestidos. Eu apaixonei-me pelo que está dentro.
— De qualquer forma...
— Vem aqui, bonequinha tonta — expressou-se ele com ternura. — Diz-me que sim, que estás apaixonada por mim e verás que tudo resultará maravilhoso. Isso é que interessa. Os vestidos... Disso não fazem caso senão as pessoas fúteis e nós ambos temos coração e sabemos o que queremos.
Tinha-lhe pegado nas mãos e atraiu-a a si, beijando-a apaixonadamente na boca. Ela entregou-se por inteiro à deliciosa carícia.
— Amo-te muito Amy. Aspiro para ti a vida tranquila e digna que tu mereces, com muitos filhos, com uma casa espaçosa e limpa...
— E o meu pai a fazer-te de ama seca, não é verdade? — disse ela com uma careta divertida.
— Assim mesmo.
Voltaram a unir os lábios. E, pouco depois, empreendiam o caminho de regresso no cavalo de Amy, que ia à garupa, abraçada a Parker e encostando no ombro do jovem a sua cabeça loira.
Fizeram o caminho devagar. Quando chegaram ao acampamento mineiro, os restos dos sobreviventes do bando de Kraft, com este à frente, tinham sido julgados e executara-se imediatamente a sentença, que fora a de morte por enforcamento.
Para San Martin aproximavam-se dias de tranquilidade e prosperidade, graças à decidida intervenção de Cecil Parker. Amy e o pai alojaram-se em casa dos Whitney e, poucos dias depois, Amy e Cecil, Ooma e Pat Wind, contraiam matrimónio.
Pat continuou o seu negócio com os agricultores e fazendeiros.
Cecil, após uns dias de férias, partiu com Amy, os pais e mais alguns mineiros, para a região de Nevada, onde encontraram uns jazigos ricos de ouro, cuja exploração começou imediatamente. E, mal o negócio principiou a dar lucro, pensou-se na construção de um ramal do caminho de ferro que unisse tão rica região ao resto do território americano.
FIM
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