Quando Parker regressou a casa dos Whitney, encontrou-os bastante inquietos pela sorte que ele podia ter corrido. Ao vê-lo entrar, suspiraram de alívio e os seus olhos refletiram alegria. O reverendo Whitney, depois dos cumprimentos da praxe, disse:
— Não é que pretenda meter-me nas suas coisas, mas a verdade é que nos manteve em cuidado... Ouvimos o barulho dos tiros, passaram por aqui alguns desses bandidos...
— Houve luta. Tentaram matar o pai dessa jovem que veio falar comigo. Na refrega caíram alguns deles...
— Já lhe tinha dito que eles o procurariam.
— Pois procuraram-me e encontraram-me. Um desses tipos assassinara meu pai. Dois deles eram seus cúmplices.
— Deus não aprova a vingança — disse apressadamente o reverendo.
— Não ignoro isso, reverendo. Mas não teria podido continuar a viver se esses homens continuassem à solta, depois do crime que praticaram.
— A justiça para alguma coisa existe, amigo. Embora às vezes erre, como justiça humana que é, devemos confiar nela e nunca nos vingarmos pelas nossas próprias mãos.
— Tudo o que diz é muito razoável. Mas o senhor mesmo está de acordo em que o braço da justiça está longe e é por isso que, aqui, se podem praticar feitos como aquele que esteve a ponto de custar a vida a Pat.
— Certo, muito certo...
— E por essa razão é que, em San Martin, pode prevalecer um bando de criminosos como esse que Kraft dirige.
— Também é certo.
— Até ao ponto dos senhores me terem aconselhado a ir-me embora para evitar ser vítima deles...
— E agora atrevo-me a aconselhá-lo com duplo motivo — disse o reverendo Whitney.
— Obrigado pelo seu interesse. Mas resolvi permanecer aqui.
Pat, que se achava comodamente instalado numa poltrona, disse a sorrir:
— Eu não os avisei que ele ficaria? Além do serviço que me prestou, alegrei-me quando o vi em San Martin, porque tive imediatamente a intuição de que chegara o homem que se torna indispensável à gente que trabalha em San Martin e nos seus arredores.
— Obrigado pelo bom conceito que fazes de mim, Pat.
— É um conceito acertado.
— Obrigado, mais uma vez. Antes de continuar. Como te encontras?
— Bastante bem.
— Posso saber quais são as tuas atividades em San Martin?
— E porque não? Compro aos agricultores desta região e de outras limítrofes, os seus produtos e envio-os para os grandes centros. Umas vezes para uns, outras para outros, conforme estejam de abastecimentos. Se tens interesse nisso, podes ficar a saber que tenho em Chicago um dos meus melhores mercados.
— Isso não me interessa.
— O teu pai também se dedicava aqui a esse género de negócio.
— Ned Parson informou-me disso e foi essa a razão por que te perguntei. Há em San Martin mais alguém que se dedica também ao mesmo negócio.
O reverendo Whitney interveio:
— Sim. Trata-se de Sailor Lodge, um dos homens mais influentes em todo o condado.
— Que te pode interessar isso, Cecil? Em que pensas? — perguntou Pat.
— Penso em que uns patifes, cujo centro de atividade é San Martin, mataram meu pai a muitas centenas de milhas daqui. Que podiam ter contra ele, para se deslocarem tão longe a fim de cometerem um crime?
— Talvez teu pai tivesse tido alguma questão com eles anteriormente. Pode acontecer que não se atrevessem a atacá-lo aqui mesmo. Teriam ido, por isso, atrás dele para o assassinar quando menos o pudesse imaginar.
— Não creio que gente do género de Pete e dos seus companheiros fizessem uma viagem de mais de novecentas milhas para uma coisa assim.
— Que imaginas nesse caso?
— Que existiu qualquer coisa de muito mais importância. Eles são pistoleiros a soldo de alguém que os protege. Porque não hei-de pensar que foi esse alguém que mandou os homens na peugada de meu pai?
Pat e o reverendo trocaram entre si um olhar que refletia surpresa e incredulidade ao mesmo tempo. Cecil prosseguiu:
— Hoje tentaram assassinar-te a ti. A ti, que tens precisamente o mesmo género de negócio de meu pai.
— Mas comigo havia outra razão muito diferente — retorquiu Pat, dirigindo um olhar a Oona, que corou.
— Aparentemente, sim.
— Aparentemente, como? Para mim a coisa está bem clara.
— Se a analisares comigo, verás que não é assim tão clara. Achas lógico que um bandido do jaez desse Simpson tente raptar a tua noiva à porta da sua casa para a meter mesmo na casa ao lado?
— Que é que achas de estranho?
— Entendo que se podiam ter proporcionado muitas e melhores ocasiões para a levar para algum local onde não pudesse ser auxiliada, algum local ignorado de toda a gente.
— Tens razão. Não tinha pensado nisso.
— Porque é que se tenta o rapto precisamente à porta de casa dela e no momento em que tu estavas presente? Porque, assim, provocariam a tua intervenção e, se te matassem, quem ia pensar que tinham tratado de se livrar de um inimigo comercial?
Pat e o reverendo voltaram a trocar olhares que, dessa vez, apenas mostravam admiração, dado que Cecil conseguira aprofundar um assunto que para eles não aflorara se não à superfície.
— Cecil, meu caro, tens toda a razão naquilo que dizes.
— Sabia que me compreenderiam imediatamente.
O reverendo Whitney interveio mais uma vez para dizer:
— Nunca fiz muito bom conceito de Sailor Lodge, mas torna-se-me difícil pensar que ele seja um criminoso, que atue com tal frieza para se desfazer de um semelhante apenas por este o estorvar nos seus negócios.
— No entanto, pelo menos por enquanto, tudo é contra ele. Não é um dos protetores desse John Kraft?
Whitney teve de concordar.
— Sim, protege-o... Apesar disso... Não sei, não me parece ser dos que matam friamente qualquer pessoa.
— Mas, para que protege esses bandidos?
— Vai ver. Sailor Lodge, apesar da sua aparência, está muitas vezes metido em sarilhos. Em muitas ocasiões tarda em pagar aos agricultores. Noutras dá de pretexto que perdeu dinheiro e paga-lhes somente a metade do estipulado...
— Que grande patife! — interrompeu Pat.
— Naturalmente que é um patife e é por isso que enriquece rapidamente, embora finja o contrário — explicou o reverendo. — Era essa a razão por que os agricultores preferiam vender ao pai de Parker e pretendem agora vender-lhe a si.
— Bem — admitiu Cecil. — Mas, então, para que diabo protege essa gente?
O reverendo sorriu-se e respondeu:
— Nem todos os agricultores se resignam a ser tratados assim e alguns chegaram a ameaçá-lo de morte se não lhes pagasse.
— Compreendo. É então que aparecem os «valentões» em jeito de ameaça...
— Exatamente. Não se sabe de um só caso que tenha passado das ameaças ou de pancada — manifestou o reverendo Whitney.
— Olhe, reverendo, no que se refere aos agricultores, pelo facto de serem vizinhos e de ter que continuar a explorá-los, é possível que se tenha conformado com essas medidas. Mas, no caso concreto de meu pai e de Pat, a verdade é que ele tentou o assassínio.
— Não o posso acreditar, meu filho.
— Que explicação pode então dar o senhor aos factos?
— Não sei, não faço ideia. A verdade é que neste momento estou cheio de confusão, apesar de admitir como certo o que me disse sobre as intenções que guiavam esse Simpson.
Pat reforçou as palavras do reverendo:
— Está claro que, se as intenções de Simpson fossem as de raptar Oona, teria escolhido outro local. Portanto, era contra mim que o plano se dirigia. Mas se é iniciativa de Sailor Lodge, que queres que te diga? Mal convivi com ele, mas não o julgo capaz de chegar ao assassinato e, muito menos, ao assassinato premeditado.
— Está bem. Terei de admitir momentaneamente o meu equívoco. Terei que procurar por outro lado.
Whitney e Pat olharam-se com expressão de perplexidade.
— A verdade é — atalhou o reverendo — que se afastamos Lodge, não nos fica mais ninguém se não Lloyd McCarthy.
— O usurário? — perguntou Cecil.
— O próprio.
— Que interesse pode ter esse homem em casos como este?
— Sabe-se lá! — voltou Whitney a atalhar. — Uma coisa é certa: não me agrada pensar mal das pessoas.
— A mim também não. Mas quando nos encontramos perante factos do género daquele que lamentamos, não há outro remédio se não pensar que nem todos somos santos — expressou-se Cecil.
O noivo de Oona interveio para dizer:
— Conheço pouco McCarthy, mas é precisamente o tipo de homem que faz pensar ser capaz de chegar até ao crime frio e premeditado.
— Que interesse pode ter ele num negócio destes? Porque se é o usurário que me descreveram, é dos que não mexem numa palha que não seja para ganhar dinheiro.
O reverendo Whitney moveu a cabeça em sinal de discordância.
— Não posso admiti-lo, embora considere Lloyd McCarthy pior do que Lodge.
Cecil sentiu certa impaciência que tentou reprimir.
— Não se trata aqui de saber se o homem é capaz de fazer determinada coisa ou não. São suposições, meramente subjetivas e não é justo quando se procura chegar a um resultado positivo.
— Tem razão — concordou Whitney. — Mas a verdade é que não saberia que dizer-lhe. Nenhum dos dois é bom. Um é menos mau do que o outro. A um não o considero capaz de matar... Ao outro, sim, e que Deus me perdoe...
— Vamos concretizar. Que interesse pode ter McCarthy neste assunto? Os agricultores dão-lhe alguma coisa?
Os vivos olhos azuis do reverendo brilharam, dando ideia de ter encontrado a possível solução. E disse logo, lentamente:
— McCarthy saca muito dos agricultores. Eles acorrem junto dele quando se veem em apuros...
Parker atalhou:
— E eles vêem-se em apuros quando o outro patife não lhes paga. Refiro-me a Lodge.
Oona, que permanecera silenciosa escutando a conversa dos homens, interveio para dizer:
— Não trabalharão os dois de comum acordo? Não há dúvida de que são ambos maus; e ambos protegem esses bandidos...
Cecil levantou-se do lugar e deu uns passos pela dependência. Por fim voltou a sentar-se.
— A verdade é que isso mais complicaria as coisas.
Depois de uma breve pausa em que se sentiu observado pelos Whitney e por Pat, prosseguiu:
— Ou simplificaria, quem sabe!...
— Vais lançar-te contra eles? — inquiriu Pat.
— Não posso fazer isso às cegas.
O jovem dirigiu-se ao reverendo Whitney:
— Não haverá forma de os agricultores reagirem de uma forma enérgica e exigirem o que lhes pertence?
— Os bandidos mantêm-nos assustados. Mas, talvez, se se vissem apoiados por um homem como você, se decidissem... Poder-se-ia tentar, chamando os mais afoitos.
Depois de tais palavras, o reverendo Whitney tapou o rosto com as mãos e disse com profundo desgosto:
— Meu Deus! Isso pode significar a violência... E hei-de ser eu precisamente quem assinale o caminho para tal procedimento?
— Perdoe, reverendo Whitney, o senhor não indica qualquer caminho para a violência. Mas, se esses patifes tratam de se impor por essa forma, como até agora, que havemos de fazer?
Oona meteu-se na conversa:
— O senhor Parker tem razão, tio.
— Não se pode permitir que dois homens, valendo-se de um bando de assassinos sem escrúpulos, estejam a extorquir dinheiro a gente honrada, que vive do seu trabalho, não a deixando levantar cabeça. Porque, se recorrem ao usurário, é sinal de que não têm vintém.
— Tem razão, Parker. E como sei que você é um homem honesto, creio que se deve deixar o assunto nas suas mãos.
Pat, depois de ter ouvido a opinião dos outros também deu a sua:
— A prova dos abusos que cometem contra eles é que, quando eu aqui cheguei, e principiei a pagar metade no acto da entrega e a outra metade quinze dias depois, ou trinta quando muito, todos os agricultores quiseram passar a vender-me a mim. E não é que eu pague mais do que os outros, pois há muitos preços que não se podem rebaixar, dada a forma como estão os mercados.
— Tudo isto põe a claro que um ou outro desses indivíduos, ou talvez os dois, de acordo, tentaram assassinar-te — concretizou Cecil.
Alguém bateu nesse momento, vigorosamente, à porta da casa. O reverendo e Oona sobressaltaram-se. Cecil aconselhou:
— Não se assustem. Não creio que os bandidos se atrevam a vir até aqui. Mas, se ousarem tal coisa, serão condignamente recebidos. Pode abrir, «miss» Whitney?
O tio ia levantar-se, mas a jovem pediu:
— Deixe-me, tio, irei eu. Parece que o senhor Parker vai comigo, não é verdade?
— Exatamente.
— Vamos, então.
Oona pegou numa vela e principiou a andar, seguida de Cecil. Atravessaram o pequeno vestíbulo e, enquanto a jovem abria, o rapaz manteve-se na expectativa, encostado a uma das paredes. Aberta a porta, surgiram dois homens, um deles de estatura gigantesca e o outro de altura normal. Pela expressão do rosto de Oona, Cecil viu que se tratava de gente amiga. O mais alto dos dois perguntou, depois de ambos saudarem a jovem:
— Está cá o senhor Pat Wind?
— Está, sim. Façam o favor de entrar.
Os dois homens entraram e Oona fez as apresentações. Apontou para o mais alto e disse:
— O senhor Grass é agricultor. Tem uma linda filha, a quem dou aulas.
O mais baixo, que tinha tirado o chapéu, apresentou-se a si próprio:
— Eu também sou agricultor. Tenho cinco filhos e julgo que «miss» Whitney lhes tomou medo, porque são verdadeiros diabos.
— Os seus filhos são um encanto. Endiabrados e travessos, mas muito bonzinhos.
— São a minha maior riqueza — respondeu o homem, cheio de orgulho.
Oona apresentou então Parker:
— Este é o senhor Cecil Parker...
Grass abriu muito os olhos:
— Não me diga que é filho do senhor Parker...
— Em pessoa.
— Seu pai comprava-me os produtos e sempre me dei com ele da melhor maneira. Era uma excelente pessoa.
— Muito obrigado.
— Todos lamentamos aqui a sua morte. Entendíamo-nos muito melhor com ele do que com esse desavergonhado do Lodge.
O mais baixo, que se chamava Hamilton, disse nesta altura:
— Eu apreciava muito o senhor Parker. Naturalmente, também estamos muito satisfeitos com a forma de proceder do senhor Wind.
— Pat Wind é um excelente rapaz e bom amigo meu — manifestou-se Cecil.
— Querem ir lá para dentro? — convidou Oona.
— Certamente — respondeu Hamilton.
Passaram à dependência onde se encontrava o ferido, que recebeu com toda a amabilidade os dois agricultores. O reverendo Whitney convidou-os a sentarem-se. Hamilton dirigiu-se a Pat:
— Que é que tem? Está ferido?
— Sim. Foi um dos bandidos chefiados por Kraft.
Os dois homens trocaram um olhar que revelava certo temor e Grass inquiriu:
— Não é de gravidade?
— Tive sorte. Não se preocupem. Tudo pode continuar a sua marcha. Mas, digam-me, o que os traz por cá?
— Hoocke foi ameaçado de morte no caso de lhe vender a si a colheita — informou o mesmo Grass.
Parker interveio:
— Lá chegámos a esse ponto? Quem o ameaçou?
— Três desses tipos. Não sabemos ao certo quem são, porque tinham os rostos tapados e saíram-lhe ao caminho quando era já noite. Foi quando ele regressava a casa — esclareceu Grass.
Hamilton deu mais pormenores dizendo:
— Não se contentaram em ameaçá-lo. Agrediram-no também, embora sem lhe causar grande dano.
— E que pensa fazer Hoocke? — perguntou Pat, adivinhando que Parker gostava de saber a reação do fazendeiro.
— Diz que tem muita pena, mas que não lha venderá. Deu-nos o dinheiro que o senhor lhe entregou como sinal, para que lho devolva.
Cecil levantou-se do banco ao mesmo tempo que exclamava impulsivamente:
— Isto é intolerável! Temos de agarrar essa gente e terminar com ela de vez.
Grass respondeu:
— Julga que não pensámos nisso em mais de uma ocasião? Mas eles manejam as armas com facilidade e nós mal sabemos segurar uma escopeta entre as mãos...
— Mas são em muito maior número do que eles...
— É verdade. Mas tropeçámos com o inconveniente de vivermos todos muito distantes uns dos outros. Nós estamos isolados, enquanto eles se juntam com facilidade — replicou Grass.
Hamilton falou também, para dizer:
— Nós temos de trabalhar nas nossas terras e eles não têm mais que fazer senão fazer-nos esperas onde lhes convier e onde lhes apetecer. Foi o que sucedeu hoje ao Hoocke.
— E não pensaram nunca em juntar-se, pegar nesses tipos quando eles menos o possam supor e pendurá-los a todos pelo pescoço?
— Também pensámos nisso. Não julgue que temos prazer em fazer as coisas assim. Mas é difícil apanhá-los a todos juntos. Além disso, esse Kraft ou lá quem quer que seja, arranjaria mais homens.
Pat agarrou no dinheiro que Grass lhe estendia.
— Que pensam fazer os senhores? Foram ameaçados?
Hamilton replicou:
— A mim ainda não me ameaçaram. Ando sempre armado e sabem que não sou para brincadeiras... Mas esse Lodge deve-me dinheiro e diz que não me poderá pagar se deixo de lhe fornecer. Claro que a mim, não ma prega ele! Ou me paga, ou parto-lhe a cara.
— Nada de violências, por favor — suplicou o reverendo Whitney.
— Tenho de defender o pão de meus filhos, reverendo. Não estou muito disposto a deixar-me atropelar.
Grass disse em tom sombrio:
— A mim também me deve dinheiro e vai ter que me pagar. Ou paga, ou estendo-o no chão com um murro.
O gigantesco agricultor moveu o braço direito, levantando a massa enorme do seu punho e fazendo menção de o deixar cair sobre um ser invisível.
— Esse tipo deve dinheiro a muita gente? — perguntou Parker.
— A muita. Sobretudo àqueles que vendiam ao seu pai e aos que estão em negociações com o senhor Wind.
Parker voltou a levantar-se:
— Estou disposto a ajudá-los a receber o dinheiro que lhes devem...
— Oh! Ele alegará que não tem dinheiro, suplicará, rogará... Mas não pagará. E, no dia menos pensado, pregar-nos-á um susto por meio de Kraft e dos seus homens.
— Estou pronto a pagar-lhes eu, isto é, a comprar-lhes os débitos que ele tem com os senhores. E eu me encarregarei de cobrar...
— Não queremos enganá-lo. Não receberia um centavo. Esse tipo escorregar-lhe-ia por entre os dedos... Não o conhece — disse Grass.
Hamilton mostrou-se decidido e levantou-se por seu turno:
— Bem. Mas por que há-de arriscar-se o senhor e nós não? Senhor Parker, eu não lhe vendo o meu crédito. Mas estou disposto a ir cobrar a divida juntamente consigo. E, se receber, terá o senhor uma boa comissão. Todos nós lha daríamos se conseguíssemos receber o devido.
— E eu estou na disposição dos senhores cobrarem sem que tenham de me dar qualquer comissão por esse trabalho...
— Mas é você que arrisca a pele.
— Não falemos disso. Vim a San Martin para vingar meu pai. Há meia hora julgava que tinha conseguido o meu propósito. Depois, convenci-me que só me tinha vingado a meias. E como o que me resta fazer segue o mesmo caminho do assunto dos senhores, a minha colaboração tem de ser gratuita. Vamos ajudar-nos uns aos outros.
— Pela minha parte, estou às suas ordens quando quiser.
— Agora mesmo. De acordo?
— Agora mesmo — concordou Hamilton.
O gigantesco Grass sentiu-se esmagado pela energia demonstrada pelo companheiro e manifestou-se assim:
— Pois eu não vou ser menos. Irei também.
O reverendo Whitney dirigiu-se a Parker, apontando para Hamilton:
— Já pensou que esse homem tem cinco filhos?
— Sim. E depara-se-lhe uma ocasião de lutar por eles.
— É assim mesmo, reverendo Whitney. Acabaram-se as burlas desse bandido. A verdade é que estou com a corda na garganta e que, se Lodge não me paga, terei de cair nas mãos desse usurário do MacCarthy. Compreende? E isso, sim, é mau, porque quem cai nas suas mãos nunca mais se escapa. É assim que está a maior parte dos agricultores da região...
— Não há que falar mais no caso, amigos. Vamos até lá. E vamos também tocar nesse assunto do Hooche... Vou em tua representação, Pat — disse Parker, sorrindo-se e dirigindo-se ao amigo.
— Acho muito bem. Mas tem cuidado. Essa gente é muito má...
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