sexta-feira, 23 de setembro de 2022

CLF050.04 Há mais vida para além do vício


Cecil, sem dar mais explicações, pôs o cavalo a passo e, dando um pequeno rodeio, foi postar-se atrás da barraca dos Parson, afastado umas duzentas jardas. 

— Agora continuaremos o caminho a pé — disse para a linda Amy que o seguira em silêncio. 

— Porquê? 

— Já vai ver. Recomendo-lhe que se mova como uma sombra e que não faça nem o mais leve ruido. 

— Que se passa? 

— Tenha confiança em mim e deixe-me agir. 

Silenciosamente, Cecil deslocou-se com rapidez, a tal ponto que Amy teve dificuldade em segui-lo. Fazendo um esforço, a jovem juntou-se-lhe na altura em que ele chegava à parte de trás da cabana. 

Uma pressão de mão, indicou a Amy que o silêncio era mais necessário do que nunca. Prosseguiram a avançar por um dos lados da barraca, encostados à parede e não tardaram em ouvir vozes de uma conversa que se tratava no interior. Uma voz, que Amy reconheceu ser de Pete dizia. 

— Onde foi Amy? 

— Foi comprar umas coisas que lhe tinham esquecido — respondeu Ned Parson. — Ainda que não perceba o que isso te interesse, Pete. 

Pete comentou, em tom irónico, para os companheiros: 

— Que vos parece, rapazes? A rapariga foi às compras... 

Howard e Tyrone, os companheiros de Pete, cúmplices deste na morte do pai de Cecil, riram-se. Amy, que se detivera atrás de Cecil, pretendeu adiantar-se, mas o jovem impediu-a. 

— Combinámos que me deixava agir a mim —murmurou-lhe ao ouvido. 

— Mas... 

— Chiu... 

A voz de Pete tornou a ouvir-se em tom ameaçador. 

— És um maldito suíno e um cobarde, Ned Parson. Perdeste o pio diante de Parker e como não estás disposto a que te açoite, enviaste-lhe a rapariga para se acalmar... 

— Engole essas palavras ou não respondo por mim, Pete... 

— És demasiado cobarde, Ned... 

Ned respondeu com serenidade: 

— Será melhor não me fazeres perder a paciência. Não me assustas tu, nem me assusta esse par que te acompanha. Se tivesse alguma coisa a dizer a Parker, tê-lo-ia feito. 

— Julgas que me enganas, Ned? Não lhe disseste nada, porque receavas que eu soubesse que falaras. Mas mandaste a rapariga com a história para ele te deixar em paz. 

— Isso era o que tu terias feito, Pete. Eu não procedo assim. Se ele quer saber, que adivinhe. 

— Cala-te, delator. Mas asseguro-te que esta vai ser a última ação má que fazes na tua vida. Quanto à rapariga, ela também receberá o que merece... 

— E também castigarás Parker? — perguntou Parson em tom irónico. 

— Julgas que somos uns cobardes como tu? Dar-lhe-emos com tanto chumbo no corpo, que ele nem soltará um ai. Embora tu não o possas ver... 

Seguiu-se uma pequena pausa que se tornou angustiosa para Amy. Pete voltou a falar, em tom de advertência: 

— Deixa de tremer com as mãos, ou faço-tas paralisar antes de tempo. 

Parson respondeu: 

— Tão valente como és, porque não te defrontas com Parker? É ele que te procura, não sou eu. 

— A ti suprimir-te-ei por seres um bufo. Quanto a ele não levará muito mais tempo do que tu a cair... 

Cecil sentia as palpitações do corpo de Amy. Compreendeu que a jovem não podia manter-se e, antes que ela pudesse lançar-se, adiantou-se e empurrou com violência a porta da cabana, que estava meio fechada, meio aberta. 

Howard, que esteve encostado à porta, viu-se atirado para a frente pelo empurrão, indo chocar contra Pete, que se achava na frente de Parson. As últimas palavras de Pete pareciam vibrar ainda no espaço quando Cecil fez a sua aparatosa aparição entre os assassinos, dizendo tranquilamente para Pete: 

— Vamos a ver isso, Pete... 

Tyrone, que estava em plano de vigilância, tentou puxar dos «Colt» mas, antes de conseguir o seu intento, já o de Parker cuspia fogo e chumbo, atingindo o assassino que, após uma trágica pirueta, caiu morto. 

Quando Pete e Howard voltaram a si do espanto que lhes causara o aparecimento de Cecil, tinham apontado contra si o «Colt» de Parker. O jovem perguntou friamente para Pete: 

— Queres repetir o que disseste, maldito assassino? 

O bandido tentou compor um sorriso que resultou num esgar, acabando por responder num tom que pretendia ser alegre: 

— Que diabo, jovem! Você surpreende toda a gente com essas maneiras... Pode saber-se quem aqui o chamou? 

— Não armes em ignorante. Sabes perfeitamente quem eu sou e sabes também que venho aqui para te matar. 

— Matar-me?... Que ideia é essa?... Posso saber porquê? 

Antes que Parker tivesse tempo de responder, Pete prosseguiu: 

— Compreendo... Incomoda-te que eu pretenda também a rapariga... Bem, ela agrada-me, mas se te prefere a ti, não vejo que o caso tenha importância para nos zangarmos. Não gosto de tratar dos assuntos à força. 

— É inútil que trates de ganhar tempo, Pete. A próxima bala que sair do meu «Colt» leva escrito um nome: o do assassino de meu pai. Entendes-me? 

— Sim, entendo-te. Isso quer dizer que tu és Cecil Parker. 

— Precisamente — admitiu o jovem. — E vai ser desastroso para ti. 

— Pois, o melhor é procurares o assassino de teu pai onde ele se encontra. Nada tenho a ver com esse assunto. 

— Há pouco estavas a gabar-te de que me ias dar mais chumbo daquele que eu pudesse aguentar. Já te arrependeste? 

— Para falar verdade, devo dizer que esse teu «Colt» é que me está a fazer hesitar. A vantagem é tua, mas parece-me que não a utilizarás. 

-- A meu pai mataste-o pelas costas, sem lhe dares tempo para se defender. 

— Já te disse que não tenho nada a ver com esse assunto. 

— Além de cobarde, és um mentiroso. 

— Se fores capaz de guardar o «Colt», dar-te-ei a devida resposta ao que acabas de dizer. 

— Não o mereces, mas vou guardá-lo. Quero matar-te lealmente, embora o que tu mereças seja uma corda ao pescoço. 

Parker dirigiu-se para o pai de Amy. 

— Afasta-te Parson. Continua a manter a pistola apontada para esse outro indesejável para que não tenha ocasião de intervir. Mas nada mais do que isso. De acordo? 

— De acordo... 

Pete ameaçou Parson: 

— É melhor que não te metas nisto, Ned. Há-de sair-te caro. 

Amy apareceu então à porta. 

— Pete tem razão, pai. Não te metas nisto. Eu me encarregarei de não deixar Howard mover-se. 

Parson reagiu e ordenou à filha: 

— Sai daqui para fora, Amy. Este assunto é para homens. Com Parker aqui de nada me importam, as bravatas destes patifes. Vamos, Howard. Afasta-te daí e coloca as mãos à altura dos ombros. 

Amy pensou em protestar, mas um olhar de Parker fê-la compreender que devia retirar-se. Mas não se conformou por não poder representar qualquer papel na cena que ia seguir-se, manifestando-se: 

— Está bem. Estarei ali fora a vigiar, para o caso de se acercar mais algum destes bandidos. Enquanto não limparmos o acampamento e a povoação destes bandidos, a região não poderá prosperar. 

— De acordo, jovem — disse Cecil. — Faremos o possível para que possa prosperar e vamos principiar por Pete. Quer sair daqui, por favor? 

— Já vou. 

— Não se zangue. É que estou com pressa de matar este malandro. 

Pete, embora tivesse o cano da arma de Parker apontado para ele, conservava-se bastante calmo, maquinando a forma de se desfazer do seu adversário que ele sabia ser superior em velocidade e pontaria. 

Howard afastara-se, obrigado pelo «Colt» de Parson, a quem não lhe tremiam já as mãos, irradiando satisfação por ser útil em assunto de tanta gravidade. 

Sem mostrar qualquer pressa, Parker, sozinho diante de Pete, disse em tom cortante: 

— Estás a procurar a forma de matar-me sem correres risco, Pete? 

— Cada um pensa em si — retorquiu cinicamente o outro. 

— Pois não percas tempo. Não tens nenhuma possibilidade e não tardarei em demonstrar-te o acerto das minhas palavras. 

— Estás armado em fanfarrão, porque tens o «Colt» na mão. 

— Enquanto estiver com a arma na mão, a tua vida não corre perigo. Quando a meter no coldre, então é que a coisa se tornará feia. Meto-a já?... 

— Guarda-a de uma vez e terminemos com isto. 

— Onde preferes que te acerte com a bala? Porque vai ser bastante uma... 

— Não achas que estás a presumir demasiado? Vou crivar-te de chumbo. 

— Não me queres dizer onde preferes a bala? Num sítio que seja mortal, naturalmente... 

— Vai para o diabo que te carregue e acabemos depressa com isto. Estás a tentar fazer-me perder o controle dos nervos, mas não o conseguirás. 

— Tens medo, Pete... Começas a suar e as tuas mãos tremem. Sentes a garganta seca... 

À medida que Cecil ia assinalando estes factos, o bandido certificava-se que o outro falava verdade. 

— Deixa de me apontar com essa arma, ou atira de uma vez. 

Cecil guardou o «Colt» com um movimento rápido, surpreendendo Pete, que tinha pensado aproveitar precisamente esse momento. Serenamente o jovem, percebendo a surpresa de Pete, comentou com ironia: 

— Adivinhei as tuas intenções, Pete e surpreendi-te. Agora, quando quiseres... Estamos já em igualdade de condições... 

Apesar do convite de Parker, o assassino permaneceu imóvel, sabendo que, mal iniciasse um movimento, receberia a bala que lhe acabaria com a vida. 

— Vamos, Pete. Não te resolves?... 

Decorreram uns segundos sem que o pistoleiro se decidisse. 

— És um cobarde, um nojento cobarde. Não terias hesitado em meter no corpo de Parson todo o chumbo que um «Colt» carregado contém. Que fazes agora? Tens medo? 

O jovem, friamente, cuspiu na cara do bandido. 

— Vou matar-te assim, bandido. Não mereces outra coisa. 

As feições do bandido crisparam-se ante o insulto recebido, mas não se atreveu a mover um só dedo. Amy avisou nesse momento, gritando do lado de fora: 

— Alguém se aproxima... 

Cecil voltou a cabeça em direção da porta e, no mesmo instante, a mão direita de Pete partiu como um raio em busca do «Colt». Agiu sem perder de vista o adversário, na certeza de que o surpreenderia. 

Mas, ao empunhar a arma, o seu rosto acusou um ricto de angústia. Cecil não se deixara enganar e, mais ligeiro do que ele, adivinhando que o outro tentaria aproveitar esse momento, puxara também da arma que já tinha ria mão. 

Pensou então Pete em fazer fogo sem puxar da arma e fez girar levemente o coldre, ao mesmo tempo que o dedo indicador procurava o gatilho. O ricto de angústia tornou-se num de triunfo, julgando que tinha vencido. 

Mas, de repente, sentiu-se como cego pelo clarão e percebeu o impacto da bala entre os olhos, ao mesmo tempo que soava o estampido do tiro. Foram as últimas sensações que teve em vida. Com um brusco movimento que o lançou para trás, rodou sobre si mesmo e caiu de bruços, morto. 

— Meu, pai já está «quase» vingado. 

Parker acentuou a palavra «quase» de maneira significativa, conseguindo fazer estremecer Howard, que continuava sob a ameaça da arma da Parson. O bandido resmungou, dizendo para Parson: 

— Que disseste, malandro? 

— Cuidado com as palavras, Howard. Há muito tempo que não faço o gosto ao dedo e o cheiro da pólvora excita-me. Repara bem que não me tremem as mãos e isso significa perigo para quem se puser na minha frente. 

— Sentes-te muito corajoso, porque está aí esse valentão... 

— Crês que se trata disso, Howard? Pois vou demonstrar-te o contrário. Estou em dívida com o pai de Cecil Parker e, para saldar essa dívida, vou exterminar o último dos seus assassinos. 

— Esse assunto pertence-me, Parson — interveio Parker. 

— Howard é coisa minha, rapaz. Estou em divida com teu pai e contigo. E Howard está em dívida comigo. Agora chegou o momento de se liquidarem todas essas dívidas. Baixa as mãos, Howard — ordenou o pai de Amy. 

Cecil tinha metido a arma no coldre e tentou interferir, dizendo: 

— Os assassinos de meu pai pertencem-me... 

— Não te metas nisto. Já tens dois. Deixa-me a mim o terceiro. Além disso, Howard não disparou... 

Parson dirigiu-se, então, ao pistoleiro e disse-lhe: 

— Vou meter a arma no coldre. Tão depressa o faça, podes puxar pela tua. Não quero nenhuma vantagem. 

Howard respondeu: 

— Um momento. Tens todas as vantagens porque Parker não permitirá que te toque. Advirto-o na sua expressão... 

O pai de Amy voltou-se para Parker, a fim de lhe dizer: 

— Já te disse que este assunto é meu, rapaz... 

Não conseguiu terminar a frase, porque Howard saltou como um gato, caindo sobre Parson, cujo braço armado desviou. Num arroubo de energia e de habilidade, o bandido pôde dominar o pai de Amy, segurando-o com a mão esquerda para lhe servisse de escudo enquanto, com a direita foi, rapidamente, à procura do «Colt». 

Amy, que espreitara, gritou assustada: 

— Cuidado, Parker. 

0 jovem conservara a serenidade e girou lentamente para desfazer em parte a manobra do inimigo. E puxou da arma. 

Ouviu-se um tiro e Howard encolheu-se ao sentir o impacto da bala penetrar-lhe no antebraço. Teve de largar o «Colt» que empunhara e, vendo-se perdido, soltou Parson, ao mesmo tempo que se ajoelhava para se tornar num alvo mais pequeno. 

A sua mão esquerda procurou o outro «Colt». No entanto, um novo disparo paralisou-o, prostrando-o de costas. Apoiou uma das mãos no chão e tentou levantar-se, mas um terceiro atingiu-o, dando-lhe a morte. 

Durante uns instantes pairou na cabana um silêncio absoluto, quebrado por um suspiro de alívio dado por Amy. Parson deixou cair a cabeça sobre o peito, ao mesmo tempo que dizia: 

— Sim, é verdade. Não estou em condições de lutar. Julguei que tinha regressado à juventude ao ver-me a teu lado. Pensei que era o teu pai que estava a lutar com estes bandidos... Tudo acabou. 

Cecil compreendeu os sentimentos do pai de Amy. 

— Sinto muito, Parson. Certamente que já não és um rapaz, mas podes voltar a encontrar-te. 

— É inútil. Não se trata das mãos. É o cérebro que já não funciona como devia. 

O homem apontou para Howard e disse: 

-- Essa besta quase me enganou com um truque infantil. Bastou apontar para ti, para me distrair... 

— Não pretendo que possas lutar como um jovem, nem que principies a andar aos tiros. Mas, se deixares de beber, não serão somente as tuas mãos, mas também o cérebro que ficará a ganhar. Deixa de beber e de jogar: os nervos acalmar-se-ão e ficarás outro homem. 

— E se deixo de jogar e de beber, para que hei-de viver, queres dizer-me? 

— Estás a falar como um pobre diabo. Creio que a vida é mais alguma coisa do que beber e jogar. Na bebida e no jogo refugiam-se os fracassados, os inúteis, a escória, compreendes?... 

— Nem por isso... 

— Compreendes-me, sim. Mas, para deixar a bebida e as cartas, há que ser homem e estás feito um pusilânime... Pensa na tua filha. Não sentes necessidade de viver com ela? É linda, casar-se-á e dar-te-á netos. Não pensas contar-lhes as tuas façanhas quando lutavas ao lado de meu pai? 

Depois de uma breve pausa, prosseguiu: 

— Não pensas na delícia de poder respirar com gosto, de te sentires são? Só por isso vale a pena viver e afastar-se da bebida e do jogo... 

— Talvez tenhas razão, mas... 

— Não há mas, nem meio mas. Estás na altura de te decidires. Ou te salvas ou te afundas para sempre. 

Amy voltou a avisar: 

-- Está já perto. São três pelo menos. Não... são quatro. E creio que um deles é John Kraft em pessoa. 

— Quem é John Kraft? — perguntou Parker. 

— É o chefe de todos os foragidos que andam por aí a monte. 

Parker dirigiu-se para a jovem. 

— Amy, faça o favor de vir cá para dentro. 

— Acha que tem direito a dar-me ordens? 

— Nada lhe ordenei, pedi por favor. 

— De acordo. Mas não o autorizei a tratar-me pelo nome de batismo. 

-- Muito bem, «miss» Parson. Peço-lhe que me desculpe, mas meta-se para dentro... 

— Até você chegar fui sempre eu a mandar em minha casa. — Não se preocupe. Se continuar com esse génio e assim tão bonita, há-de chegar a mandar na minha. 

— Que engraçado é você... 

— Logo conversaremos. Agora, venha cá para dentro. Os homens estão a chegar. 

E, antes que ela o pudesse imaginar, agarrou-a pela mão esquerda e puxou por ela suavemente, obrigando-a a entrar em casa. 

— Deixe-se estar quieta. Convença-se que isto é assunto de homens. De acordo? Bem... bem... logo já discutiremos. 

Parson apoiou Parker, dizendo: 

— Obedece. Fica aqui dentro e deixa-nos a nós... 

— Foi para isto que aprendi a manejar os «Colt»? 

— Obedece! — gritou o pai encolerizado. 

Amy calou-se rapidamente. Parker saiu para a entrada da cabana enquanto Ned Parson, ficava perto dele, cobrindo-o do outro lado da porta. 

— Estou bem situado, rapaz? 

— Sim. 

— A experiência é um trunfo. 

— Tem fé em ti próprio e venceremos. 

— É como quando lutava ao lado de teu pai —replicou Parson, realmente emocionado. 

Os quatro bandidos, cuja presença Amy assinalara, chegavam já à porta da cabana do pesquisador de ouro. John Kraft separou-se do grupo, fingindo não reparar em Parker e dirigindo-se a Parson. 

— Que aconteceu aqui?  

Parson respondeu: 

— Vê lá como falas. Pareces esquecer que estou em minha casa. 

A mão direita de Parker foi-se acercando lentamente da coronha do «Colt». 

— É melhor responderes, Ned Parson... 

Parker não perdia de vista os quatro pistoleiros e interveio para dizer: 

— Quieto com essa mão, Kraft. Todos sabemos manejar um «Colt». Se o duvidas, alarga o pescoço e deita um olhar aí para dentro. 

— Ninguém te perguntou nada a ti, forasteiro. 

— Mas apetece-me falar. E é conveniente que faças caso do que digo. Espreita lá para dentro, homem... 

Kraft estendeu o pescoço, tal como Parker o aconselhara e descobriu os cadáveres dos seus três companheiros. 

— Quem fez isto? 

A voz do chefe dos bandidos tinha tom ameaçador, mas não impressionou Parker, que respondeu, trocista: 

— Eu sozinho. Eram amigos teus? 

— Eram amigos meus, eram. 

— Pois podes levá-los quando quiseres. 

Os dois homens estavam excelentemente situados para, cruzando o fogo das suas armas, varrer os bandidos, apesar da defesa que estes tinham com as suas montadas. Por outro lado, Amy empunhara uma espingarda e, bem entrincheirada no interior da cabana, mantinha a arma apontada para o chefe. 

— Será preferível não pensares em armar sarilho, Kraft. Esquece-te da «artilharia» e leva esses mortos contigo—comandou Parson, que se sentia em segurança. 

— O «whisky» deu-te hoje ânimo para armares em fanfarrão? — perguntou Kraft, em tom mordaz. 

Cecil interveio novamente. 

— Leva os corpos dos teus amigos agora, que é boa ocasião. E se saíres da região ficas a ganhar tu e fica a ganhar a região inteira. 

— Não achas que te subiu à cabeça a sorte que tiveste até este momento? 

— O pior para vocês é que vou continuar a ter sorte e isto vai tornar-se muito mau para vocês... 

Dean, que era o que estava mais atrás, adiantou-se e disse qualquer coisa ao ouvido de Kraft. Cecil sorriu-se em ar de desprezo. 

— Os homens que pretendem ser valentes falam em voz alta, sem receio de nada nem de ninguém. 

— Eu falo corno me apetece. 

— Pois é. E apetece-te falar como as mulheres... 

O pistoleiro, furioso pelo insulto, esporeou brutalmente o cavalo, lançando-o contra Parker, ao mesmo tempo que levava a mão ao «Colt». E, para oferecer um alvo mais pequeno, estendeu-se materialmente sobre o dorso do cavalo. 

Cecil percebeu o golpe e saltou para o lado, agachando-se e puxando também da sua arma. Dois tiros do bandido cravaram-se na parede da cabana, no lugar onde anteriormente se encontrava Parker. Este fez fogo por seu turno e atingiu o pistoleiro numa costela. Dean estremeceu ao sentir o impacto da bala, não foi capaz de deter a tempo o cavalo e este precipitou-se de encontro à parede. 

O bandido tentou atacar de novo, mas uma segunda bala derrubou-o sem vida. John Kraft não perdeu a serenidade e, para evitar ser crivado de balas, gritou: 

— Quieto, Dean! Maldição!... 

O cavalo do bandido, ao ouvir os tiros tão próximos e percebendo que ninguém o dirigia, relinchou fortemente, empinou-se e livrou-se do corpo do que havia sido seu cavaleiro, desatando a correr, assustado. 

Parker, que tinha estado encoberto pelo animal, ficava de novo em frente de Kraft e dos seus dois sequazes. O primeiro deles resmungou: 

— Estúpido Dean. Tens o que merecias. 

Parker tinha a arma na mão e ordenou secamente: 

— Já que são vossos amigos, levem daqui estes bandidos. 

Kraft, sem responder ao jovem, dirigiu-se aos seus companheiros: 

— Vamos. Levá-los-emos nos seus próprios cavalos. Foi bem feito para não se meterem onde não eram chamados. 

Quando, depois de carregarem com os corpos, Kraft e os outros se dispunham a irem-se embora, Parker ameaçou-os: 

— Se alguma acontecer a Parson ou a esta rapariga, hás-de pagá-lo, John Kraft. E eu sou dos que não avisam debalde. 

Kraft não respondeu, dando a impressão de não ter ouvido. 


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