domingo, 4 de agosto de 2019

FBV035.09 A vingança do noivo enjeitado

No seu escritório, Pat Carpenter olhou, curiosamente, o rosto de Lassiter, tumefacto até as o inacreditável. Junto deles, encontrava-se a sinistra figura de Lass Overland. Carpenter, com dois "Colts" 45 na cintura, era o braço direito de Lassiter, em Turner. O outro, Overland, era um dos muitos pistoleiros de Lassiter, e acabara de entrar naquele momento.
— O que é? — perguntou-o "patrão".
— Algo muito importante — respondeu o pistoleiro —. Sigrid Bolton e esse pistoleiro chamado Evans, casaram esta manhã!
Lassiter retrocedeu um passo e bradou:
— Repete. isso, Overland.
O outro assim fez, e Lassiter acrescentou:
— Onde se encontram agora? — Na estalagem da Ana. Não é segredo para ninguém em Turner. — Retorquiu o outro, com um sorriso irónico.
— Bolton foi ao casamento?
— Não.
Lassiter pôs-se em pé e começou a percorrer o compartimento a passos rápidos e agitados, enquanto pensava como devia agir. Evans não poderia sair vivo de Turner; depois ajustaria contas com ela. Seria fácil, muito fácil, mesmo, acabar com eles, naquela mesma noite.
Ninguém, e muito menos Evans, com uma mulher como Sigrid, levaria a noite vigilante, de "Colt" na mão, na noite do seu casamento.


— Então — disse a Carpenter: — Será melhor que me deixeis só, mas sem vos afastardes muito. Talvez venha a precisar de vocês.
Os outros saíram e Lassiter ficou só durante mais de uma hora, arquitetando um plano maquiavélico. Depois, saiu e disse para Carpenter:
— Vamos ao rancho de Bolton.
Montaram a cavalo e duas horas mais tarde chegavam ao destino. Acercaram-se, devagar, esquadrinhando os arredores. Só avistaram dois vaqueiros que descansavam à sombra de uma arvore. Bolton levantou-se assim que os viu chegar, e enfrentou Lassiter, quando este desmontava.
— Que deseja? Se procura Sigrid, ela não está aqui.
— Sei isso, Bolton.
— Então para que veio? Pensei que já estaria casado com ela. Que se passou?
— Pensei que já o sabia — replicou. —Como não é assim, eu lhe explicarei. Entramos?
— Só os dois? — perguntou, sarcasticamente Bolton.
— Porque não?
Entraram e foram para o escritório de Bolton.
— De que se trata?
— De Sigrid. Onde está ela?
— Talvez na pradaria, ou a tomar banho no riacho. Suponho que andará por aí...
Lassiter riu-se, asperamente.
— Basta! Sigrid está em Turner, casada com esse pistoleiro, Clark Evans.
Seguiram-se uns segundos de silêncio, até que Bolton exclamou:
— Sempre esperei que isso acontecesse, mais tarde ou mais cedo. Que pensa fazer, agora, Lassiter? 
— Evans desejará saber algo e eu estou disposto a dizer-lhe...
Bolton empalideceu.
— Saia daqui, Lassiter — disse —. Clark Evans nunca disparará contra o pai de sua esposa.
— Veremos, afinal, o que Evans fará, quando souber quem foi o assassino de seu pai.
— Eu não fui, e você sabe-o bem! — gritou Bolton, desesperado.
O outro saiu e montou a cavalo, partindo a galope com os dois guarda-costas para Turner. Pelo caminho ia pensando. Não se tinha enganado. Bolton e Sigrid tinham planeado aquilo, certos de que Evans não dispararia contra o pai de sua mulher.
— Será melhor que procuremos um lugar onde acampar. Não desejo entrar em Turner, senão de madrugada, que é uma excelente altura para procurarmos um casal de noivos...
Deixando a janela da qual vigiava a rua, Evans voltou-se para admirá-la. Com os cabelos soltos e caídos sobre a almofada, e os olhos fixos no_tecto, respirava suavemente, com perfeita tranquilidade, completamente imóvel.
Evans acercou-se da cama, e ela voltou para ele o belo rosto, ligeiramente ruborizado.
— Está anoitecendo, Sigrid.
Ela sentou-se na cama sorrindo, mas por pouco tempo.
— Não te quero aqui, compreendes? —explicou Evans. — Veste-te e vai para o rancho.
Ela pôs-se de pé, tremendo.
— Quero saber o que te propões fazer, Clark — disse, suavemente —. Mas, a verdade. Eu... não chego a compreender-te...
— Que queres? Que continue ao lado da filha do homem que matou meu pai? Respeitarei a sua vida, sim, mas nada mais. Veste-te, Sigrid, e parte para o rancho, será melhor para todos.
Pela centésima vez, voltou para a janela e, de costas, ouviu o rumor que ela fazia a vestir-se e os passos trémulos com que ela se dirigiu para a porta, abandonando o quarto matrimonial.
E vans ficou esperando. Podia ser naquela noite, ou no dia seguinte.
Assim esteve muitas horas. Esperando, sempre esperando, Evans continuou no mesmo sítio, até que, finalmente, viu recompensada a sua persistência.
Três sombras. Três homens. Três pistoleiros que avançavam colados às paredes. Phil Lassiter tinha mordido o anzol. Ali estava ele, na rua, seguro de que o marido estaria entretido nos braços da formosa mulher, e esperando surpreendê-los como se fossem dois coelhitos...
Evans afastou-se da janela, ajustou mais o cinturão, verificou que o "Colt" saía com rapidez, e abandonou, silenciosamente, o quarto. Completamente descalço, procurando não fazer o menor ruído, atravessou o corredor e saiu pelas traseiras da casa.
Parou na esquina e escutou. O leve rumor dos passos era percetível àquela distância. Lassiter e os seus sequazes avançavam para a estalagem de Ana. Mas não devia deixá-los entrar, pois a surpresa dava-lhe vantagem, na rua.
Lentamente, com infinitas precauções, Evans assomou a cabeça e esquadrinhou a rua. Lassiter estava separado da porta principal, uns dez metros. A seu lado, os dois pistoleiros, aguardavam a distância habitual.
Com a mão colada à coronha do "Colt”, Evans abandonou a proteção, da esquina e entrou na rua. Avançou pelo passeio de madeira, nas costas do trio, sem cuidar já de evitar o ruído dos seus passos descalços.
Lassiter chegara à porta, enquanto Carpenter se detinham no passeio oposto, separados entre si por seis ou sete metros. Naquele momento, Lassiter voltou-se para os outros, dizendo:
— Está fechado. Vamos pelo lado de trás...
Interrompeu-se ao ver Evans, parado no meio da rua, com um sorriso sinistro nos lábios, um pouco inclinado para a frente, com a mão direita junto à coronha do "Colt".
— Boas noites, Phil — saudou com indiferença —. Estava certo de que me procurarias e, por isso, me antecipei. Desejas qualquer informação respeitante ao meu casamento com a tua prometida?
— Não, não se trata disso, e tu devias sabê-lo, Evans. E de um assassínio que te quero falar.
— Acompanhado de dois dos teus homens? Bom, isso não importa. Desembucha, então, Phil.
— Refiro-me a um assassínio que diz respeito a ti e a Josias Bolton. Percebes? Sabes quem te armou a emboscada em que ias morrendo? Tu montas um dos seus cavalos. Compara as marcas e saberás quem foi.
— Já o fiz e cheguei à conclusão que foste tu, Lassiter, quem preparou tudo.
— Isso é uma conclusão estúpida. Que motivos teria para isso? Sigrid? Vendo bem as coisas, talvez. Mas há outro motivo muito mais poderoso, e que tu conheces tão bem como eu. Trata-se do assassínio de teu pai. Recordas-te, Clark Evans...? Pois eu sei quem o matou!
Durante algum tempo, nenhum deles pronunciou palavra. Foi Evans quem quebrou o silêncio, com uma afirmação que surpreendeu o outro.
— Eu também sei, Lassiter. Tens alguma coisa mais a dizer, antes de te matar? Ouve, não penses que fui eu, porque se é assim...
Já não continuou. Do outro lado da rua, Carpenter sacou os dois "Colts". Um traço de fogo e uma detonação, interromperam o diálogo. E, enquanto Overland saltava, procurando refúgio num dos obscuros portais, e Lassiter se metia junto à porta do estabelecimento de Ana, Carpenter caía mortalmente ferido, sem chegar sequer a engatilhar as armas.
E quando Overland pensava estar já salvo, o segundo balázio de Evans alcançou-o no peito, em pleno coração, abatendo-se de cabeça para baixo, quando Lassiter começava a disparar contra a figura de Evans que, envolto em fumo e fogo, se voltava para ele, disparando por sua vez.
Lassiter rolou pelo passeio, levando a morte no corpo e em seguida, caiu para a rua, enterrando a cara no pó. Com um frio sorriso quase inumano, Evans soprou o cano do "Colt", desceu do passeio para a rua e inclinou-se sobre Lassiter, no momento em que o xerife de Turner, de armas nas mãos, aparecia correndo.
Lassiter ainda vivia. Os seus olhos começavam a tornar-se vítreos, quando os cravou no rosto de Evans para dizer algo. O rapaz acercou-se mais e ouviu-o murmurar:
— Foi ele... Bolton... matou teu...pai… Eu... eu vi...
Cerrou os olhos, definitivamente, ao terminar estas palavras. Quando Evans se pôs de pé, o xerife perguntou-lhe:
— Espero que me explique tudo isto, Clark Evans...
Este descreveu toda a ocorrência, mas não mencionou a acusação de Lassiter contra Bolton, momentos antes de morrer. Depois, ambos se olharam friamente, e foi o xerife quem perguntou:
— Que pensa fazer a respeito de Bolton? Ouvi perfeitamente...
Evans atalhou com um gesto.
— Isso ocorreu há anos, muito longe daqui, no Estado do Texas. Além disso não quero apresentar queixa.
O xerife olhou-o com crescente surpresa e replicou:
— De acordo, Evans, não há queixa. Mas tenha em conta que, se sucede qualquer coisa a Bolton, o tornarei responsável por isso. Não o esqueça!

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