segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ARZ014.09 Fuga aos bandoleiros

Foi Cliff quem os arrancou do seu assombro.
— Vamos embora daqui imediatamente.
Com mão forte e firme, empurrou-os para a saída. Porém, mal transpuseram a porta, viram um grupo de homens que avançava apressado para eles.
— Rápido! — ordenou Cliff. — Escondam-se atrás do bebedouro.
Nancy e Bobby obedeceram-lhe, ao mesmo tempo que o jovem, antes de os imitar, disparava uns quantos tiros contra os que se aproximavam. Estes apressaram-se a entrincheirar-se detrás de barris, carroças e tudo quanto podia oferecer proteção.
Lloyd Hudson, que era quem capitaneava aqueles homens, empunhava o revólver e, ao abrigo duns grandes caixotes amontoados a um canto, exclamou com a ira a brilhar-lhe nos olhos:
— Ignoro como fizeste para te salvares, Cliff, mas desta vez não escaparás! Hei-de acabar contigo, maldito traidor!
Ao mesmo tempo levantou o revólver acima do abrigo e fez vários tiros contra o bebedouro. Os seus homens imitaram-no, enviando uma chuva de balas contra o lugar onde se escondera o jovem.
Cliff ouviu silvar os projéteis por cima da cabeça e as pancadas secas dos que se cravavam na madeira. Junto dele estavam Nancy e Bobby.


A rapariga estava muito pálida, com os lábios apertados, enquanto o pequenito não podia dissimular a sua excitação. Com os olhos brilhantes, murmurou:
— Se eu tivesse um revólver...
Cliff disparou dois tiros contra os seus inimigos e depois sussurrou:
— É preciso fugir daqui. Você e o menino, Nancy, deem a volta à cavalariça e dirijam-se correndo para os cavalos.
A rapariga olhou para ele.
— E você? — perguntou.
— Eu seguirei atrás de vocês imediatamente.
Esperou que o tiroteio amainasse um pouco, ordenando com dureza:
— Depressa! Agora!
No momento em que a rapariga e o pequenito se punham de pé e deitavam a correr, Cliff começou a disparar o seu revólver em leque, e antes que os outros tivessem tempo de reagir, Nancy e Bobby tinham desaparecido já detrás da cavalariça.
Cliff esperou novamente que amainasse a tempestade de chumbo e de fogo que caiu sobre o bebedouro; então, por sua vez, de um prodigioso salto dirigiu-se para o ângulo do edifício. Soaram alguns disparos e, no momento em que dobrava a esquina, sentiu zumbir junto a ele vários projéteis. Correu quanto pôde atrás da rapariga e do pequeno e, quando chegou em frente da cantina, viu-os já montados sobre um dos cavalos.
— Meta esporas, Nancy! -- gritou.
Ao mesmo tempo, saltou para a sela do seu cavalo e ambos os animais partiram a galope. Mas encontraram o caminho de regresso para Tonopah cortado por alguns dos homens de Lloyd Hudson, que abriram fogo contra eles.
Cliff e Nancy obrigaram as suas montadas a dar meia volta e empreenderam a fuga para a pradaria. Inclinados sobre os pescoços dos cavalos, sentiam o vento fustigar-lhes brutalmente o rosto em consequência da velocidade da corrida.
O jovem voltou a cabeça, verificando que eram seguidos por Lloyd e a sua gente. Começaram a soar os tiros, e em volta dos fugitivos ouviu-se o mortal zumbido das balas.
Cliff, de quando em quando, voltava-se na sela para responder ao fogo dos perseguidores, embora a velocidade e a profusão dos desníveis de terreno tornassem quase impossível acertar no alvo.
O jovem pôde verificar que o seu cavalo era um animal rápido e resistente que, tal como supusera, podia aguentar facilmente um esforço prolongado. Olhou, porém, com certa angústia para o que montavam Nancy e Bobby, notando que estava menos acostumado à fadiga. Era preciso, pois, aliviá-lo de parte da carga.
Arrimou-se quanto pôde ao outro cavalo e, sem diminuir a velocidade, gritou com todos os pulmões:
— Dê-me o Bobby!
A rapariga, que demonstrava ser uma grande amazona, entregou-lhe o pequenito. Cliff agarrou-o com força, colocando-o na sua frente, quase sobre o pescoço do cavalo.
— Agarra-te bem! — gritou-lhe ao ouvido.
Bobby aferrou-se com ambas as mãos às crinas, permitindo deste modo a Cliff ocupar-se dos seus inimigos, a cujos tiros continuou a responder. Aproximavam-se duma zona montanhosa, onde o jovem estava convencido de lhes ser mais fácil safar-se dos seus perseguidores.
Ao meter por um caminho que serpenteava por entre maciços rochosos, voltou-se, fazendo dois tiros. Antes de dobrar um cotovelo, viu um dos cavaleiros de Hudson abrir os braços e cair atingido pelas balas.
Continuaram por aquele caminho que se internava na montanha. Os cavalos, que já começavam a dar sinais de fadiga, saltavam os obstáculos e ladeavam as árvores e as matas espinhosas.
Cliff decidiu deixar o caminho e começaram a subida por onde lhes era possível avançar. Muitas vezes tiveram de recuar, por encontrarem a passagem impraticável pela espessura do bosque ou por alguma muralha de rocha.
Havia já horas que marchavam por entre a floresta, quando o jovem deteve o cavalo e apurou o ouvido com grande atenção. Por fim, pareceu tranquilizar-se.
— Não se ouvem. O mais certo é que perdessem o nosso rasto.
Nancy, que parecia cansada, murmurou:
— Então será melhor regressarmos a Tonopah.
Cliff abanou a cabeça negativamente.
— Não. Hudson não é tão ingénuo. Terá deixado homens vigiando a saída destas montanhas. Além disso, elas continuam à nossa procura, não lhe reste dúvidas; e se agora retrocedermos, o mais provável é cairmos nas suas mãos. Detrás de cada árvore, de cada matagal, pode estar um perigo.
Nancy afastou com a mão uns caracóis que lhe caíam sobre a fronte.
— Que podemos fazer?
Cliff olhou para o alto, onde a luz do dia ia desaparecendo.
— Procurar um sítio onde passar a noite. Talvez amanhã encontremos um meio de nos escaparmos.
No rosto da rapariga refletiu-se o maior desalento.
— Amanhã... Mas isso representa passarmos uma noite de perigo. Seria melhor tentar a fuga quanto antes.
— Olhe, Nancy, eu conheço Hudson muito bem. Sei que hoje não suspenderão a busca; sei que durante a noite os seus homens revistarão palmo a palmo as montanhas. Inevitavelmente, topariam connosco, se tentássemos sair daqui. Amanhã, pelo contrário, estarão esgotados por uma noite de contínua batida e ser-nos-á mais fácil iludir a sua vigilância. É preciso permanecermos escondidos até que amanheça o novo dia. Só assim teremos uma probabilidade de salvação. O meu revólver, só, pouco pode contra a quadrilha de Lloyd. Por outro lado, estão em jogo as vidas sua e do Bobby. Se me obedecerem, estou seguro de que sairemos bem desta ratoeira.
— Conta comigo para tudo — disse Bobby, em tom decidido. — E se pudermos desarmar um dos nossos perseguidores, eles terão de enfrentar-se com dois revólveres: com o teu e com o meu.
Apesar do difícil da sua situação, Cliff e Nancy não puderam evitar um sorriso ante a decisão que mostrava o pequenito.
— Está bem, Bobby, tomo em consideração a tua ajuda.
Retomaram a marcha, à medida que uma crescente escuridão ia envolvendo tudo. Foi na encosta dum promontório que os olhos penetrantes de Cliff descobriram a entrada duma cova meio oculta pelo mato. Era um lugar excelente para passar a noite; mas antes foi explorá-la, para a hipótese de tratar-se do covil duma fera.
Uma vez verificado que se achava abandonada, ali se instalaram os três fugitivos. Como era muito ampla e alta, os cavalos foram também acomodados à entrada.
Enquanto Cliff desenrolava as mantas, um estremecimento percorreu o corpo de Nancy.
— Está frio. Não poderíamos fazer uma fogueira?
— Não. Seria uma forma de denunciar a nossa presença. Teremos de nos valer da luz das estrelas e combater o frio com outros meios.
Bobby sentou-se numa pedra.
— Tenho fome.
Cliff procurou nas bolsas da sela e tirou alguns mantimentos que dividiram pelos três. Depois entregou à rapariga o seu colete de couro.
— Tome, vista isto. Eu não preciso dele.
Quando terminaram a frugal refeição, Cliff olhou para Nancy.
— Você e Bobby durmam juntos. Isto os ajudará e aquecerem.
A rapariga e o pequeno assim fizeram, utilizando a sela de montar como almofada. Cliff enrolou-se na sua manta, deitando-se perto do local onde estavam cavalos, através de cujas patas podia ver a entrada da cova. Para evitar uma surpresa, tirou o revólver do coldre, conservando-o na mão. Seguro de que ao menor ruído acordaria, dispôs-se a dormir.

Sem comentários:

Enviar um comentário