Já cavalgavam há algum tempo em silencio, a medida que a crescente obscuridade os envolvia, quando Deborah murmurou:
— Por que foi John ao encontro dessa mulher? Que relações havia entre eles? Diga-me, por favor. É o meu último pedido.
Russ, que cavalgava ao pé dela, olhou-a com tristeza.
—Nao houve nada. Carol nao significou coisa alguma para John. Foi um simples passatempo, que só durou uma semana. Mas nao a voltou a ver desde que a conheceu a si.
Nos olhos da rapariga havia um brilho de ansiedade.
—No entanto, hoje correu para junto dela, quando o chamou.
Russ franziu a testa e umas rugas de amargura apareceram nas comissuras dos seus lábios.
—Ele nao queria ir. Fui eu quem o convenceu a comparecer a entrevista. Disse-lhe que s6 um cobarde deixava de ajudar uma mulher em perigo. Só isso o decidiu a ir ao encontro de Carol.
Os lábios da rapariga tremeram.
—Nao me engana, Russ? Ele sacudiu a cabeça.
—Nao, Deborah. Ninguém gosta de confessar que levou um amigo a cair numa emboscada.
A rapariga, corn um fio de voz, sussurrou:
—Nao teve culpa. Nao sabia que era uma armadilha.
De repente, inesperadamente, uma sombra saída da espessura, plantou-se no meio do caminho. Os cavalos, assustados, encabritaram-se.
—Mãos ao ar — ordenou o recém-chegado.
Deborah foi a primeira a reconhecê-lo.
— John! — exclamou num soluço em que se misturava assombro corn a mais louca alegria.
Tanto Russ como os cinco homens que os escoltavam ficaram petrificados pela surpresa. Com efeito, era John quem permanecia plantado no centro do caminho, empunhando um revolver com a mão direita e tendo a mão esquerda envolvida num lento ensanguentado. No seu rosto havia uma expressão dura, implacável, e os seus olhos ardiam como ferros em brasa.
— Já disse, mãos ao ar! —repetiu com voz metálica.
Wilkens e os seus homens apressaram-se a obedecer. Russ desmontou, rápido, exclamando:
—John! Mas o que aconteceu?
No entanto, o jovem nao lhe pôde responder porque Deborah, que também desmontara, correu para ele balbuciando
—John, John... Antes que o rapaz o pudesse evitar, a rapariga abraçou-se a ele, chorando de alegria e interpondo-se entre John e os bandidos.
Wilkins aproveitou rapidamente a oportunidade que se lhe oferecia. baixando a mão direita, puxou a sua arma com um gesto veloz. John, corn a mão esquerda deu um forte empurrão na rapariga, deitando-a ao chão, ao mesmo tempo que apertava gatilho do seu revolver.
Wilkens, sem chegar a fazer fogo, estremeceu violentamente e apertou o peito corn ambos os braços. Depois, deixou-se escorregar da sela e caiu ao chão, pesadamente. Os outros quatro homens tinham imitado o seu exemplo e brandiam as suas armas. John ainda pôde acertar num antes de se ver obrigado a procurar refúgio atrás de um arbusto.
Mas Russ nao tinha ficado inativo. Ao ver cair Wilkens, lançou-se sobre ele como um tigre e apoderou-se do seu «Colt». Depois, disparou contra um dos três homens que ameaçavam John corn as suas armas. 0 individuo teve um sobressalto e caiu, morto, do cavalo.
Os dois restantes ficaram desconcertados por um momento e esporearam os cavalos com o propósito de fugir, ao mesmo tempo que disparavam freneticamente a sua volta sem apontar. Mas, nao conseguiram o seu intento.
Apesar de ser quase noite fechada, bastaram dois tiros a John para acertar no alvo e matar um com uma bala no estômago e outro com uma nas costas. Do último deu boa conta Russ, esvaziando contra ele todo o tambor do seu revolver. Terminado o combate, John foi para junto de Deborah.
— Encontras-te bem? — perguntou, tratando-a por tu pela primeira vez.
Ela fitou-o angustiada.
—Perdoa-me, John. Fui uma parva, quase estraguei tudo.
Russ aproximou-se lesto.
— Que aconteceu, John? — perguntou. — Julgávamos que te tinham feito cair numa armadilha.
O jovem, com palavras breves, mas claras, explicou-lhes tudo o que acontecera no Vale das Aguias. E, para terminar, disse:
— Quando cheguei a vista do rancho, este começava a arder. O meu primeiro impulso foi vir a toda a pressa; mas compreendi que era melhor agir corn cautela. Aproximei-me silenciosamente e vi que estes homens os levavam prisioneiros. Então segui-os, esperando um momento oportuno para intervir.
Deborah tomou entre as suas a ensanguentada mão esquerda do jovem.
—Estás ferido, John!
— Nao te preocupes agora corn isso — disse ele. —O que interessa é que me expliquem o que lhes aconteceu.
Russ contou-lhe, em poucas palavras, tudo o relacionado com a caixa que encontrara no celeiro, a maneira coma Cobb os tinha surpreendido e a história que este mesmo lhes contara sobre a procedência do dinheiro.
—Bem, agora percebo o que Cobb procurava no rancho — murmurou o rapaz. —Onde' esta agora Cobb?
— Em Dodge, esperando que os seus homens vão ter com ele depois de nos matar. Esta corn a Carol. Ela e ele... bem, tu percebes. John, mereço que me dês um murro no nariz. Anda, dá-mo.
— Porque?
— Fui eu quem te convenceu a ir ao encontro. Se nao fosse por minha causa nao terias caído na armadilha.
O rapaz fez uma careta e deu-lhe uma palmada nas costas.
—Nao te preocupes. Foi melhor assim; desta maneira as coisas ficaram bem claras.
John encaminhou-se para a espessura e regressou trazendo o seu cavalo. Ao ver que se dispunha a montar, Deborah perguntou:
—Onde vais?
Ele fitou-a com olhos duros.
—Vou a Dodge, procurar Cobb.
Deborah crispou as mãos sobre o seu braço.
— Nao vás, John. Esse homem é um assassino; matar-te-á.
Mas o rosto dele era a imagem da decisão.
—Isso veremos. Mas há uma coisa certa: é preciso acabar corn tudo isto de uma vez para sempre.
Instalou-se rapidamente na sua sela e, esporeando o cavalo, partiu a galope, perdendo-se na obscuridade. Deborah permaneceu um momento aturdida e depois, fitando Russ, exclamou:
—Temos de ir com ele!
Montaram a cavalo e partiram em perseguição do rapaz.
*
Cobb convidara para beber todos as que se encontravam no saloon, naquela noite. Ele mesmo bebia whisky em abundância, dizendo para Carol:
TOO —
— Quando uma pessoa fica rica, tem de saber celebrá-lo. De hoje em diante, tu e eu viveremos coma milionários.
—Sim, Dick — dizia ela, que também esvaziava copo após copo. —Mas toma em atenção que nao poderemos dispor de todo o dinheiro; Wilkens e os rapazes reclamarão a sua parte.
Ele sorriu sinistramente.
— Bah, nao vai ser muito difícil livrar-nos deles. Ou é que tu me julgas tão parvo que lhes fosse dar um bom quinhão dessa fortuna? Nao, querida, irei liquidando-os um a um. Sei como se fazem essas coisas.
Os olhos da bailarina brilharam de cobiça e beijou Cobb.
— Oh, Dick, és formidável
A animação no saloon estava no seu apogeu. Toda a gente bebia em abundância quando, de repente, se abriu a porta e entrou um homem.
Cobb ficou petrificado, segurando um copo na mão e contemplando o recém-chegado corn olhos de quem vê um fantasma.
Carol, que tinha empalidecido terrivelmente, levou uma mão a boca e balbuciou aterrada:
—John...
O jovem, depois de permanecer uns momentos na entrada, começou a andar lentamente em direção a mesa onde se encontravam o pistoleiro e a bailarina. Estes pareciam incapazes de se mover, tal era o seu temor e o seu profundo assombro.
A sua atitude nao passou despercebida ao resto dos presentes que, de súbito, guardaram silencio e se dispuseram a contemplar a cena.
John continuava a avançar e as suas esporas tiniam no silencio que invadia o saloon. Parou a uns passos da mesa e ficou a olhar para Cobb e para Carol.
—Nao, nao sou um fantasma—murmurou. —Sou eu em came e osso. A vossa emboscada falhou, assim como o vosso piano para assassinar Deborah e Russ. Wilkens e os outros morreram.
Nem a bailarina nem o pistoleiro conseguiram abrir a boca.
— Agora vim solucionar este assunto contigo, Cobb, de homem para homem—prosseguiu o rapaz. — Vou esperar-te lá fora, na rua, e se nao és um desprezível cobarde, sairás para me enfrentar. Toda esta gente e testemunha de que te desafio nobremente. Veremos se és tao valente como pretendes.
Sem dizer mais nada, retrocedeu até a porta e saiu do saloon. Durante uns instantes, ninguém se atreveu a interromper o silencio. Depois, Carol, que estava visivelmente nervosa e em cujos olhos brilhava o ódio, voltou-se para Cobb:
— Tens de sair imediatamente, Dick. Temos de nos livrar de John o mais depressa possível.
— Deixa-me — replicou Cobb, esvaziando de um trago um novo copo de whisky.
—Não, nao compreendes que ele nos vai impedir de ficar com o dinheiro? Tens de sair e de o matar.
Cobb estava crispado, inquieto. Voltou a encher o seu copo: a sua mão tremia ligeiramente.
— Não te metas nos meus assuntos.
Carol pôs-se em pé e olhou-o com olhos reluzentes.
—Tens medo dele! — exclamou. — Sim, tens medo: agora vejo-o bem claro.
Cobb mexeu-se furioso.
—Cala a boca!
Mas ela nao parecia disposta, a calar-se.
— Dói-te ouvir a verdade, nao é? Mas a mim nao me enganas. Suspeitei-o quando te serviste de mim para o fazer cair numa armadilha. Sim, tens medo, falta-te coragem para sair e matá-lo.
Cobb levantou-se com tanta violência, que derrubou a mesa. Tinha os olhos injetados de sangue quando vociferou:
— Cala-te, maldita, ou juro-te que...!
— Cobarde, cobarde! — exclamou Carol. — Isto é o que tu és, um cobarde I
Cobb, cego de ira, puxou do seu revolver e fez fogo. A bailarina crispou o seu rosto num esgar de dor e levou as mãos ao peito, ao mesmo tempo que fitava o seu assassino com um profundo assombro refletido nas pupilas. Depois, com um gemido, caiu morta.
Cobb olhou a sua volta. O proprietário do saloon e os restantes clientes observavam-no em silencio; mas, nos seus olhares, parecia-lhe ler a palavra cobarde. E, se esta convicção aumentava, a sua vida terminara.
—Isto é o que eu faço aqueles que se atrevem a chamar-me cobarde — exclamou. —Eu não temo ninguém, perceberam? Ninguém. Nem sequer esse imbecil que me desafiou. Demonstrá-lo-ei para quo todos vejam.
Pôs o revolver no coldre e, corn passos precipitados, tropeçando nas cadeiras e nas garrafas caídas, dirigiu-se para a porta. John, que permanecia apoiado numa esquina, a uns vinte passos do saloon, viu-o sair para a rua.
Arremessou fora um cigarro que estava a fumar e encaminhou-se ao encontro do seu adversário. Este também o tinha visto e ficara imóvel, corn as pernas abertas e com a mão direita calda ao longo do corpo.
Nas janelas do saloon, amontoava-se uma multidão de curiosos. John continuou a avançar e quando só os separava uns dez passos, Cobb puxou do seu revolver. O jovem fez um ligeiro movimento com o ombro e na sua mão apareceu o revólver. No silencio da noite só se ouviu um estampido: o da arma de John.
Cobb nao chegou a apertar o gatilho. Antes de o fazer, a bala disparada pelo rapaz, tinha-lhe acertado no coração. Sem uma palavra, caiu para a frente e ficou estendido com o rosto sepultado no pó e corn os braços e as pernas muito abertos.
John ainda contemplava o cadáver do seu inimigo, quando atras de si ouviu o galope duns cavalos e alguém que chamava.
— John!
Nao precisou de se voltar para saber que era a voz de Deborah.
— Por que foi John ao encontro dessa mulher? Que relações havia entre eles? Diga-me, por favor. É o meu último pedido.
Russ, que cavalgava ao pé dela, olhou-a com tristeza.
—Nao houve nada. Carol nao significou coisa alguma para John. Foi um simples passatempo, que só durou uma semana. Mas nao a voltou a ver desde que a conheceu a si.
Nos olhos da rapariga havia um brilho de ansiedade.
—No entanto, hoje correu para junto dela, quando o chamou.
Russ franziu a testa e umas rugas de amargura apareceram nas comissuras dos seus lábios.
—Ele nao queria ir. Fui eu quem o convenceu a comparecer a entrevista. Disse-lhe que s6 um cobarde deixava de ajudar uma mulher em perigo. Só isso o decidiu a ir ao encontro de Carol.
Os lábios da rapariga tremeram.
—Nao me engana, Russ? Ele sacudiu a cabeça.
—Nao, Deborah. Ninguém gosta de confessar que levou um amigo a cair numa emboscada.
A rapariga, corn um fio de voz, sussurrou:
—Nao teve culpa. Nao sabia que era uma armadilha.
De repente, inesperadamente, uma sombra saída da espessura, plantou-se no meio do caminho. Os cavalos, assustados, encabritaram-se.
—Mãos ao ar — ordenou o recém-chegado.
Deborah foi a primeira a reconhecê-lo.
— John! — exclamou num soluço em que se misturava assombro corn a mais louca alegria.
Tanto Russ como os cinco homens que os escoltavam ficaram petrificados pela surpresa. Com efeito, era John quem permanecia plantado no centro do caminho, empunhando um revolver com a mão direita e tendo a mão esquerda envolvida num lento ensanguentado. No seu rosto havia uma expressão dura, implacável, e os seus olhos ardiam como ferros em brasa.
— Já disse, mãos ao ar! —repetiu com voz metálica.
Wilkens e os seus homens apressaram-se a obedecer. Russ desmontou, rápido, exclamando:
—John! Mas o que aconteceu?
No entanto, o jovem nao lhe pôde responder porque Deborah, que também desmontara, correu para ele balbuciando
—John, John... Antes que o rapaz o pudesse evitar, a rapariga abraçou-se a ele, chorando de alegria e interpondo-se entre John e os bandidos.
Wilkins aproveitou rapidamente a oportunidade que se lhe oferecia. baixando a mão direita, puxou a sua arma com um gesto veloz. John, corn a mão esquerda deu um forte empurrão na rapariga, deitando-a ao chão, ao mesmo tempo que apertava gatilho do seu revolver.
Wilkens, sem chegar a fazer fogo, estremeceu violentamente e apertou o peito corn ambos os braços. Depois, deixou-se escorregar da sela e caiu ao chão, pesadamente. Os outros quatro homens tinham imitado o seu exemplo e brandiam as suas armas. John ainda pôde acertar num antes de se ver obrigado a procurar refúgio atrás de um arbusto.
Mas Russ nao tinha ficado inativo. Ao ver cair Wilkens, lançou-se sobre ele como um tigre e apoderou-se do seu «Colt». Depois, disparou contra um dos três homens que ameaçavam John corn as suas armas. 0 individuo teve um sobressalto e caiu, morto, do cavalo.
Os dois restantes ficaram desconcertados por um momento e esporearam os cavalos com o propósito de fugir, ao mesmo tempo que disparavam freneticamente a sua volta sem apontar. Mas, nao conseguiram o seu intento.
Apesar de ser quase noite fechada, bastaram dois tiros a John para acertar no alvo e matar um com uma bala no estômago e outro com uma nas costas. Do último deu boa conta Russ, esvaziando contra ele todo o tambor do seu revolver. Terminado o combate, John foi para junto de Deborah.
— Encontras-te bem? — perguntou, tratando-a por tu pela primeira vez.
Ela fitou-o angustiada.
—Perdoa-me, John. Fui uma parva, quase estraguei tudo.
Russ aproximou-se lesto.
— Que aconteceu, John? — perguntou. — Julgávamos que te tinham feito cair numa armadilha.
O jovem, com palavras breves, mas claras, explicou-lhes tudo o que acontecera no Vale das Aguias. E, para terminar, disse:
— Quando cheguei a vista do rancho, este começava a arder. O meu primeiro impulso foi vir a toda a pressa; mas compreendi que era melhor agir corn cautela. Aproximei-me silenciosamente e vi que estes homens os levavam prisioneiros. Então segui-os, esperando um momento oportuno para intervir.
Deborah tomou entre as suas a ensanguentada mão esquerda do jovem.
—Estás ferido, John!
— Nao te preocupes agora corn isso — disse ele. —O que interessa é que me expliquem o que lhes aconteceu.
Russ contou-lhe, em poucas palavras, tudo o relacionado com a caixa que encontrara no celeiro, a maneira coma Cobb os tinha surpreendido e a história que este mesmo lhes contara sobre a procedência do dinheiro.
—Bem, agora percebo o que Cobb procurava no rancho — murmurou o rapaz. —Onde' esta agora Cobb?
— Em Dodge, esperando que os seus homens vão ter com ele depois de nos matar. Esta corn a Carol. Ela e ele... bem, tu percebes. John, mereço que me dês um murro no nariz. Anda, dá-mo.
— Porque?
— Fui eu quem te convenceu a ir ao encontro. Se nao fosse por minha causa nao terias caído na armadilha.
O rapaz fez uma careta e deu-lhe uma palmada nas costas.
—Nao te preocupes. Foi melhor assim; desta maneira as coisas ficaram bem claras.
John encaminhou-se para a espessura e regressou trazendo o seu cavalo. Ao ver que se dispunha a montar, Deborah perguntou:
—Onde vais?
Ele fitou-a com olhos duros.
—Vou a Dodge, procurar Cobb.
Deborah crispou as mãos sobre o seu braço.
— Nao vás, John. Esse homem é um assassino; matar-te-á.
Mas o rosto dele era a imagem da decisão.
—Isso veremos. Mas há uma coisa certa: é preciso acabar corn tudo isto de uma vez para sempre.
Instalou-se rapidamente na sua sela e, esporeando o cavalo, partiu a galope, perdendo-se na obscuridade. Deborah permaneceu um momento aturdida e depois, fitando Russ, exclamou:
—Temos de ir com ele!
Montaram a cavalo e partiram em perseguição do rapaz.
*
Cobb convidara para beber todos as que se encontravam no saloon, naquela noite. Ele mesmo bebia whisky em abundância, dizendo para Carol:
TOO —
— Quando uma pessoa fica rica, tem de saber celebrá-lo. De hoje em diante, tu e eu viveremos coma milionários.
—Sim, Dick — dizia ela, que também esvaziava copo após copo. —Mas toma em atenção que nao poderemos dispor de todo o dinheiro; Wilkens e os rapazes reclamarão a sua parte.
Ele sorriu sinistramente.
— Bah, nao vai ser muito difícil livrar-nos deles. Ou é que tu me julgas tão parvo que lhes fosse dar um bom quinhão dessa fortuna? Nao, querida, irei liquidando-os um a um. Sei como se fazem essas coisas.
Os olhos da bailarina brilharam de cobiça e beijou Cobb.
— Oh, Dick, és formidável
A animação no saloon estava no seu apogeu. Toda a gente bebia em abundância quando, de repente, se abriu a porta e entrou um homem.
Cobb ficou petrificado, segurando um copo na mão e contemplando o recém-chegado corn olhos de quem vê um fantasma.
Carol, que tinha empalidecido terrivelmente, levou uma mão a boca e balbuciou aterrada:
—John...
O jovem, depois de permanecer uns momentos na entrada, começou a andar lentamente em direção a mesa onde se encontravam o pistoleiro e a bailarina. Estes pareciam incapazes de se mover, tal era o seu temor e o seu profundo assombro.
A sua atitude nao passou despercebida ao resto dos presentes que, de súbito, guardaram silencio e se dispuseram a contemplar a cena.
John continuava a avançar e as suas esporas tiniam no silencio que invadia o saloon. Parou a uns passos da mesa e ficou a olhar para Cobb e para Carol.
—Nao, nao sou um fantasma—murmurou. —Sou eu em came e osso. A vossa emboscada falhou, assim como o vosso piano para assassinar Deborah e Russ. Wilkens e os outros morreram.
Nem a bailarina nem o pistoleiro conseguiram abrir a boca.
— Agora vim solucionar este assunto contigo, Cobb, de homem para homem—prosseguiu o rapaz. — Vou esperar-te lá fora, na rua, e se nao és um desprezível cobarde, sairás para me enfrentar. Toda esta gente e testemunha de que te desafio nobremente. Veremos se és tao valente como pretendes.
Sem dizer mais nada, retrocedeu até a porta e saiu do saloon. Durante uns instantes, ninguém se atreveu a interromper o silencio. Depois, Carol, que estava visivelmente nervosa e em cujos olhos brilhava o ódio, voltou-se para Cobb:
— Tens de sair imediatamente, Dick. Temos de nos livrar de John o mais depressa possível.
— Deixa-me — replicou Cobb, esvaziando de um trago um novo copo de whisky.
—Não, nao compreendes que ele nos vai impedir de ficar com o dinheiro? Tens de sair e de o matar.
Cobb estava crispado, inquieto. Voltou a encher o seu copo: a sua mão tremia ligeiramente.
— Não te metas nos meus assuntos.
Carol pôs-se em pé e olhou-o com olhos reluzentes.
—Tens medo dele! — exclamou. — Sim, tens medo: agora vejo-o bem claro.
Cobb mexeu-se furioso.
—Cala a boca!
Mas ela nao parecia disposta, a calar-se.
— Dói-te ouvir a verdade, nao é? Mas a mim nao me enganas. Suspeitei-o quando te serviste de mim para o fazer cair numa armadilha. Sim, tens medo, falta-te coragem para sair e matá-lo.
Cobb levantou-se com tanta violência, que derrubou a mesa. Tinha os olhos injetados de sangue quando vociferou:
— Cala-te, maldita, ou juro-te que...!
— Cobarde, cobarde! — exclamou Carol. — Isto é o que tu és, um cobarde I
Cobb, cego de ira, puxou do seu revolver e fez fogo. A bailarina crispou o seu rosto num esgar de dor e levou as mãos ao peito, ao mesmo tempo que fitava o seu assassino com um profundo assombro refletido nas pupilas. Depois, com um gemido, caiu morta.
Cobb olhou a sua volta. O proprietário do saloon e os restantes clientes observavam-no em silencio; mas, nos seus olhares, parecia-lhe ler a palavra cobarde. E, se esta convicção aumentava, a sua vida terminara.
—Isto é o que eu faço aqueles que se atrevem a chamar-me cobarde — exclamou. —Eu não temo ninguém, perceberam? Ninguém. Nem sequer esse imbecil que me desafiou. Demonstrá-lo-ei para quo todos vejam.
Pôs o revolver no coldre e, corn passos precipitados, tropeçando nas cadeiras e nas garrafas caídas, dirigiu-se para a porta. John, que permanecia apoiado numa esquina, a uns vinte passos do saloon, viu-o sair para a rua.
Arremessou fora um cigarro que estava a fumar e encaminhou-se ao encontro do seu adversário. Este também o tinha visto e ficara imóvel, corn as pernas abertas e com a mão direita calda ao longo do corpo.
Nas janelas do saloon, amontoava-se uma multidão de curiosos. John continuou a avançar e quando só os separava uns dez passos, Cobb puxou do seu revolver. O jovem fez um ligeiro movimento com o ombro e na sua mão apareceu o revólver. No silencio da noite só se ouviu um estampido: o da arma de John.
Cobb nao chegou a apertar o gatilho. Antes de o fazer, a bala disparada pelo rapaz, tinha-lhe acertado no coração. Sem uma palavra, caiu para a frente e ficou estendido com o rosto sepultado no pó e corn os braços e as pernas muito abertos.
John ainda contemplava o cadáver do seu inimigo, quando atras de si ouviu o galope duns cavalos e alguém que chamava.
— John!
Nao precisou de se voltar para saber que era a voz de Deborah.
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