Toda a manhã do dia seguinte esteve John pensativo e preocupado. Russ não lhe fez nenhuma alusão ao que tinham dito na véspera. Mas, dirigia-lhe frequentes olhares. Por fim, John foi para o estábulo e começou a selar o seu cavalo. Estava entretido no seu trabalho, quando uma voz perguntou atrás de si:
— Vai-se embora?
John voltou-se apesar de já saber que era Deborah. Esta permanecia muito quieta, a uns passos de distância, e estava ligeiramente pálida.
— Vou — replicou ele. — Tenho de fazer um trabalho.
Nos olhos da rapariga, apesar de o tentar dissimular, brilhou a ansiedade.
— Quanto tempo estará fora?
Ele ficou um pouco desconcertado após a pergunta, pois na verdade não o sabia; no entanto, respondeu:
— Não sei. Mas creio que esta noite já estarei de volta.
Ficaram um momento em silêncio, contemplando-se mutuamente. De repente, ela perguntou:
— Pensa, na verdade, voltar?
Ele levantou a cabeça surpreendido.
— Claro que sim. Por que não havia de voltar?
Um sorriso forçado curvou os lábios dela que, um pouco envergonhada, balbuciou:
—Não me faça caso. Às vezes tenho ideias absurdas e digo parvoíces. Não... não quero entretê-lo mais. Deve ter pressa. Adeus, John.
— Até logo—murmurou ele.
Saiu do estábulo, levando o cavalo pela brida. Se tivesse voltado a cabeça, uma única vez, teria visto que nos olhos de Deborah brilhavam umas lágrimas.
Montou no seu cavalo e começou a andar. Ao passar diante do celeiro, viu Russ que estava a trabalhar na sua construção. O amigo perguntou-lhe:
—Decidiste ir?
—Sim.
—E o melhor que podias fazer.
O rapaz tinha os lábios apertados.
— Não estou certo — murmurou.
Em seguida, puxou das rédeas e afastou-se na direção do Noroeste. O rancho Wood foi-se perdendo na sua retaguarda. Ainda parou, pela última vez, no alto duma colina, e viu, em baixo, a seus pés, como se fossem brinquedos, a casa, o celeiro, os currais; podia distinguir também os animais e viu duas minúsculas figuras que iam a entrar em casa: Deborah e Rasa.
Já não pôde afastar do seu cérebro o pensamento da rapariga. Parecia-lhe que ir à entrevista com Carol era atraiçoá-la. Mas, podia ele atraiçoá-la em alguma coisa? Não havia nada entre eles, absolutamente nada, e, no entanto, tinha uma sensação de culpa.
Metido com os seus pensamentos, foi devorando a distância. Quase por instinto, sem que tivesse de intervir a sua consciência, mantinha a direção indicada por Russ. Era o seu hábito de fazer grandes viagens o que conseguia o prodígio.
Por fim, qualquer coisa chamou a sua atenção. Sobre uns picos próximos viu umas águias que giravam no céu num voo majestoso. Encontrava-se próximo do local do encontro. Pela
posição do Sol no firmamento, advertiu que era quase meio-dia.
A proximidade do encontro com Carol, produzia-lhe uma desagradável sensação, Não tinha nenhum desejo de voltar a ver a bailarina, e tinha como que um vago pressentimento que aquela entrevista não lhe ia trazer nada de bom. Mas Russ tinha razão: um homem não pode negar o seu auxílio a uma mulher em perigo.
O Vale das Águias era largo e rochoso e serpenteava a grande altitude. Enquanto o percorria, o rapaz ouvia como o eco devolvia ampliado o golpear dos cascos do seu cavalo na dura pedra que formava o solo.
Como tinha a certeza que Carol o chamaria quando o visse, levantou a cabeça para contemplar o voo das águias nas alturas. E foi naquele momento que o eco converteu num trovão o simples rolar de umas pedras sobre as rochas. Mas foi o suficiente para que John saltasse do cavalo e se escondesse atrás de uma rocha. Quase ao mesmo tempo foi tal o estrondo ensurdecedor que percutiu nas paredes do desfiladeiro que parecia que o vale se ia desmoronar sobre ele.
Uma chuva de projéteis caiu sobre o sítio onde o rapaz se encontrava momentos antes. As balas passavam cortando o ar com surdos assobios e algumas, depois de bater na rocha, desviavam-se com o ruído característico.
O cavalo de John levantou-se sobre as patas traseiras e começou a relinchar ao mesmo tempo que as suas patas dianteiras pareciam pontapear o ar. Caiu e depois de várias tentativas para se levantar novamente, ficou imóvel. Uma das balas tinha-lhe causado a morte.
John permaneceu muito quieto atrás do rochedo, compreendendo que tinha caído numa armadilha. Devia a sua vida ao eco, que ampliara o ruído da pedra a cair. Porque o rapaz, como todo o homem acostumado ao perigo e a viajar só pela pradaria, sabia que quando caem umas pedras costumam ser empurradas por um pé humano, visto que os animais, ainda que seja só por instinto, nunca pisam um terreno que não ofereça absolutas garantias de firmeza. E quando alguém espia um viajante, é porque tem más intenções com respeito a ele.
Carol não tinha nenhum motivo para se esconder; pelo contrário, o lógico era que o tivesse chamado em seguida.
Todas estas considerações, que tinham passado pelo subconsciente de John numa fração de segundo, tinham sido mais do que suficientes para o obrigar a saltar do cavalo e a procurar refúgio atrás dum rochedo.
E a sua desconfiança, de homem habituado ao perigo de morte, tinha-lhe salvo a vida.
Contemplou o cadáver do seu cavalo, enquanto as balas continuavam a zumbir sobre ele e a bater na rocha. Levou a mão à cintura e empunhou a sua arma.
Enquanto esquadrinhava o terreno, pensou que Carol se tinha prestado a servir de isca para uma armadilha mortal. Apesar de notar o grave perigo que corria, alegrou-se no mais fundo do seu coração com a traição da bailarina, já que o livrava de toda a consideração para com ela. Se até aquele momento podia haver entre eles um laço de união, por débil que fosse, agora já não existia.
Além disso, John notava outra coisa: se um dos que lhe tinham preparado a armadilha não tivesse dado um passo em falso e não tivesse feito rolar umas pedras, semeando assim o alarme no seu espírito, neste momento já estaria morto com o corpo crivado de balas.
Os projéteis que tinham abatido o seu cavalo eram-lhe destinados. Só os seus reflexos rápidos lhe haviam salvo a vida.
O sol batia-lhe em cheio, enquanto permanecia deitado, esquadrinhando os altos penhascos que o rodeavam. Sabia, que estavam vários homens por ali. Tirou o chapéu e lançou-o ao ar. Imediatamente o vale se encheu com o fragor dos estampidos. O eco tornava difícil precisar o número de armas que tinham disparado, mas o rapaz, habituado ao som das detonações, calculou que seriam umas três. Era, pois, perigoso combater em tais circunstâncias contra um terceto, de homens dispostos a tudo.
O tempo foi passando. O silêncio era agora quase completo e só o rompiam, de vez em quando, o bater das asas das águias e o relincho de algum cavalo; sem dúvida, as montadas dos seus inimigos.
John não podia ter a certeza se já tinham passado uma ou duas horas quando os seus olhos, que não deixavam de estudar os altos, viram que qualquer coisa se movia. Não podia dizer o que se tratava, pois, o movimento foi demasiado rápido e fugaz, no entanto, levantou o revólver e deixou-o apontado para aquele ponto.
Ao fim de certo tempo, começou a sentir cansaço no braço, mas não se mexeu. Sabia que, para sair com vida de aquele transe devia pôr em jogo tanto a inteligência como a paciência. O reflexo do sol nas rochas incomodava-lhe a vista, mas limitou-se a pestanejar e continuar com o olho fixo na mira do seu «Colt». E, de repente, aquilo voltou a mexer-se.
Quase automaticamente, o dedo de John premiu duas vezes o gatilho. Um par de estampidos atroaram o desfiladeiro. Seguiu-se-lhes um grito violento. Depois John viu o corpo de um homem a cair desde o alto, ricocheteando de rocha em rocha e estatelar-se no fundo do desfiladeiro.
Imediatamente, um raivoso tiroteio se concentrou sobre a rocha que protegia o rapaz. As balas zuniam e silvavam batendo no penhasco e arrancando bocados.
John convenceu-se então de que não se enganara: só estavam vivos dois dos seus inimigos; o barulho das armas indicava-o bem. A situação, na essência, não tinha mudado muito. A única diferença consistia em que em vez de três, os seus adversários eram agora dois. No entanto eram os suficientes para acabar com ele. Estava imobilizado no seu refúgio e qualquer tentativa que fizesse para dali sair, tinha como consequência ser crivado pelas balas daqueles homens que continuavam ocultos nas rochas e que, depois da morte do seu companheiro, teriam bastante cuidado em não mostrar os seus esconderijos.
Estes pensamentos fizeram germinar uma ideia no cérebro de John. Na verdade, ó único motivo que o impedia de vencer aqueles homens, era estarem ocultos. Mas tudo seria diferente se conseguisse fazê-los sair dos seus esconderijos. Como o conseguir? A resposta era evidente: seria necessário que o julgassem morto. A empresa era arriscada, pois, com efeito, podia custar--lhe a vida; mas não havia outra saída. Além disso, se soubesse agir com precisão e rapidez, existiam bastantes possibilidades de êxito.
Mediu com a vista a distância que o separava da rocha mais próxima da que o protegia agora: uns dois metros e meio. Os seus lábios sorriram satisfeitos. Era, precisamente, o que precisava.
Pacientemente deixou passar o tempo, talvez uma meia hora. Depois, segurou com força o revólver, com todos os músculos tensos e, de repente, pôs-se em pé. Começou a correr velozmente, como se pretendesse fugir, mas na direção da rocha que elegera.
Quando soou o primeiro disparo, que foi quase instantaneamente, deu um tropeção e fazendo um gesto como se tivesse sido ferido de morte, caiu pesadamente de bruços.
Tal como tinha calculado, caiu detrás da rocha, por cujos extremos sobressaíam os seus braços e as suas pernas estendidas. Teve até o cuidado de abrir a mão para que o seu revólver se afastasse um pouco, o suficiente para poder voltar a apanhá-lo rapidamente, quando necessário.
Manteve-se completamente imóvel, desejando dar a impressão de estar morto. Os disparos dos seus inimigos tinham cessado. Estes podiam desejar dar-lhe o tiro de misericórdia, mas, na posição em que se encontrava, com todo o corpo protegido pela rocha, só lhe poderiam acertar nos braços ou nas pernas. Portanto, para lhe acertarem tinham de se aproximar. E era isto, exatamente, o que o rapaz esperava.
— Vai-se embora?
John voltou-se apesar de já saber que era Deborah. Esta permanecia muito quieta, a uns passos de distância, e estava ligeiramente pálida.
— Vou — replicou ele. — Tenho de fazer um trabalho.
Nos olhos da rapariga, apesar de o tentar dissimular, brilhou a ansiedade.
— Quanto tempo estará fora?
Ele ficou um pouco desconcertado após a pergunta, pois na verdade não o sabia; no entanto, respondeu:
— Não sei. Mas creio que esta noite já estarei de volta.
Ficaram um momento em silêncio, contemplando-se mutuamente. De repente, ela perguntou:
— Pensa, na verdade, voltar?
Ele levantou a cabeça surpreendido.
— Claro que sim. Por que não havia de voltar?
Um sorriso forçado curvou os lábios dela que, um pouco envergonhada, balbuciou:
—Não me faça caso. Às vezes tenho ideias absurdas e digo parvoíces. Não... não quero entretê-lo mais. Deve ter pressa. Adeus, John.
— Até logo—murmurou ele.
Saiu do estábulo, levando o cavalo pela brida. Se tivesse voltado a cabeça, uma única vez, teria visto que nos olhos de Deborah brilhavam umas lágrimas.
Montou no seu cavalo e começou a andar. Ao passar diante do celeiro, viu Russ que estava a trabalhar na sua construção. O amigo perguntou-lhe:
—Decidiste ir?
—Sim.
—E o melhor que podias fazer.
O rapaz tinha os lábios apertados.
— Não estou certo — murmurou.
Em seguida, puxou das rédeas e afastou-se na direção do Noroeste. O rancho Wood foi-se perdendo na sua retaguarda. Ainda parou, pela última vez, no alto duma colina, e viu, em baixo, a seus pés, como se fossem brinquedos, a casa, o celeiro, os currais; podia distinguir também os animais e viu duas minúsculas figuras que iam a entrar em casa: Deborah e Rasa.
Já não pôde afastar do seu cérebro o pensamento da rapariga. Parecia-lhe que ir à entrevista com Carol era atraiçoá-la. Mas, podia ele atraiçoá-la em alguma coisa? Não havia nada entre eles, absolutamente nada, e, no entanto, tinha uma sensação de culpa.
Metido com os seus pensamentos, foi devorando a distância. Quase por instinto, sem que tivesse de intervir a sua consciência, mantinha a direção indicada por Russ. Era o seu hábito de fazer grandes viagens o que conseguia o prodígio.
Por fim, qualquer coisa chamou a sua atenção. Sobre uns picos próximos viu umas águias que giravam no céu num voo majestoso. Encontrava-se próximo do local do encontro. Pela
posição do Sol no firmamento, advertiu que era quase meio-dia.
A proximidade do encontro com Carol, produzia-lhe uma desagradável sensação, Não tinha nenhum desejo de voltar a ver a bailarina, e tinha como que um vago pressentimento que aquela entrevista não lhe ia trazer nada de bom. Mas Russ tinha razão: um homem não pode negar o seu auxílio a uma mulher em perigo.
O Vale das Águias era largo e rochoso e serpenteava a grande altitude. Enquanto o percorria, o rapaz ouvia como o eco devolvia ampliado o golpear dos cascos do seu cavalo na dura pedra que formava o solo.
Como tinha a certeza que Carol o chamaria quando o visse, levantou a cabeça para contemplar o voo das águias nas alturas. E foi naquele momento que o eco converteu num trovão o simples rolar de umas pedras sobre as rochas. Mas foi o suficiente para que John saltasse do cavalo e se escondesse atrás de uma rocha. Quase ao mesmo tempo foi tal o estrondo ensurdecedor que percutiu nas paredes do desfiladeiro que parecia que o vale se ia desmoronar sobre ele.
Uma chuva de projéteis caiu sobre o sítio onde o rapaz se encontrava momentos antes. As balas passavam cortando o ar com surdos assobios e algumas, depois de bater na rocha, desviavam-se com o ruído característico.
O cavalo de John levantou-se sobre as patas traseiras e começou a relinchar ao mesmo tempo que as suas patas dianteiras pareciam pontapear o ar. Caiu e depois de várias tentativas para se levantar novamente, ficou imóvel. Uma das balas tinha-lhe causado a morte.
John permaneceu muito quieto atrás do rochedo, compreendendo que tinha caído numa armadilha. Devia a sua vida ao eco, que ampliara o ruído da pedra a cair. Porque o rapaz, como todo o homem acostumado ao perigo e a viajar só pela pradaria, sabia que quando caem umas pedras costumam ser empurradas por um pé humano, visto que os animais, ainda que seja só por instinto, nunca pisam um terreno que não ofereça absolutas garantias de firmeza. E quando alguém espia um viajante, é porque tem más intenções com respeito a ele.
Carol não tinha nenhum motivo para se esconder; pelo contrário, o lógico era que o tivesse chamado em seguida.
Todas estas considerações, que tinham passado pelo subconsciente de John numa fração de segundo, tinham sido mais do que suficientes para o obrigar a saltar do cavalo e a procurar refúgio atrás dum rochedo.
E a sua desconfiança, de homem habituado ao perigo de morte, tinha-lhe salvo a vida.
Contemplou o cadáver do seu cavalo, enquanto as balas continuavam a zumbir sobre ele e a bater na rocha. Levou a mão à cintura e empunhou a sua arma.
Enquanto esquadrinhava o terreno, pensou que Carol se tinha prestado a servir de isca para uma armadilha mortal. Apesar de notar o grave perigo que corria, alegrou-se no mais fundo do seu coração com a traição da bailarina, já que o livrava de toda a consideração para com ela. Se até aquele momento podia haver entre eles um laço de união, por débil que fosse, agora já não existia.
Além disso, John notava outra coisa: se um dos que lhe tinham preparado a armadilha não tivesse dado um passo em falso e não tivesse feito rolar umas pedras, semeando assim o alarme no seu espírito, neste momento já estaria morto com o corpo crivado de balas.
Os projéteis que tinham abatido o seu cavalo eram-lhe destinados. Só os seus reflexos rápidos lhe haviam salvo a vida.
O sol batia-lhe em cheio, enquanto permanecia deitado, esquadrinhando os altos penhascos que o rodeavam. Sabia, que estavam vários homens por ali. Tirou o chapéu e lançou-o ao ar. Imediatamente o vale se encheu com o fragor dos estampidos. O eco tornava difícil precisar o número de armas que tinham disparado, mas o rapaz, habituado ao som das detonações, calculou que seriam umas três. Era, pois, perigoso combater em tais circunstâncias contra um terceto, de homens dispostos a tudo.
O tempo foi passando. O silêncio era agora quase completo e só o rompiam, de vez em quando, o bater das asas das águias e o relincho de algum cavalo; sem dúvida, as montadas dos seus inimigos.
John não podia ter a certeza se já tinham passado uma ou duas horas quando os seus olhos, que não deixavam de estudar os altos, viram que qualquer coisa se movia. Não podia dizer o que se tratava, pois, o movimento foi demasiado rápido e fugaz, no entanto, levantou o revólver e deixou-o apontado para aquele ponto.
Ao fim de certo tempo, começou a sentir cansaço no braço, mas não se mexeu. Sabia que, para sair com vida de aquele transe devia pôr em jogo tanto a inteligência como a paciência. O reflexo do sol nas rochas incomodava-lhe a vista, mas limitou-se a pestanejar e continuar com o olho fixo na mira do seu «Colt». E, de repente, aquilo voltou a mexer-se.
Quase automaticamente, o dedo de John premiu duas vezes o gatilho. Um par de estampidos atroaram o desfiladeiro. Seguiu-se-lhes um grito violento. Depois John viu o corpo de um homem a cair desde o alto, ricocheteando de rocha em rocha e estatelar-se no fundo do desfiladeiro.
Imediatamente, um raivoso tiroteio se concentrou sobre a rocha que protegia o rapaz. As balas zuniam e silvavam batendo no penhasco e arrancando bocados.
John convenceu-se então de que não se enganara: só estavam vivos dois dos seus inimigos; o barulho das armas indicava-o bem. A situação, na essência, não tinha mudado muito. A única diferença consistia em que em vez de três, os seus adversários eram agora dois. No entanto eram os suficientes para acabar com ele. Estava imobilizado no seu refúgio e qualquer tentativa que fizesse para dali sair, tinha como consequência ser crivado pelas balas daqueles homens que continuavam ocultos nas rochas e que, depois da morte do seu companheiro, teriam bastante cuidado em não mostrar os seus esconderijos.
Estes pensamentos fizeram germinar uma ideia no cérebro de John. Na verdade, ó único motivo que o impedia de vencer aqueles homens, era estarem ocultos. Mas tudo seria diferente se conseguisse fazê-los sair dos seus esconderijos. Como o conseguir? A resposta era evidente: seria necessário que o julgassem morto. A empresa era arriscada, pois, com efeito, podia custar--lhe a vida; mas não havia outra saída. Além disso, se soubesse agir com precisão e rapidez, existiam bastantes possibilidades de êxito.
Mediu com a vista a distância que o separava da rocha mais próxima da que o protegia agora: uns dois metros e meio. Os seus lábios sorriram satisfeitos. Era, precisamente, o que precisava.
Pacientemente deixou passar o tempo, talvez uma meia hora. Depois, segurou com força o revólver, com todos os músculos tensos e, de repente, pôs-se em pé. Começou a correr velozmente, como se pretendesse fugir, mas na direção da rocha que elegera.
Quando soou o primeiro disparo, que foi quase instantaneamente, deu um tropeção e fazendo um gesto como se tivesse sido ferido de morte, caiu pesadamente de bruços.
Tal como tinha calculado, caiu detrás da rocha, por cujos extremos sobressaíam os seus braços e as suas pernas estendidas. Teve até o cuidado de abrir a mão para que o seu revólver se afastasse um pouco, o suficiente para poder voltar a apanhá-lo rapidamente, quando necessário.
Manteve-se completamente imóvel, desejando dar a impressão de estar morto. Os disparos dos seus inimigos tinham cessado. Estes podiam desejar dar-lhe o tiro de misericórdia, mas, na posição em que se encontrava, com todo o corpo protegido pela rocha, só lhe poderiam acertar nos braços ou nas pernas. Portanto, para lhe acertarem tinham de se aproximar. E era isto, exatamente, o que o rapaz esperava.
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