segunda-feira, 28 de setembro de 2015

PAS538. Nunca é tarde para perdoar

Olhou duramente o homem que tanto dano moral e material lhe tinha feito e depois a mulher que outrora fora sua noiva e o filho que ela tinha nos braços.
A sua voz enrouqueceu ao perguntar:
-- Tens alguma coisa a ver com esses assassínios, Vic?
Mas antes que este lograsse sequer articular uma única palavra, a mulher interpôs-se entre os dois excla-mando:
— Nada, Monty! Juro-te! É verdade que depôs contra ti mas eu só o soube depois de casada. Vic confessou-me tudo tempos depois, quando eu ia ser mãe. Isto distanciou-nos durante muito tempo. Depois, quando regressaste, compreendi que o meu amor por ti tinha morrido, Monty, que o meu dever era estar ao lado do meu marido e do meu filho. Não poderás perdoar? Ele... nada sabia de tudo isto em concreto. Só suspeitava.
— Podia ter-me avisado. Creio que isso é tudo.
— Não, Monty — replicou Vic. — Não é tudo. Quis fazê-lo, falar contigo. Mas não me deram tempo.
— Falas verdade?
— Sim, Monty — responderam em uníssono marido e mulher.
O pistoleiro olhou-os profundamente. Nos seus rostos espelhava-se a verdade. E, não obstante...
Sem dizer palavra, deu meia volta alcançando rapidamente a porta. Ele não era ninguém para os julgar. Disso se encarregariam os homens do tribunal de Corona quando ele regressasse.
Mas se foi rápido a alcançar a porta, Talú também o foi. Tanto assim, que o alcançou quando ele se preparava para montar.
— Monty!
O pistoleiro voltou-se, perguntando roucamente:
-- Que queres, Talú?
Ela replicou com outra pergunta:
— Que vais fazer?
— Perseguir Don Peters. Já perdi demasiado tempo.
— E depois?
— Isso já não será da minha conta, Talú mas sim do jurado que se convocará em Corona aquando do meu regresso.
— E... que será de Vic?
E viu-a ali, junto a ele, com o garoto nos braços.
Depois, outra figura também de mulher com uma criança sozinha numa cabana. Joyce Sinclair.
A mesma solidão aguardava com o tempo, talvez uma semana, Talú Gordon e o filho. Ele sabia qual a pena para um ladrão de gado: uma corda de cânhamo. Ele próprio se tinha visto com uma ao pescoço no dia em que foi julgado e se se tinha saído bem fora unicamente devido à influência que o seu pai desfrutava ante os homens honrados de Corona. Por isso nenhum dos jurados sentira qualquer receio com o seu regresso.
— O teu marido é um ladrão de gado, Talú.
— Era, Monty. Agora só deseja um pouco de paz e solidão. E tudo isso está nas tuas mãos.
— Não precisamente nas minhas, Talú Gordon mas sim nas de um povo que tem vivido num meio de assassínios e roubos. Quando o, caso for julgado, ninguém acreditará que ele não é culpado dos assassínios de Miller, Preston e do garoto. Sobretudo do pequeno Mike.
— Monty! Isso... isso é horrível. Será a forca para ele. E eu... e o pequeno... como reagirá ele amanhã quando todos o apontarem como filho de um ladrão de gado?
Os olhos de Talú rasavam-se de lágrimas. Estava pálida como cera. E então sorriu tristemente.
— Vou-me embora, Talú Gordon. Se fores esperta ainda podes preparar um carro e esta noite tirares o teu marido de Corona sem que ninguém dê por isso. Há outros Estados onde podeis começar tudo de novo. Eu regressarei o mais depressa possível da minha busca, caso regresse vivo. E... não, Talú. Não vos queria ver próximo de Corona.
— Monty! Oh! Monty! Como...?
Mas ele já não a ouvia. O seu cavalo afastava-se cada vez mais depressa, até desaparecer numa nuvem de poeira.
Com os olhos cheios de gratidão, a mulher viu-o afastar-se sem voltar uma única vez a cabeça. Depois, rebentando num choro convulsivo, imediatamente secundada pelo garoto, entrou no rancho a correr.
A noite envolveu rapidamente Monty Evans. Continuou a todo o galope, sem perder de vista a pista que se estendia diante dos seus olhos. O luar facilitava-lhe o trabalho. Mas por mais de uma vez viu-se obrigado a desmontar para se poder orientar.
Depois, montava de novo e continuava a perseguição.
 

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