sábado, 19 de setembro de 2015

PAS533. Um beijo sem resposta

O'Hara foi o primeiro a mover-se. Atirou-se para o chão.
Rolou entre a erva enquanto na sua mão aparecia um «Derringer». Apontou com ele, mas não chegou a disparar. Evans disparou primeiro, com os dois «Colt» e até esgotar a carga de ambos.
O'Hara, no chão, rolou dum lado para o outro, contorcendo-se tragicamente com o impulso dos tiros, até que ficou quieto, com o corpo feito num crivo, e o rosto enterrado entre o pó e as ervas do chão.
Evans nem olhou para ele.
Deu meia volta e lentamente, com os ombros caídos e a cabeça tombada para o peito dirigiu-se para o local onde jazia Alina.
Ao inclinar-se sobre ela compreendeu que a mulher ainda vivia. Ajoelhou-se ao lado dela fitando-a.
Os encantadores olhos dela, um tanto velados pela morte que se aproximava cravaram-se nos dele.
— Acertaram-me, Pack — murmurou. — Nas costas. Vou... vou deixar-te, querido. Dentro em breve, muito breve irei ter com os teus pais. Eu...
— Cala-te I Cala-te, por favor!
— Porque me hei-de calar, Pack? Agora já nada interessa. Sei que vou morrer dentro duns minutos e quero que saibas a verdade.
— Já sei, Alina. Anda, cala-te. Vou levar-te para a cabana.
— Não! Não, Pack. Não me mexas. Sei que não poderei resistir. Eu... Eu nada tive que ver naquilo. Acredita-me. Vou morrer e não posso mentir. Ele, Jess, idealizou tudo sem me dizer nada. Enganou os teus pais aproveitando-se da tua ausência. Ele odiava-te, porque tu sempre foste partidário da causa do Norte.
«Enganou-me a mim também pintando-me os seus negócios como uma coisa proveitosa e absolutamente legal, fazendo-me ver que os teus pais deviam associar-se com ele, visto que para eles seria muito benéfico. Depois, quando já era tarde para os ajudar, soube a verdade.
— Se é assim, porque fugiste, Mina?
— Tive que fa... zê-lo, Pack. Ele... complicou as coisas tanto e de tal maneira, que aos olhos de teus pais eu era tão culpada como ele. Eles denunciaram--nos aos dois por burla e tivemos de fugir. Foi então que soube tudo. Perante o meu desejo de ficar de abandoná-lo à sua 'sorte, replicou-me que tudo estava arranjado de tal maneira que eu pareceria aos olhos de todos tão culpada como ele.
«Tive que o seguir, Pack. Quem me teria acreditado? Ninguém. E os teus pais menos ainda. É esta a história, Pack, querido. Queria que acreditasses em mim e se fosse possível, que não o matasses. Evita isso, Pack ! Morrerei tranquila. Fá-lo pela nossa filha.
Viu urna expressão de surpresa e incredulidade no semblante de Evans, por isso acrescentou cada vez mais dificilmente:
— Ê verdade, Pack. Temos uma menina de cinco anos e alguns meses. Está com uns amigos em Nova Iorque. Vai buscá-la. Ela precisa do pai. Pack!...
Calou-se, enquanto nervosamente procurava as mãos dele. Depois agarrou-as com força e olhou-o novamente.
— Promete-me isso, Pack — murmurou baixinho.
Evans engoliu a saliva enquanto pela sua mente passavam com a velocidade dum raio todos os acontecimentos ocorridos até àquela data.
E agora, ela, que morria nos seus braços, continuava a pedir-lhe pela vida do homem que levara os seus pais à morte.
Cravou os olhos em Alina, que com os seus já vidrados, o fitava, arquejante.
— Está bem, Afina — disse lentamente. — Tens a minha palavra.
— Obrigada, Pack. Acreditas-me, tão é verdade?
Evans incapaz de falar, inclinou a cabeça em sinal de assentimento.
— Vais buscar a pequena Mabel, não vais?
— Sim. Irei amanhã mesmo.
Alina sorriu tristemente. Depois entreabriu os lábios num mudo convite. Evans inclinou-se para ela e beijou-a, mas não encontrou resposta para o seu beijo.
Alina acabava de morrer.

Sem comentários:

Enviar um comentário