quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PAS531. Beijos que precedem a morte

Richardson tinha o seu rancho instalado a umas cinco milhas de Rosedale e a outras tantas de Clevelad.
A mulher saíra do rancho, dirigindo-se a Rosedale.
Montava um bonito cavalo de pelo escuro e puro-sangue.
Ela era alta e elegante. De curvas magníficas e provocantes. Loura de olhos azuis. Era um encanto de mulher junto da qual todas as outras ficavam inferiorizadas.
Inclusivamente a beleza sem igual de Crystal Evans tinha alguma coisa que invejar àquela deusa loura.
Vestia uma blusa simples e decotada, e saia de montar, que deixava a descoberto uns magníficos joelhos, que pertenciam a umas não menos maravilhosas pernas, cobertas até ao joelho por botas altas de montar.
Alina Hendrix cavalgava preocupada, e tinha motivos para isso. Poderosos motivos.
Richardson também os tinha, e eram os mesmos.
Alina ia a Rosedale com o objectivo de acabar com aquela ameaça por todos os meios ao seu alcance. Poderia correr sangue, coisa que não a incomodava muito, para se dizer a verdade, mas não desejaria que isso acontecesse, pelo menos naquela altura.
Richardson concordava com isso, mas Alina queria evitá-lo a todo o custo. Talvez ele não tivesse esquecido tudo. Há certas coisas que é sempre agradável recordar.
Se assim fosse, tudo podia recomeçar. Ela continuava a ser muito bonita.
Cavalgava lentamente, com os encantadores olhos azuis fixos na ponta das orelhas do cavalo.
— Não é bom pana a saúde cavalgar tão pensativa e distraída pela pradaria, Alina.
A rapariga deu um salto sobre a sela, e em seguida puxou as rédeas, fazendo parar o cavalo, voltando a cara para o lado direito da estrada.
E ali estava o objeto dos seus pensamentos. Com o cigarro na boca, um sorriso cínico e trocista nos lábios, encostado ao enorme tronco dum sicômoro, e com os polegares metidos no cinturão.
Alina fitou-o arregalando os olhos, enquanto o seu opulento seio acusava fortemente uma respiração agitada.
Alina já abria a boca para falar, quando ele continuou:
— Posso ajudar-te a desmontar, querida? Há aqui próximo um pequeno regato onde podemos estar bem. Um excelente sítio para recordar tempos passados.
Abandonou a árvore e dirigiu-se para o cavalo. Alina, sobre a sela, contemplou-o sem pestanejar, sem sorrir, mas desejando como nunca que acontecesse o que ia acontecer dentro de pouco tempo.
Por isso, quando Evans chegou junto dela e a fixou estendendo os braços, ela deixou-se cair neles, e em seguida, permaneceu colada a ele, com os lábios entreabertos e com uma promessa nos lindos olhos.
Olhos que ele beijou, para imediatamente beijar aqueles lábios de coral.
Quando se apartou dos braços dele, minutos depois, Alina tinha os olhos fixos no chão.
Perguntou num sussurro:
— Vieste para o matar, não é verdade?
Evans enlaçou-a pela cintura.
— Vamos, querida — disse. — Já te disse que há um regato próximo daqui. Levo-te para lá, e depois, junto da água, como em outros tempos, lembras-te?, falaremos.
 Ela deixou-se conduzir como um autómato. Sem pronunciar palavra, com a razão ofuscada pela presença daquele pistoleiro, com a consciência a acusá-la de que se ele era pistoleiro, a culpa era dela.
Não disse nada, nem quando, sob as árvores, já com o sussurrante regato a seus pés, Evans a beijou novamente:
Não falou, nem ergueu os braços para os passar à volta do pescoço de Evans. Ele ouviu-a suspirar debilmente, quando cheia de fogo, exatamente como se nada se tivesse passado, como se aqueles cinco anos não tivessem decorrido, o beijou apaixonadamente.,
— Oh, Pack! — murmurou depois.
Entreolharam-se de novo, silenciosos, sem proferir palavra, como se o tempo tivesse parado para os dois. Estiveram assim durante vários minutos. E nenhum deles soube quantos tinham passado, até que de repente Evans afastou-se dela e em seguida sentou-se na erva húmida.
De pé, na frente dele, Alba fitou-a. Depois, e muito lentamente, sentou-se ao lado dele, fixando-o nos olhos.
— Beija-me outra vez, e depois mata-me se quiseres, querido — sussurrou.
Evans beijou-a, e durante mais de meia hora nenhum dos dois disse nada, nenhum deles reparou que o tempo passava, nem pensaram nos acontecimentos sangrentos que os tinham unido agora em tão estranhas circunstâncias.
Foi depois, quando se separaram, e enquanto ela arranjava um pouco o cabelo em desalinho, que ela perguntou fixando-o atentamente:
— Vais matá-lo, não é verdade?
— Talvez, Alina. Pode ser que depois também te mate a ti.
Ela deixou de o fitar e cravou os olhos no regato.
— Gostaria que o fizesses agora, Pack. Aqui mesmo. Queria morrer às tuas mãos. Sim... Pack. Porque não o fazes? Não sabes, não saberás nunca quanto te agradeceria.
Fitou-a.
Alina continuava com os olhos fixos nas águas mansas. Por isso, Evans segurou-lhe o queixo e obrigou-a a olhar para ele.
— Diabos! — exclamou. — Mas... mas julgas-me capaz de te matar?
Ela sorriu tristemente.
— Porque não? — perguntou sem olhar para ele. — Não o mereço?
Evans não respondeu. Enrolou um cigarro e acendeu-o. Depois perguntou lentamente:
— Onde ias, Alina?
— A Rosedale.
Agora olhava-o de frente, e uma vez mais Evans, aprofundou a luz misteriosa dos seus olhos.
— Procurar-me?
— Sim.
— Quem te disse que estava na povoação?
— Um homem que veio do rio, Pack — replicou suavemente, e Evans sobressaltou-se, fitando-a.
— Quem é esse homem? — perguntou com voz rouca, enquanto uma suspeita penetrava no seu cérebro.
Não se enganou, pois ela sempre a olhar para ele, respondeu lentamente:
— Chama-se Larry O'Hara. Contou muitas coisas, quando chegou ao nosso rancho. Entre outras...
Evans não a ouvia. Para ele tinha sido uma surpresa que o jogador do «Nephente» estivesse vivo. Provavelmente tinha recuperado o conhecimento devido ao mergulho no rio, e tinha atingido a margem a nado.
Larry O'Hara, que se encontrava agora no rancho de Richardson, o homem que tinha jurado matar.
Pôs-se em pé repentinamente e ela imitou-o, compreendendo que não a ouvia, que estava absorvido pelos seus próprios pensamentos. Aguardou pacientemente que aqueles acabassem, e segundos depois ouviu-o perguntar:
— Para que me querias ver, Alina?
— Para recordar, Pack— respondeu ela sem vacilar. — Para recordar contigo e pedir-te pela vida de Jess.
— Hei de matá-lo, Alina. Faço-o logo que o veja.
— Já pensaste que a morte dele nos afastará para sempre, Pack?
— Tu já escolheste o teu próprio caminho, Alina.
— Vives enganado, querido. Por isso suplico-te pela vida dele, embora compreenda que é inútil. Tu... tu já tens a outra. Sei que vieste com esse miserável «pirilampo do rio». Com essa Crystal Dumeine. O'Hara diz que é tua amante.
— O'Hara é um porco. Crystal. Dumeine é minha mulher. Casámo-nos a bordo, há uma semana, querida.
O rosto de Alina virou-se pálido como um cadáver.
— Pack! Estás a mentir! Mentes, Pack! Isso não é possível... Tu sabes bem que não podes, que não podias fazer isso.
— Porquê, Alina? Por ti? Há muito tempo que desejo ver-te no inferno, apesar do que se passou agora.
Então aconteceu aquele facto insólito. Atina, sem dizer urna palavra, lançou-se contra ele, como uma fera ciumenta. Primeiro foram duas bofetadas que 'soaram como tiros, e depois arranhou-lhe a cara com unhas.
— Porco! Canalha!
Bateu-lhe novamente, e Evans permaneceu imóvel, na frente dela, sem recuar um passo, sem dizer uma única palavra, e sem fazer um único gesto de defesa.
 

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