sábado, 5 de setembro de 2015

PAS526. Uma visão de uma rapariga envolta em farrapos

Chegaram a Mayer cerca das cinco da tarde. A expectativa crescia em torno deles. Mas havia uma extraordinária diferença na forma como agora o olhavam. Em todos os olhos dos que se cruzavam com eles, homens na sua maioria, e uma ou outra mulher, havia uma muda pergunta.
Rod não teve dificuldade em adivinhar qual era. Toda a povoação de Mayer, interrogava-se sobre o tempo que ele duraria vivo.
Encolheu os ombros, e Vera observando-o, perguntou a si própria, em que diabo estaria ele pensando.
Como habitualmente, também à porta do saloon, Rod ajudou-a a desmontar. Mas desta vez não a beijou.
Entraram.
O saloon estava quase deserto. No palco, Liz e as suas maravilhosas pernas, com o seu «tudo», admirável e provocante, movia-se de forma endiabrada ao compasso do piano.
Ao balcão, Dayton, o seu capataz e Spencer Talbot.
Vera não necessitou de indicar-lhe quem era o primeiro, porque ele adivinhou isso ao primeiro olhar.
Dayton era alto e forte. Maciço. A sua idade oscilaria entre os sessenta e os sessenta e dois anos. Os olhos eram cinzentos, e o cabelo completamente grisalho.
Rod fitou os outros dois.
Spencer Talbot era delgado, de cintura estreita e ancas descaídas. Trazia dois colts 45, com as coronhas voltadas para fora, era louro e de olhos sombrios.
O capataz Don Culvert era de estatura normal, moreno, de olhos negros e bastante cuidadoso no trajar. Apenas um colt 45, repousava na sua cartucheira gravada, trabalhada à mão.
Rod afastou o olhar deles, para lançar em redor. Sinclair estava no extremo do balcão diante de um copo de whisky, com os olhos cravados no trio.
Olhou mais além, e então viu-a. Lina estava ali.
Trajando os seus andrajosos farrapos de homem, e esfregando o chão com um pano e um balde cheio de água.
Rod avançou para ela, observando-a.
Sugestiva, não, pelo que tinha visto no regato.
— Que fazes aqui?
Ela ergueu o olhar para fitá-lo.
— Agora esfregando o chão do seu estabelecimento, mister Burke. Um espectáculo menos interessante, que o do regato.
— Quem te contratou para este trabalho?
— Liz.
Rod trocou um olhar com Vera, e logo fitou Sinclair.
— Venha cá, Ted.
Executou a ordem com lentidão. E quando chegou ao seu lado, Rod pontapeou o balde que voou até ao outro extremo do saloon.
Lina ergueu-se com os olhos reluzentes fitos nele.
—  Que... que diabo significa isto, Mister?...
— Que não gosto do espectáculo — replicou Rod friamente. — Prefiro o outro — e acrescentou, encarando Sinclair: — Leva-a a qualquer estabelecimento onde vendam roupas e calçado. Depois trá-la para cá, mas não o faças antes de escurecer.
Os olhos azuis faiscaram.
— Que diabo imaginou você, mister Burke? Por quem me toma?...
— Cuidado com a língua, Lina, que agora quem fala sou eu! Vais fazer o que te mandei. Isso, ou preferes que os meus homens te acompanhem para fora de Mayer, até ao centro da «Mesa do Mogollon» ?
— O senhor não se atreverá a fazer isso! Não, não o fará! — olhou-o nos olhos, e baixou os seus, os que estavam mais próximos ouviram-na murmurar:— Era capaz de o fazer ! Te... tenho a certeza disso. — olhando para Sinclair. — Vamos, querido — acrescentou—, mister Burke quer ver-me como uma dama.
Dirigiu-se para a rua sem olhar para ninguém. Sinclair deitou um olhar para o balcão.
— Mister Burke, eu...
— Vá com ela, Ted. O tom com que foi dada a ordem, foi como sempre frio. Frio como o gelo. Ted vacilou ainda, mas apena um segundo, deu meia volta e saiu no encalço de Lina.

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