quarta-feira, 30 de setembro de 2015

BUF093. A fuga do condenado


(Coleção Búfalo, nº 93)
 
Franklin Murray tinha prometido perseguir o assassino John Peter e entrega-lo para o mesmo ser julgado e condenado à forca. Cumpriu, mas dois guardas ambiciosos deixaram-se aliciar e Peter fugiu de novo de pois de ter morto um representante da lei.
Franklin estava para casar, mas não hesitou em adiar a boda para fazer cumprir a sua promessa. Partiu em busca do bandido. Acompanharam-no uma jovem e o filho do guarda morto pelo bandido. Tentou infiltrar-se no grupo, o filho de um guarda que se deixou corromper o qual tinha verdadeira paixão por Mabel.
Assim, a perseguição é marcada por sucessivos encontros entre o trio e este perseguidor apaixonado que acaba por encontrar primeiro a quadrilha. Nesse momento, a novela desenvolve-se através de um conjunto de ações marcantes que culminaram no encontro apaixonado dos dois jovens e na regeneração do pai de um deles.
Eis mais um texto do português Vasco Santos que nada fica a dever aos autores mais cotados deste tipo de novelas…
 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

BUF092. Ouro e pólvora

 
(Coleção Búfalo, nº 92)
O pobre velhote tinha passado a vida à procura de ouro e, qaundo o encontrou, também encontrou a morte nas mãos de três energúmenos com quem casualmente se cruzou. Toda a história gira em torno dos artifícios para chegar à sua herança a qual naturalmente ia para a jovem Anne, uma bela menina. Um dos facínoras chegou a inventar que, nos últimos momentos, o velhote o tinha nomeado seu tutor.
Nesta história há também alguém que se julga cobarde e cuja acção vem a contribuir para afastar aquele facínora e para encontrar o respeito por si próprio depois de acções intrépidas que o conduziram inclusivamente à perda de memória.
Peter Kapra é um daqueles autores pouco produtivos, mas cujos argumentos são sólidos. Teve 102 obras registadas no país, mas dominantemente no género Ficção Científica. A história em apreço é muito coerente e muito bem delineada.
A capa, não assinada, mostra o momento em que a jovem Anne, cheia de calma, dispara sobre o facínora que se armara em seu tutor.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

PAS538. Nunca é tarde para perdoar

Olhou duramente o homem que tanto dano moral e material lhe tinha feito e depois a mulher que outrora fora sua noiva e o filho que ela tinha nos braços.
A sua voz enrouqueceu ao perguntar:
-- Tens alguma coisa a ver com esses assassínios, Vic?
Mas antes que este lograsse sequer articular uma única palavra, a mulher interpôs-se entre os dois excla-mando:
— Nada, Monty! Juro-te! É verdade que depôs contra ti mas eu só o soube depois de casada. Vic confessou-me tudo tempos depois, quando eu ia ser mãe. Isto distanciou-nos durante muito tempo. Depois, quando regressaste, compreendi que o meu amor por ti tinha morrido, Monty, que o meu dever era estar ao lado do meu marido e do meu filho. Não poderás perdoar? Ele... nada sabia de tudo isto em concreto. Só suspeitava.
— Podia ter-me avisado. Creio que isso é tudo.
— Não, Monty — replicou Vic. — Não é tudo. Quis fazê-lo, falar contigo. Mas não me deram tempo.
— Falas verdade?
— Sim, Monty — responderam em uníssono marido e mulher.
O pistoleiro olhou-os profundamente. Nos seus rostos espelhava-se a verdade. E, não obstante...
Sem dizer palavra, deu meia volta alcançando rapidamente a porta. Ele não era ninguém para os julgar. Disso se encarregariam os homens do tribunal de Corona quando ele regressasse.
Mas se foi rápido a alcançar a porta, Talú também o foi. Tanto assim, que o alcançou quando ele se preparava para montar.
— Monty!
O pistoleiro voltou-se, perguntando roucamente:
-- Que queres, Talú?
Ela replicou com outra pergunta:
— Que vais fazer?
— Perseguir Don Peters. Já perdi demasiado tempo.
— E depois?
— Isso já não será da minha conta, Talú mas sim do jurado que se convocará em Corona aquando do meu regresso.
— E... que será de Vic?
E viu-a ali, junto a ele, com o garoto nos braços.
Depois, outra figura também de mulher com uma criança sozinha numa cabana. Joyce Sinclair.
A mesma solidão aguardava com o tempo, talvez uma semana, Talú Gordon e o filho. Ele sabia qual a pena para um ladrão de gado: uma corda de cânhamo. Ele próprio se tinha visto com uma ao pescoço no dia em que foi julgado e se se tinha saído bem fora unicamente devido à influência que o seu pai desfrutava ante os homens honrados de Corona. Por isso nenhum dos jurados sentira qualquer receio com o seu regresso.
— O teu marido é um ladrão de gado, Talú.
— Era, Monty. Agora só deseja um pouco de paz e solidão. E tudo isso está nas tuas mãos.
— Não precisamente nas minhas, Talú Gordon mas sim nas de um povo que tem vivido num meio de assassínios e roubos. Quando o, caso for julgado, ninguém acreditará que ele não é culpado dos assassínios de Miller, Preston e do garoto. Sobretudo do pequeno Mike.
— Monty! Isso... isso é horrível. Será a forca para ele. E eu... e o pequeno... como reagirá ele amanhã quando todos o apontarem como filho de um ladrão de gado?
Os olhos de Talú rasavam-se de lágrimas. Estava pálida como cera. E então sorriu tristemente.
— Vou-me embora, Talú Gordon. Se fores esperta ainda podes preparar um carro e esta noite tirares o teu marido de Corona sem que ninguém dê por isso. Há outros Estados onde podeis começar tudo de novo. Eu regressarei o mais depressa possível da minha busca, caso regresse vivo. E... não, Talú. Não vos queria ver próximo de Corona.
— Monty! Oh! Monty! Como...?
Mas ele já não a ouvia. O seu cavalo afastava-se cada vez mais depressa, até desaparecer numa nuvem de poeira.
Com os olhos cheios de gratidão, a mulher viu-o afastar-se sem voltar uma única vez a cabeça. Depois, rebentando num choro convulsivo, imediatamente secundada pelo garoto, entrou no rancho a correr.
A noite envolveu rapidamente Monty Evans. Continuou a todo o galope, sem perder de vista a pista que se estendia diante dos seus olhos. O luar facilitava-lhe o trabalho. Mas por mais de uma vez viu-se obrigado a desmontar para se poder orientar.
Depois, montava de novo e continuava a perseguição.
 

domingo, 27 de setembro de 2015

PAS537. Uma recordação de um velho amor

Disparavam com uma espingarda. Uma arma de caça aos búfalos, com certeza. Olhou na direção em que lhe tinha parecido ouvir os tiros e então, nesse preciso instante, o sol refletiu-se no cano da arma.
Atuou de forma instintiva quando se agachou, e o projétil furou-lhe a copa do «Stetson». Deu de esporas e o animal hesitou como que protestando contra o tratamento imerecido.
Mas Monty Evans tinha de proceder assim. A ferida doía-lhe horrivelmente. Estava a perder muito sangue e sabia que, mais tarde ou mais cedo, caso não se tratasse convenientemente, acabaria por cair do cavalo. Por outro lado; estava à mercê daquela espingarda. O seu «Colt» não alcançaria nem metade da distância. Mas ainda que o conseguisse, ele jamais teria disparado nessa direção.
Porque sabia que por detrás da arma, montada a cavalo, se encontrava Talú Gordon!
Castigou de novo o animal e o potente bicho pareceu voar pelo acidentado terreno. Um pouco depois deixava de ouvir os mortíferos zumbidos. Então voltou de novo a cabeça. Talú lançava naquele momento a sua montada pela difícil ladeira.
Sorriu irónico enquanto o sangue lhe escorria pelas costas. Sentia-se débil. Teve depois o primeiro desfalecimento. Inconscientemente soltou a corda que lhe servia de rédeas, entregando-se ao instinto do nobre animal.
Uma milha depois agarrou-se fortemente às crina de «Tigre», afundando a cabeça no peito; prestes a perder os sentidos. Nem sequer sentia a aguda dor, nas costas.

sábado, 26 de setembro de 2015

PAS536. Estou aqui para o vingar

Parou o animal, olhando atentamente a pequena e tosca cabana que surgia no centro da pequena clareira. Uma intensa emoção apoderou-se dele, ainda que o seu rosto se mantivesse como esculpido e pedra.
Então viu a criança, um garoto de apenas sete ou oito anos, que brincava aos vaqueiros, já que ente as suas pernitas se podia ver um pedaço de madeira que lhe servia às mil maravilhas de «cavalo».
A sua imobilidade de pedra quebrou-se e fez avançar o garanhão. Muito antes de aparecer por completo, o garoto viu-o. Por instantes parou na sua brincadeira. Depois vacilou e finalmente soltou o «cavalo» e deitou a correr como um pequeno diabito para a tosca construção.
Monty Evans, sempre a passo, continuou a avançar.
O pequeno Monty Sinclair  entrou corno um furacão em miniatura na cabana. Agarrou-se às saias de mãe que naquele momento preparava o pequeno-almoço.
Absorvida como estava nos seus pensamentos, a entrada do pequeno sobressaltou-a deveras.
Baixou a linda cabeça para ele e então o «homenzito» disse:
— Mamã! Mamã! Vem aí alguém!
Jocelyn Sinclair abraçou contra o peito o filho, aproximando-se assim da janela. Olhou o cavaleiro. Depois respondeu ao pequeno, que a olhava com os olhos grandes e azuis intensamente abertos:
— Sim, querido. Parece um forasteiro. Desde... que ficámos sozinhos não aparece ninguém por aqui. Vejamos o que o traz ao bosque. Talvez seja um fugitivo.
— E que é isso, mamã?
— Um homem mau, filho.
— Então esse é. Traz dois revólveres...
—Como sabes isso, Monty?
E ela, com as mãos nos ombros do garoto, saiu. Sentia um instintivo temor ante aquele desconhecido que avançava diretamente para ela. Se tivesse uma arma obrigá-lo-ia a parar, pelo menos até saber o que ele queria.
Mas a formosa mulher só poderia esgrimir com os utensílios da cozinha. Miller, Gordon e Peters tinham-lhe levado as armas no dia em que detiveram Ted Sinclair, seu marido, acusando-o de ter assassinado Dick Preston, um dos rancheiros mais influentes de Corona.
Continuou a demonstrar impassibilidade, ainda que estreitasse cada vez com mais força o filho, até ao ponto de a criança dizer:
— Estás a magoar-me, mamã!
Aquelas palavras deviam ter chegado aos ouvidos do cavaleiro, tão próximo ele já sei encontrava. Fosse pelo que fosse, o caso é que Monty Evans sorriu, e naquele seu sorriso não havia nada de dureza. Dir-se-ia que seu curtido semblante abrandara por momentos. Precisamente os que aquele tinha durado. Algo tão fugaz, que nem a própria mulher se apercebeu.
Por fim deteve-se ante os dois. Tirou o chapéu cumprimentando, e depois desmontou.
Os grandes e negros olhos da mulher esquadrinharam o cavaleiro dos pés à cabeça, aproveitando o facto de ele se encontrar de costas atendendo o cavalo.
O seu coração teve um sobressalto sem que pudesse especificar a causa.
Naquele instante, Monty voltou-se para ela. Não falou. Limitou-se a dar um passo e a estender a mão para a cabeça emaranhada do garoto. Depois, a sua voz pastosa ouviu-se:
— És Monty Sinclair, não és?
Pelos vistos, o pequeno Monty era uma criança precoce e valente, já que nem sequer estremeceu ao contacto daquela mão estranha. Tão estranha para ele corno o homem que o acariciava. Demonstrou-o ainda mais quando replicou de forma categórica, tal qual uma pessoa crescida:
— Sou Monty. E tu um pistoleiro não é verdade? Foi a mamã quem o disse.
Pela primeira vez desde havia longo tempo, Monty Evans soltou uma estridente gargalhada, interrompendo a mãe quando esta recriminava:
— Menino! Quem te...
Depois homem e mulher olharam-se intensamente, sem nada dizerem, ao mesmo tempo que o pequeno, desconfiando talvez que tivesse dito algum disparate, cravava os olhos no chão.
O silêncio tornava-se incomodativo. Monty Evans foi o primeiro a quebrá-lo quando disse:
— Se ele é Monty, a; senhora é... Sim.. Não há dúvida. A pequena Jocelyn Moniterrey, agora senhora Sinclair. ,
Ela, por toda a resposta, levou as mãos ao peito, enquanto o seu busto, apertado e jovem, se levantava agitadamente, devido à anelante respiração. Depois abriu desmesuradamente os olhos e finalmente o seu rosto tomou um ligeiro tom rosado.
— O senhor... Tu és Montty Evans! Oh! Monty! Ele disse-me que tu virias.
E rebentou num choro convulso ao mesmo tempo que, sem pensar., procurava refúgio no peito masculino.
Uma estranha doçura, algo jamais sentido se apoderou de todo o ser do duro pistoleiro do Colorado quando, com o seu braço esquerdo rodeou a cintura feminina, enquanto com a mão direita acariciava a cabelo negro da jovem que em cascata lhe caía pelos ombros.
— Sim, Jocelyn. Sou Monty Evans. O presidiário. O pistoleiro do Colorado.
As palavras dele fizeram-lhe mal. Muito mal mesmo. Corno um fugaz relâmpago acudiram à sua mente os motivos pelos quais casara com Ted Sinclair.
Este sempre a amara sem esperança. Ela, pelo contrário, desde muito, criança apaixonara-se loucamente pelo homem que tinha agora a seu lado. Mas Monty nunca tinha reparado nela. Não, pelo menos, como o faria um homem apaixonado.
Muitas horas de angústia passou quando ele se prometeu a uma das suas amigas, a actual dona do «Cinco Carvalhos», Talú Gordon. Muito trabalho lhe tinha custado aceitar namoro do que mais tarde fora seu marido. Mas por fim tinham casado.
Nunca tivera qualquer razão de queixa de Ted. Tinha sido para ela um marido sincero, amante e leal. Estava verdadeiramente apaixonado por ela. O fruto tinha sido aquele filho, agora órfão devido à maldade de alguns homens.
Seis longos meses na solidão daquela cabana que o próprio Ted construíra. Agora, o passado abria-se ante ela com mais intensidade ido que nunca. Recordava uma a uma todas as palavras que Ted pronunciara, na tarde anterior ao seu enforcamento. «Monty virá, Jocelyn. Assim que sair da prisão, caso saiba o que se passa. Mas se não acontecer. assim, mais tarde ou mais cedo o fará: assim que o mais leve zumbido chegue até ele>.
Recordou também como ela replicara: «Oh! Querido! Julgas que ele não pensará como todos os outros?». «Isso nunca, Jocelyn. Podes estar certa disso. Monty Evans é meu amigo. Fomo-lo sempre, e eu ainda o considero como tal. Ele está tão inocente ido roubo de que o acusaram, como eu do assassínio desse rancheiro».
Chorou muito depois. Passaram aquele três anos. Monty não voltou. Pensou que jamais voltaria, já que havia bastante tempo que tinha saída da prisão. Agora, o seu passatempo era outro: a caça ao 'homem, a caça a todo o fora-da-lei, fazendo sair a morte pelo brunido e comprido «Coltl» em todo, o território do Colorado. E eis que quando mais tranquila estava, quando mais linha a certeza de que não o voltaria a ver, Monty Kvans tinha chegado.
Estava ali!
Bruscamente, saiu do seu marasmo ao aperceber-se de que a sua cabeça continuava reclinada no peito de Monty e este lhe continuava a acariciar o cabelo como se de uma criança se tratasse.
Mas, apesar do seu brusco despertar, Jocelyn não se separou logo do amparo daqueles braços. Fê-lo, isso sim, firmemente mas com suavidade, não querendo chocá-lo com a sua brusquidão.
O seu rosto tornou-se lívido, sem que Evans conseguisse descortinar a causa. É que Jocelyn acabava de se aperceber, pela primeira vez naqueles anos, que o amor que julgou morto por aquele homem tinha ressuscitado no seu coração com maior intensidade do que nunca, bastando para isso só a sua simples presença.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

PAS535. O terror dos culpados

Havia um homem sentado por detrás de urna secretária, entre um montão de papéis e faturas, de uns trinta anos de idade, cabelo preto e encaracolado, olhos azuis de profundo olhar, nariz aquilino e porte altivo e orgulhoso.
Ao vê-lo, Talú disse para si mais uma vez que era aquele o seu marido, o homem com quem estava casada. Como um relâmpago perpassaram pela sua mente todos os factos devido aos quais tinha contraído matrimónio com ele.
Quando aconteceu «aquilo», era ela a noiva de Monty Evans. Até ao último instante sentiu-se presa ao amor que tinha sabido despertar nela. Inclusivamente chorara deveras no dia em que o tinham levado. Mas depois...
Depois tudo se tornara difícil para ela. As suas amigas, as pessoas de bem de Corona, os seus pais, todos mas todos lhe voltavam as costas. Era a namorada, a noiva de um ladrão de gado. Todos a apontavam com o dedo. Todos, menos uma pessoa. O homem que se levantava agora do cadeirão dirigindo-se a ela com um sorriso nos lábios. O seu marido, Vic Gordon.
Antes de se deixar abraçar por ele pensou que, se não fora inteiramente feliz a seu lado, também infeliz não o tinha sido. Que tinha um filho de três anos. E que Monty Evans regressara para destroçar tudo.
Ofereceu os seus lábios ao marido que se curvou para a beijar como tantas outras vezes. Mas imediatamente se apercebeu do seu demudado semblante. Então separou-se dela, perguntando visivelmente alarmado:
— Talú! Que tens? Que é que te aconteceu na povoação?
Ela abriu a boca repetidas vezes, sem conseguir articular palavra. Vic Gordon não insistiu. Pelo contrário. Esperou com infinita paciência que serenasse. Uma vez conseguido isso, com suma delicadeza tirou um lenço da algibeira e começou a secar as lágrimas que rasavam os olhos femininos.
— Por favor, Talú! Que tens?
A rapariga respondeu com voz rouca, depois de tremendo esforço:
— Voltou, Vic! Voltou!
O rancheiro não a compreendia.
— Mas voltou quem, Talú?
— Oh! Vic! Voltou Monty Evans!
Por uns instantes, meio segundo talvez, Vic Gordon empalideceu ligeiramente. Mas refez-se imediatamente, não querendo que ela voltasse a chorar ao notar o seu I. lado de espírito. — Mas, Talú — disse sem qualquer convicção, —Monty nasceu em Corona. É absolutamente natural que tenha voltado. Ela crispou as suas belas mãos nas bandas do casaco do marido. Não foi por isso que regressou, Vic. Regressou para se vingar. De todos. Talvez até de mim, por o ter abandonado quando mais falta lhe fazia. De ti, porque julgará que aproveitaste a sua ausência para te aproximares da mulher que ele amava. Dos homens que enforcaram Ted Sinclair... Vic...! Vic! Tenho.., tenho muito medo!

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

PAS534. A voz da vingança anunciada

— Vieste para o vingar, Monty. Sabes que deixou viúva e um filho. Mas nada te faria voltar, se não se tratasse de Ted Sinclair, o teu melhor amigo. O único, se a memória me não atraiçoa. Era tão teu amigo que foi o único a levantar a voz em tua defesa aquando do teu julgamento. Que respondes agora, Monty Evans? Estou enganada? E ainda há outra coisa. Perdoa-me que e trate assim. Um pistoleiro com a tua fama, só pode vir a um lugar como este para algo de positivo. Não por altruísmo ou qualquer outra coisa semelhante. Só a amizade e o saberes que o enforcaram por uma coisa que ainda hoje ninguém sabe a verdade, te trouxeram cá.
O jovem ficou sério. Demorou muito tempo a responder. Pensava. A rapariga tinha razão. Ele nunca acreditara no que lhe tinham contado de Ted Sinclair, como este, anos atrás, também se mostrara renitente em aceitar as acusações que sobre ele pesavam e pelas quais tinha passado cinco anos na prisão.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

BUF091. O pistoleiro do Colorado

(Coleção Búfalo, nº 91)

Este homem, este pistoleiro do Colorado, tinha sido falsamente acusado de ladrão de gado e condenado a oito anos de prisão que cumpriu por inteiro.
Quando foi libertado, não voltou imediatamente à sua terra, mas a notícia da morte de um dos poucos amigos que o tinham apoiado, motivada por uma acusação também falsa, forçou-o ao regresso com o objectivo de repor a verdade. Reencontrou a mulher que amara nos braços de outro e perdoou-lhe depois de ela o tentar abater. Reencontrou a mulher do amigo morto a quem passou a ver com outros olhos. Reencontrou o pai e a adorável irmã...
Este livro mostra que Joe Mogar é um grande autor de novelas do Oeste, embora nunca tivesse alcançado o prestígio de um Silver Kane ou de um Keith Luger. Talvez por pertencer a uma segunda geração.
Nada a dizer sobre a capa, não assinada, mostrando um homem em pose a disparar.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

CNT008. Os contrabandistas de armas

Nota prévia: este é um conto não assinado publicado no nº 32 da Coleção Tigre (Ruben Quirino: os diamantes africanos). Atente-se no facto de naquele tempo, na nação índia, já se manifestarem preocupações com inovação e empreendorismo. Neste campo, a atualidade da linguagem do autor é surpreendente
 
 
 
 
Quando Wild Bill Hickock, o famoso «marshall» — agente do Ministério da Justiça nos E. U. A.— entra no acampamento dos índios Snake, fica surpreendido por ver três carros junto à barraca do chefe. Em conversa com «Águia ido Trovão», o velho chefe, e seu filho, «Urso Saltador», estão três homens brancos de aspecto rude.
Vendo o «marshall» desmontar, «Águia- do Trovão» deixa o grupo e encaminha-se para ele.
— «Homem-que-atira-rápido», seja bem-vindo ao acampamento Snake — diz o chefe, apertando calorosamente a mão de Hickock. — Sinto prazer em vê-lo, meu amigo, porque estou muito preocupado.
— Que aconteceu, «Águia do Trovão»? E que fazem estes homens brancos e estes carros aqui? — pergunta Wild Bill na língua Snake.
— Meu filho, «Urso Saltador», esteve longe, e agora voltou com ideias novas, «Homem-que-atira-rápido»! Pensa que a nossa tribo é atrasada e devia ter coisas modernas tal como os brancos têm. Há dois dias, sem me consultar, levou a nossa colecção anual de peles de búfalo e trocou-as por três carregamentos de paus de fogo. Foi uma tolice porque o meu povo precisa daquelas peles para roupas, barracas e muitas outras coisas.
O «marshall» não pôde esconder o seu assombro. Ele sabia que os Snake são pacíficos mas compreende o perigo de haver tantas armas no acampamento. É um convite à desordem.
— Sabe o nome de algum daqueles rostos-pálidos, meu amigo? — pergunta, olhando para os três homens que falavam com «Urso Saltador».
— O meu filho chama àquele corpulento, com barba, Butch Blake. Não sei o nome dos outros.
— Butch Blake, hem? Tenho ouvido falar dele. É um contrabandista de armas. Vamos ver esses paus de fogo, «Águia do Trovão».
O homem barbudo e os seus dois companheiros lançam olhares furtivos quando o «marshall» e o chefe se encaminham para eles. «Urso Saltador», com um ar altaneiro, saúda Wild Bill friamente.
— Deseja falar comigo, «Homem-que-atira-rápido»?
— Sim, «Urso Saltador». Gostaria de ver os paus de fogo que estes homens lhe deram em troca das vossas peles de búfalo.
— Sinto-me orgulhoso em mostrá-los, «Homem-que-atira--rápido». Os Snakes são agora como os seus irmãos brancos. Eles têm armas modernas. Veja! — «Urso Saltador» puxa para o lado a lona que encobria a parte posterior de uma das carroças e aponta orgulhosamente para uma pilha de armas de fogo.
Wild Bill olha-as com completa surpresa. São velhas carabinas mexicanas de carregar peia boca.
— Mas, por Deus, esta cangalhada não vale o seu peso em sucata — exclamou.— Estas armas não são modernas. São velhas e inúteis.
— «Homem-que-atira-rápido» está enganado — replicou «Urso Saltador.— Estes paus de fogo trarão à nossa tribo grandes riquezas. Com eles, podemos matar muitos mais búfalos do que com as nossas flechas. Venderemos todas as peles aos rostos-pálidos da cidade e faremos muito dinheiro.
Com uma exclamação de reprovação, o «marshall» olha para o interior dos outros carros. Também eles estão cheios de velhas e antigas carabinas.
— Fique fora disto, Hickock — rosna Butch Blake.— Você nada tem com isto. O negócio está fechado!
— Mas eu é que tenho de me meter nisto, Blake — retrucou Hickock em tom gélido.— Tem de ser, para que homens sem escrúpulos como você, não enganem índios amigos e pacíficos. E esta troca de carabinas obsoletas por peles de búfalo é a maior burla de que tenho conhecimento.
A cara de Butch torce-se de raiva e a sua mão desce para o coldre. Mas antes que a arma possa deixar o coldre, o punho de ferro do «marshall» ergue-se e acerta, terrível, na ponta do queixo de Butch. O homem cambaleia sob o impacto do golpe, vai de encontro a um dos carros e tomba no solo. Os dois companheiros de Butch não perdem tempo.
Simultâneamente, saltam para os cavalos. Mas o rápido «marshall» dá um salto e atira-se a eles, abraçando-os com os poderosos braços e fá-los cair dos cavalos. Os seus punhos movimentam-se em rápida sucessão estabelecendo sólido contacto com os maxilares ide cada um idos homens. E também eles são postos fora de combate.
— Quando estes homens voltarem a si, «Águia do Trovão» — diz Wild Bill, endireitando a jaqueta de pele de gamo — digam--lhes que levem esta cangalhada e exijam que lhes devolvam as peles.
A mão de Butch desce para o coldre, mas Wild Bill aplica-lhe um terrível soco que o derruba.
— Isso não é possível — interrompe «Urso Saltador». — Eu selei o negócio com o cachimbo da paz. A palavra de um Snake não pode ser quebrada.
— Meu filho tem razão, «Homem-que-atira-rápido». Não é bom que ele fizesse um negócio com os maus homens brancos. Mas ele não pode quebrar a sua palavra — termina o chefe tristemente
— Nesse caso, eu tomarei o assunto em minhas próprias mãos! — afirma Wild Bill severamente.— Estes homens devem ser punidos por tentarem vender armas inúteis!
Tirando um dos pesados e caquéticos mosquetes de um dos carros, Wild Bill carrega-o e entrega-o a «Urso Saltador».
— Tome, meu amigo, e empreste-me o seu arco e algumas flechas. Veremos qual das armas pode matar mais búfalos no mesmo espaço de tempo.
«Urso Saltador» aceita o desafio e entra na sua barraca em busca do arco.
— «Águia do Trovão», quero que aqueles homens sejam amarrados e guardados enquanto seu filho e eu vamos à procura de búfalos. Guardem-nos bem porque são perigosos.
— Farei como dizes, «Homem-que-atira-rápido»! — afirma o chefe. E dá ordens imediatas para que meia dúzia dos seus bravos liguem Blake e os companheiros.
0 chefe, e um grande grupo dos seus guerreiros, dirige-se para a planície, onde pasta uma manada de búfalos. Uma vez chegado o momento propício, Wild Bill dá sinal para começarem a atirar. «Urso Saltador» tem dificuldade sem pôr o longo e pesado mosquete ao ombro, pois a arma não serve para disparar a cavalo. Por fim, consegue pôr um búfalo na linha de fogo e puxa o gatilho. Mas o mosquete não dispara. Com uma praga faz uma nova tentativa para disparar. Desta vez o gatilho emperra. Impacientemente, o jovem baixa o mosquete e dá-lhe uma forte pancada com a mão. O golpe súbito desencrava o gatilho e, com um grande estrondo, a carabina dispara-se, subitamente, quase atirando «Urso Saltador ao chão,. E como não teve tempo de apontar, o tiro perde-se.
A poucos metros dali, Wild Bill sorria perante os esforços do índio para disparar o mosquete. Calmamente, coloca a primeira flecha no arco e fere um grande macho. Ainda mal o animal havia caído, quando Hickock solta uma segunda flecha e marca mais um ponto. Quando, por fim, a carabina do índio se dispara, já o «marshall» contempla os três búfalos que abatera, O desgostoso índio olha para a arma e atira-a ao chão, raivosamente. Mas quando Wild Bill se aproxima, ao galope da sua montada, tem um súbito sorriso.
 «Homem-que-atira-rápido» tem razão. Estes paus de fogo não têm valor. As nossas maneiras são melhores, no fim de contas. Obrigado, meu amigo, fez-me proveito a lição. Já que foi tão hábil e matou três búfalos, quer ficar para a festa?
— Ficarei, decerto — diz o «marshall» a sorrir. — Não há nada como um belo e suculento bife de búfalo.
Wild Bill prende Butch Blake e os seus companheiros por venderem, ilegalmente, armas de fogo aos índios e obriga-os a devolver as peles a «Urso Saltador». E, assim, os Snakes continuam a viver á sua velha maneira, prometendo não dar ouvidos a futuros «amigos» que os aconselhem a mudar de hábitos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Descubra as diferenças...


Ao chegar ao fim deste «Ciclo Colorado», não podemos deixar de chamar a atenção dos nossos seguidores sobre um facto interessante e que é a extrema semelhança entre estas capas: o número 77 da Coleção Arizona e o número 47 da coleção Colorado. Que se terá passado para estes dois desenhos serem tão semelhantes e ao mesmo tempo tão diferentes?
Convidamos os nossos seguidores a dissertarem sobre tão significante acontecimento: 1) Que diferenças encontra? 2) Que semelhanças se manifestam?
As dissertações poderão ser colocadas na secção de comentários deste blog.
Apreciaremos as respostas, que poderão ser enviadas até ao próximo dia 15 de Outubro, e a melhor (na nossa perspetiva) será prendada com este magnífico livro da Coleção Colt. Assim, abaixo o descanso, toca a dissertar...
 

sábado, 19 de setembro de 2015

PAS533. Um beijo sem resposta

O'Hara foi o primeiro a mover-se. Atirou-se para o chão.
Rolou entre a erva enquanto na sua mão aparecia um «Derringer». Apontou com ele, mas não chegou a disparar. Evans disparou primeiro, com os dois «Colt» e até esgotar a carga de ambos.
O'Hara, no chão, rolou dum lado para o outro, contorcendo-se tragicamente com o impulso dos tiros, até que ficou quieto, com o corpo feito num crivo, e o rosto enterrado entre o pó e as ervas do chão.
Evans nem olhou para ele.
Deu meia volta e lentamente, com os ombros caídos e a cabeça tombada para o peito dirigiu-se para o local onde jazia Alina.
Ao inclinar-se sobre ela compreendeu que a mulher ainda vivia. Ajoelhou-se ao lado dela fitando-a.
Os encantadores olhos dela, um tanto velados pela morte que se aproximava cravaram-se nos dele.
— Acertaram-me, Pack — murmurou. — Nas costas. Vou... vou deixar-te, querido. Dentro em breve, muito breve irei ter com os teus pais. Eu...
— Cala-te I Cala-te, por favor!
— Porque me hei-de calar, Pack? Agora já nada interessa. Sei que vou morrer dentro duns minutos e quero que saibas a verdade.
— Já sei, Alina. Anda, cala-te. Vou levar-te para a cabana.
— Não! Não, Pack. Não me mexas. Sei que não poderei resistir. Eu... Eu nada tive que ver naquilo. Acredita-me. Vou morrer e não posso mentir. Ele, Jess, idealizou tudo sem me dizer nada. Enganou os teus pais aproveitando-se da tua ausência. Ele odiava-te, porque tu sempre foste partidário da causa do Norte.
«Enganou-me a mim também pintando-me os seus negócios como uma coisa proveitosa e absolutamente legal, fazendo-me ver que os teus pais deviam associar-se com ele, visto que para eles seria muito benéfico. Depois, quando já era tarde para os ajudar, soube a verdade.
— Se é assim, porque fugiste, Mina?
— Tive que fa... zê-lo, Pack. Ele... complicou as coisas tanto e de tal maneira, que aos olhos de teus pais eu era tão culpada como ele. Eles denunciaram--nos aos dois por burla e tivemos de fugir. Foi então que soube tudo. Perante o meu desejo de ficar de abandoná-lo à sua 'sorte, replicou-me que tudo estava arranjado de tal maneira que eu pareceria aos olhos de todos tão culpada como ele.
«Tive que o seguir, Pack. Quem me teria acreditado? Ninguém. E os teus pais menos ainda. É esta a história, Pack, querido. Queria que acreditasses em mim e se fosse possível, que não o matasses. Evita isso, Pack ! Morrerei tranquila. Fá-lo pela nossa filha.
Viu urna expressão de surpresa e incredulidade no semblante de Evans, por isso acrescentou cada vez mais dificilmente:
— Ê verdade, Pack. Temos uma menina de cinco anos e alguns meses. Está com uns amigos em Nova Iorque. Vai buscá-la. Ela precisa do pai. Pack!...
Calou-se, enquanto nervosamente procurava as mãos dele. Depois agarrou-as com força e olhou-o novamente.
— Promete-me isso, Pack — murmurou baixinho.
Evans engoliu a saliva enquanto pela sua mente passavam com a velocidade dum raio todos os acontecimentos ocorridos até àquela data.
E agora, ela, que morria nos seus braços, continuava a pedir-lhe pela vida do homem que levara os seus pais à morte.
Cravou os olhos em Alina, que com os seus já vidrados, o fitava, arquejante.
— Está bem, Afina — disse lentamente. — Tens a minha palavra.
— Obrigada, Pack. Acreditas-me, tão é verdade?
Evans incapaz de falar, inclinou a cabeça em sinal de assentimento.
— Vais buscar a pequena Mabel, não vais?
— Sim. Irei amanhã mesmo.
Alina sorriu tristemente. Depois entreabriu os lábios num mudo convite. Evans inclinou-se para ela e beijou-a, mas não encontrou resposta para o seu beijo.
Alina acabava de morrer.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

PAS532. A morte ameaça entre duas paixões

— Quer deixar de fazer papel de parva, sentar-se e deixar de me apontar a arma, Alina?
O dedo estava tenso sobre o gatilho do «Colt», e todavia as palavras brotaram da boca de Crystal com absoluta tranquilidade.
— Vamos, querida, sente-se -- acrescentou.
— Vai tentar convencer-me, miss Dumeine? — replicou ela tratando-a pelo nome de solteira com toda .a maldade.
— Nada disso — disse Crystal sentando-se num dos cadeirões. — Estou simplesmente a tentar que não cometa outra parvoíce. Acho que já cometeu um muito grande, quando abandonou Pack Evans, o melhor homem que já pisou o Oeste. Vamos, sente-se, Alina e não faça mais disparates!
Falava com aprumo, num tom convincente, tranquila, fitando-a nos olhos sem receio algum. Alisa, bem contra sua vontade, sentiu-se admirada. Baixou o «Colt» lentamente, embora não deixasse de o ter apontado na direção dela, e sentou-se na sua frente.
— Estou à espera, Crystal Dumeine — disse com acentuada hostilidade. -- Ande, convença-me e poupar-se-á o tiro.
— Não tenho que convencê-la de nada. Você convencer-se-á sozinha.
— De que me vou convencer? Julga que não sei que você se casou com Pack Evans? Um homem que nunca devia ser para si... e por isso vou matá-la.
Crystal sorriu docemente.
— E não pensou, Alisa, que se pode ter enganado no quarto?
— Enganar-me no quarto? Que diabo quer dizer?
— Simplesmente que devia entrar no outro ao lado. Esse é o quarto de seu marido, mistress Evans.
Alina pôs-se em pé pálida como uma morta e com o cano do «Colt» apontou a porta que ficava atrás de Crystal.
— Quer dizer que...?
Interrompendo-a com um gesto, Crystal deu meia volta e abriu a porta de par em par.
— Entre se quer, Alina — disse friamente.
A loura e explosiva Alisa avançou uns passos e parou :na ombreira da porta. Uma única olhadela foi suficiente para compreender que aquele era o quarto duma pessoa solteira e que não havia ne-nhuma peça de vestuário masculino entre as femi-ninas que se encontravam num pequeno armário cuja porta estava aberta.
Voltou-se como uma víbora, encarando Crystal.
— Que diabo significa isto, miss Dumeine?
— Ainda não compreendeu, mistress Evans? Confesso que a julgava mais esperta. O seu esposo não se casou comigo a bordo do «Nephente» nem em nenhuma outra parte. Foi... uma farsa, embora os seus beijos não o fossem. Sim, Alina Evans! Beijou-me, embora depois daquela noite não o tivesse voltado a fazer, coisa que lastimo profundamente. Você não o merece. Por isso já sabe. Pack Evans não cometeu nenhum delito de bigamia, pelo menos comigo. Compreende? Por isso você não tem que vir com ameaças de morte nem nada parecido. — Crystal levou a mão ao seio e tirou como por artes mágicas um pequeno «Derringer» de cano curto. A arma estava apontada ao peito de Alina, antes que esta tivesse podido fazer qualquer coisa para o evitar. — Podia tê-la morto muito antes de ter entrado, mas não o quis fazer. Reservo esse prazer a Pack. Ele é a única pessoa que tem o direito de a matar, Mina. E não sabe com quanto prazer e ansiedade espero isso!
— Que quer dizer? Porque me há-de matar o meu marido?
— Que pode ele fazer senão matá-la, Alina? Você e esse Richardson do inferno enganaram a família dele, levando-os à ruína em pouco tempo. E tudo por sua causa, Alina. Os seus sogros, os pais de Jack, confiavam na nora e seguiram os conselhos dela, conselhos que por sua vez você recebeu de Jess Richardson, até que chegaram à ruína, morrendo pouco tempo depois. Sim, querida, você merece uma bala. É pena que Pack não me tenha dado licença para ser eu a matá-la ! Estou desejando fazer isso. Acredite que é assim, mistress Evans.
Crystal guardou o «Derringer» no seio, e esperou pela resposta de Alina. Esta não tardou três segundos.
— Isso é mentira, miss Dumeine! — replicou. — É uma infame e enorme mentira para me perder. Eu não fiz nada disso que diz, e se o fiz fui enganada por Richardson...
— Realmente? Então porque o seguiu? Porque abandonou o seu marido meses antes de voltar da guerra? Ande, querida, e conte-lhe isso a ele, se antes de a ouvir não lhe meter na cabeça uma bala que lhe faça saltar os miolos.
— Porque tem esse interesse em que ele me mate?
— Não sabe? Não sabe realmente? Pois eu vou dizer-lhe, mistress Evans. Desejo que a mate, porque este pirilampo do rio, também se apaixonou por ele, compreende? Com um amor muito mais puro que o seu, se é que alguma vez o amou verdadeiramente.
— Quer dizer que?...
— Exactamente o que está a pensar, mistress Evans. Estou apaixonada pelo seu marido e não desejo perdê-lo. Mas antes, como não quero manchar a minha consciência com uma mentira, dir--lhe-ei que entre ele e eu não houve nada além duns simples beijos, produto das circunstâncias. Agora somos sócios no barco, e seremos no rancho que penso adquirir, conjuntamente com um saloon, quando esse porco de Jess Richardson estiver na sua companhia, Alina Evans, no inferno!, que é onde vocês devem estar.
Alina não replicou imediatamente àquela chuva de palavras. Ficou parada na frente de Crystal, fitando-a nos olhos, enquanto guardava o «Colt» que ainda sustinha na mão. Assim se passaram alguns minutos que a Crystal pareceram séculos, até que finalmente Alina interrompeu este silêncio:
— Enfim, querida — disse. — Vou dar-lhe uma alegria.
Agora foi Crystal quem ficou surpreendida.
— Que quer dizer? — perguntou.
— Vejo que também não me compreende, miss Dumeine — replicou Alina em tom mordaz. —Vou dar-lhe uma alegria. Vou fazer com que Pack me meta uma bala na cabeça. Por isso, quer indicar-me onde posso encontrar o meu marido?
Crystal Dumeine moveu as pestanas em sinal de perplexidade e em seguida respondeu com voz perturbada:
— Disse-lhe que o quarto dele é ao lado deste. Vá ao corredor e procure-o.
— Está bem, querida rival. Vou sair. Se passados uns minutos ouvir através da parede um grande ruído, corra para o lado dele e abrigue-o nos seus amorosos braços. Far-lhe-á falta, principalmente se o sheriff vier fazer perguntas indiscretas.
Com um sorriso trocista, Alina Evans recuou até à porta, enquanto Crystal a olhava assombrada. Tinha tentado apavorá-la com as suas palavras, e agora era ela a surpreendida, a apavorada.
— Um momento, mistress Evans—chamou quando Alina já tinha a mão no puxador da porta.
Ela ergueu uma das bonitas e finas sobrancelhas e replicou:
— Vai oferecer-me uns quantos milhares de dólares para que lhe deixe o caminho livre, miss Dumeine? Não se preocupe; Pack fará isso, e sem necessidade de que você, jogadora de batota, tenha que desembolsar um único centavo. Quer dizer, sim. Desejo, é a minha última vontade, que me compre uma coroa de flores.
Com um sorriso trocista, Alina abriu a porta e começou a andar para trás sem a perder de vista. Assim que saiu, qualquer coisa lhe caiu na cabeça, fazendo-a cair Quase em seguida, Crystal empunhou o «Derringer» e avançou para a porta. Chegou a tempo de ouvir um coro de maldições e depois a voz desconhecida dum homem.
--- Caramba, Ó Hara! Esta não é Crystal Dumeine. Esta é...
Crystal não quis ouvir mais. Saiu do quarto com a arma na mão e disparou contra o vulto. Com um grito de agonia, Mac Graham rolou no soalho, enquanto O'Hara e os outros dois largavam o corpo inerte de Alina e levavam as mãos às armas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PAS531. Beijos que precedem a morte

Richardson tinha o seu rancho instalado a umas cinco milhas de Rosedale e a outras tantas de Clevelad.
A mulher saíra do rancho, dirigindo-se a Rosedale.
Montava um bonito cavalo de pelo escuro e puro-sangue.
Ela era alta e elegante. De curvas magníficas e provocantes. Loura de olhos azuis. Era um encanto de mulher junto da qual todas as outras ficavam inferiorizadas.
Inclusivamente a beleza sem igual de Crystal Evans tinha alguma coisa que invejar àquela deusa loura.
Vestia uma blusa simples e decotada, e saia de montar, que deixava a descoberto uns magníficos joelhos, que pertenciam a umas não menos maravilhosas pernas, cobertas até ao joelho por botas altas de montar.
Alina Hendrix cavalgava preocupada, e tinha motivos para isso. Poderosos motivos.
Richardson também os tinha, e eram os mesmos.
Alina ia a Rosedale com o objectivo de acabar com aquela ameaça por todos os meios ao seu alcance. Poderia correr sangue, coisa que não a incomodava muito, para se dizer a verdade, mas não desejaria que isso acontecesse, pelo menos naquela altura.
Richardson concordava com isso, mas Alina queria evitá-lo a todo o custo. Talvez ele não tivesse esquecido tudo. Há certas coisas que é sempre agradável recordar.
Se assim fosse, tudo podia recomeçar. Ela continuava a ser muito bonita.
Cavalgava lentamente, com os encantadores olhos azuis fixos na ponta das orelhas do cavalo.
— Não é bom pana a saúde cavalgar tão pensativa e distraída pela pradaria, Alina.
A rapariga deu um salto sobre a sela, e em seguida puxou as rédeas, fazendo parar o cavalo, voltando a cara para o lado direito da estrada.
E ali estava o objeto dos seus pensamentos. Com o cigarro na boca, um sorriso cínico e trocista nos lábios, encostado ao enorme tronco dum sicômoro, e com os polegares metidos no cinturão.
Alina fitou-o arregalando os olhos, enquanto o seu opulento seio acusava fortemente uma respiração agitada.
Alina já abria a boca para falar, quando ele continuou:
— Posso ajudar-te a desmontar, querida? Há aqui próximo um pequeno regato onde podemos estar bem. Um excelente sítio para recordar tempos passados.
Abandonou a árvore e dirigiu-se para o cavalo. Alina, sobre a sela, contemplou-o sem pestanejar, sem sorrir, mas desejando como nunca que acontecesse o que ia acontecer dentro de pouco tempo.
Por isso, quando Evans chegou junto dela e a fixou estendendo os braços, ela deixou-se cair neles, e em seguida, permaneceu colada a ele, com os lábios entreabertos e com uma promessa nos lindos olhos.
Olhos que ele beijou, para imediatamente beijar aqueles lábios de coral.
Quando se apartou dos braços dele, minutos depois, Alina tinha os olhos fixos no chão.
Perguntou num sussurro:
— Vieste para o matar, não é verdade?
Evans enlaçou-a pela cintura.
— Vamos, querida — disse. — Já te disse que há um regato próximo daqui. Levo-te para lá, e depois, junto da água, como em outros tempos, lembras-te?, falaremos.
 Ela deixou-se conduzir como um autómato. Sem pronunciar palavra, com a razão ofuscada pela presença daquele pistoleiro, com a consciência a acusá-la de que se ele era pistoleiro, a culpa era dela.
Não disse nada, nem quando, sob as árvores, já com o sussurrante regato a seus pés, Evans a beijou novamente:
Não falou, nem ergueu os braços para os passar à volta do pescoço de Evans. Ele ouviu-a suspirar debilmente, quando cheia de fogo, exatamente como se nada se tivesse passado, como se aqueles cinco anos não tivessem decorrido, o beijou apaixonadamente.,
— Oh, Pack! — murmurou depois.
Entreolharam-se de novo, silenciosos, sem proferir palavra, como se o tempo tivesse parado para os dois. Estiveram assim durante vários minutos. E nenhum deles soube quantos tinham passado, até que de repente Evans afastou-se dela e em seguida sentou-se na erva húmida.
De pé, na frente dele, Alba fitou-a. Depois, e muito lentamente, sentou-se ao lado dele, fixando-o nos olhos.
— Beija-me outra vez, e depois mata-me se quiseres, querido — sussurrou.
Evans beijou-a, e durante mais de meia hora nenhum dos dois disse nada, nenhum deles reparou que o tempo passava, nem pensaram nos acontecimentos sangrentos que os tinham unido agora em tão estranhas circunstâncias.
Foi depois, quando se separaram, e enquanto ela arranjava um pouco o cabelo em desalinho, que ela perguntou fixando-o atentamente:
— Vais matá-lo, não é verdade?
— Talvez, Alina. Pode ser que depois também te mate a ti.
Ela deixou de o fitar e cravou os olhos no regato.
— Gostaria que o fizesses agora, Pack. Aqui mesmo. Queria morrer às tuas mãos. Sim... Pack. Porque não o fazes? Não sabes, não saberás nunca quanto te agradeceria.
Fitou-a.
Alina continuava com os olhos fixos nas águas mansas. Por isso, Evans segurou-lhe o queixo e obrigou-a a olhar para ele.
— Diabos! — exclamou. — Mas... mas julgas-me capaz de te matar?
Ela sorriu tristemente.
— Porque não? — perguntou sem olhar para ele. — Não o mereço?
Evans não respondeu. Enrolou um cigarro e acendeu-o. Depois perguntou lentamente:
— Onde ias, Alina?
— A Rosedale.
Agora olhava-o de frente, e uma vez mais Evans, aprofundou a luz misteriosa dos seus olhos.
— Procurar-me?
— Sim.
— Quem te disse que estava na povoação?
— Um homem que veio do rio, Pack — replicou suavemente, e Evans sobressaltou-se, fitando-a.
— Quem é esse homem? — perguntou com voz rouca, enquanto uma suspeita penetrava no seu cérebro.
Não se enganou, pois ela sempre a olhar para ele, respondeu lentamente:
— Chama-se Larry O'Hara. Contou muitas coisas, quando chegou ao nosso rancho. Entre outras...
Evans não a ouvia. Para ele tinha sido uma surpresa que o jogador do «Nephente» estivesse vivo. Provavelmente tinha recuperado o conhecimento devido ao mergulho no rio, e tinha atingido a margem a nado.
Larry O'Hara, que se encontrava agora no rancho de Richardson, o homem que tinha jurado matar.
Pôs-se em pé repentinamente e ela imitou-o, compreendendo que não a ouvia, que estava absorvido pelos seus próprios pensamentos. Aguardou pacientemente que aqueles acabassem, e segundos depois ouviu-o perguntar:
— Para que me querias ver, Alina?
— Para recordar, Pack— respondeu ela sem vacilar. — Para recordar contigo e pedir-te pela vida de Jess.
— Hei de matá-lo, Alina. Faço-o logo que o veja.
— Já pensaste que a morte dele nos afastará para sempre, Pack?
— Tu já escolheste o teu próprio caminho, Alina.
— Vives enganado, querido. Por isso suplico-te pela vida dele, embora compreenda que é inútil. Tu... tu já tens a outra. Sei que vieste com esse miserável «pirilampo do rio». Com essa Crystal Dumeine. O'Hara diz que é tua amante.
— O'Hara é um porco. Crystal. Dumeine é minha mulher. Casámo-nos a bordo, há uma semana, querida.
O rosto de Alina virou-se pálido como um cadáver.
— Pack! Estás a mentir! Mentes, Pack! Isso não é possível... Tu sabes bem que não podes, que não podias fazer isso.
— Porquê, Alina? Por ti? Há muito tempo que desejo ver-te no inferno, apesar do que se passou agora.
Então aconteceu aquele facto insólito. Atina, sem dizer urna palavra, lançou-se contra ele, como uma fera ciumenta. Primeiro foram duas bofetadas que 'soaram como tiros, e depois arranhou-lhe a cara com unhas.
— Porco! Canalha!
Bateu-lhe novamente, e Evans permaneceu imóvel, na frente dela, sem recuar um passo, sem dizer uma única palavra, e sem fazer um único gesto de defesa.
 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

COL049. Morte no rio

(Coleção Colorado, nº 49)
 
«Chamava-se Crystal Dumeine.
E chamavam-lhe o pirilampo do rio.
Alta e esbelta. De curvas fascinantes capazes de perturbar o capitão do barco onde se encontrava. Era orgulhosa e altiva. Morena, de olhos rasgados, grandes e negros como um cume ou um poço.
A boca de lábios carnudos, vermelhos e sensuais incitava ao beijo. O seio era altivo e erecto, a cintura fina, quadris de ânfora e pernas altas e maravilhosas metidas em meias, preta a maioria das vezes.
No dizer de quantos a conheciam, Crystal era uma verdadeira dama crioula, embora, como em todos os casos, houvesse quem tinha opinião contrária. Mas todos concordavam em que era tão perigosa como uma cascavel ou um jaguar das planícies do Texas.» - conta Joe Mogar.
Encerrada naquele barco, ganhando a vida como jogadora, estava muito longe de imaginar o papel que ia ter nos futuros acontecimentos em que um capitão nortista se envolveu quando procurava quem lhe fizera desaparecer os pais, quem o roubara, quem obrigara a sua mulher a fugir...
Deste livro, em que algumas situações parecem de esclarecimento difícil, aqui deixamos algumas passagens que retratam a fulgurante e dramática relação da sua figura principal, Pack Evans, o capitão nortista, com Alina, a sua esposa, a mulher que lhe fugiu para acompanhar um meio-irmão que ludibriara os seus pais, deixando por momentos a ação do «pirilampo do rio» para os que entenderem proceder ao download da obra.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

PAS530. O rancho roubado torna à dona esfarrapada

-- Que aconteceu?
Foram estas as primeiras palavras que Rod pronunciou, após muito tempo, e a pergunta surgiu, olhando o belo rosto de Vera.
Ao lado desta, Lina, Sinclair e todos os outros.
— Dayton morreu, querido. Os teus homens tiraram-no do saloon, mas não foram muito longe com ele. Lincharam-no. Foi horrível — estremeceu com a recordação. — Depois, tudo foi simples. Os poucos homens que lhe restavam fugiram. Agora Mayer é um mar de rosas. Jim Delano declarou tudo o que tu afirmaras, e as coisas voltaram à normalidade.
Com um sorriso divertido, Rod voltou a fitar Lina. A rapariga não suportou o olhar e desviou os olhos, corando vivamente.
— Devo entender que me arrebataste o «Arizona», Lina? — perguntou.
— Mister Burke! Como pode dizer isso? Não sabe? Não sabe que eu soube sempre, qual era o rancho dos meus pais?
Rod olhou-a com assombro.
— Então por que não mo disseste quando te perguntei?
Ela sorriu suavemente.
— Não podia, mister Burke. Não devia fazê-lo. O senhor... o senhor foi o único que me estendeu a mão. O único que nada me pediu em troca da ajuda que me deu. Poderia eu, arrebatar-lhe o que de boa fé comprou?
— No entanto, o rancho é teu, Um.
— Não o quero. Não o posso fazer.
— Terás de aceitá-lo. Como presente de casamento.
Ela olhou Sinclair.
— Creio que mister Burke perdeu um parafuso — disse. — Não achas, Teci?
Sinclair, ia para responder, mas a alegre gargalhada de Vera, obrigou-o a fitá-la.
— Não discutam mais — disse suavemente. — A questão do rancho «Arizona», já está solucionada por mim. Esqueceis que tenho plenos poderes para isso? — olhou-os um a um e disse: — O rancho pertence-te por completo, desde o dia em que o médico declarou Rod fora de perigo, Lina. Assinei uma cessão em teu nome, diante do juiz.
— Vera!
— Cala a boca, Lina! É... é o nosso presente de casamento.
Disse-o olhando Rod. Este por sua vez, também a fitava. Logo, lentamente, como que atraída por uma força misteriosa, Vera foi inclinando a cabeça para ele.
O beijo surgiu espontâneo, cheio de paixão. Quando ofegante se separou dele, Vera murmurou:
—Rod... estão observando-nos...
Mas não era assim. Silenciosamente, todos se tinham ausentado da habitação.
Ao compreender, Vera sorriu, e depois deixou-se cair nos seus braços.
E nenhum dos dois se lembrou de mencionar Liz, a qual fugira de Mayer, sem esperar novo aviso.
Tinham-se esquecido de tudo, que não fossem eles próprios.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

PAS529. Compraste um rancho que tinha sido roubado

Só quando divisaram o rancho que pertencera a Sullivan, Vera deteve o cavalo.
Barrou-lhe o caminho, e olhou-o com valentia nos olhos.
— Pensaste bem, Rod?— perguntou.
— Sim. Muito calmamente, querida. Se não fosse assim, não te teria pedido.
— Eu… Tenho medo de que algum dia chegues a pensar, que o fiz pelos teus dólares. Que algum dia me deites à cara a minha condição de...
— Cala-te, Vera! Tem cuidado com a língua, que será melhor!
Ela sorriu levemente ante as secas palavras.
— Terás de obrigar-me tu, Rod. És o único que me pode fazer calar.
E aproximou o cavalo, até os animais se tocarem. Rod estendeu os braços e arrancou-a da sela como se fosse uma pluma. Começou a beijá-la, antes de poisá-la no seu cavalo, à sua frente.
Assim arrulhando, chegaram frente à entrada do rancho «Estrela». Rod desceu primeiro do cavalo e depois ajudou-a. Acabara de fazê-lo, quando na soleira da mesma, se destacou a silhueta de Sullivan.
— Olá, pombinhos — saudou. — Há já um bom bocado que estou à vossa espera.
Conduziu-os ao escritório.
Especado à frente de Rod, olhando-os alternadamente, explicou:
— Agora vou buscar o seu homem, rapaz. Creio que mais não se pode fazer. Digo, sem receio de enganar-me, que com a declaração de Jim Delano, há o suficiente para levar à forca, Dayton.
— Traga-o, está bem?
Sullivan demorou pouco em voltar com Jim Delano.
Velho, mais velho ainda que Sullivan. De rosto duro, coberto de rugas, de cabelo cinzento e espesso bigode.
Alto, muito alto. Isso notava-se à primeira vista, apesar de agora, sob o peso dos anos, andar recurvado.
Campesinamente, estendeu a mão a Rod, que a estreitou com um estranho sorriso na boca.
— Mister Sullivan falou-me de si e do que pretendia, mister Burke — disse. — Estou disposto a dizer o que vi.
— Fale, Jim. Não sabe quanto lhe agradeço isso.
O antigo e velho vaqueiro sorriu.
— A coisa começou...
Ponto por ponto, relatou tudo o que Sullivan já lhe dissera. Ao terminar a narrativa, Jim Delano tinha os olhos fixos em Rod.
— Jurará isso diante dum tribunal, Jim?
— Agora sim, mister Burke. Foi horrível, sabe? Portanto, vou fazê-lo. Se o não fiz antes, foi por medo. Pelo receio de que alguma bala acabasse comigo. Agora é diferente. Ainda que você não viesse, ainda que tivesse sido outro, também teria falado — riu com um riso ainda mais achocalhado do que o do velho Sullivan, e acrescentou: —  Estou com um pé na sepultura. Se antes de ir para o inferno, posso fazer algum bem, estou disposto a fazê-lo. Declaro-o aqui ou onde quiser, mister Burke.
— Obrigado, Jim — olhou-o pensativo alguns segundos e depois perguntou: --- Como se chamava o rancho dos pais de Lina Hendrix?
O riso trocista de Sullivan interrompeu-o. Rod encarou-o, mas antes de que pudesse abrir a boca, Sullivan sempre rindo, disse:
— O seu, rapaz. O rancho dos Hendrix era o «Arizona».
Vera soltou uma exclamação sufocada, e Rod cravou silenciosamente os olhos no velho vaqueiro.
— É verdade, mister Burke —afirmou aquele. Agora já sabe tudo. Se quiser restituir tudo a Lina, creio que fez um negócio ruinoso ao comprá-lo.
Rod ficou pensativo durante alguns segundos. Depois perguntou a Sullivan:
— Como se explica isso, Sullivan? Eu comprei o rancho «Arizona» a...
— Eu sei — interrompeu Sullivan. — Isso também é certo. Mas Dayton vendeu-o a Pop Benson. Tenha em conta, que este último veio para cá alguns anos mais tarde. Desejava estabelecer-se, e Dayton vendeu-lhe o «Arizona» por alguns milhares de dólares, com intenção de se apoderar de novo dele. Começou a fazer pressão sobre ele, e quando já tinha quase tudo conseguido, apareceu você a estragar-lhe os planos. Que pensa fazer agora, mister Burke?
Rod não respondeu. Ergueu-se e olhou pela janela. O sol declinava.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

PAS528. Há sempre alguém que conhece uma história macabra

— Você viu? Pode apresentar-se diante dum tribunal como testemunha da ocorrência?
Sullivan sorriu, movendo a cabeça dum lado para o outro.
— Não, mister Burke. Não posso porque eu não vi nada. Mas sei, com a mesma certeza de que se o tivesse visto. Sei como tudo aconteceu.
— Então?...
— Não se impaciente, rapaz, que vou iniciar esta curta e sangrenta história. Chick Dayton era o capataz dos Hendrix, naquela época. Homem ambicioso e sem escrúpulos, que logo forjou planos para se apropriar de um dos melhores ranchos da região. Por diversos motivos, pois gozava da inteira confiança dos seus patrões, foi despedindo alguns bons elementos do rancho, substituindo-os por outros da sua igualha. Resultado: Dayton rodeou-se de alguns insurrectos, e unia noite, entrou na habitação do casal, agarraram na pequenita, Lina, e ameaçaram matá-la se não acedessem ao que pretendia.
«O resultado foi a assinatura de um documento, pelo qual John Hendrix fazia constar que vendera o rancho a Dayton por determinada quantia. Depois ocorreu a morte deles. Isso é tudo, rapaz.
— Por que não mataram Lina?
— Ela era apenas uma criança de tenra idade. Talvez Dayton julgasse ou tivesse medo de liquidá-la também, receoso de que fosse aberto um inquérito. Não é o mesmo matar duas pessoas que matar urna criança.
— Sim, pode ser. Mas como diabo prova isso tudo, Sullivan? Sei que o posso matar, talvez esta noite mesmo. Mas isso não adiantaria nada. Nada pelo menos que beneficiasse Lina. Ela vai casar com o meu lugar-tenente. Ted Sinclair é bastante parecido comigo. É certo que eu poderia oferecer-lhe o suficiente para comprar dois ranchos, mas ele não o aceitaria.
— As provas disso tudo, posso dar-lhas eu, rapaz afirmou Sullivan com um divertido sorriso nos lábios.
Rod ergueu-se de um salto. Pela primeira vez em alguns anos, perdeu a sua impavidez de pedra.
— Raios, Sullivan ! — exclamou. — Fale de uma vez ! Está bem?
O velho riu bastante divertido.
— É isso que vou fazer, rapaz — disse depois. — No «Estrela», tenho um dos velhos vaqueiros do rancho dos Hendrix. Ele assistiu a tudo o que aconteceu. Conseguiu escapar a coberto das sombras da noite, sem que Dayton e os seus sequazes, lograssem reconhecê-lo.
— Vamos lá, Sullivan.
Este fez um gesto com a mão.
— Um momento, mister Burke — pediu. — Vou ao banco depositar estes quinze mil dólares. Depois espero que os seus homens me acompanhem ao «Estrela». Mais tarde, pode você sair de Mayer, como quem vai dar um passeio. Também é melhor que tome o caminho do «Arizona». Esse suíno não suspeitará de nada.
O plano era bom. Rod sabia-o. Mas falaria o velho vaqueiro?.

domingo, 6 de setembro de 2015

PAS527. Desenterrar uma história macabra

Bateu com os nós dos dedos, e Rod convidou-a a entrar, com a mesma voz de sempre. Fecha a porta, sim? Ela assim o fez, e depois olhou-o com os olhos brilhantes.
-- Senta-te, Vera — disse. — E não precisas de bater na porta para entrar — esperou que ela se acomodasse, e então acrescentou: — Diz-me, que sabes tu acerca de Lina Hendrix? Quem é? Que história é essa de não ter pais? Tens ouvido alguma coisa?
O coração de Vera paralisou-se por momentos, devido ao aparente interesse que Rod mostrava por aquela rapariga esfarrapada.
Olhou-o de frente, durante mais de uni minuto, e logo com a voz um pouco rouca, respondeu:
— Tenho ouvido alguma coisa, mister Burke. Creio que a coisa ocorreu há muitos anos, quando Lina era ainda uma criança de cinco ou seis anos. Os seus pais tinham um rancho. Segundo dizem, venderam-no, e ao cabo de algum tempo ficaram na miséria. Depois, a mãe dela morreu, e meses mais tarde foi o pai. Disseram que o seu cavalo se tinha precipitado por uma abertura da «Mesa do Mogollon».
— Como se chamava o rancho deles, flor?
Era a primeira vez que lhe dirigia um galanteio, e Vera sentiu que o coração lhe batia descompassadamente no peito.
— Não o sei. Nunca consegui averiguar.
— É estranho. Se o rancho estava cá situado, como é de supor, alguém deve saber.
 Ficou alguns momentos pensativo, e Vera tirou um cigarro.
Aspirou o fumo sem ousar interrompê-lo, mas ficou pendente dele, dos seus mais pequenos movimentos, da expressão hermética do seu rosto, como nunca estivera por ninguém.
Nem sequer pelo homem que tempos atrás a seduzira.
— Lina deve saber, não é verdade?
— Não. Pelo menos foi o que ouvi dizer. Era muito pequena, quando isso aconteceu. Depois, a a vida que tem levado até agora, não foi a mais indicada para se falar disso. Há muito tempo, antes de eu vir para cá, que começaram a fugir dela, todos a repudiam, como se tivesse peste. Agora, com você, mister Burke, será outra coisa.
Rod olhava-a atentamente. Pela primeira vez, desde, havia já algumas horas. Vera surpreendeu um estranho relâmpago naqueles olhos frios e mortais.
— Que te faz supor isso, Vera?
Vera lançou ao ar uma baforada de fumo.
— O que você fez por ela. Mas não se esqueça que Lina ainda é uma criança.
Podia ser que assim fosse, ainda que a visão do regato, não era a de uma criança propriamente dita.
Rod absteve-se de o dizer. Depois, perante a admiração dela, disse, erguendo-se e aproximando-se:
— Creio que estás um pouco ciumenta, e isso não é bonito, Vera.
Pegou-lhe no queixo, e ela levantou a cabeça com um brilho alegre e prometedor nas suas grandes e misteriosas pupilas.
Ouviram então, atrás deles, uma risada.
Lentamente, separou-se dela, e ambos se voltaram para fitar a porta.
Vera não se moveu, mas conteve o alento. Rod mostrava-se completamente inexpressivo, mas a visão do regato, acentuou-se com a presença de Lina.
Estava na companhia de Sinclair, junto à porta, com os olhos brilhantes e um sorriso meio trocista nos lábios.
Trajava de mulher. Um vestido justo no busto e comprido, até aos pés, estes calçados com sapatos de salto alto.
O cabelo recolhido na nuca, numa artística banana. Uma mulher, não uma criança como dissera Vera.
Uma mulher completa.
Ainda mais bela que quando se banhava no regato, mais desejável.
Rod fez um gesto.
— Entra, Lina — olhou para Vera e Sinclair. — Deixem-me só com ela — disse à laia de ponto final.
Vera ergueu-se, atirou ao chão o cigarro meio consumido e seguiu Sinclair.
— Fecha a porta, Lina. Quero falar contigo.
Lina fitou-o nos olhos.
— Ao diabo! — explodiu. —Se tem algo para me dizer, faça-o, mas com a porta aberta. Não julgue que por quatro farrapos que me deu, eu me deixo beijar. Como essa...
Rod limitou-se a avançar, passou por detrás dela e fechou a porta. Lina impacientou-se e lançou-se contra ele.
— Deixe-me! Abra essa porta! Abra ou gritarei!
Segurou-a pelos pulsos, segundos antes das suas afiadas unhas chegarem à sua cara, e durante algum tempo, ambos estiveram lutando.
Lina caiu sobre um dos maples, respirando ofegante e com o rosto afogueado.
Mas nada disse, a expressão dele assustara-a.
— Maldita sejas mil vezes, Lina Hendrix ! — exclamou com voz rouca. — Isto não sucederia se não fosses tu. E não voltará a acontecer.
Depois, como se a desculpa o magoasse, fez um trejeito com a boca e sentou-se.
Sem nada dizer, Lina viu-o enrolar um fino e comprido cigarro, corno o acendia, e como depois cravava os olhos nela.
Sentiu-se incapaz de resistir àquele faiscante olhar Os minutos passaram céleres para ambos. Finalmente Rod começou a falar:
— Quero perguntar-te uma coisa, Lina. É referente a uma história que ouvi contar e que te diz respeito. A ti e aos teus pais. Sei que ficaste sem eles quando eras ainda uma criança. Qual era o rancho que te pertencia?
— Que me pertencia, não, mister Burke, que me pertence ainda, o que não é o mesmo
Rod franziu o sobrolho.
— Porquê, ainda te pertence? — perguntou.
— Porque tenho a certeza que o meu pai nunca o chegou a vender.
— Explica-me isso, queres?
O rosto de Lina toldou-se.
— Não lhe posso explicar, mister Burke. Mas tenho as minhas suspeitas. Veja: se esse rancho não continuasse a pertencer-me, se esse rancho não foi roubado ao meu pai, de qualquer modo que eu ignoro, como se explica que a população de Mayer, nunca me tenha ajudado? Desde criança que me repudiam, em todas as partes, como se eu tivesse lepra. Porquê? — mirou-se dos pés à cabeça e acrescentou: — Estas são as primeiras roupas de mulher que envergo. Sim... creio que mereceu a pena receber o meu primeiro beijo em troca deles —levantou os olhos, e encarou-o. — Têm medo de alguém. Alguém que deve saber toda a verdade e temem as suas represálias. Isto é uma povoação de cobardes, mister Burke. Por isso sempre me desprezaram. Por isso me desprezam ainda. E teve que ser um forasteiro quem...
Inclinou a cabeça, incapaz de continuar a falar.
— Suspeitas que essa pessoa possa ser Dayton ?
Respondeu sem o fitar:
— Não sei. É estranho, mas é verdade. Nada sei, mister Burke. Nada! Nem sequer o nome do rancho que foi dos meus pais! Esta colectividade de cobardes, nunca fala na minha presença. Para eles, eu sou uma esfarrapada. Uma desgraçada que não tem onde cair morta.
Rod olhou-a durante alguns instantes em silêncio. Depois perguntou:
— Queres trabalhar para mim?
— Onde? No saloon? Confesso que sei cantar e dançar, talvez melhor que algumas das suas canto-ras, mister Burke. Mas a ideia não me seduz.
— Não é isso. Mas se sabes escrever e fazer contas, podes ajudar Vera. Vera é a minha secretária, e creio que terá bastante trabalho, para nem ter um momento livre. Que respondes?
 Rod surpreendia-se poucas vezes, mas desta vez, teve de fazer um esforço, sobre-humano para que o seu rosto não deixasse transparecer a sua emoção, quando Lina levantou os olhos para ele e disse:
— Que tenta esquecer, mister Burke? Há alguns segundos vi-o beijar essa cantora... Vera. Depois beijou-me a mim. Vera é a sua secretária, quanto a mim...
— Cala-te!
A ordem soou como um disparo. Lina encolheu-se no maple, e aos seus olhos assomou o temor.
— Agora sai, Lina —acrescentou. —Põe-te de acordo com Vera. Ganharás cem dólares semanais.
Nada mais disse. Voltou o rosto para a janela, Lina, sem deixar de o fitar, retrocedeu de costas

sábado, 5 de setembro de 2015

PAS526. Uma visão de uma rapariga envolta em farrapos

Chegaram a Mayer cerca das cinco da tarde. A expectativa crescia em torno deles. Mas havia uma extraordinária diferença na forma como agora o olhavam. Em todos os olhos dos que se cruzavam com eles, homens na sua maioria, e uma ou outra mulher, havia uma muda pergunta.
Rod não teve dificuldade em adivinhar qual era. Toda a povoação de Mayer, interrogava-se sobre o tempo que ele duraria vivo.
Encolheu os ombros, e Vera observando-o, perguntou a si própria, em que diabo estaria ele pensando.
Como habitualmente, também à porta do saloon, Rod ajudou-a a desmontar. Mas desta vez não a beijou.
Entraram.
O saloon estava quase deserto. No palco, Liz e as suas maravilhosas pernas, com o seu «tudo», admirável e provocante, movia-se de forma endiabrada ao compasso do piano.
Ao balcão, Dayton, o seu capataz e Spencer Talbot.
Vera não necessitou de indicar-lhe quem era o primeiro, porque ele adivinhou isso ao primeiro olhar.
Dayton era alto e forte. Maciço. A sua idade oscilaria entre os sessenta e os sessenta e dois anos. Os olhos eram cinzentos, e o cabelo completamente grisalho.
Rod fitou os outros dois.
Spencer Talbot era delgado, de cintura estreita e ancas descaídas. Trazia dois colts 45, com as coronhas voltadas para fora, era louro e de olhos sombrios.
O capataz Don Culvert era de estatura normal, moreno, de olhos negros e bastante cuidadoso no trajar. Apenas um colt 45, repousava na sua cartucheira gravada, trabalhada à mão.
Rod afastou o olhar deles, para lançar em redor. Sinclair estava no extremo do balcão diante de um copo de whisky, com os olhos cravados no trio.
Olhou mais além, e então viu-a. Lina estava ali.
Trajando os seus andrajosos farrapos de homem, e esfregando o chão com um pano e um balde cheio de água.
Rod avançou para ela, observando-a.
Sugestiva, não, pelo que tinha visto no regato.
— Que fazes aqui?
Ela ergueu o olhar para fitá-lo.
— Agora esfregando o chão do seu estabelecimento, mister Burke. Um espectáculo menos interessante, que o do regato.
— Quem te contratou para este trabalho?
— Liz.
Rod trocou um olhar com Vera, e logo fitou Sinclair.
— Venha cá, Ted.
Executou a ordem com lentidão. E quando chegou ao seu lado, Rod pontapeou o balde que voou até ao outro extremo do saloon.
Lina ergueu-se com os olhos reluzentes fitos nele.
—  Que... que diabo significa isto, Mister?...
— Que não gosto do espectáculo — replicou Rod friamente. — Prefiro o outro — e acrescentou, encarando Sinclair: — Leva-a a qualquer estabelecimento onde vendam roupas e calçado. Depois trá-la para cá, mas não o faças antes de escurecer.
Os olhos azuis faiscaram.
— Que diabo imaginou você, mister Burke? Por quem me toma?...
— Cuidado com a língua, Lina, que agora quem fala sou eu! Vais fazer o que te mandei. Isso, ou preferes que os meus homens te acompanhem para fora de Mayer, até ao centro da «Mesa do Mogollon» ?
— O senhor não se atreverá a fazer isso! Não, não o fará! — olhou-o nos olhos, e baixou os seus, os que estavam mais próximos ouviram-na murmurar:— Era capaz de o fazer ! Te... tenho a certeza disso. — olhando para Sinclair. — Vamos, querido — acrescentou—, mister Burke quer ver-me como uma dama.
Dirigiu-se para a rua sem olhar para ninguém. Sinclair deitou um olhar para o balcão.
— Mister Burke, eu...
— Vá com ela, Ted. O tom com que foi dada a ordem, foi como sempre frio. Frio como o gelo. Ted vacilou ainda, mas apena um segundo, deu meia volta e saiu no encalço de Lina.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

PAS525. De como a bela cantora de saloon chegou a contabilista

Encontrava-se embebido na leitura dos documentos do rancho. O tempo pareceu voar. Pois quando o capataz o chamou, para dizer-lhe que os vaqueiros acabavam de chegar, teve a impressão de que apenas haviam decorrido cinco minutos, desde a sua entrada no escritório. Abandonou a papelada e saiu ao pátio do solar. Dos degraus, onde se deteve, passou o seu olhar frio e cortante, sobre aqueles rostos cobertos de poeira e suor. Um a um, lentamente. Finalmente, falou:
— Suponho que o capataz Travis, já os tenha informado, que sou o novo proprietário do «Arizona» começou. — Não creio que isto constitua qualquer problema entre nós. E certo que costumo exi-gir muito dos meus homens, mas também é certo que procuro sempre pagar melhor do que ninguém, e dar a cada um o tratamento que merece. Chamei-os apenas para apresentar-me e dizer-lhes isto. Agora, se alguém não estiver de acordo com a mudança de proprietário, que se manifeste, e receberá dois meses de salário. Depois, tem à sua frente a pradaria. Há alguém?
Ninguém respondeu. Todos permaneceram sobre as selas, de semblantes carregados, olhando-o, como se aguardassem que ele dissesse mais alguma coisa. Mas Rod não o fez. Limitou-se a falar com o capa-tas:
— Creio que existe no rancho uma adega, não é verdade?
— Assim é, mister Burke.
— Óptimo, distribua whisky aos rapazes.
Fez menção de se dirigir para o edifício, quando os seus olhos por casualidade, se fixaram na nuvem de pó que avançava a todo o galope em direcção ao rancho. Franziu as sobrancelhas, quando reconheceu o cavaleiro, e, de pernas abertas, com os polegares metidos entre o duplo cinturão e a camisa, aguardou que este chegasse.
Vera deteve o corcel diante do pátio, com expressão ofegante, motivada pela corrida. Sobre a sela contemplou Rod, que não se moveu nem fez nada para aproximar-se dela, enquanto, por sua vez, os vaqueiros a admiravam, possuídos de assombro e perguntando, que iria ali fazer ao rancho a cantora do saloon.
Também a contemplavam por outros motivos.
Vera estava mais bela do que nunca, sobre a sela do animal. A sua saia, larga e curtíssima, mostrava grande parte das suas maravilhosas pernas, e a blusa de desenhos garridos, com um grande decote em forma de V, não era o presente mais adequado para um homem poder pensar com clareza ao seu lado. Em nada disto reparava Vera. Os seus maravilhosos olhos, não se apartavam um momento da silhueta de Rod. Indecisa, ignorando como devia portar-se com ele em público. Sem saber, se descer do cavalo ou permanecer sobre a sela. Sem saber como teria de cumprimentar aquele homem enigmático, que em poucas horas e sem uma frase de amor, havia adquirido direitos sobre ela.
Vera acabou por remexer-se inquieta sobre a sela, um pouco nervosa, perante o silêncio quase opressivo que reinava à sua volta. Rod pareceu aperceber-se disso, e então desceu os degraus. Aproximou-se do animal e estendeu os braços para a ajudar a desmontar. Vera deixou-se cair neles, e Rod depositou-a suavemente no chão.
— Vamos para dentro — disse.
E encaminhou-se para a entrada. Junto à porta deteve-se para fitar Travis. — Amanhã haverá festa no «Arizona».
— De alguma forma os rapazes têm de celebrar a mudança de patrão.
Sem dar tempo a Travis para responder, entrou acompanhado de Vera. Afastou-se para dar-lhe passagem, e depois fechou a porta atrás de si. Olharam-se de frente sem dizer uma palavra.
Sob o mesmo silêncio, Rod aproximou-se e cingiu-a pela cintura. Vera empinou-se sobre as pontas das suas botas texanas e ofereceu-lhe os lábios. Pouco depois, e enquanto compunha os cabelos, sentada num dos cómodos maples, Vera iniciou a conversação:
— É... é muito importante, mister Burke — disse.
— Bem, desembucha. Por que vieste?
— Estava explicando. Mister Dayton está em Mayer. No «Mogollon». Disse que não sairia dali sem falar consigo.
— Apenas isso?
—Não... não é só isso, e tenho medo. Há dois homens com ele. O seu capataz, conceituado como um dos seus melhores pistoleiros, e Spencer Talbot, um dos seus guarda-costas.
Rod não pareceu impressionar-se nada com a notícia.
— Sabes o que pretende?
— Não... não sei, embora adivinhe.
— Sim... E o que é?
-- Por favor, mister Burke, não brinque. Esse homem tentará matá-lo. Deu a entender que não quer a sua presença em Mayer.
— Bom — disse —, isso é o que veremos. Anda, senta-te e descansa. Depois partiremos.
— Não estou cansada, mister Burke. Podemos ir quando quiser. Mas... não se enfrentará com ele, não é verdade?
— Estamos já frente a frente, Vera.
Era a verdade. Vera não sabia o que responder àquelas palavras, e enquanto pensava, Rod estendeu o braço e segurou-lhe o queixo. Suavemente, beijou-a nos lábios, e logo, pegando-a ao colo, obrigou-a a sentar-se no maple. Cruzando uma perna sobre a outra, Vera sorriu-lhe timidamente.
— Estou cá a pensar...
Rod suspendeu-a com um gesto.
— Deixa de imaginar coisas na tua linda cabecita e escuta, Vera. A partir de hoje, vais ficar também encarregada da contabilidade do rancho.
— Mister Burke!
— O quê? É muito trabalho?
— Não... não é isso.
— Então?
— Não, nada. O senhor manda.
Olharam-se durante algum tempo, enquanto Rod acendia um cigarro. Depois, ele levantou-se.
— Vamos.
Ela saiu à frente. Pensativa, como sempre que se encontrava na sua presença. No pátio, Rod ordenou a um dos vaqueiros que fosse buscar o seu cavalo. Quando o vaqueiro chegou com o animal, vinha acompanhado de Travis, que veio perguntar-lhe se necessitava de alguma coisa, ajudou Vera a montar, e depois auxiliou Rod a subir para o seu cavalo. Sobre a sela, fitou o capataz.
— A partir de hoje, — disse. — Miss Perkins cuidará da contabilidade do «Arizona». Tem poderes meus, para pôr ou dispôr, como se fosse dona dele. Na minha ausência, desejo que ninguém discuta qualquer decisão sua.
Não esperou pela resposta, meteu as esporas nos flancos do animal e partiu a galope. Vera fez rodear o cavalo, e partiu no seu encalço, enquanto nos seus belos olhos, brilhava um olhar estranho. Decorrida meia milha, Vera emparceirou com ele, e durante algum tempo galoparam em silêncio. E quando mais convencida estava de que iam directamente para Mayer, Rod desviou o cavalo em direcção ao regato onde conhecera Lina Hendrix. Deteve o animal junto à margem e olhou-a.
— Comeste antes de vir, Vera?
— Não. Porquê?
Rod desmontou e aproximou-se, fixando o olhar na curta saia.
— Levo qualquer coisa para comer na sela — disse estendendo-lhe os braços para a ajudar a desmontar. — Podemos merendar aqui. Vamos, desce.
Vera deixou-se cair, e por momentos Rod conteve-a contra o seu peito. Depois beijou-a fugazmente, e ela foi sentar-se junto do regato. Do bolso da sela, Rod retirou um embrulho, e sentou-se ao seu lado. Os dois comeram em silêncio, e já haviam terminado quando Vera disse:
— Pensei que íamos directamente para Mayer, mister Burke.
Perante o seu mutismo, voltou-se para observá-lo. Os olhos dele estavam fitos nela, brilhantes como dois diamantes.
— Iremos mais tarde, Vera — continuou fitando-a de maneira insistente, e ela suportou esse olhar. — És uma mulher diabolicamente bela, Vera. Nunca to disse antes, mas pensei-o. Sim, terrivelmente fascinante.
— Foi só por isso, que fez tudo isto por mim?
Como resposta, Rod cingiu-a pela cintura, atraindo-a contra o seu peito.
— Sim, muito formosa — disse com voz rouca. — Maldito eu seja, quando digo isto!
Vera não teve tempo de analisar o sentido da frase final.
— Oh, Rod... eu !...