terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

PAS428. Uma perspetiva sobre o Arizona, o Estado Bébé

Chamam ao Arizona «O Estado Bebé» (Baby State), mas, de todos os Estados da América, é, certamente, o que recebeu o apodo menos apropriado. Este extenso território, mais de metade da superfície de Espanha, possui quase tantas terras situadas verticalmente, como horizontais.
Pela sua extensão é o quinto Estado da União.
A origem do seu nome induz em erro, sabendo-se que deriva do termo «Arizona» que em índio «papago» significa «região de pequenos cursos de água».
 O visitante poderia julgar, por isso, que se ia encontrar num oásis, com sussurrantes cursos de água e límpidos mananciais, mas...
Bem longe disso, a Natureza fez Arizona completamente árido. O seu único grande rio, o Colorado, que forma a maior parte da sua fronteira ocidental, tem a sua origem noutro Estado.
Os únicos cursos de água de relativa importância, o Gile e o Salto, são alimentados por pequenas torrentes que somente têm bastante água na época das chuvas. No entanto...
 O Governo intentou, e com notável êxito, transformar Arizona num oásis artificial. Duas represas gigantescas, a «Boulder Dam», no Colorado, e a «Roosevelt Dam», no Salt, proporcionam a água necessária para a rega de vastas regiões, hoje em dia férteis.

Em todo o Estado existem sete represas que regam mais de 9.72 O  hectares de terreno.
 O  Arizona divide-se em duas regiões diferentes: os planaltos e as montanhas.
O grande Planalto Setentrional, de uma altura media de 1.200 metros, está cheio de contrafortes, cujos flancos escarpados se elevam, por vezes, a alturas que atingem trezentos metros acima do próprio planalto.
É nesta região que se encontra o «Painted Desert», o deserto pintado, de cores sumptuosas e o grande Desfiladeiro do Colorado que se abre a uma profundidade de 1.840  metros nas entranhas do planalto.
Ao Sul da Planicie Magalon, e atravessando o Estado, de noroeste a sudoeste, alinham-se numerosas cadeias de alias montanhas cortadas por largos vales que a rega fez florescer e verdejar esplendidamente.
Estas montanhas contêm algumas das reservas virgens de pinhais, cedros e de zimbros da América do Norte.
Os picos mais altos, que alcançam quase os 3.960 metros, encontram-se na cadeia vulcânica de São Francisco, cujas maciças elevações dominam a florescente cidade de Flagstaff.
Os habitantes dos vales cultivam o famoso, «Pima», o melhor algodão do mundo, de fibra longa, e produzem ricas colheitas de milho, de trigo e de cevada.
A rega fez desenvolver a cultura dos frutos a passo de gigante. Na, se pode deixar o Estado sem ter provado as uvas do Arizona, cuja polpa açucarada estala ao ser trincada.
Fénix, a capital, é o centro comercial desta região agrícola.
Na extremidade sul do Estado, voltam a encontrar-se as cores brilhantes e a avassaladora e desolada beleza do deserto. As planuras arenosas do sudoeste encerram as regiões mais tórridas existentes ao norte do Panamá.
A grande planura deserta não é a extensão morta e desolada que muitos imaginam. As suas extensões mais agradáveis estão cobertas de uma verdadeira florescência de sálvia, de juta, de «mesquite» de «pau verde» e de catos, cuja variedade mais decorativa recorda um grande pé verde cujos dedos seriam flores vermelhas e volumosas.
Estes catos têm, além do mais, a vantagem de serem comestíveis. Os habitantes de origem mexicana, depois de os terem desembaraçado dos seus espinhos, extraem uma espécie de excelente açúcar cristalizado, da sua polpa consistente.
À sombra destas plantas espinhosas e hostis, vive todo um mundo de coelhos bravos, ratos do deserto e outros pequenos mamíferos. Por todo o lado, pululam as serpentes, os sapos e os palpitantes lagartos de cor berrante.
 O grotesco e desajeitado monstro do Gila, minúsculo dinossauro de três pés de comprimento, também se encontra ali, mas uma pessoa não ganha coisa alguma em o conhecer de perto, sendo preferível manter-se a uma prudente distância dele.
A exploração mineira constitui a mais produtiva indústria de Arizona. Ali se encontram algumas minas de ouro, cobre e prata, atualmente das mais ricas dos Estados Unidos.
No seu solo também se encontram o chumbo e o zinco em grandes quantidades. Os nomes anglo-saxões das cidades mineiras, como Bisbe, Douglas e Lowell, demonstram como é recente a descoberta destes jazigos.
Arizona sempre foi uma terra fronteiriça. Começou por pertencer à Espanha, mas encontrava-se demasiadamente longe do México e de Santa Fé, onde se havia desenvolvido uma certa civilização, para a interessar muito.
Desde 1687, os jesuítas, conduzidos pelo infatigável Padre Kino, fundaram missões, uma das quais, a de S. José Tumacacori, hoje restaurada em toda a sua primitiva beleza, é facilmente acessível aos automóveis que venham de Tucson.
Mas foi necessário chegar a 1776 para que se instalasse uma guarnição espanhola em Santo Agostinho de Tucson.
Arizona continuou a ser considerado como uma espécie de menino mal recebido do Novo México, de que então fazia parte, até ao redor do ano de 1850. Depois começaram a descobrir-se ali ricos jazigos de minérios e o território caiu em toda a histeria delirante de uma corrida ao ouro.
No seu calor de forno, rudes e hirsutos mineiros afadigaram-se, transpiraram, blasfemaram, beberam, batalharam e morreram aos milhares.
Esta afluência de brancos não tinha afastado, nem de longe, os ferozes apaches do caminho da guerra. Pelo contrário, quando a Guerra da Secessão ocasionou a retirada das tropas federais do território, os Peles-Vermelhas tornaram-se tão agressivos, que várias comunidades, mineiras ou agrícolas de fundação recente, tiveram de ser abandonadas e assim continuaram até ao regresso das tropas protetoras. Assim mesmo...
Os índios hostis não foram dominados senão muitos anos depois. Todavia, em 1880, um couro cabeludo de apache significava para aquele que o tivesse conseguido uma choruda gratificação das autoridades.
Hoje em dia, os índios, que constituem uma décima parte dos 500.000  habitantes do Estado, transformaram-se em cidadãos respeitadores da Lei, inteligente e perfeitamente assimilados ao resto da população.
O castelo de Moctezuma, no centro do Estado, e a Casa Grande, no sudoeste de Fénix, são as melhores amostras da arquitetura primitiva dós povos que a América possui:
Tombstone, pequena e sonolenta cidade a Este do Tucson, tem uma história fascinante que atrai muitos visitantes. Depois da guerra civil os «catlemen» (guardadores de gado), trouxeram consigo o bater dos tacões das suas botas altas, o tilintar das suas esporas de prata e o estampido dos seus revólveres que se uniram ao ruído já considerável dos «bars» e das salas de baile da fronteira.
As vendas de gado enchiam os bolsos dos «cow-boys» de belas moedas de prata, que eles se apressavam a jogar em furiosas partidas de «poker», nas cantinas de Tombstone, contra os mineiros, de carteiras igualmente bem recheadas.
Os doidivanas prosperavam e os ataques às diligências tornaram-se um modo muito corrente de restaurar uma fortuna vacilante.
A única lei respeitada era a dos Vigilantes ou «Estranguladores», personagens sem medo e sem mancha que não se prendiam com ninharias ou preconceitos, quando se tratava de enforcar um culpado dos crimes que iam da batota, jogando às cartas, ao assassínio de um inimigo, à traição. Ninguém que tivesse morto o seu adversário, cara a cara, lealmente, teria de temer fosse o que fosse da sua implacável justiça.
Tombstone, ergue-se como um monumento a estes temíveis adversários e ao seu tempo. Os «bars» forrados de espelhos, a Ópera, de cadeirões de veludo vermelho e dourado e a estação de posta, ainda ali se encontram. Às portas da cidade encontra-se o famoso «Boot Hill Cementery», o cemitério da Colina das Botas.
Uma visita obrigatória para aquele que entra no Arizona pelo Noroeste é a do Bosque Petrificado que fica situado não longe de Holbrook. As árvores deste bosque foram transformadas, há milhares de anos, em sólida pedra, pela ação da água saturada de minerais. A sua secção mostra todos os detalhes, até ao mais insignificante canal, transformado em duro quartzo, de estranhas tonalidades.
A mais célebre maravilha do Arizona é a do formidável abismo do Grande Desfiladeiro, cuja beleza opressiva grandiosidade não podem ser descritas com palavras. Situado a Noroeste do Estado, mede 217 milhas de comprimento e, nalguns lugares, a sua largura no vértice alcança as vinte milhas.
Entre as suas duas muralhas, eleva-se um mundo de construções titânicas, com anfiteatros, gargantas, precipícios, fortalezas, templos tão grandes como montanhas. Tudo isto brilhando em forma de massas horizontais e coloridas, cujos tons vão mudando constantemente, conforme a posição do sol.
Quem não pudesse conhecer mais do que uma única paisagem da América, deveria ver o Grande Desfiladeiro do Colorado, a maravilha do Arizona.
Pois bem, é no Arizona que se desenrola a nossa história. Começa num entardecer do mês de Junho do ano de 1880, quando…

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