sexta-feira, 30 de maio de 2014

PAS311. Uma noiva esbofeteada

James, junto à chaminé, contemplava-o com os olhos muito abertos.
— Chefe — rugiu.
Palmer voltou-se e olhou-o. Um brilho demoníaco apareceu nos seus olhos. 
— Cala-te!
Mas James, aterrorizado, já se precipitava na sua direção. Havia perdido o controle dos seus nervos e nos seus ombros de adolescente havia um tremor espasmódico, como se estivesse para sofrer um ataque.
— Você não pode fazer isso, chefe! Não pode! Ela salvou-lhe a vida!
Ana descerrou as cortinas bruscamente e viu Palmer com o revólver na mão, apontando-lho, ao mesmo tempo que tinha o rosto deformado por uma máscara de ódio. Naquele momento, sentiu frio no seu interior e um estremecimento percorreu-a por inteiro. Mas não era causado pela medo, mas sim por uma espécie de asco. William Palmer, o pistoleiro, o homem que subsistia vivo graças ao seu revólver, morreu naquele instante para ela.
— As tuas infâmias só podem ter uma desculpa, William Palmer — sussurrou Ana, olhando-o nos olhos: — O teres nascido tão imensamente pobre.

O pistoleiro fez fogo então, friamente, atirando a matar. Mas James, que estava a seu lado, moveu os braços com desconcertante rapidez. Com um desviou o revólver e com o outro fez pressão( na cintura de Palmer para a obrigar a cair. O bandido vacilou, sem perder completamente o equilíbrio, mas a sua bala não deu no alvo.
— Isto custar-te-á a vida, James!
— Não me importo, Palmer! Porque não és mais do que um porco canalha! E a única coisa que lastimo é ter de morrer abraçado a um cão como tu!
Cravou-lhe os dentes na mão armada e fez-lhe soltar o revólver. Palmer lançou um gemido. Rolaram os dois pelo solo, abraçados, buscando travar uma luta de Morte.
Ana correu até ao revólver. Viu-o caído tão perto que não duvidou de que a partida era sua Mas no momento em que punha os seus dedo sobre a coronha, entrou Laurent atraído pelo: tiros e pelos rumores da luta.
O revólver em que Ana ia tocar pareceu repentinamente dotado do poder de bailar. Deu um salto e escapou-se dos seus dedos. Logo outro e caiu entre as chamas do fogão. Ali as balas do tambor puseram-se a crepitar como demónios.
Laurent havia «sacado» a tempo, enviando chumbo contra o revólver e pondo-o a tiro longe do alcance da rapariga,
 — Cuidado, James! — gritou ela.
James tinha visto, que, eram dois inimigos contra ele só, e decidiu abandonar a luta. Dando um fantástico salto, arrojou-se até à saída da cabana, derrubando pelo chão Laurent. Este gritou uma maldição.
— Dispara, Laurent! — rugiu Palmer. — Dispara, por todos os demónios!
O foragido disparou, alcançando James nas costas. Ana lançou um afogado grito ao vê-lo cair, mas James era jovem e não perdia as forças com uma só bala. Endireitou-se e, dando outro salto, perdeu-se entre as trevas da caverna, até à galeria.
— Segue-o, Laurent! Se conseguir sair, revelará este esconderijo aos nossos perseguidores!
— Não escapará!
Laurent correu até à tenebrosa galeria, mas James, que tinha já conseguido «sacar» o seu revólver, fez fogo da sombra. A bala roçou uma das faces de Laurent, que teve de atirar-se ao chão.
— Não posso, chefe! Vai armado e atira a matar! -  vociferou.
Palmer saiu em sua perseguição, não ligando importância ao perigo., e sobrepondo-se ao agudo sofrimento que lhe causava a sua ferida. Mas já o agilíssimo James tinha encontrado a saída e corria desesperadamente pelo caminho rochoso, deixando um rasto de sangue. Ao sair da mina, Palmer compreendeu logo que seria inútil tentar apanhá-lo. No exterior corria demasiado perigo.
Voltou à gruta onde estava situada a cabana.
Ana permanecia quieta, sentada no seu leito, vigiada pelos olhos chamejantes de Laurent e pelo seu revólver carregada. Palmer acercou-se dela e esbofeteou-a duas vezes com a sua mão sã, fazendo-a sangrar dos lábios,
— Estúpida louca! Maldita traidora!
Ana cuspiu-lhe em pleno rosto, apertando os punhos.
— Eu nunca traí ninguém! Nem o farei, entendes-me? Não farei uma traição nem sequer a um animal com tu! Podes recrear-te com a minha morte, já que estou indefesa e tens tempo para isso! Porque não me envias sobre a sela de um cavalo e com um cartão cravado com um punhal nas costas?
Palmer sofreu uma sacudidela nervosa e esbofeteou-a selvaticamente outra vez.
— Diz-me quem te ajudou a fugir! Solta o seu nome, maldita!
Ana pronunciou o seu nome como, quem sabe que está pronunciando uma sentença de morte:
— Foi o xerife Burkam. Grava bem na tua memória este nome: Clive Burkam.
Os ombros de Palmer sofreram uma sacudidela. Acercou-se mais de Ana, e puxou-a pelo corpo do seu vestido rasgando-o, fazendo-a levantar pouco a pouco com a força do seu braço são. A rapariga não se atrevia nem, sequer a respirar.
- Burkam está perto daqui? Conseguiu sair vivo de Kelbern embora te tenha ajudado?
- Creio que sim.
Palmer soltou a rapariga e esta caiu pesadamente sobre o leito.
- Está bem. Gostaria de saber se é capaz de descobrir esta mina. E se a descobre...
Acariciou a coronha do seu revólver do lado direito.
-- ... se a descobre pior para ele.
(Coleção Bisonte, nº 61)

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