sábado, 3 de maio de 2014

PAS297. Retrato da indomável Glória Kane

Com os cotovelos apoiados no peitoril da janela, olhando a pradaria cinzente, Glória Kane ficou durante muito tempo mergulhada nos seus pensamentos. Ao voltar de um apasseio a cavalo, antes que a tempestade se desencadeasse, tinha pendurado num prego o seu chapéu cónico, de largas abas, e naquele momento oe seus cabelos negros caiam-lhe, como uma cascata de tinta, sobre os ombros.
Vista de frente, a sua cara era de uma beleza invulgar. Tinha olhos grandes, bem separados e velados por compridas pestanas, e um nariz ligeiramente aquilino, sobre uma boca grande e fresca, com dentes maravilhosamente alinhados e brancos. Vestia uma blusa branca e saia curta, mostrando a pele bronzeada das suas pernas até um pouco acima dos joelhos; calçava botas vaqueiras de tacões altos e esporas denteadas, do tamanho de um dólar de prata. Trazia À cintura um cinturão-cartucheira, cheio de balas e do qual pendia um «seis-tiros» com a coronha de madeira de cedro.

Glória Kane, além de bela, era uma rapariga indomável. Vivia naquela barraca com seu pai uma vida semi-selvagem. Aparentemente dedicavam-se ao pastoreio de gado, mas a existência não parecia muito próspera. No entanto, não lhes faltava comida nem o indispensável para viver embora também não pudesse dizer-se que tivessem abundância de alguma coisa.
- Aí vem Stan Davis… disse ela subitamente, com ar cansado, dirigindo-se ao pai. – Deve vir com a velha canção. Faz-lhe ver, de uma vez para sempre, que não iremos daqui por muitos perigos com que nos acene.
Jim kane deixou a «paciência» por acabar e, aborrecido, atirou as cartas para cima da mesa. O pai de Glória era um indivíduo pequeno e ágil, com uma cara inexpressiva. Usava um bigode grisalho, cujas guias lhe caíam de ambos os lados da boca, e na sua maneira de andar, quando se dirigiu à janela, havia uma rapidez felina.~
- Maldito cabeçudo!... – grunhiu Kane. – Como lhe hei-de explicar que não deixarei a minha barraca e as minhas terras, por mais conselhos que me dê?
(Coleção Arizona, nº 68)

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