segunda-feira, 5 de maio de 2014

PAS300. Enlouquecida por amor


Contexto da passagem: Quando foi entregar os livros e aguarelas ao pequeno Jeb, Forrester soube pela mãe deste que ele fora raptado pelos índios. Partiu na busca deste, o mesmo tendo sido feito pelos traficantes entre os quais estava o pai do miúdo em momento diferente. Forrester foi preso e atado ao poste de torturas. Há uma batalha monumental da qual escapam Forrester com o miúdo e Glória. Forrester ficou ferido e esta recebe-o na sua cabana…
 
Glória lavou a ferida com «whisky», pôs uma almofada sob a cabeça de Forrester e foi colocar a pesada tranca na poprta. Depois, ajoelhou-se ao lado do batedor, debruçou-se mais e beijou-lhe os lábios.

- Milton!... Milton!... – suspirou. – O meu caminho não era o teu caminho, mas eu nunca fui realmente criminosa. Milton! A culpa foi tua, porque nunca quiseste escutar-me…
O ferido agitou-se, abriu os olhos e ela beijou-o com paixão, acariciando-lhe a cara.
Milton Forrester sorriu tristemente, ao sentir o corpo dela colado ao seu, como a pedir-lhe amparo. Os beijos dela queimavam-lhe os lábios, como se tivessem lume, mas ele não a repeliu nem lhe retribuiu as carícias.
- Que louca és, Glória!... – disse, erguendo-se. – Teu pai? Se está vivo, tenho de levá-lo comigo.
- Não o levarás, Milton, porque o mataste. Dizes bem, ao chamar-me louca. Louca de amor por ti, sim! Mataste meu pai, e, no entanto, eu estou a beijar-te. Mas não te deixarei levar-me a Dallas, Milton. És meu prisioneiro.
Enquanto falava, Glória tinha empunhado o revólver de Forrester e agora apontava-lho, disposta a tudo.
- Hás-de querer-me, nem que seja à força!... – bradou ela, desvairada. – Ou ficaremos aqui os dois, juntos para sempre!
Milton Forrester voltou-se, lentamente, e olhou para os corpos dos dois contrabandistas. Depois fitou Glória. O cano da arma que ela empunhava roçou-lhe a camisa.
O quadro era impressionante. Formavam um estranho par, aquele homem moreno, de expressão amarga, vestindo um esfarrapado uniforme de batedor, e a rapariga de trágica e inquietante beleza, com a blusa branca, decotada, a saia curta, o seio palpitante –não por causa da arma que empunhava, mas pela paixão que a enlouquecia.
- Serias capaz de matar-me, Glória?... – perguntou Forrester devagar.
- Sim! Isto é, não sei… Mas, porque me desprezas? Há outra mulher na tua vida?
- Até há pouco tempo, não havia… Agora há, Glória Kane.
Ela recuou como se tivesse recebido uma tremenda bofetada. Os seus lábios tremeram e por um instante pareceu que ia chorar. Olhou fixamente o batedor, como se quisesse gravar bem as feições dele na sua memória, e murmurou, numa voz que a emoção tornava rouca:
- Se não hás-de ser meu… também não serás dela!
E apertou o gatilho.
A detonação ecoou mais na alma do que nos ouvidos de Glória Kane. Horrorizada, rígida como uma bela estátua, com os olhos muito abertos, viu como Forrester estremecia e caia de lado.
Glória deixou escapar o revólver como se a arma lhe queimasse a mão e precipitou-se sobre o corpo inerte do batedor. Chorou, gritou, sacudiu-o… sem poder desfitar o olhar enlouquecido daquela mancha vermelha que alastrava no peito dele.
(Coleção Arizona, nº 68)

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