
Duas ou três vezes Curtis Farbell entrou no quarto, acompanhado por dois ou três batedores. Glória sentia os olhares dos homens fitos nela, e desejou que não voltassem mais, que a deixassem só com os seus remorsos. À meia-noite visitou-a o chefe. Trazia uma fumegante chávena de café e alguns biscoitos, que deixou sobre a mesa.
-Vamos, minha filha, tome isto. A febre continua não é verdade?
Ela fez um sinal afirmativo e secou as lágrimas. Depois aconchegou as roupas da cama, em volta dos ombros do ferido.
- Evelyn… -delirou Forrester. – O pequeno…
Continuou a murmurar palavras initeligíveis, mas o nome de Evelyn chegou aos ouvidos da jovem, nitidamente. Foi como uma flecha envenenada que se lhe cravou no peito.
Pela manhã, a febre diminuiu e o médico ordenou que se desse algum alimento ao ferido. Cerca do meio-dia, apareceu Curtis Farbell, acompanhado por Evelyn e pelo pequeno Jeb. Glória Kane saiu, devagar, sentindo um estranho frio em todo o corpo.
O pequeno aproximou-se da cama com a mãe e pegou numa das mãos de Milton Forrester.
- Como se sente? – perguntou ele. – O seu companheiro já me disse que foram os índios que o feriram. Quando eu for homem, também serei batedor, e eles hão-de pagar isto.
Forrester sorriu e os seus olhos procuraram os de Evelyn. Quando Curtis Farbell saiu do quarto, ela aproximou.se um pouco mais da cama, para apertar a outra mão do ferido.
Entretanto Glória saíra do quartel e dirigira-se, cambaleante, para a barra, à porta, onde estava amarrado o cavalo. Não fez caso dos galanteios um tanto reles que lhe dirigiam dois homens que, a julgar pelo seu aspeto, deviam ter bebido mais do que a conta. Dispôs-se a montar, mas os bêbedos, encorajados pelo silêncio dela, aproximaram-se ainda mais, e um deles decidiu-se a agarrá-la por um braço.
- Escuta, pombinha… -disse ele, em voz rouca. – Vem comigo. Ainda tenho uns dólares no bolso para te convidar a beber uns copos.
Glória Kane sacudiu a mão que a agarrava, enquanto os dois homens riam de uma maneira alvar e grosseira.
- Deixe-me e vá para o inferno!
O segundo bêbedo agarrou-a pelo outro braço, mas soltou-a imediatamente ao receber um tremendo pontapé numa canela que o fez recuar com um berro.
Tudo aconteceu rapidamente a partir de então. Quando o homem se dobrou para agarrar a perna dorida, a coronha do seu revólver apareceu, tentadoramente, aos olhos de Glória Kane. Rápida, ela apoderou-se da arma para os intimidar. Mas o primeiro que tinha abordado pensou que a jovem ia disparar sobre eles e antecipou-se, um tanto por instinto. A contração dos músculos, ao sentir a bala rasgar-lhe o corpo, fez que Glória disparasse por sua vez, e a pesada bala «45» atravessou a cabeça do homem, pouco antes de a jovem cair morta entre as patas dos seu cavalo.
Da porta do quartel, Curtis Farbell presenciara a rápida cena, e quando quis intervir já era tarde demais.
- Pobre rapariga… - murmurou o velho batedor. – É como se o Destino, no último instante, quisesse ser benévola para ela, levando-a deste mundo…
(Coleção Arizona, nº68)
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