sábado, 20 de junho de 2020

BUF002.08 Ladrões de gado e mortandade

Jess encontrou vaqueiros, mas teve de os procurar longe da região, pagá-los a bom preço e resignar-se a que não oferecessem satisfatórias garantias do seu comportamento. Alguns dos que formavam o pessoal de Huberd, os de menos escrúpulos, acolheram-se também no «Cruzes de Ouro».
Nenhum incidente digno de menção se produziu durante duas semanas. As coisas seguiam o seu curso e quase por inércia já, desenrolavam-se como Jerrigan queria, em prejuízo de Georgina, Charles e Theodore.
Naquele lapso de tempo, Buck não se ocupou dos seus inimigos. Estava absorvido nos seus afazeres e, além disso, começava a cansar-se. Até os comentários em torno da aventura que custara a vida a Huberd depressa o aborreceram. Parecia que desejava encher o cérebro de novas ideias que expulsassem da sua mente as já existentes e, sobretudo, a recordação de Georgina.
O mulato desgostava-se ao observar que o seu ódio por essa criatura, sem haver decrescido, tomava novas e extravagantes formas. Henry Keyes observava-o com afeto e inquietação. Nunca havia visto o seu chefe tão preocupado.
— Porque não descansa um pouco, patrão? —perguntou-lhe certa tarde.
— Descansar?
— Trabalha excessivamente. Que necessidade tem disso? Esta madrugada saem os rapazes com as seiscentas cabeças de gado vendidas em Scottsdale; de Scottsdale a Phoenix é um passeio. Que lhe parece se os acompanhássemos e depois nos fossemos divertir um pouco à cidade?

Buck sorriu:
— Já te esqueceste da classe de diversões que tivemos durante a última viagem?
— Não! Mas isso nada tem a ver. Não iremos estar sempre a tropeçar com malandros a quem partir a cabeça. E se algum deles surgir, será recebido com todas as honras. O importante é que em Phoenix há raparigas bonitas, música, bailes, muita alegria...
Ante a perspetiva, alegraram-se-lhe os olhos. Buck, notando-o, respondeu:
— Tiveste uma boa ideia. Pensava dizer-te que tomasses conta de expedição.
— Então, iremos?
— Não. Irás.
— Patrão...
— Que há?
-- Não quero afastar-me de si. Todas as diversões pouco me importam se se comparam...
— Basta, Henry; sei o que me vais dizer, mas quero que me obedeças. A manada que sai amanhã é importante e estarei mais tranquilo se tu fores à frente dos «cow-boys».
Não houve maneira de resistir. Quando Buck dizia uma coisa, a discussão resultava tão inútil como contraproducente. A Henry, iludia-o o plano de distração que a cidade sempre oferecia, mas não mentia ao afirmar que renunciaria com gosto a elas para não se separar do homem por quem sentia aquilo que se poderia sentir pelo irmão mais querido que houvesse sobre a terra, em torno do qual se eriçava uma teia enorme de ódios. Motivos tinha, na realidade, para o venerar; quando Jerrigan o conhecera, havia anos, em Lees Ferry, próximo da fronteira de Utah, o gigante era um rebotalho humano, estava sempre embriagado, sem escrúpulos, sem estima por si próprio. Até as crianças se riam dele.
Buck, ao saber que o sangue do «hazmerreír» estava misturado com o seu, impôs-se à tarefa de o regenerar. Chegou a temer que o seu empreendimento resultasse inútil. Keyes passava uns dias sob o plano de pessoa decente, mas depressa caía novamente no lodo. Acusaram-no de um crime não cometido e foi condenado à forca. Jerrigan pôs em jogo a sua influência já sensível, espalhou ouro e livrou-o da morte quando o fim parecia inevitável.
O povo, ao advertir que lhe arrancavam a sua presa, quis linchar o réu. E Jerrigan jogou a sua vida a tiros, recebeu as mordeduras do chumbo e se não sucumbiu foi porque acorreram a tempo os seus servidores, pondo em fuga aqueles que pretendiam ser executores honorários da Justiça.
A partir de então, Henry mudou rapidamente. Acabaram-se-lhe os vícios. Queria converter-se num homem digno do seu protetor. E conseguiu amplamente o seu propósito. Buck teve muitos motivos para se alegrar de haver salvo e dignificado aquele que, segundo a crença geral, já não tinha remédio.
A manada avançava entre nuvens de pó. Os vaqueiros, tranquilos, baseados na segurança de que ninguém os incomodaria, como de costume, alternavam os gritos com canções nostálgicas.
Os que flanqueavam a manada viam-se obrigados a percorrê-la de vez em quando e a fazerem disparos para o ar com o fim de que seguissem a marcha normal alguns animais rebeldes. Henry e outros dois homens da «Fortaleza» iam na vanguarda, traçando planos para o momento em que, concluída a operação, se vissem em Phoenix.
«Cow-boys» e gado seguiam um caminho relativamente curto, junto à margem do Salt River, a cuja esquerda se erguiam abruptos montes, quando se desencadeou um ensurdecedor tiroteio. As balas partiam do alto procurando igualmente animais e homens.
Ao mesmo tempo que os disparos, elevou-se uma gritaria infernal misturada com gritos estridentes de todas as espécies. Sobre a manada caíram archotes incendiários. Os condutores, dois dos quais caíram nos primeiros segundos, vencendo os efeitos da surpresa, fizeram fogo sobre o inimigo oculto que tão cobardemente os atacava Keyes, dando imediata conta do perigo, gritou:
— Atenção, rapazes! Temos de impedir que os animais se tresmalhem!
O aviso resultou inútil. O ataque iniciado nos montes aumentava; os archotes aterrorizavam os animais que, como um alude, irromperam em diferentes direções, destroçando tudo, esmagando quanto encontravam; atropelando-se, afundando-se nas águas do rio, empurradas pelos que vinham atrás.
Vários «cow-boys», cheios de amor próprio, esforçavam-se por impedir o inevitável, sendo-lhes fatal o excesso de galhardia. Centenas de cascos passando sobre eles converteram-nos em horríveis massas sanguinolentas. Keyes e os dois vaqueiros que iam junto dele, ao verem que a carga das reses era irrefreável, fizeram saltar as suas montadas livrando-se da trituração. As balas assobiavam à, sua volta.
— Avante! — gritou o gigante deitando espuma pela boca —. Se consigo apanhar um entre as minhas mãos!
— Avante! — repetiram os outros dois.
E respondendo aos tiros, iniciaram a subida, sem parar, embora lhes resultasse impossível trespassar a barreira de metralha.
— Tocaram-me, Henry! — murmurou o que estava mais próximo.
— Isso não é nada — replicou o gigante sem o olhar.
— Não é nada... não...
E, «sem nada», caiu para não se levantar mais. Um mordisco de chumbo e fogo cravou-se no ombro de Keyes que, longe de se queixar, lançou uma gargalhada:
— Imbecis! Beliscaduras a mim! Voltara a carregar o revólver e esvaziou-o tomando como pontos de referência os clarões na sua frente.
— Chegou... a minha vez! — ouviu dizer o outro vaqueiro.
Henry viu-o cair, agarrando o peito com as mãos, com o sangue a sair-lhe aos borbotões.
— Criminosos! — Trovejou Henry, recolhendo a arma do vaqueiro caldo para não perder tempo a carregar a sua —. Vão...
Não pôde terminar a frase: uma descarga brutal abriu-lhe feridas em várias partes do corpo. Mesmo assim, a sua potência de titã permitiu-lhe erguer-se e continuar atirando. A perda de sangue obrigou-o, porém, a cair.
Entretanto, abaixo, os vaqueiros sobreviventes esforçavam-se por repelir o ataque, não obstante a desigualdade de forças e posições, mas o resultado final foi encontrarem a morte juntamente com a derrota.
Somente dois dos homens que seguiam à retaguarda se livraram da carnificina. Os seus revólveres não tiveram descanso; mas, esgotadas as munições e à vista do drama, voltaram as garupas das montadas e galoparam freneticamente em busca de reforços.
A cavalgada foi esgotante. Cobriram-se os animais de suor, porque os cavaleiros ainda temendo vê-los cair exaustos, não lhes davam repouso. Ao chegarem aos limites da ampla extensão de terreno que abarcava o «Fortaleza», foram vistos por um «cow-boy» pertencente ao mesmo, que correu ao seu encontro.
— Que se passa?
Os dois vaqueiros saltaram em terra no preciso instante em que o corcel de um deles caía rebentado. O outro, por milagre de resistência física, manteve-se de pé, inspirando piedade o seu aspeto. Os vaqueiros narraram o ocorrido.
— Voa! — disse o mais jovem —. Informa o patrão!
E, mais que correr, fez, efetivamente, voar o animal. A cara de Jerrigan obscureceu-se tanto ao receber a notícia que, não obstante a sua epiderme ser quase branca, pareceu que nele só prevalecia a da ascendência materna. Reuniu o pessoal e deu ordens secas como chicotadas:
— Todos a cavalo! Vocês — apontou para três homens — avisem imediatamente os meus outros ranchos. Já sabem o caminho que vamos tomar.
Minutos depois, doze homens, com Buck à cabeça partiram como flechas. Ao encontrar-se com os «cow-boys» que haviam trazido a notícia do drama, Jerrigan ordenou-lhes:
— Montem rápido. Trazemos cavalos frescos para vocês. As explicações, ouço-as pelo caminho! Colocaram-se à direita e à esquerda do chefe e aos gritos, sem interromperem a correria, ampliaram os dados do desastre.
Chegados ao local do mesmo, Buck desmontou e todos o imitaram. A desolação imperava. Sobre o terreno revolto jaziam animais esmagados; outros, agonizantes, mugiam de maneira comovedora. Os vaqueiros encarregaram-se de acabar com aquele sofrimento.
Depressa descobriram o primeiro cadáver humano; depois outro e outro... Alguns tão desfeitos que era impossível identificá-los à primeira vista, tornando-se necessário examinar objetos da sua pertença.
— Nem um ferido! — comentou o capataz.
— Nem um ferido! — repetiu Buck —. Acabaram com todos para não falarem!
Feita a contagem das baixas, notou-se que faltavam alguns homens, Reyes entre eles.
— Temos de procurar até os encontrarmos! — decidiu Jerrigan —. Entretanto os nossos cavalos recobrarão forças.
Ao cabo de vinte minutos gritou um vaqueiro:
— Aqui, patrão! Buck correu até onde o chamavam. Algo inarticulado, mistura de rugido e soluço se escapou da sua garganta: a dois passos dele, separados entre si poucas jardas, estavam três cadáveres ensanguentados, e um deles era o de Reyes. Pela primeira vez desde que deixara de ser menino encheram-se de lágrimas os olhos de Jerrigan.
— Henry... Meu irmão de espírito e de raça... — murmurou — não chegará a noite de hoje sem que tu e todos os que contigo caíram se encontrem vingados.
O silêncio era tão profundo que a sua voz teve vibrações de algo sobrenatural. Enxugou as lágrimas. Em muito pouco tempo recuperara a sua serenidade. As linhas do seu rosto mostravam-se duras como, poucas vezes. A sua voz foi firme, segura, ao dirigir-se ao capataz:
— Designe um par de rapazes para que levem os cadáveres para o «Fortaleza». Nós continuaremos a perseguição.
— Levam-nos uma boa dianteira... — lamentou-se alguém —. Além disso, não sabemos de quem se trata.
Buck atalhou-o:
— Havemos de os alcançar! Se são ladrões de gado devem ter procurado reunir o maior número de animais e estarão formando a manada; se se trata de inimigos conhecidos, algum rasto deixarão atrás de si, por muito espertos que sejam. Há, além disso, uma razão fundamental para que consigamos o nosso propósito... é que queremos!
O capataz divisou, ao longe, nuvens de pó e apontou dizendo:
— Devem ser rapazes dos outros ranchos.
— Fique e espere-os — decidiu Buck —. Nós seguiremos.
Foram para junto dos cavalos e, momentos depois, todos, menos o capataz, empreenderam o galope. A meia milha aproximadamente do sítio da catástrofe, um velho vaqueiro aproximou a sua montada da de Jerrigan:
— Repare, patrão, repare! Marcas de gado! São poucas, mas... apostaria o revólver em como aumentam. Trata-se de ladrões de gado e foram recuperando as reses tresmalhadas.
Pararam e comprovaram as observações do «cow-boy». Uma selvagem alegria pintou-se no semblante de todos. Jerrigan, à vista daquilo, deu ordem de moderar a marcha para que os animais não se esgotassem. Os ladrões, conduzindo a manada, não poderiam ir muito depressa. Subitamente levantou uma mão, ordenando paragem.
— Que se passa? — perguntaram alguns.
Sem responder, Buck desmontou, dirigindo-se até um pequeno grupo de árvores. Acabava de descobrir entre elas algo que lhe chamou a atenção. Tratava-se do cadáver de um vaqueiro que havia pertencido ao rancho de Theodore.
— Fagani!
Foram-se aproximando os demais cavaleiros. A descoberta encheu-os de assombro.
— Isto é inconcebível! Instintivamente olharam em redor.
— Parece que está ali outro! — indicou alguém.
Assim era. Reconheceram Cragg, do rancho «Cem Milhas», propriedade de Charles.
— Venham depressa! — chamou o velho que primeiro descobrira o rasto do gado.
— Moss Hottel! — exclamaram várias vozes ao mesmo tempo.
Era o capataz do rancho de Levinson.
—Este homem vive! — disse Jerrigan —. Precisamos de o reanimar!
Trouxeram «whisky» e água, e após não poucos esforços, foi possível que o ferido abrisse os olhos, para imediatamente os fechar, aterrorizado.
— Fale, Hottel — disse Buck — diga-nos o que aconteceu.
Moss cerrou os lábios, dando a entender o seu propósito de nada dizer. Insistiu o mulato:
— Se declara a verdade, dou-lhe a minha palavra de fazer o possível para o salvar. Em caso contrário, deixaremos que as feras o devorem.
O ferido estremeceu e abriu novamente os olhos.
— Eu... não tive a culpa...
— Acredito, visto que se encontra assim. Quem o feriu?
— Os novos vaqueiros... do «Cruzes de Ouro» ... São bandidos... disfarçados...
— Diga tudo. Os principais culpados são Levinson e Jory, não é verdade?
— Não... Não... Eles não supunham... Ninguém suponha o que ia acontecer. Projetavam tresmalhar o gado... Procuravam causar-lhe um prejuízo. Selecionaram os poucos homens com quem estavam seguros de poder Contar... Não eramos bastantes... e alguém propôs recorrer ao «Cruzes de Ouro» ... Quando chegou a hora... estes... dispararam também contra os vaqueiros do «Fortaleza». Protestámos... e não fizeram caso... Concluído o combate, fizeram-nos conhecer os seus propósitos... Fazerem-se com a manada... e fugir... A discussão foi longa... alguns concordaram... os outros... O resultado foi este.
— Tomaram parte direta Jory e Levinson?
— Não. Ficaram nos seus ranchos. Para onde se dirigem os ladrões?
— Para Yonugsberg.
Jerrigan cortou o interrogatório. Já sabia o suficiente. Fez o primeiro penso nos ferimentos de Hottel. Estava terminando a tarefa, ajudado pelos que tinha mais próximos, quando chegaram o capataz e os restantes homens.
— Escute — disse Jerrigan ao ferido — vamos em busca dessa canalha e recolhem-no na volta.
Mandou transportar Moss para um local resguardado e deu ordem de retomarem a marcha, designando previamente dois «cow-boys» para que se adiantassem como exploradores.
— Façam o possível para que não nos divisem — recomendou —. Se não tiverem essa sorte, fujam sem aceitar combate, até se reunirem connosco.
Partiram os homens, ao galope rápido, enquanto o grosso da força caminhava a trote. Meia hora depois regressou um dos exploradores. Estava ébrio de entusiasmo.
— Estão a pouco mais de duas milhas de Lone! São catorze pelo menos, e conduzem bastante gado.
— Catorze! — exclamou o capataz — Nós somos quarenta e dois! Justamente o triplo!
Noutras circunstâncias, aqueles homens, começando por Buck, teriam sentido escrúpulos em atacar um inimigo tão inferior em número, mas naquelas, não. O sangue dos companheiros vilmente assassinados reclamava vingança e quanto mais seguro se apresentasse o êxito maior seria a satisfação.
Jerrigan traçou o plano de ataque: impunha-se um movimento envolvente que não permitisse escape possível. O capataz e seis vaqueiros ficariam à retaguarda; ele, com outros, deslizaria até se adiantar aos ladrões: os restantes atacariam pelos flancos.
— Procuraremos — terminou — guardar distâncias prudentes para não oferecermos alvo. Regressou naquele momento o segundo explorador confirmando, com ligeiras variações, o que dissera o seu companheiro. Buck precisou ainda mais os detalhes deste e, à cabeça de cinco homens, afastou-se dando um grande desvio. Nada importava o tempo que perderiam desde que conseguissem adiantar-se aos assassinos e apanhá-los entre vários fogos.
O ataque não se realizou tal como havia sido projetado devido a que os ladrões viram prematuramente os «cow-boys» que avançavam pela ala esquerda e dispuseram-se a fazer-lhes frente, para o que procuraram defesas naturais, iniciando a luta.
Os vaqueiros notaram a tempo que haviam sido localizados e desmontaram abrigando-se antes que partissem as primeiras balas. De início não repeliram a agressão, pois a distância era considerável e não queriam desperdiçar munições, Isto encorajou os bandidos, induzindo-os a um avanço mais rápido que prudente.
Quando estavam relativamente perto, os que esperavam dispensaram-lhes um digno acolhimento. O tiroteio tornou-se forte em poucos minutos. Os malfeitores, lamentando já as baixas, dispuseram-se a cobrá-las a bom preço, quando repentinamente se viram atacados pelo que, até pouco antes, havia sido flanco direito e retaguarda.
Aquilo era superior a quanto podiam prever e começou a eclodir o medo. Não estava ao seu alcance precisar o número de inimigos, mas pelos tiros compreenderam que era muito considerável. O mais angustioso consistia em que os fustigavam de vários pontos ao mesmo tempo, tornando inúteis quaisquer resguardos.
Caiam entre gritos de terror e ódio. Alguns, sem prévia troca de impressões, decidiram procurar a salvação na fuga; mas apenas a haviam iniciado, viram-na cortada pela intervenção de Jerrigan e dos seus companheiros, os quais haviam tomado a dianteira.
A luta foi breve, mas encarniçada. Ali não havia quartel. Tanto uns como outros compreendiam que se impunha morrer, matando. A superioridade dos vaqueiros depressa se acusou fazendo-se patente de segundo a segundo. Gritos arrepiantes celebravam os acertos de pontaria, misturando-se com os agónicos dos que caíam.
A luta não terminou até que os ladrões não tivessem sucumbido com as ligeiras exceções daqueles que, arrastando-se, conseguiram esconder-se ou fugir. Entre os homens de Buck também havia baixas se bem que muito inferiores.
— A vingança não foi má — exclamou o capataz contemplando o impressionante quadro.
— Ainda falta um pequeno pormenor — respondeu Jerrigan, cujo rosto conservava o gesto feroz que tão temível o fazia.
— Pois, vamos ao que seja!
— Não. Esse... «pequeno pormenor» pertence--me exclusivamente. Ocupem-se em organizar o regresso. Vários rapazes que se encarreguem do transporte dos feridos, recolhendo Moss Hottel, se é que ainda vive, outros que procurem reunir o maior número possível de animais.
— As suas ordens serão cumpridas; mas... vai só?
— Sim. Já lhes disse que o resto é comigo? Montou sem utilizar os estribos, partindo a galope. Assim que chegou ao ponto onde deixara Moss, desmontou, comprovando que este ainda vivia.
— Anime-se, Hottel; os rapazes vêm atrás e levá-lo-ão com eles.
O ferido abriu os olhos febris.
— Olá... senhor, Jerrigan. Que aconteceu?
— O que tinha de suceder. Esses homens que o feriram... já não farão mal a ninguém.
Nos lábios enegrecidos de Moss apareceu um. sorriso. Dir-se-ia. que havia aguardado aquele instante para deixar de existir. A Morte tomou-o nos seus braços.

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