— Ernest Ryan está aí fora e quer falar-lhe —anunciou Keyes.
Buck recostou-se no sofá e olhou sorridente para o seu subordinado.
— Ou muito me engano ou começam já a render-se.
— E têm bons motivos.
Henry tinha a certeza disso. Havia motivos para que os rancheiros, a quem o mulato havia declarado luta, se encontrassem próximo do desespero. Todos eles, incluindo Georgina, haviam seguido para as suas respetivas propriedades com ânimo de afrontarem abertamente a questão e não se deixarem vencer; mas não conseguiram acertar. Tudo quanto tentavam lhes saía mal.
Os seus maiores fracassos consistiram nas manobras encaminhadas em prejudicar Buck, o qual continuava a rir manejando os fios da sua teia e fazendo com que os dardos com que o queriam atingir se voltassem contra os seus inimigos.
— Sim, têm motivos — admitiu Jerrigan Estou-me divertindo muito.
Ainda não havia dois meses que lhes declarara guerra em Phoenix e já se podia apreciar como todos e cada um permaneciam numa crispação de nervos esgotantes.
— Também eu.
— Acredito. Manda entrar o visitante.
Reyes saiu, voltando pouco depois precedendo Ryan. O seu chefe fez-lhe um leve sinal e ele desapareceu sem ruído. O velho rancheiro ficou junto da porta, apertando os lábios, o olhar fixo no homem que tinha na sua frente, o qual o sustentou até ter de afastar os seus olhos negros.
— Aproxime-se, se quer.
Ernest obedeceu e disse, sem estender a mão nem pronunciar qualquer palavra de saudação:
— Desejo vender o meu rancho. Interessa-lhe adquiri-lo?
— Depende do preço.
— Vale mais de quarenta mil dólares.
— É uma opinião sua. Eu daria apenas vinte mil.
Os olhos do velho relampejaram. Todo o seu corpo vibrou e apoiou-se a um móvel próximo:
— Jerrigan, você...
— Cuidado, amigo; cuidado com as palavras.
Ryan esforçou-se para se conter e murmurou, enquanto passava o lenço pelo rosto suado:
— Até há apenas dois meses, quando teve lugar a malfadada reunião de Phoenix, você limitava as suas manobras a vender em condições que não podíamos igualar; mas mesmo assim, ficava-nos campo para algumas operações. A partir de então, não se conformando com o dano que nos causava, chegou ao extremo de quase nos impedir de respirar. Fez saber nos mercados interessantes, que se nos compram uma só rês deixará de os servir. E, naturalmente, não querendo inimizades consigo, optaram por nos voltarem as costas, sem exceção. Esse comportamento não tem nome!
— Tem, sim: é comércio.
— Não! O comércio pode desenvolver-se no terreno da nobreza.
— Cada qual entende a nobreza a seu modo. Enfim se veio com o propósito de me ofender, porei imediatamente fim à nossa entrevista.
Ernest assoprou quase congestionado.
— Escapam-se-me as palavras contra a minha vontade. Estou farto desta luta. Venceu você. Diga, a sério, quanto dá pela minha propriedade.
— Vinte mil.
— Mas... isso é um abuso!
— Ninguém o obriga a sofrê-lo. Procure outro comprador.
— Deve saber que já o' tentei sem êxito. Ninguém da comarca se atreve a comprá-lo. Todos estão convencidos de que se adquirissem um novo rancho acrescentariam a sua fúria, precipitando a ruína. Para que andar com rodeios que de nada me serviriam? A minha única solução é vender-lho ou abandoná-lo e que o demónio o leve.
— Nem num caso nem noutro teria você de pedir esmola, Ryan. A sua fortuna é considerável; os negócios que tem na cidade representam uma fonte de receitas importante.
— E que tem isso a ver?
— Oh, nada. Foi um simples comentário.
Ernest tornou a limpar o suor. Estava congestionado e respirava com dificuldade. Buck mostrou-se ligeiramente amável.
— Sente-se. Não costumo fazer este convite. Gosto que as pessoas permaneçam de pé na minha presença. Em atenção aos seus anos, a que parece encontrar-se indisposto... e a que não é má pessoa, cedo-lhe o meu próprio lugar.
— Obrigado, não...
— Aceite se não quer que me aborreça.
Quase maquinalmente, o idoso visitante deixou-se cair no sofá que Jerrigan lhe apresentava. Com a mesma rapidez, aceitou também, o cigarro que este lhe ofereceu. Acenderam-nos e, após breve pausa, o visitante perguntou:
— Por que motivo é você assim?
— Como?
— Tão duro, tão desapiedado.
— A verdade é que exagera. Sou como corresponde a um homem da minha classe, a um comerciante mulato.
— Os mulatos são filhos de Deus como os demais mortais; entre eles, como entre brancos, negros ou amarelos, há seres nobres, dignos de todas as considerações, e seres que repugnam. Não, não ofende os seus dizer que a mistura de sangue tem a culpa dessa crueldade.
Buck que havia ficado de pé, aproximou-se da janela, furtando o rosto ao seu interlocutor, e olhou o horizonte. Ernest continuou:
— Você não se parece a ninguém. Tem consigo algo especial que o torna odioso e temível.
Jerrigan voltou-se subitamente:
— E por isso, porque sou odioso e temível, procuram fazer-me desaparecer da face da terra.
Ryan abriu muito os olhos, denotando surpresa.
— Que quer dizer?
Buck aproximou-se, olhando-o de frente:
— Conhecia Mickey Zuquer?
— Mickey Zuquer? Nunca ouvi esse nome na minha vida.
— Deveras?
Ryan ergueu-se ágil como se tivesse vinte anos.
— Não lhe permito que duvide da minha palavra!
Desafiava-o, feroz. Jerrigan esboçou um sorriso, com o qual as suas feições se dulcificaram.
— Tranquilize-se. Acredito em si.
— É o menos que pode fazer. Mas já não me basta esse facto. Preciso que me aclare o significado da sua pergunta
— Mickey Zuquer foi pago por alguém, durante a minha estadia em Phoenix, para me assassinar. A sorte não o ajudou e encontrou a morte.
Atónito, após um breve silêncio, perguntou o visitante:
— E pensou que...
— Incluía-o entre os conjurados, como demais. Fica descartado desde agora.
— Então... Tem motivos para crer que os meus amigos...
Buck assentiu com um movimento de cabeça. Protestou Ryan:
— Não, não é possível! Repilo tal infâmia!
— Deixemos o assunto — interrompeu o mulato, mudando de tom e de atitude —. Vamos ao negócio que aqui o trouxe. Darei trinta mil dólares pelas suas propriedades. Espero-o amanhã às onze horas no Banco do Rio Verde. Tenha a escrita preparada. Gosto de resolver com rapidez todos os meus assuntos.
Ernest olhou-o com firmeza temendo ser vítima de um gracejo. Parecia-lhe inconcebível que aquele homem de pedra tivesse tido tão inesperada reação. Havia-lhe oferecido vinte mil dólares pelo rancho sabendo quase que, embora significasse um roubo, o negócio se resolveria, pois, os rancheiros de Anglers inn nada tinham a fazer, enquanto Jerrigan continuasse usando os seus processos. Porquê subitamente lhe dava dez mil mais? Estaria louco... ou continuaria a divertir-se?
— Disse trinta mil?
— Exato. Desta maneira o negócio não resultará tão excelente para mim, nem tão ruinoso para si. Afirmo-lhe que os seus amigos não terão tanta sorte. Tem algo a objetar?
— Nada. Aceito a oferta. Amanhã, às onze, estarei no local indicado.
Ernest esteve tentado a oferecer a mão ao seu interlocutor; mas este voltara para junto da janela e, sem o olhar, disse, terminando assim a entrevista:
— Adeus, senhor Ryan. Passe muito bem.
O velho saiu. Buck murmurou como se rezasse:
— Os mulatos são filhos de Deus como os outros mortais...
Ficou abstrato até que, fazendo um poderoso esforço, livrou-se da espécie de garra invisível que lhe aprisionava o coração, e dedicou-se ao trabalho. Horas mais tarde apresentou-se Denny Mallard, em plano repugnantemente servil. Buck, sem fazer caso dele, continuou com os seus papéis, corno se não o tivesse visto. Gozava em humilhar aquele homem até ao grau mais superlativo.
— Senhor Jerrigan...
— Que se passa? Como se atreveu a entrar no meu gabinete sem pedir licença? Estava a porta entreaberta e bati...
— Mas eu não lhe dei autorização. Que isto não volte a acontecer.
— Perdão...
— Tem alguma coisa a dizer-me?
— Sim... Levinson, Huberd e Jory estão indignadíssimos por Ernest Ryan haver cedido. Disseram-lhe coisas muito desagradáveis, e ele respondeu-lhes adequadamente e, de certo modo, quase o defendeu a si. A única pessoa que saiu em seu apoio foi Hilary Hogson, o qual terminou afirmando que seguiria o exemplo do velho Ryan. Pensa regressar a Phoenix onde não tem inimigos de categoria à frente dos seus negócios. Pode calcular como devem ter ficado os outros. Minha própria irmã brada aos céus. Não queira saber as «palavras mimosas» que ela lhe dedica.
A notícia produziu em Buck uma satisfação imensa, mas não deixou transparecer.
— Alguma coisa mais?
— Não, por agora, não.
— Bem. Embora não me conte nada de interesse, quero pagar-lhe com uma gratificação extraordinária qualquer notícia. Tome e retire-se.
Atirou-lhe várias notas que Mallard se apressou a agarrá-las, retirando-se após uma profunda reverência. Na porta encontrou-se com Henry, ante o qual se inclinou também, por lhe constar até que ponto Buck estimava esse homem. O gigante respondeu-lhe desabrido. Jerrigan riu-se:
— Cada dia achas o rapaz mais simpático, ahn?
— Não o posso tolerar, patrão. Produz-me o efeito de um bicharoco ascoroso. Se soubesse a vontade que sinto de o esmagar com o pé!
— Tem calma.
— Eu tenho-a, patrão. Mas não consigo explicar, desculpe o comentário, como o suporta.
— Diverte-me, Henry, diverte-me... e é-me útil.
— Útil, um espião contrário?
— Não sejas ingénuo. A sua espionagem é uma arma voltada contra os meus inimigos. Podes ter a certeza de que nunca há de inteirar-se de nada que interesse manter em segredo. A única coisa que averigua é, precisamente, aquilo que me convém, para que o comunique a Jory e à sua companhia. Em troca as informações que dali me traz, são, muitas vezes, de grande valor.
— Quando você o diz... Mas não é só isso. Tenho a certeza de que Mallard o rouba; pequenas quantias, mas rouba-o.
— Deixa-o roubar, Henry. Deixa-o.
Buck recostou-se no sofá e olhou sorridente para o seu subordinado.
— Ou muito me engano ou começam já a render-se.
— E têm bons motivos.
Henry tinha a certeza disso. Havia motivos para que os rancheiros, a quem o mulato havia declarado luta, se encontrassem próximo do desespero. Todos eles, incluindo Georgina, haviam seguido para as suas respetivas propriedades com ânimo de afrontarem abertamente a questão e não se deixarem vencer; mas não conseguiram acertar. Tudo quanto tentavam lhes saía mal.
Os seus maiores fracassos consistiram nas manobras encaminhadas em prejudicar Buck, o qual continuava a rir manejando os fios da sua teia e fazendo com que os dardos com que o queriam atingir se voltassem contra os seus inimigos.
— Sim, têm motivos — admitiu Jerrigan Estou-me divertindo muito.
Ainda não havia dois meses que lhes declarara guerra em Phoenix e já se podia apreciar como todos e cada um permaneciam numa crispação de nervos esgotantes.
— Também eu.
— Acredito. Manda entrar o visitante.
Reyes saiu, voltando pouco depois precedendo Ryan. O seu chefe fez-lhe um leve sinal e ele desapareceu sem ruído. O velho rancheiro ficou junto da porta, apertando os lábios, o olhar fixo no homem que tinha na sua frente, o qual o sustentou até ter de afastar os seus olhos negros.
— Aproxime-se, se quer.
Ernest obedeceu e disse, sem estender a mão nem pronunciar qualquer palavra de saudação:
— Desejo vender o meu rancho. Interessa-lhe adquiri-lo?
— Depende do preço.
— Vale mais de quarenta mil dólares.
— É uma opinião sua. Eu daria apenas vinte mil.
Os olhos do velho relampejaram. Todo o seu corpo vibrou e apoiou-se a um móvel próximo:
— Jerrigan, você...
— Cuidado, amigo; cuidado com as palavras.
Ryan esforçou-se para se conter e murmurou, enquanto passava o lenço pelo rosto suado:
— Até há apenas dois meses, quando teve lugar a malfadada reunião de Phoenix, você limitava as suas manobras a vender em condições que não podíamos igualar; mas mesmo assim, ficava-nos campo para algumas operações. A partir de então, não se conformando com o dano que nos causava, chegou ao extremo de quase nos impedir de respirar. Fez saber nos mercados interessantes, que se nos compram uma só rês deixará de os servir. E, naturalmente, não querendo inimizades consigo, optaram por nos voltarem as costas, sem exceção. Esse comportamento não tem nome!
— Tem, sim: é comércio.
— Não! O comércio pode desenvolver-se no terreno da nobreza.
— Cada qual entende a nobreza a seu modo. Enfim se veio com o propósito de me ofender, porei imediatamente fim à nossa entrevista.
Ernest assoprou quase congestionado.
— Escapam-se-me as palavras contra a minha vontade. Estou farto desta luta. Venceu você. Diga, a sério, quanto dá pela minha propriedade.
— Vinte mil.
— Mas... isso é um abuso!
— Ninguém o obriga a sofrê-lo. Procure outro comprador.
— Deve saber que já o' tentei sem êxito. Ninguém da comarca se atreve a comprá-lo. Todos estão convencidos de que se adquirissem um novo rancho acrescentariam a sua fúria, precipitando a ruína. Para que andar com rodeios que de nada me serviriam? A minha única solução é vender-lho ou abandoná-lo e que o demónio o leve.
— Nem num caso nem noutro teria você de pedir esmola, Ryan. A sua fortuna é considerável; os negócios que tem na cidade representam uma fonte de receitas importante.
— E que tem isso a ver?
— Oh, nada. Foi um simples comentário.
Ernest tornou a limpar o suor. Estava congestionado e respirava com dificuldade. Buck mostrou-se ligeiramente amável.
— Sente-se. Não costumo fazer este convite. Gosto que as pessoas permaneçam de pé na minha presença. Em atenção aos seus anos, a que parece encontrar-se indisposto... e a que não é má pessoa, cedo-lhe o meu próprio lugar.
— Obrigado, não...
— Aceite se não quer que me aborreça.
Quase maquinalmente, o idoso visitante deixou-se cair no sofá que Jerrigan lhe apresentava. Com a mesma rapidez, aceitou também, o cigarro que este lhe ofereceu. Acenderam-nos e, após breve pausa, o visitante perguntou:
— Por que motivo é você assim?
— Como?
— Tão duro, tão desapiedado.
— A verdade é que exagera. Sou como corresponde a um homem da minha classe, a um comerciante mulato.
— Os mulatos são filhos de Deus como os demais mortais; entre eles, como entre brancos, negros ou amarelos, há seres nobres, dignos de todas as considerações, e seres que repugnam. Não, não ofende os seus dizer que a mistura de sangue tem a culpa dessa crueldade.
Buck que havia ficado de pé, aproximou-se da janela, furtando o rosto ao seu interlocutor, e olhou o horizonte. Ernest continuou:
— Você não se parece a ninguém. Tem consigo algo especial que o torna odioso e temível.
Jerrigan voltou-se subitamente:
— E por isso, porque sou odioso e temível, procuram fazer-me desaparecer da face da terra.
Ryan abriu muito os olhos, denotando surpresa.
— Que quer dizer?
Buck aproximou-se, olhando-o de frente:
— Conhecia Mickey Zuquer?
— Mickey Zuquer? Nunca ouvi esse nome na minha vida.
— Deveras?
Ryan ergueu-se ágil como se tivesse vinte anos.
— Não lhe permito que duvide da minha palavra!
Desafiava-o, feroz. Jerrigan esboçou um sorriso, com o qual as suas feições se dulcificaram.
— Tranquilize-se. Acredito em si.
— É o menos que pode fazer. Mas já não me basta esse facto. Preciso que me aclare o significado da sua pergunta
— Mickey Zuquer foi pago por alguém, durante a minha estadia em Phoenix, para me assassinar. A sorte não o ajudou e encontrou a morte.
Atónito, após um breve silêncio, perguntou o visitante:
— E pensou que...
— Incluía-o entre os conjurados, como demais. Fica descartado desde agora.
— Então... Tem motivos para crer que os meus amigos...
Buck assentiu com um movimento de cabeça. Protestou Ryan:
— Não, não é possível! Repilo tal infâmia!
— Deixemos o assunto — interrompeu o mulato, mudando de tom e de atitude —. Vamos ao negócio que aqui o trouxe. Darei trinta mil dólares pelas suas propriedades. Espero-o amanhã às onze horas no Banco do Rio Verde. Tenha a escrita preparada. Gosto de resolver com rapidez todos os meus assuntos.
Ernest olhou-o com firmeza temendo ser vítima de um gracejo. Parecia-lhe inconcebível que aquele homem de pedra tivesse tido tão inesperada reação. Havia-lhe oferecido vinte mil dólares pelo rancho sabendo quase que, embora significasse um roubo, o negócio se resolveria, pois, os rancheiros de Anglers inn nada tinham a fazer, enquanto Jerrigan continuasse usando os seus processos. Porquê subitamente lhe dava dez mil mais? Estaria louco... ou continuaria a divertir-se?
— Disse trinta mil?
— Exato. Desta maneira o negócio não resultará tão excelente para mim, nem tão ruinoso para si. Afirmo-lhe que os seus amigos não terão tanta sorte. Tem algo a objetar?
— Nada. Aceito a oferta. Amanhã, às onze, estarei no local indicado.
Ernest esteve tentado a oferecer a mão ao seu interlocutor; mas este voltara para junto da janela e, sem o olhar, disse, terminando assim a entrevista:
— Adeus, senhor Ryan. Passe muito bem.
O velho saiu. Buck murmurou como se rezasse:
— Os mulatos são filhos de Deus como os outros mortais...
Ficou abstrato até que, fazendo um poderoso esforço, livrou-se da espécie de garra invisível que lhe aprisionava o coração, e dedicou-se ao trabalho. Horas mais tarde apresentou-se Denny Mallard, em plano repugnantemente servil. Buck, sem fazer caso dele, continuou com os seus papéis, corno se não o tivesse visto. Gozava em humilhar aquele homem até ao grau mais superlativo.
— Senhor Jerrigan...
— Que se passa? Como se atreveu a entrar no meu gabinete sem pedir licença? Estava a porta entreaberta e bati...
— Mas eu não lhe dei autorização. Que isto não volte a acontecer.
— Perdão...
— Tem alguma coisa a dizer-me?
— Sim... Levinson, Huberd e Jory estão indignadíssimos por Ernest Ryan haver cedido. Disseram-lhe coisas muito desagradáveis, e ele respondeu-lhes adequadamente e, de certo modo, quase o defendeu a si. A única pessoa que saiu em seu apoio foi Hilary Hogson, o qual terminou afirmando que seguiria o exemplo do velho Ryan. Pensa regressar a Phoenix onde não tem inimigos de categoria à frente dos seus negócios. Pode calcular como devem ter ficado os outros. Minha própria irmã brada aos céus. Não queira saber as «palavras mimosas» que ela lhe dedica.
A notícia produziu em Buck uma satisfação imensa, mas não deixou transparecer.
— Alguma coisa mais?
— Não, por agora, não.
— Bem. Embora não me conte nada de interesse, quero pagar-lhe com uma gratificação extraordinária qualquer notícia. Tome e retire-se.
Atirou-lhe várias notas que Mallard se apressou a agarrá-las, retirando-se após uma profunda reverência. Na porta encontrou-se com Henry, ante o qual se inclinou também, por lhe constar até que ponto Buck estimava esse homem. O gigante respondeu-lhe desabrido. Jerrigan riu-se:
— Cada dia achas o rapaz mais simpático, ahn?
— Não o posso tolerar, patrão. Produz-me o efeito de um bicharoco ascoroso. Se soubesse a vontade que sinto de o esmagar com o pé!
— Tem calma.
— Eu tenho-a, patrão. Mas não consigo explicar, desculpe o comentário, como o suporta.
— Diverte-me, Henry, diverte-me... e é-me útil.
— Útil, um espião contrário?
— Não sejas ingénuo. A sua espionagem é uma arma voltada contra os meus inimigos. Podes ter a certeza de que nunca há de inteirar-se de nada que interesse manter em segredo. A única coisa que averigua é, precisamente, aquilo que me convém, para que o comunique a Jory e à sua companhia. Em troca as informações que dali me traz, são, muitas vezes, de grande valor.
— Quando você o diz... Mas não é só isso. Tenho a certeza de que Mallard o rouba; pequenas quantias, mas rouba-o.
— Deixa-o roubar, Henry. Deixa-o.
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