Ninguém, ao ver Jerrigan, adivinharia o inferno que trazia dentro de si. Continuava a sua vida normal à base de diversas atividades, novas empresas cada dia, cavalgadas esgotantes...
Mas ao encontrar-se só, notava-se, em si próprio, moralmente caído. A recordação de Georgina era a sua obcecação. Saber que continuava em Anglers inn, irritava-o; pensar que chegaria o dia em que se afastaria para sempre, causava-lhe angústias mortais.
— Enamorado dela... Eu enamorado dessa mulher!... — costumava repetir, desesperado umas vezes; cheio de infinita tristeza, outras.
Revoltava-se contra o Destino que o havia castigado de tão cruel maneira, mas, ao fim, acabava baixando a cabeça. Sim, queria-lhe, adorava-a; mas saberia consumir-se no fogo da sua paixão sem que se vissem as chamas. Nem por um momento aceitou a possibilidade de que aquele amor desse fruto: ela, era ela... e ele, era ele! Acima de tudo estavam a sua dignidade, o culto que devia aos seus maiores, o orgulho do sangue mestiço.
Uma tarde...
Regressava ao «Fortaleza» e no caminho encontrou Cindy, a mulher negra, mãe de duas mulatitas, a quem Denny se havia referido um dia ao falar com sua irmã.
— Deus o guarde, senhor Jerrigan.
Ele deteve o cavalo, sorrindo afetuoso.
— Olá, Cindy. Como vai a sua vida?
— É como vê, senhor, vou-me defendendo.
— Há muito tempo que a não via.
— Enquanto esteve doente, vim todos os dias. Quando se pôs melhor, como anda com falta de tempo... Bem sabe... aqueles diabinhos...
— Como se encontram?
— Bem. Bem, dentro do possível, claro.
— Irei visitá-las qualquer dia. Tenho vontade de brincar com Dorothy.
— Ela ficará muito contente. A pobrezinha, sem se poder mover nunca... Quando alguém a vai ver sente-se feliz. Agora, graças à menina Georgina, tem passado uma temporada feliz.
Buck julgou não ter ouvido bem. Pestanejou nervosamente e olhou fixamente a sua interlocutora:
— Que diz, Cindy?
— O que ouve, senhor Jerrigan. A menina Georgina visita-nos diariamente, leva-lhes brinquedos e doces e passa muito tempo com as pequenas. Gostamos muito dela. Mas... ficou muito sério; isto aborrece-o?
Buck tardou uns momentos a responder. Quando o fez, a sua voz era pouco firme:
— Não, porque me havia de aborrecer?... Simplesmente, me surpreendeu... Bem, Cindy, faz-se tarde. Um dia passarei pela sua cabana. Precisa de alguma coisa?
— Como posso eu precisar, se não deixam de me enviar coisas boas por sua ordem, — e a menina Georgina também se afana em nos ajudar!
Naquela noite, Jerrigan não conciliou o sono. As mais desencontradas ideias desfilaram pela sua mente.
Deixou passar dois dias. Ao terceiro, não podendo resistir mais, dirigiu-se à cabana da negra. Queria convencer-se de que aquela visita era como tantas outras; mas desde o mais fundo do seu ser, uma voz o acusava de mentiroso.
Desmontou, antes de chegar e, a pé foi-se aproximando. Através da janela descobriu Georgina sentada junto do leito de Dorothy, fabricando uma boneca de trapos e rindo juntamente com a enferma e a outra mulatita. Não muita longe, contemplando o grupo, feliz, Cindy costurava. Buck empurrou a porta. A rapariguinha sã correu para ele; Dorothy, na caminha, estendeu-lhe os braços.
— Olá, minhas queridas...
Beijou-as longamente. Cindy apressou-se a saudá-lo. Georgina havia-se levantado, retirando-se para um canto. Buck sentindo subitamente uma ânsia em fustigar a rapariga, voltou-se para ela:
— É curioso o seu comportamento, minha senhora! Não concebo que perca o seu precioso tempo descendo a entreter umas rapariguinhas mulatas.
Georgina avançou lentamente e, com voz segura, sustentando-lhe o olhar, replicou:
— Ainda não há muito comprovei, por tê-lo vertido eu própria, que o sangue dos mulatos é também vermelho e mais generoso, às vezes, que o de muitos que o não são.
— Ahn?
— Tanto assim, que estou apaixonada por um mulato... e sonha que ele me corresponda.
Jerrigan vibrou como a folha de uma árvore.
— Você...
Ela aproximou-se mais, colocou-lhe as mãos sobre o peito que havia perfurado com chumbo e foi subindo-as... subindo-as... Mas... Georgina...
— Quero-te, Buck; adoro-te, meu mulatito. Juntaram-se os lábios. Cindy e as meninas bateram palmas.
Mas ao encontrar-se só, notava-se, em si próprio, moralmente caído. A recordação de Georgina era a sua obcecação. Saber que continuava em Anglers inn, irritava-o; pensar que chegaria o dia em que se afastaria para sempre, causava-lhe angústias mortais.
— Enamorado dela... Eu enamorado dessa mulher!... — costumava repetir, desesperado umas vezes; cheio de infinita tristeza, outras.
Revoltava-se contra o Destino que o havia castigado de tão cruel maneira, mas, ao fim, acabava baixando a cabeça. Sim, queria-lhe, adorava-a; mas saberia consumir-se no fogo da sua paixão sem que se vissem as chamas. Nem por um momento aceitou a possibilidade de que aquele amor desse fruto: ela, era ela... e ele, era ele! Acima de tudo estavam a sua dignidade, o culto que devia aos seus maiores, o orgulho do sangue mestiço.
Uma tarde...
Regressava ao «Fortaleza» e no caminho encontrou Cindy, a mulher negra, mãe de duas mulatitas, a quem Denny se havia referido um dia ao falar com sua irmã.
— Deus o guarde, senhor Jerrigan.
Ele deteve o cavalo, sorrindo afetuoso.
— Olá, Cindy. Como vai a sua vida?
— É como vê, senhor, vou-me defendendo.
— Há muito tempo que a não via.
— Enquanto esteve doente, vim todos os dias. Quando se pôs melhor, como anda com falta de tempo... Bem sabe... aqueles diabinhos...
— Como se encontram?
— Bem. Bem, dentro do possível, claro.
— Irei visitá-las qualquer dia. Tenho vontade de brincar com Dorothy.
— Ela ficará muito contente. A pobrezinha, sem se poder mover nunca... Quando alguém a vai ver sente-se feliz. Agora, graças à menina Georgina, tem passado uma temporada feliz.
Buck julgou não ter ouvido bem. Pestanejou nervosamente e olhou fixamente a sua interlocutora:
— Que diz, Cindy?
— O que ouve, senhor Jerrigan. A menina Georgina visita-nos diariamente, leva-lhes brinquedos e doces e passa muito tempo com as pequenas. Gostamos muito dela. Mas... ficou muito sério; isto aborrece-o?
Buck tardou uns momentos a responder. Quando o fez, a sua voz era pouco firme:
— Não, porque me havia de aborrecer?... Simplesmente, me surpreendeu... Bem, Cindy, faz-se tarde. Um dia passarei pela sua cabana. Precisa de alguma coisa?
— Como posso eu precisar, se não deixam de me enviar coisas boas por sua ordem, — e a menina Georgina também se afana em nos ajudar!
Naquela noite, Jerrigan não conciliou o sono. As mais desencontradas ideias desfilaram pela sua mente.
Deixou passar dois dias. Ao terceiro, não podendo resistir mais, dirigiu-se à cabana da negra. Queria convencer-se de que aquela visita era como tantas outras; mas desde o mais fundo do seu ser, uma voz o acusava de mentiroso.
Desmontou, antes de chegar e, a pé foi-se aproximando. Através da janela descobriu Georgina sentada junto do leito de Dorothy, fabricando uma boneca de trapos e rindo juntamente com a enferma e a outra mulatita. Não muita longe, contemplando o grupo, feliz, Cindy costurava. Buck empurrou a porta. A rapariguinha sã correu para ele; Dorothy, na caminha, estendeu-lhe os braços.
— Olá, minhas queridas...
Beijou-as longamente. Cindy apressou-se a saudá-lo. Georgina havia-se levantado, retirando-se para um canto. Buck sentindo subitamente uma ânsia em fustigar a rapariga, voltou-se para ela:
— É curioso o seu comportamento, minha senhora! Não concebo que perca o seu precioso tempo descendo a entreter umas rapariguinhas mulatas.
Georgina avançou lentamente e, com voz segura, sustentando-lhe o olhar, replicou:
— Ainda não há muito comprovei, por tê-lo vertido eu própria, que o sangue dos mulatos é também vermelho e mais generoso, às vezes, que o de muitos que o não são.
— Ahn?
— Tanto assim, que estou apaixonada por um mulato... e sonha que ele me corresponda.
Jerrigan vibrou como a folha de uma árvore.
— Você...
Ela aproximou-se mais, colocou-lhe as mãos sobre o peito que havia perfurado com chumbo e foi subindo-as... subindo-as... Mas... Georgina...
— Quero-te, Buck; adoro-te, meu mulatito. Juntaram-se os lábios. Cindy e as meninas bateram palmas.
FIM
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