Art Kearney empalideceu ao ver David Murray dirigir-se ao seu encontro. No entanto, com um poderoso esforço de vontade, permaneceu impassível. Andrew Strond fingiu não dar pela sua presença. David deteve-se ao lado da mesa que os dois homens ocupavam juntamente com Perla Day. O seu aspeto era calmo e não denotava qualquer disputa.
— Olá, Wallace! — saudou Kearney, correspondendo ao aceno mudo do jovem. —Vejo que o xerife fez uma bela aquisição.
—Ele assim o afirmou quando me ofereceu este cargo
— De facto, não se pode negar que o senhor é «alguém» com um «Colt» na mão.
— Sei usá-lo.
—Eu não lhe guardo rancor — disse Kearney, sorrindo. — A nossa disputa foi uma patetice e estou agradecido por não me ter ferido.
— Só atiro para matar quando é necessário.
— Magnífica fórmula. No entanto, devo confessar-lhe que se tivesse conseguido atirar, destroçava-lhe a cabeça estava furioso. Quer beber um copo de «whisky»?
— Se a senhora o permite — disse David, fazendo uma leve inclinação a Perla.
— Não há nenhum inconveniente nisso — respondeu a cantora com um sorriso maravilhoso. —Interessa-me estar bem com a Lei.
—Tem toda a razão, miss Day — assentiu David, sentando-se. — Quando estiver em apuros, achar-me-á ao seu dispor. E o senhor, como se encontra, Strond?
O «pistoleiro» não conseguiu evitar dirigir-lhe um olhar carregado de ódio. Não era capaz de fingir.
— Bem — disse secamente.
Kearney encheu um copo que ofereceu ao jovem. Levantou o seu e disse:
— Brindemos para que a Lei encontre no senhor o apoio que lhe faz falta.
— Para que se cumpra o seu desejo, Kearney —e David esvaziou o copo de um trago.
Perla e Strond também beberam, este último obedecendo a uma ordem muda do seu patrão. David levantou-se.
—Temo haver abusado da sua amabilidade.
—Oh, não comissário! —protestou Kearney, levantando uma das mãos. — A sua presença é para nós muito agradável.
— Obrigado, mas o meu dever obriga-me a ir trabalhar.
Afastou-se, seguido por um olhar de ódio de Andrew Strond. Kearney começou a rir.
—Tem graça — comentou. — Ontem, esse homem provocou um distúrbio e agora é o encarregado de manter a ordem.
Perla limitou-se a sorrir, procurando manter absoluta indiferença. David andava passeando pelo «saloon», consciente do que os olhares dos clientes o seguiam com interesse e admiração. De repente, chamou-lhe a atenção o barulho de vozes encolerizadas. Voltou-se rapidamente e dirigiu-se para uma mesa onde os homens se increpavam com rudeza e cólera. Deteve-se perante eles.
— Que significa isto? — inquiriu com firmeza.
Os dois homens olharam-no com receio e temor. Um deles, passou a língua pelos lábios secos e respondeu:
— Trata-se duma simples discussão, comissário.
— Nesse caso, tenham calma e continuem jogando.
— Está bem, comissário — disse o outro, obedecendo-lhe.
Os espectadores olharam-se surpreendidos. Nenhum deles recordava que um representante da Lei tivesse aplacado com tanta facilidade os excitados ânimos dos futuros contendores. No entanto, era lógico, após as recentes demonstrações efetuadas pelo novo comissário.
— Muito bem, Wallace. Eu nunca consegui resultados tão satisfatórios.
Perante ele achava-se o xerife, que lhe sorria cordial. mente. Pegando-lhe num braço, com amizade, levou-o até ao balcão.
— Dois copos de «whisky» — pediu Carroll.
— À sua saúde, xerife —disse David, levantando c seu copo.
— Obrigado, rapaz.
Uma vez bebido o «whisky», Carroll propôs:
— Vamos embora?
— Sim, não acho inconveniente.
No escritório, o xerife deixou-se cair com visível cansaço numa cadeira. O seu interlocutor olhava-o com amizade.
—Está aborrecido, xerife?
— Sim, não posso negá-lo. Estou bastante preocupado. Vejo-me impotente para pôr cobro aos manejos dos ladrões de gado.
— Podemos fazer uma sortida para tratar de localizá-los — propôs David.
—Já o intentei diversas vezes, mas sem resultados positivos.
— Que lhe parece, o senhor ir por um lado e eu pelo outro? Tudo consiste em descobri-los e seguir-lhes a pista.
— Podemos tentar. Não perderemos nada com isso.
— A vida — respondeu o jovem, tranquilo — se eles nos descobrem primeiro.
—É verdade. E agora lamento tê-lo metido nesta dança.
— Não se preocupe comigo. Disse-lhe, a primeira vez que o conheci, que sei defender-me.
— Já o comprovei em várias ocasiões. O senhor é um valente.
David levantou-se, apoiou as mãos sobre a mesa e perguntou:
— Para que lado é que vou?
Carroll meditou e, por fim, decidiu:
— Saia pela parte Este e dirija-se para o Sul; eu efetuarei a minha volta pelo lado oposto. Não se arrisque desnecessariamente.
— Até à vista, xerife! David saiu com passo firme.
Foi à cavalariça buscar o seu cavalo e não se demorou a sair de Bristol. A noite estava escura, grandes nuvens cobriam a lua, mas de vez em quando esta ficava descoberta e os seus raios prateados iluminavam a terra.
Avançava sem pressas, procurando amortecer quanto possível as pisadas do cavalo. Olhava fixamente para todos os lados, como se conseguisse penetrar as trevas que o rodeavam.
Dirigia-se para o Sul, como lhe indicara o xerife. Todo o seu corpo vibrava, como se se encontrasse em perigo iminente. Na realidade, nada indicava isso; a calma era absoluta, o silêncio intenso, até se ouvia o suave murmúrio da brisa. Não obstante, David Murray achava-se na expectativa, como se estivesse pronto a repelir um ataque.
De súbito, deteve com mão firme o seu cavalo. Acabava de ouvir um ruído à sua frente, como se alguém tivesse falado em voz baixa. Conhecia o terreno que pisava e durante alguns instantes concentrou-se para recordar os seus relevos. A sua mão direita empunhou o «Colt», levantou-o com lentidão e fez fogo. O estampido ressoou de forma sinistra no silêncio da noite e provocou um grito de dor. David, com um sorriso, esporeou o seu cavalo para a esquerda, enquanto murmurava:
— Não me agradam as pessoas que permanecem emboscadas.
Imediatamente ressoaram numerosos gritos de raiva e imprecações. Soaram muitos tiros, mas as balas passaram longe do jovem, devido à sua hábil manobra. Uma voz imperiosa, gritou:
— Cerquem-no, não o deixem fugir!
Julgou reconhecer a voz de Andrew Strond, mas não se deteve; continuou para a frente. A sua arriscada manobra salvou-o e pôde escapar-se antes que o cerco se fechasse à sua volta. Não o teria conseguido se retrocedesse, pois, os seus inimigos, julgando ser esta a sua reação, tinham-lhe cortado a retirada.
David tornou a disparar mais duas vezes e ouviu outra exclamação de dor. Um dos seus tiros falhara, mas o outro não. Talvez não tivesse sido tão eficaz como o primeiro, pois disparara à sorte, enquanto o outro tivera objetivo previsto.
O seu cavalo avançava velozmente. Ao princípio notou o furioso galopar dos seus perseguidores, mas este foi amortecendo e compreendeu que desistiam de o alcançar. Esboçou um sorriso trocista, adivinhando a desilusão dos seus inimigos.
Enquanto seguia galopando para Bristol, embora diminuindo a velocidade do seu cavalo, David pensava como conseguira escapar. O seu pensamento foi para o assunto que mais o interessava: descobrir o assassino de James Taft. Pouca coisa descobrira; somente a absoluta convicção de que Jimmy estava inocente e de que qualquer coisa do estranho ocorria naquela povoação de Kansas. O tempo passava rapidamente e era necessário apressar os acontecimentos, de contrário Jimmy Derek seria enforcado.
Chegou à povoação, deixou o belo animal na cavalariça e dirigiu-se para o escritório do xerife. Tinha uma chave que lhe dera Carroll e abriu a porta. Avançou às cegas, aguçando o ouvido; não se fiava em ninguém, a morte podia estar à espreita em qualquer compartimento.
Não ouvindo nenhum ruído suspeito, riscou um fósforo e acendeu um candeeiro. Depois de tirar o chapéu, deixou-se cair numa cadeira, mas levantou-se logo em seguida. Abriu o armário o apanhou uma garrafa e um copo, encheu-o e bebeu um trago. Tornou a sentar-se e o seu olhar fixou-se nos prospetos pregados na vitrina.
A sua atenção estava posta no prospeto que oferecia mil dólares pela captura de Clem Gainer. Não havia fotografias, mas David parecia estar hipnotizado poi aquele nome: Clem Gainer.
Sim, tinha a certeza de que o misterioso bandido era o seu mais encarniçado inimigo. Tinha de o descobrir, caso contrário perderia a vida nas suas mãos. Este convencimento foi-se tornando mais firme, até que o jovem advogado moveu a cabeça com energia, como se quisesse fugir àquela ideia que se estava convertendo numa obcecação.
Estava completamente convencido de que Clem Gainer não tinha desaparecido; continuava na região e era principal causador daquela situação anormal. Segundo a informação do xerife, o bandido era hábil, nunca fora apanhado e as suas características pessoais estavam ocultas num impenetrável mistério. O chefe da quadrilha que operava com tanto êxito em Bristol era possuidor duma astúcia diabólica. Podia ser Art Kearney; este demonstrava ser inteligente e possuidor de grande calma.
Deitou fora a ponta do cigarro que fumara, bebeu outro trago de «whisky» e acabou por adormecer. De repente, abriu os olhos e endireitou-se na cadeira. Acabava de ouvir passos que se aproximavam. Instantes depois abriu-se a porta e apareceu a corpulenta figura do xerife. Os seus nervos acalmaram-se.
— Olá, Wallace! — saudou Carroll, sentando-se e: frente dele. — Descobriu alguma coisa?
—Não, os ladrões de gado é que me descobrira — respondeu o jovem.
O xerife olhou-o perplexo.
— Que quer dizer?
— Esses bandidos atacaram-me. Disparei contra eles. Dois ficaram feridos, é mesmo provável que um deles tenha morrido. Consegui escapar com grande dose de sorte.
— É prodigioso. E como é que esses bandidos o descobriram?
— Não sei.
— Está convencido de que eram ladrões de gado?
— Não o posso afirmar, pois não levavam gado, nem estavam nas proximidades de qualquer rancho. Carroll mirou o seu interlocutor e fez estalar os nós dos dedos.
—Pode ser que alguém o tenha visto sair da povoação, seguiu-o e quando já estava no campo tentou matá-lo.
— É possível que fosse assim — concordou David. —É uma explicação muito lógica.
O xerife levantou-se, agarrou num copo, encheu-o e bebeu um bom trago.
— Estou desanimado, Wallace. Não sei que fazer. Esses bandidos aparecem como que por artes mágicas. Trata-se duma tarefa superior às minhas forças e estou tentado a apresentar a minha demissão.
— O senhor não tem culpa do que acontece. Os culpados são os rancheiros; devem unir-se e dar batalha aos ladrões de gado.
Levantou-se e apontou o prospeto que o atraía.
— C!em Gainer é um homem muito interessante!
— Ora! — exclamou Carroll, depreciativo. — Esse bandido não me interessa absolutamente nada. Ninguém sabe do seu paradeiro.
— Isso é que me agradava saber —contestou David.
O xerife olhou-o, surpreendido pelo tom enigmático com que o seu interlocutor pronunciava aquelas palavras. Reagiu, depois, ao responder à despedida de David.
— Até amanhã, Wallace.
David andou lentamente pelas ruas solitárias e escuras da povoação. Caminhava pelo centro da calçada, o olhar alerta e o braço pronto para entrar em ação. De forma alguma queria ser apanhado desprevenido, se sofresse outro ataque dos seus inimigos. Sabia-os capazes de hostilizá-lo sem descanso, até vê-lo estendido, trespassado o corpo por meia dúzia de balas.
A porta da pensão estava aberta. Mac Gregor devia estar a dormir, ninguém vigiava a entrada e saída dos hóspedes de noite e podia muito bem entrar um estranho. Isto representava para ele um autêntico perigo.
Entrou no seu quarto com cautela, certificando-se de que estava tudo em ordem. Depois, fechou a porta, colocando uma cadeira contra ela.
Realizou a mesma operação com a janela. Para poder penetrar por ela, seria necessário partir o vidro e o ruído produzido despertá-lo-ia.
Verificou, com satisfação, que Mac Gregor não se esquecera do mudar o vidro que se tinha partido. Colocou o revólver debaixo da almofada e deitou-se. Pouco depois dormia profundamente, convencido que despertaria ao mais pequeno ruído.
Art Kearney estava furioso. Perante ele encontrava-se Andrew Strond, cujo aspeto aborrecido demonstrava que recebera uma terrível desilusão.
— Não posso compreender como o deixaram escapar. Seis homens à espreita e ele foge tranquilamente, depois de matar um e deixar outro ferido. O teu relato não me convence.
— Não posso explicar como aconteceu. Foi tudo muito rápido.
—Explica-te com clareza.
— Ao ouvir que Wallace se aproximava, dispusemo-nos a cair sobre ele, mas ouviu-se um tiro e Leangly caiu morto. Rapidamente, dei as ordens necessárias para cercá-lo, mas o maldito, em lugar de retroceder, continuou a galopar em frente, tornou a disparar e feriu Stuart. A escuridão impediu-nos de o perseguir e matar.
— De facto, é muito rápido e temível. É seu hábito fazer o que menos se espera; mas asseguro-te que na próxima ocasião cairá e não conseguirá escapar.
A cara de Strond contraiu-se num gesto de raiva. A cicatriz que lhe desfigurava o rosto ainda lhe dava um aspeto mais horrendo.
— Quero ser eu a matá-lo. Desejo cuspir sobre o seu cadáver.
— Não te esqueceu a tareia que apanhaste?
— Não. Se soubesse como era perigoso, teria empunhado o revólver.
— Não o terias vencido; é diabolicamente rápido. Eu também não me esqueço de quando me destroçou o revólver; foi a maior humilhação que sofri — Kearney sorriu de maneira
sinistra. — Mas também praticou o maior equívoco da sua vida.
— Hei-me matá-lo! — afirmou Strond, erguendo-se.
—É muito possível que ele te dê uma oportunidade para isso.
—Podes acreditar, Kearney, que não desejo outra coisa.
— Não podemos perdê-lo de vista; é muito perigoso. Quando me informaram da sua chegada, não lhe dei importância de maior. Que perigo podia representar para nós, um simples advogado? Enganou-nos ao apresentar-se como um vulgar vaqueiro. Somente o adivinhei ao enfrentá-lo, e, que me dispus a matá-lo, não o consegui.
— Não voltará a Topeka.
— Podes dar isso por certo — aquiesceu Art Kearney, cujos olhos brilharam, sinistros. — É um bom cavaleiro, galopa à vontade na escuridão da noite e não foi possível agarrá-lo. E a sua pontaria é terrível.
— Não te enganes, Kearney — aconselhou o «pistoleiro», furioso.
— Embora o quisesse, não poderia. Estou nas mesmas condições que tu. Continuaram conversando durante mais de meia hora, bebendo «whisky» em abundância.
Os dois bandidos não pararam de lançar ameaças contra David Murray. Cada um queria ter o prazer de o matar e gozava, antecipadamente, como contemplasse já o seu cadáver.
— Olá, Wallace! — saudou Kearney, correspondendo ao aceno mudo do jovem. —Vejo que o xerife fez uma bela aquisição.
—Ele assim o afirmou quando me ofereceu este cargo
— De facto, não se pode negar que o senhor é «alguém» com um «Colt» na mão.
— Sei usá-lo.
—Eu não lhe guardo rancor — disse Kearney, sorrindo. — A nossa disputa foi uma patetice e estou agradecido por não me ter ferido.
— Só atiro para matar quando é necessário.
— Magnífica fórmula. No entanto, devo confessar-lhe que se tivesse conseguido atirar, destroçava-lhe a cabeça estava furioso. Quer beber um copo de «whisky»?
— Se a senhora o permite — disse David, fazendo uma leve inclinação a Perla.
— Não há nenhum inconveniente nisso — respondeu a cantora com um sorriso maravilhoso. —Interessa-me estar bem com a Lei.
—Tem toda a razão, miss Day — assentiu David, sentando-se. — Quando estiver em apuros, achar-me-á ao seu dispor. E o senhor, como se encontra, Strond?
O «pistoleiro» não conseguiu evitar dirigir-lhe um olhar carregado de ódio. Não era capaz de fingir.
— Bem — disse secamente.
Kearney encheu um copo que ofereceu ao jovem. Levantou o seu e disse:
— Brindemos para que a Lei encontre no senhor o apoio que lhe faz falta.
— Para que se cumpra o seu desejo, Kearney —e David esvaziou o copo de um trago.
Perla e Strond também beberam, este último obedecendo a uma ordem muda do seu patrão. David levantou-se.
—Temo haver abusado da sua amabilidade.
—Oh, não comissário! —protestou Kearney, levantando uma das mãos. — A sua presença é para nós muito agradável.
— Obrigado, mas o meu dever obriga-me a ir trabalhar.
Afastou-se, seguido por um olhar de ódio de Andrew Strond. Kearney começou a rir.
—Tem graça — comentou. — Ontem, esse homem provocou um distúrbio e agora é o encarregado de manter a ordem.
Perla limitou-se a sorrir, procurando manter absoluta indiferença. David andava passeando pelo «saloon», consciente do que os olhares dos clientes o seguiam com interesse e admiração. De repente, chamou-lhe a atenção o barulho de vozes encolerizadas. Voltou-se rapidamente e dirigiu-se para uma mesa onde os homens se increpavam com rudeza e cólera. Deteve-se perante eles.
— Que significa isto? — inquiriu com firmeza.
Os dois homens olharam-no com receio e temor. Um deles, passou a língua pelos lábios secos e respondeu:
— Trata-se duma simples discussão, comissário.
— Nesse caso, tenham calma e continuem jogando.
— Está bem, comissário — disse o outro, obedecendo-lhe.
Os espectadores olharam-se surpreendidos. Nenhum deles recordava que um representante da Lei tivesse aplacado com tanta facilidade os excitados ânimos dos futuros contendores. No entanto, era lógico, após as recentes demonstrações efetuadas pelo novo comissário.
— Muito bem, Wallace. Eu nunca consegui resultados tão satisfatórios.
Perante ele achava-se o xerife, que lhe sorria cordial. mente. Pegando-lhe num braço, com amizade, levou-o até ao balcão.
— Dois copos de «whisky» — pediu Carroll.
— À sua saúde, xerife —disse David, levantando c seu copo.
— Obrigado, rapaz.
Uma vez bebido o «whisky», Carroll propôs:
— Vamos embora?
— Sim, não acho inconveniente.
No escritório, o xerife deixou-se cair com visível cansaço numa cadeira. O seu interlocutor olhava-o com amizade.
—Está aborrecido, xerife?
— Sim, não posso negá-lo. Estou bastante preocupado. Vejo-me impotente para pôr cobro aos manejos dos ladrões de gado.
— Podemos fazer uma sortida para tratar de localizá-los — propôs David.
—Já o intentei diversas vezes, mas sem resultados positivos.
— Que lhe parece, o senhor ir por um lado e eu pelo outro? Tudo consiste em descobri-los e seguir-lhes a pista.
— Podemos tentar. Não perderemos nada com isso.
— A vida — respondeu o jovem, tranquilo — se eles nos descobrem primeiro.
—É verdade. E agora lamento tê-lo metido nesta dança.
— Não se preocupe comigo. Disse-lhe, a primeira vez que o conheci, que sei defender-me.
— Já o comprovei em várias ocasiões. O senhor é um valente.
David levantou-se, apoiou as mãos sobre a mesa e perguntou:
— Para que lado é que vou?
Carroll meditou e, por fim, decidiu:
— Saia pela parte Este e dirija-se para o Sul; eu efetuarei a minha volta pelo lado oposto. Não se arrisque desnecessariamente.
— Até à vista, xerife! David saiu com passo firme.
Foi à cavalariça buscar o seu cavalo e não se demorou a sair de Bristol. A noite estava escura, grandes nuvens cobriam a lua, mas de vez em quando esta ficava descoberta e os seus raios prateados iluminavam a terra.
Avançava sem pressas, procurando amortecer quanto possível as pisadas do cavalo. Olhava fixamente para todos os lados, como se conseguisse penetrar as trevas que o rodeavam.
Dirigia-se para o Sul, como lhe indicara o xerife. Todo o seu corpo vibrava, como se se encontrasse em perigo iminente. Na realidade, nada indicava isso; a calma era absoluta, o silêncio intenso, até se ouvia o suave murmúrio da brisa. Não obstante, David Murray achava-se na expectativa, como se estivesse pronto a repelir um ataque.
De súbito, deteve com mão firme o seu cavalo. Acabava de ouvir um ruído à sua frente, como se alguém tivesse falado em voz baixa. Conhecia o terreno que pisava e durante alguns instantes concentrou-se para recordar os seus relevos. A sua mão direita empunhou o «Colt», levantou-o com lentidão e fez fogo. O estampido ressoou de forma sinistra no silêncio da noite e provocou um grito de dor. David, com um sorriso, esporeou o seu cavalo para a esquerda, enquanto murmurava:
— Não me agradam as pessoas que permanecem emboscadas.
Imediatamente ressoaram numerosos gritos de raiva e imprecações. Soaram muitos tiros, mas as balas passaram longe do jovem, devido à sua hábil manobra. Uma voz imperiosa, gritou:
— Cerquem-no, não o deixem fugir!
Julgou reconhecer a voz de Andrew Strond, mas não se deteve; continuou para a frente. A sua arriscada manobra salvou-o e pôde escapar-se antes que o cerco se fechasse à sua volta. Não o teria conseguido se retrocedesse, pois, os seus inimigos, julgando ser esta a sua reação, tinham-lhe cortado a retirada.
David tornou a disparar mais duas vezes e ouviu outra exclamação de dor. Um dos seus tiros falhara, mas o outro não. Talvez não tivesse sido tão eficaz como o primeiro, pois disparara à sorte, enquanto o outro tivera objetivo previsto.
O seu cavalo avançava velozmente. Ao princípio notou o furioso galopar dos seus perseguidores, mas este foi amortecendo e compreendeu que desistiam de o alcançar. Esboçou um sorriso trocista, adivinhando a desilusão dos seus inimigos.
Enquanto seguia galopando para Bristol, embora diminuindo a velocidade do seu cavalo, David pensava como conseguira escapar. O seu pensamento foi para o assunto que mais o interessava: descobrir o assassino de James Taft. Pouca coisa descobrira; somente a absoluta convicção de que Jimmy estava inocente e de que qualquer coisa do estranho ocorria naquela povoação de Kansas. O tempo passava rapidamente e era necessário apressar os acontecimentos, de contrário Jimmy Derek seria enforcado.
Chegou à povoação, deixou o belo animal na cavalariça e dirigiu-se para o escritório do xerife. Tinha uma chave que lhe dera Carroll e abriu a porta. Avançou às cegas, aguçando o ouvido; não se fiava em ninguém, a morte podia estar à espreita em qualquer compartimento.
Não ouvindo nenhum ruído suspeito, riscou um fósforo e acendeu um candeeiro. Depois de tirar o chapéu, deixou-se cair numa cadeira, mas levantou-se logo em seguida. Abriu o armário o apanhou uma garrafa e um copo, encheu-o e bebeu um trago. Tornou a sentar-se e o seu olhar fixou-se nos prospetos pregados na vitrina.
A sua atenção estava posta no prospeto que oferecia mil dólares pela captura de Clem Gainer. Não havia fotografias, mas David parecia estar hipnotizado poi aquele nome: Clem Gainer.
Sim, tinha a certeza de que o misterioso bandido era o seu mais encarniçado inimigo. Tinha de o descobrir, caso contrário perderia a vida nas suas mãos. Este convencimento foi-se tornando mais firme, até que o jovem advogado moveu a cabeça com energia, como se quisesse fugir àquela ideia que se estava convertendo numa obcecação.
Estava completamente convencido de que Clem Gainer não tinha desaparecido; continuava na região e era principal causador daquela situação anormal. Segundo a informação do xerife, o bandido era hábil, nunca fora apanhado e as suas características pessoais estavam ocultas num impenetrável mistério. O chefe da quadrilha que operava com tanto êxito em Bristol era possuidor duma astúcia diabólica. Podia ser Art Kearney; este demonstrava ser inteligente e possuidor de grande calma.
Deitou fora a ponta do cigarro que fumara, bebeu outro trago de «whisky» e acabou por adormecer. De repente, abriu os olhos e endireitou-se na cadeira. Acabava de ouvir passos que se aproximavam. Instantes depois abriu-se a porta e apareceu a corpulenta figura do xerife. Os seus nervos acalmaram-se.
— Olá, Wallace! — saudou Carroll, sentando-se e: frente dele. — Descobriu alguma coisa?
—Não, os ladrões de gado é que me descobrira — respondeu o jovem.
O xerife olhou-o perplexo.
— Que quer dizer?
— Esses bandidos atacaram-me. Disparei contra eles. Dois ficaram feridos, é mesmo provável que um deles tenha morrido. Consegui escapar com grande dose de sorte.
— É prodigioso. E como é que esses bandidos o descobriram?
— Não sei.
— Está convencido de que eram ladrões de gado?
— Não o posso afirmar, pois não levavam gado, nem estavam nas proximidades de qualquer rancho. Carroll mirou o seu interlocutor e fez estalar os nós dos dedos.
—Pode ser que alguém o tenha visto sair da povoação, seguiu-o e quando já estava no campo tentou matá-lo.
— É possível que fosse assim — concordou David. —É uma explicação muito lógica.
O xerife levantou-se, agarrou num copo, encheu-o e bebeu um bom trago.
— Estou desanimado, Wallace. Não sei que fazer. Esses bandidos aparecem como que por artes mágicas. Trata-se duma tarefa superior às minhas forças e estou tentado a apresentar a minha demissão.
— O senhor não tem culpa do que acontece. Os culpados são os rancheiros; devem unir-se e dar batalha aos ladrões de gado.
Levantou-se e apontou o prospeto que o atraía.
— C!em Gainer é um homem muito interessante!
— Ora! — exclamou Carroll, depreciativo. — Esse bandido não me interessa absolutamente nada. Ninguém sabe do seu paradeiro.
— Isso é que me agradava saber —contestou David.
O xerife olhou-o, surpreendido pelo tom enigmático com que o seu interlocutor pronunciava aquelas palavras. Reagiu, depois, ao responder à despedida de David.
— Até amanhã, Wallace.
David andou lentamente pelas ruas solitárias e escuras da povoação. Caminhava pelo centro da calçada, o olhar alerta e o braço pronto para entrar em ação. De forma alguma queria ser apanhado desprevenido, se sofresse outro ataque dos seus inimigos. Sabia-os capazes de hostilizá-lo sem descanso, até vê-lo estendido, trespassado o corpo por meia dúzia de balas.
A porta da pensão estava aberta. Mac Gregor devia estar a dormir, ninguém vigiava a entrada e saída dos hóspedes de noite e podia muito bem entrar um estranho. Isto representava para ele um autêntico perigo.
Entrou no seu quarto com cautela, certificando-se de que estava tudo em ordem. Depois, fechou a porta, colocando uma cadeira contra ela.
Realizou a mesma operação com a janela. Para poder penetrar por ela, seria necessário partir o vidro e o ruído produzido despertá-lo-ia.
Verificou, com satisfação, que Mac Gregor não se esquecera do mudar o vidro que se tinha partido. Colocou o revólver debaixo da almofada e deitou-se. Pouco depois dormia profundamente, convencido que despertaria ao mais pequeno ruído.
Art Kearney estava furioso. Perante ele encontrava-se Andrew Strond, cujo aspeto aborrecido demonstrava que recebera uma terrível desilusão.
— Não posso compreender como o deixaram escapar. Seis homens à espreita e ele foge tranquilamente, depois de matar um e deixar outro ferido. O teu relato não me convence.
— Não posso explicar como aconteceu. Foi tudo muito rápido.
—Explica-te com clareza.
— Ao ouvir que Wallace se aproximava, dispusemo-nos a cair sobre ele, mas ouviu-se um tiro e Leangly caiu morto. Rapidamente, dei as ordens necessárias para cercá-lo, mas o maldito, em lugar de retroceder, continuou a galopar em frente, tornou a disparar e feriu Stuart. A escuridão impediu-nos de o perseguir e matar.
— De facto, é muito rápido e temível. É seu hábito fazer o que menos se espera; mas asseguro-te que na próxima ocasião cairá e não conseguirá escapar.
A cara de Strond contraiu-se num gesto de raiva. A cicatriz que lhe desfigurava o rosto ainda lhe dava um aspeto mais horrendo.
— Quero ser eu a matá-lo. Desejo cuspir sobre o seu cadáver.
— Não te esqueceu a tareia que apanhaste?
— Não. Se soubesse como era perigoso, teria empunhado o revólver.
— Não o terias vencido; é diabolicamente rápido. Eu também não me esqueço de quando me destroçou o revólver; foi a maior humilhação que sofri — Kearney sorriu de maneira
sinistra. — Mas também praticou o maior equívoco da sua vida.
— Hei-me matá-lo! — afirmou Strond, erguendo-se.
—É muito possível que ele te dê uma oportunidade para isso.
—Podes acreditar, Kearney, que não desejo outra coisa.
— Não podemos perdê-lo de vista; é muito perigoso. Quando me informaram da sua chegada, não lhe dei importância de maior. Que perigo podia representar para nós, um simples advogado? Enganou-nos ao apresentar-se como um vulgar vaqueiro. Somente o adivinhei ao enfrentá-lo, e, que me dispus a matá-lo, não o consegui.
— Não voltará a Topeka.
— Podes dar isso por certo — aquiesceu Art Kearney, cujos olhos brilharam, sinistros. — É um bom cavaleiro, galopa à vontade na escuridão da noite e não foi possível agarrá-lo. E a sua pontaria é terrível.
— Não te enganes, Kearney — aconselhou o «pistoleiro», furioso.
— Embora o quisesse, não poderia. Estou nas mesmas condições que tu. Continuaram conversando durante mais de meia hora, bebendo «whisky» em abundância.
Os dois bandidos não pararam de lançar ameaças contra David Murray. Cada um queria ter o prazer de o matar e gozava, antecipadamente, como contemplasse já o seu cadáver.
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