David bebeu outro gole de «whisky» e afastou-se do balcão, que se achava repleto de vaqueiros. Andou pelas mesas em atitude distraída, mas na realidade não lhe escapava nada do que passava à sua volta. Fixou o olhar na cantora muito pintada que atuava no pequeno palco. Ele procurava uma mulher muito mais bela, a estrela do «saloon», e esta era Perla Day.
Ficou olhando como jogavam o «poker». Em Topeka, entre as suas amizades, David Murray tinha fama de ser um bom jogador, e do seu olhar perspicaz não lhe escapou a presença de vários jogadores profissionais.
Se já não o soubesse, este detalhe ter-lhe-ia indicado que Bristol era uma povoação próspera, de contrário, aquelas aves de rapina não estariam ali. O tempo não lhe sobrava, tinha que actuar com rapidez, pois a data para o novo julgamento contra Jimmy Derek aproximava-se com mais celeridade do que desejava. E achava-se como três dias antes: sem o menor indício que o conduzisse à descoberta do verdadeiro assassino.
Viu uma mulher bonita e encaminhou-se para ela. À medida que se aproximava, começou a duvidar que fosse Perla Day; tratava-se de uma artista vulgar, talvez mais formosa que a maioria, mas não acreditava que fosse capaz de fazer perder a cabeça a um rapaz como Jimmy Derek.
Naquele momento deteve-se. Uma jovem descia pela escadaria principal. Os seus cabelos negros penteados com graça estavam seguros por um artístico diadema e as suas feições eram perfeitas, enaltecendo uns olhos maravilhosamente belos e uns lábios rubros como morangos. Não teve nenhuma dúvida; achava-se perante Perla Day.
Aquela mulher era não só capaz de enlouquecer um jovem inexperiente como Jimmy, como até o homem mais sensato. Viu como numerosos olhares se fixavam cobiçosos na artista, porém, ela, sem fazer caso da admiração que despertava, dirigiu-se para uma mesa ocupada por dois homens, um deles vestido com presunçosa elegância; o seu rosto delgado indicava uma grande decisão, enquanto o seu companheiro vestia como um vulgar vaqueiro, e a sua face direita estava marcada por uma cicatriz, que lhe dava um aspeto sinistro.
Perla Day não chegou até à mesa ocupada pelos dois homens. Um vaqueiro alto e esbelto impediu-lho, ao deter--se perante ela. O importuno tirou o chapéu e inclinou-se ligeiramente.
—Estou admirado, senhora, com tanta beleza.
— Obrigado, vaqueiro — respondeu Perla, sorrindo, gratamente impressionada pela atitude de David. E tentou seguir o seu caminho, mas o jovem permaneceu firme. — Faça o favor de deixar-me passar —disse, franzindo o rosto.
— Para que quer ir para a frente, encantadora beldade?
— Não se torne bruto, vaqueiro.
— De nenhuma maneira, desejo somente oferecer-lhe um refresco.
— Um refresco? — exclamou Perla, desdenhosa. —O senhor é muito atrevido.
— Lamento não poder oferecer-lhe champanhe, mas as minhas posses não mo permitem fazer, mas gostará da minha companhia. Aviso-a que sou um bom parceiro, falador e divertido.
— Acredito, mas a sua encantadora companhia não me seduz — respondeu a artista, com ironia.
— Acha-se equivocada — e David enlaçou o braço da artista com audácia -- pois vou-lhe demonstrar o contrário.
Perla livrou-se, sorrindo. Não se achava aborrecida na verdade. O vaqueiro era atrevido, mas bastante simpático.
—Procure outra companhia, vaqueiro, há muitas raparigas bonitas no «saloon».
— Nenhuma se pode comparar com a senhora.
— O senhor é muito teimoso.
— Sim, e consigo sempre levar a melhor.
— Nesta ocasião está enganado.
— Não o creio, estou convencido de...
— Perla, este vaqueiro está a incomodá-la?
— Oh, não! — apressou-se a artista a replicar. — Este vaqueiro...
—Convidei-a a tomar um refresco. A senhora fez-me a honra de o aceitar •— interrompeu-a David, com descaramento.
Perla ficou estupefacta com semelhante ousadia, enquanto o homem, alto e delgado, o fitava com manifesto rancor. Sacudiu com um gesto maquinal um hipotético grão de pô da sua jaqueta.
—O senhor é muito espirituoso, vaqueiro.
— Eu? De maneira nenhuma, nunca falei mais seriamente.
— Basta! — disse Art Kearney, furioso. —Estou farto da sua presença. Fora daqui!
— Acaso me está desafiando? — inquiriu David, com frieza.
—Naturalmente. Strond, encarrega-te dele.
O vaqueiro da cicatriz deu dois passos para o jovem. Sorria cruelmente, como se gozasse antecipadamente a luta que se avizinhava, embora tudo se reduzisse a dar um par de golpes ao seu adversário.
— Necessita empregar o seu esbirro? Você é muito cauteloso.
— Cale-se, insolente! — exclamou Strond, brutal. —Vou corrê-lo do «saloon» a pontapés!
—Tem a certeza de que o consegue?
Andrew Strond lançou uma gargalhada e atirou um forte golpe ao jovem. Este apenas teve tempo de afastar-se um pouco para livrar-se da agressão. O punho de Strond alcançou-lhe um ombro, fazendo-o cambalear. O corpulento indivíduo soltou um rugido de triunfo e arrojou-se sobre ele, decidido a derrubá-lo com novos golpes. Não obstante, deixou escapar uma surda imprecação ao receber um violento soco em pleno rosto, que o fez vacilar.
Completamente dominado pela ira, lançou-se contra David, porém o jovem conteve-o com uni seco golpe da esquerda, que deixou o seu inimigo desorientado.
—Continua julgando ser tão fácil correr-me a pontapés do «saloon»? — inquiriu, rindo.
Numerosos espectadores presenciavam surpreendidos a luta. Andrew Strond era sobejamente conhecido pela sua brutalidade, e um desconhecido acabava de pô-lo em dificuldades. Os mais surpreendidos eram Art Kearney e Perla Day. O primeiro não compreendia como o seu capataz não conseguia desfazer-se do seu adversário, enquanto a bela cantora olhava assombrada a arrogante figura de David. Teve medo pelo jovem: não a desgostou a sua pessoa, apesar da sua insolência, e até punha em dificuldades o temível Andrew Strond.
— Maldito vaqueiro! — exclamou o capataz, raivoso.
E lançou-se de novo sobre o seu adversário. David tornou a recebê-lo com dois rápidos golpes da esquerda, que voltaram a desconcertar Strond. Mas desta vez não se limitou a esquivar-se dele, avançou golpeando com ambas as mãos.
O castigo foi demolidor. Strond dava a impressão de um navio sacudido por uma violenta tempestade, mantendo-se de pé por um prodígio de energia. Strond retrocedeu, sacudindo a cabeça, aturdido. O seu olhar nublado por uma cortina de sangue poisou-se na agressiva figura de David, e compreendeu que não podia resistir ao terrível ataque deste.
Cego pela raiva, a sua mão direita ia a empunhar o revólver, mas o seu adversário pressentiu o gesto e com um seco golpe no braço, obrigou-o a soltar a arma. O punho esquerdo de Strond golpeou o rosto de David. O jovem encaixou o soco sem pestanejar, e a sua direita fulminou a mandíbula do seu oponente e Andrew Strond caiu inanimado no solo.
Grandes aplausos acolheram a vitória de David. O jovem voltou-se para Art Kearney.
— O seu companheiro está fora do combate. Julga-se capaz de escorraçar-me do «saloon»?
Todos os murmúrios cessaram ao ouvir-se a voz fria de Art Kearney.
— A soco não sei, porém com uma bala dentro do corpo, sim.
David continuou frente a ele, e o seu aspeto mantinha-se tranquilo. Todas as pessoas que os rodeavam apressaram-se a afastar, ficando os dois homens frente a frente.
Perla, angustiada, retrocedeu, refletindo-se nos seus olhos o horror que lhe produzia aquele desafio à morte. O forasteiro tinha conseguido vencer Strond, dando mostras da potência dos seus punhos e da sua extraordinária mistura de calma e agressividade. A maioria duvidava de que pudesse vencer nesta luta, pois frente a ele achava-se Art Kearney, o mais poderoso rancheiro da região e o mais rápido e certeiro atirador da cidade de Bristol.
Kearney esboçou um sorriso, a sua mão direita ligeiramente encolhida achava-se prestes a apanhar a coronha do seu «Colt» e disparar. Já tinha escolhido o lugar onde alojaria o projétil: entre os dois olhos, a morte do insolente vaqueiro seria fulminante. Puxou o revólver, porém não lhe foi possível apertar o gatilho. Acabava de soar um tiro e deixou escapar uma maldição, ao notar uma brusca sacudidela na mão que empunhava a arma. Olhou surpreendido para o seu destroçado «Colt», e o mais extraordinário é que a sua mão não tinha sofrido a mais ligeira ferida. Não compreendia como o seu inimigo tinha conseguido antecipar-se, pois fora o primeiro a iniciar o movimento de puxar a arma.
— Que lhe parece? — perguntou David, sorrindo.
— É incrível! —Kearney não pôde conter esta exclamação. Achava-se furioso.
Aquele vaqueiro, em escassos minutos, conseguira derrotar Strond e pô-lo a ele em ridículo. O seu rosto estava lívido, não sabia como resolver o problema. Um homem de mediana estatura, corpulento e de enérgico semblante, adiantou-se para David.
— Olá, xerife! — exclamou este, ao distinguir a estrela sobre a camisa.
— Porque disparou, forasteiro? — inquiriu o xerife, olhando com atenção à sua volta. —Por que razão este vaqueiro o agrediu, senhor Kearney?
— Foi uma simples brincadeira — respondeu o rancheiro.
— Não me agrada isto — e o xerife sacudiu a cabeça, ao mesmo tempo que o seu olhar se fixou na aturdida figura de Strond, que com a ajuda de dois amigos conseguia pôr-se de pé. — Porque bateu em Andrew Strond?
—Tudo provém da mesma brincadeira, xerife. Esse homem afirmou que me correria do «saloon» a pontapés. Quando o intentou, dei-lhe uma lição —contestou David, com tranquilidade. — Depois, o senhor Kearney assegurou que me meteria um quilo de chumbo no corpo... limitei-me a destroçar-lhe o revólver.
— O senhor é um valentão! — acusou o xerife. — Engana-se, pois de contrário teria morto o senhor Kearney.
— O melhor é ir para casa, acho eu. — Não me agrada ir dormir tão cedo, mas se o senhor manda...
David inclinou-se ligeiramente e saiu, enquanto Kearney o seguia com um olhar cheio de ódio. O xerife levantou as mãos.
— Podem continuar a divertir-se, meus senhores. Não há nenhuma vítima a lamentar.
— Ainda bem, xerife — disse Kearney, em voz alta.
Perla Day achava-se a seu lado, enquanto Strond se sentava discretamente a um canto, em frente dum copo de «whisky». Um ódio intenso se tinha apoderado dele contra o jovem vaqueiro, que o tinha vencido de forma tão rotunda e inesperada.
— Não sei como se passou isto — disse Kearney. como se tratasse de desculpar-se —esse vaqueiro apanhou-me desprevenido.
Perla não o contrariou. Achava-se distraída com os seus pensamentos, e estes estavam concentrados no simpático e audaz forasteiro. Kearney pressentiu-o e mordeu os lábios, despeitado, prometendo a si mesmo eliminar aquele odioso vaqueiro.
David saiu do «saloon». Os seus pensamentos, apesar das vitórias conseguidas, não eram otimistas, pelo contrário, achava-se desgostoso. Agora já não era possível passar despercebido; todos o conheciam, pois, as proezas realizadas tinham causado a admiração de todos os frequentadores do «saloon».
Estava arrependido do seu procedimento, tinha-se portado como um insensato. Devia ter esperado momento mais propício para ir ao encontro da bela artista, porém ante a atitude insolente de Kearney não se tinha podido conter e fizera grande zaragata no «saloon». Encolheu os ombros.
Não podia confiar, pois os seus inimigos já deveriam saber quem ele era, e o perigo não era menor. A sua fotografia tinha aparecido nos jornais de Topeka e este detalhe não deveria ter escapado ao assassino de Taft, alarmado pela sua desaparição da cidade.
Deduziria facilmente que David estava em Bristol. Entrou noutro «saloon» de aparência mais modesta. Embora animado, não se achava tão cheio como o «Grand Saloon», de maneira que achou uma mesa vazia a um canto da sala. Bristol era uma cidade importante, tinha uma vida noturna bastante animada e era natural que um jovem como Jimmy Derek tivesse perdido a cabeça, sobretudo ao encontrar uma mulher tão bela como Perla Day. Deixou passar tempo, bebeu dois «whiskys» e fumou vários cigarros, até que saiu para a rua. Deixou-se ficar perto do «Grand Saloon», encoberto numa porta, espreitando quantos saíam.
O seu corpo ficou tenso ao ver sair Perla Day; acompanhava-a Art Kearney. Não se surpreendeu; já o esperava. O rancheiro deu-lhe a impressão de que estava apaixonado pela bela cantora e depois do ocorrido, era natural que a acompanhasse a casa.
Pôs-se a segui-los, fazendo com que os seus passos não soassem no silêncio da noite. A perseguição não foi longa, pois o hotel onde se alojava a jovem estava próximo do «saloon». David já esperava isto, por isso deixou avançar o par sem se aproximar.
Perla e Kearney detiveram-se à porta do hotel, conversaram ligeiramente e o rancheiro despediu-se apertando com afeto a mão da bela rapariga. Kearney afastou-se com lentidão, como se não tivesse pressa nenhuma, enquanto Perla entrava no hotel.
David pôs-se em ação e começou a andar resolutamente. Penetrou no amplo vestíbulo e sem hesitar dirigiu-se à escadaria. O porteiro olhou-o com estranheza, mas à vista da sua decisão, respondeu ao seu cumprimento, enquanto movia a cabeça desconcertado.
David percorreu o corredor do primeiro andar, até divisar uma porta, cuja parte inferior aparecia iluminada. Aproximou-se dela e bateu com suavidade. Ouviu uns passos precipitados no interior da habitação. Não tardou a abrir-se a porta, aparecendo a sugestiva figura da cantora. Estava sumariamente vestida, pois fora surpreendida pelas pancadas na porta quando se despia.
— O senhor! — exclamou, admirada.
— Naturalmente que sou eu
— Desapareça!
E intentou fechar a porta, porém David evitou-opondo um pé. Empurrou com suavidade, vencendo a resistência de Perla.
— Não entre! Se não se vai embora, gritarei.
— Não o fará, Perla. Somente desejo falar com a senhora.
— Falar comigo?
— Sim, trata-se dum assunto muito importante. Perla cessou a sua resistência, embora do seu rosto não tivesse desaparecido a expressão de desconfiança. David, senhor de si mesmo, com aquela segurança com que se tinha imposto à sua bela interlocutora, fechou a porta.
— Quer sentar-se? — convidou Perla, perturbada.
Sentia-se desorientada, não compreendendo aquela situação, o motivo pelo qual aquele desconhecido se encontrava no seu quarto. Temia que ele se lançasse sobre ela e a abraçasse com paixão, embora esse pensamento não lhe desagradasse de todo. O vaqueiro era excessivamente simpático.
— Agradeço-lhe imenso, «miss» Day.
— O senhor sabe o meu nome?
— Sei. A fama da sua beleza chegou muito longe. Sai da minha terra atraída por ela.
— O senhor está a troçar de mim... isso não é verdade.
— Em parte, é — afirmou David, com um vago movimento da mão direita. — Interessa-me falar consigo.
— De que assunto temos de falar? — perguntou Perla. — Por exemplo, de Jimmy Derek.
A cantora levou uma das mãos à garganta, enquanto no seu rosto se refletia o espanto. Olhou para David com desconfiança, unia vez refeita da surpresa que lho produziu o nome de Jimmy Derek.
— Não o compreendi bem, vaqueiro.
—Julgo que sim. Estou informado de que a senhora e Jimmy Derek foram bons amigos. Não é verdade?
—Jimmy era um excelente freguês do «Grand Saloon». A minha obrigação consistia em aceitar os seus convites, porém nada mais.
— Isso é verdade?
— Depende de si acreditar, o que me é indiferente.
— Acredito-a. Que opinião lhe merecia Jimmy?
—É um excelente rapaz. Mas, quem é o senhor?
— Pode chamar-me Wallace. O meu nome não tem importância.
— Bem... senhor Wallace...
A desconfiança da cantora era evidente. E estava também ligeiramente despeitada. O seu inesperado visitante não era um ardente admirador, mas sim um homem que levava um objetivo determinado.
—Julga que Jimmy Derek foi o assassino de James Taft?
— Não, não o creio — disse ela, espontaneamente.
—Então, porque não o declarou ao xerife?
—De que teria servido a minha declaração, perante as numerosas provas acumuladas contra ele?
— Compreendo-a... A senhora sabia que se procedesse dessa forma, ficava ameaçada de morte.
Perla mirava-o com os olhos desmedidamente. abertos. Naquele momento compreendeu a poderosa influência que o desconhecido exercia nela. Aquele homem não era um vulgar vaqueiro, mas sim um indivíduo hábil e inquiridor. Confirmou com um silencioso movimento de cabeça.
— A senhora poderia explicar-me muitas coisas que desconheço. De forma alguma a forçarei a fazê-lo; ser-lhe-ia muito fácil enganar-me.
— Não sei porque havia de fazê-lo.
— Pelo motivo que já lhe indiquei: o medo.
Perla ergueu a cabeça, olhando com firmeza para o jovem.
— Se puder contribuir de qualquer modo para salvar Jimmy Derek, fá-lo-ei. É um esplêndido rapaz e de forma alguma o julgo o assassino de Taft.
— Quem era James Taft?
— Um jogador hábil e ambicioso. Não tinha escrúpulos, considerava-se um excelente atirador, e para elo só existia uma religião: o dinheiro. Para consegui-lo era capaz de recorrer a todos os meios.
—Três mil dólares constituía uma soma importante para ele?
—Três mil dólares é uma soma importante para qualquer pessoa, mas não excessiva para Taft.
—Tinha Jimmy algum ressentimento contra ele?
— Não, nunca me fez nenhum comentário sobre ele.
—Taft tinha muitos inimigos?
—Sim, muitos. O seu procedimento era ignóbil.
—E para alguns deles era uma excelente oportunidade que Jimmy lhe devesse uma importante quantia, para o matarem com o revólver do jovem.
— Que está o senhor a dizer? — perguntou Perla, surpreendida.
— Vou revelar-lhe a minha verdadeira identidade, peço-lhe que não a diga a ninguém.
— Quem é o senhor? — perguntou a artista, sem poder reprimir a sua curiosidade.
—O meu nome é David Murray e...
—Então o senhor é o advogado que defende Jimmy! — interrompeu Perla, assombrada.
—Como o sabe?
— Li no jornal, senhor Murray. O seu nome foi muito falado em Bristol nos últimos dias. Juntamente lançaram-se muitas maldições contra o senhor, por haver entravado a ação dos jurados. Nunca o reconheceria... O senhor dá a sensação de ser um autêntico vaqueiro.
— Fui vaqueiro antes de alcançar a formatura. Isto talvez o justifique.
— E veio a Bristol para demonstrar a inocência de Jimmy?
—Naturalmente, só aqui o poderei conseguir.
—O senhor é muito valente, Murray.
—Nada disso, trato apenas de cumprir o meu dever. Agora quer fazer o favor de contar-me o que sabe?
--É muito pouco, na realidade. Há talvez três meses, Jimmy Derek começou a frequentar o «Grand Saloon». Antes disso, raramente aparecia, limitando-se a beber alguns copos com os seus amigos. Depois tornou-se diferente. Bebia maior quantidade de álcool e em algumas ocasiões chegou a embriagar-se. Para mim, era bastante simpático, desgostando-me bastante a sua atitude. Aceitei os seus convites; era meu dever fazê-lo. Compreende, não é verdade, Murray?
David assentiu com a cabeça, como para animá-la a continuar com o seu relato. Ela prosseguiu:
— Fiz o possível para que deixasse de beber. Ao princípio consegui, mas ao repelir as suas intenções amorosas foi pior. Voltou a beber e começou a jogar. Sempre costumava perder. Quando lhe verberava o seu procedimento, limitava-se a encolher os ombros. Tenho a impressão de que me odiava, e julgo ter sido a causa da sua desgraça.
— Não se atormente com essa ideia, Perla. A senhora não tem culpa do que aconteceu. A jovem pareceu aliviada ao ouvir as palavras do advogado.
— Nunca esquecerei a noite do crime. Jimmy bebeu muito e começou a jogar, e de tal maneira, até contrair uma dívida de três mil dólares a Taft. Este mostrava-se muito satisfeito, enquanto o rapaz continuava bebendo. Quando saiu do «saloon» estava completamente embriagado. No dia seguinte encontraram James Taft assassinado em casa. Isto é tudo o que sei. Na realidade, não podia fazer nada. O juiz e o xerife teriam encolhido os ombros. A minha declaração carecia de bases.
— De facto, assim é — reconheceu David. — Continua tudo na mesma. Com exceção de que a senhora também acredita na inocência de Jimmy.
— Sim, e farei tudo para o ajudar.
— Agradeço-lhe, Perla. Confio no seu silêncio. Quando tornar a ver-me não me cumprimente. E se descobrir alguma coisa importante, faça-mo saber por um hábil sinal, por exemplo... deixando cair o colar no chão, quando eu estiver perto.
— Está combinado, Murray.
— Obrigado, Perla. E não me chame Murray. O meu nome é David. Lutamos por uma causa justa e triunfaremos.
Apertou a mão da jovem e aproximou-se da janela, de forma que a sua silhueta não se refletisse nela. Não julgava que alguém estivesse à espreita, mas convinha adotar todas as precauções. Um erro, por ligeiro quo fosse, podia significar a sua morte.
— Apague a luz, Perla. Saltarei pela janela. É preferível que o porteiro não me veja sair.
A jovem fez o que ele lhe pedia. David, depois de pronunciar umas breves palavras de despedida, deslizou pela parede agilmente, não tardando a chegar ao solo. Perla aproximou-se da janela aberta, chegando a tempo de ver perder-se no escuro a figura de David Murray. Soltou um suspiro. David Murray não viveria muito tempo. O ambiente daquela terra não lhe seria propícia
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