Embora David receasse que alguém pudesse andar a espiá-lo, nunca acreditara na certeza desta suposição. Três homens estavam à sua espera no «saloon», vigiando a sua entrada. Deixou o cavalo na cavalariça e encaminhou-se para o «saloon». As horas que galopara sob um sol escaldante provocaram-lhe urna sede terrível, e nada melhor para extingui-la que uma boa caneca de cerveja.
Abriu a porta de guarda-vento, e com um golpe de vista observou os escassos clientes. A sua atenção foi atraída imediatamente pelos três homens que se apoiavam com aspeto descuidado ao balcão. Sem dar mostras da menor desconfiança, colocou-se muito perto deles e pediu ao «barman»:
— Um copo de cerveja!
Este apressou-se a servi-lo. Presenciara os potentes golpes assestados a Andrew Strond, que o pusera fora do combate, e a incrível habilidade e rapidez com que destroçara o revólver de Art Kearney; de nenhuma maneira queria incorrer no seu desagrado.
David, de um trago, esvaziou a metade do conteúdo do copo, acalmando a sede que o atormentava. Agora já se achava cm condições de responder à provocação daqueles «pistoleiros». Estes tinham-se enganado; deveriam tê-lo provocado quando entrara no «saloon».
— Muita sede, amigo? —perguntou-lhe um dos três «pistoleiros».
— Sim.
— A cerveja é um remédio eficaz.
—O mais prático que conheço — respondeu, jovial. —Convido-os a beber também.
— Obrigado, vaqueiro, estamos a beber «whisky».
Os olhos cruéis e penetrantes do «pistoleiro» observavam-no com atenção, e a sua mão fez um vago gesto.
— Eu e os meus amigos estamos aborrecidos, enquanto esperamos a hora de comer. Que lhe parece uma partida de «poker»?
— Os senhores são muito amáveis, mas eu sou um mau jogador. O jogo perderia o interesse.
— Não importa, é só para matar o tempo. Jogaremos com apostas pouco elevadas.
David compreendeu a intenção dos «pistoleiros»; estes fariam batota à descarada e quando os acusasse, apressar-se-iam a disparar contra ele, sem lhe dar tempo defender-se. A sua morte seria legal; dever-se-ia a uma discussão de jogo.
O jovem sorriu, levantando as mãos à altura dos ombros.
— Agradeço o convite, porém não aceito.
— Está a insinuar que não se fia em nós? — perguntou o «pistoleiro» com fúria.
— Não disse semelhante coisa — retorquiu David voltando a sorrir, e deixando cair os braços ao longo do corpo. — Como posso duvidar duns cavalheiros tão amáveis e distintos como os senhores?
— Não troce de nós! — disse outro dos «pistoleiros».
A atitude destes era francamente ameaçadora, parecendo dispostos a empunhar os seus revólveres e disparar contra o vaqueiro. Ele permanecia sereno, quase indiferente, enquanto o «barman» se achava disposto a deixar-se cair no solo, para não ser alcançado pelos tiros.
— Não troço dos senhores — respondeu David, com firmeza. — Somente disse que não desejo jogar ao «poker».
— As suas palavras foram uma ofensa para nós. Lamento-o, estou disposto a pagar-lhes uma rodada de «whisky». De nenhuma maneira quero que tenham uma má opinião de mim.
— Não queremos beber. Acaso julga que não temos dinheiro?
— Não pensei nisso, senhores.
Um dos «pistoleiros» deu uns passos para a esquerda, porém a voz de David deteve-o:
— Não se mexa! Se der outro passo, mato-o.
O pistoleiro olhou-o surpreendido, e a seu pesar estremeceu e o seu rosto ficou pálido, sem saber que responder. O que se encontrava frente a David é que perguntou:
— Que disse o senhor? — Ouviram perfeitamente. Estou farto de aturá-los, são uns cobardes! Podem disparar quando quiserem.
Estas palavras pronunciadas com firmeza acabaram de desconcertar os «pistoleiros», que se olharam entre si, surpreendidos. David estava em frente deles, desafiando-os com o olhar, sem mostrar o menor temor. Isto não esperavam aqueles bandidos, e era o que os desconcertava mais. O «barman» deslizou até ficar fora do raio de ação das balas que não tardariam a cruzar o espaço, disposto a não perder o mínimo detalhe da luta. Também os escassos clientes, surpreendidos pelo inesperado incidente, se mantinham a prudente distância.
David lançou uma risada trocista.
— Não se atrevem a disparar? — perguntou.
— Grande malandro! — vociferou o «pistoleiro», movendo o braço com toda a rapidez de que foi capaz.
Foi imitado pelos seus companheiros. O «barman» presenciou estupefacto como David Murray se lhes adiantou com pasmosa rapidez. Dois «pistoleiros» foram atingidos sem ter conseguido apertar o gatilho dos seus revólveres; o outro pôde fazê-lo, mas já estava morto quando caiu, ao ser atingido com um tiro no coração.
O jovem permaneceu imóvel, contemplando impassível os três cadáveres, que jaziam em grotesca atitude. O seu rosto não revelava nenhuma emoção. Os espectadores permaneciam surpreendidos.
O «barman» movia a cabeça, como se não acreditasse no que acabara de ver. A sangrenta e fulminante vitória do forasteiro superava em muito o que fizera na noite anterior. Levando em conta isso, o «barman» esperava vê-lo cair, disparando e derrubando um dos seus inimigos, o máximo dois, porém vencê-los com tão aparente facilidade, afigurava-se-lhe qualquer coisa de extraordinário.
— Os senhores viram como esses homens me provocaram —disse David, em voz alta e clara.
Nesse momento abriu-se a porta e vários homens entraram no «saloon», atraídos pelos tiros. Detiveram-se surpreendidos ao ver os três «pistoleiros» rodeados dum charco de sangue, e olharam a tranquila figura de David.
Este, todavia, sustinha o revólver, cujo cano fumegava de forma sinistra. O xerife adiantou-se. O seu penetrante olhar foi dos cadáveres a David. Como se não compreendesse o que acontecia. Avançou resoluto para o jovem.
— Isto é demasiado, forasteiro.
— Já lhe disse que sei defender-me.
— Que quer dizer?
— Esses homens provocaram-me, obrigando-me a puxar do revólver. Tratei de evitá-lo, mas não me foi possível; tinham combinado matar-me.
— Que motivo alegaram?
— Motivo? Convidaram-me a jogar o «poker», e como neguei, irritaram-se, fingindo crer que desconfiava deles, significando que os acusava de batoteiros. Expliquei que não era esse o motivo, porém puseram-se tão obstinados que não hesitei em fazer-lhes frente. O resultado está à vista.
— Não é possível. O senhor não podia vencê-los! Eram bons atiradores e muito rápidos.
— Nunca minto, xerife. Venci-os frente a frente; os presentes foram testemunhas.
O xerife olhou para o «barman». Este concordou com um gesto. — Não teve nenhuma vantagem; pelo contrário, Norton atirou primeiro. Tudo se passou como ele disse.
David guardou o revólver. Olhou para o xerife, sorrindo.
— Está convencido, xerife?
— Sim, mas também de que a sua presença é um perigo.
— Não provoco pessoa alguma, limito-me a defender-me. Ainda não fui afastado de nenhuma povoação. Provavelmente ir-me-ei embora dentro de três ou quatro dias. Julgo que não se oponha, xerife.
— Não, não, só o aviso para seu bem. Esses homens eram indesejáveis e não tenho de lamentar a sua morte.
David aproximou-se do balcão e acabou de beber a cerveja. Pagou, e depois acercou-se do xerife que examinava as feridas mortais nos cadáveres.
— Boa pontaria, forasteiro.
— Desde pequeno que sei disparar. Chamo-me Wallace.
— É o seu verdadeiro. nome? — perguntou o xerife, olhando-o fixamente.
— Pode ser, mas não tem importância. Prefiro que me chame Wallace em vez de forasteiro.
— De acordo, Wallace — concordou o xerife, sorrindo.
— Suponho que esses homens deixaram dinheiro para pagar o enterro; se não for assim, eu pago.
— Se estes homens não tiverem dinheiro, não se preocupe com a despesa do enterro, Wallace. Tratarei disso pessoalmente.
David inclinou a cabeça e saiu do «saloon». Os homens afastaram-se rapidamente para o deixar passar, olhando-o com admiração. Aquele vaqueiro tinha conseguido sensacionais proezas durante a sua curta permanência em Bristol.
Já não podia ter nenhuma dúvida de que a sua verdadeira identidade era conhecida pelo assassino de Taft. Este preparar-se-ia para cair sobre ele de improviso, no caso talvez de ser o próprio Kearney, cuja probabilidade julgava muito acertada. A não ser assim, teria dois poderosos inimigos aumentando as suas dificuldades.
62 —
Abriu a porta de guarda-vento, e com um golpe de vista observou os escassos clientes. A sua atenção foi atraída imediatamente pelos três homens que se apoiavam com aspeto descuidado ao balcão. Sem dar mostras da menor desconfiança, colocou-se muito perto deles e pediu ao «barman»:
— Um copo de cerveja!
Este apressou-se a servi-lo. Presenciara os potentes golpes assestados a Andrew Strond, que o pusera fora do combate, e a incrível habilidade e rapidez com que destroçara o revólver de Art Kearney; de nenhuma maneira queria incorrer no seu desagrado.
David, de um trago, esvaziou a metade do conteúdo do copo, acalmando a sede que o atormentava. Agora já se achava cm condições de responder à provocação daqueles «pistoleiros». Estes tinham-se enganado; deveriam tê-lo provocado quando entrara no «saloon».
— Muita sede, amigo? —perguntou-lhe um dos três «pistoleiros».
— Sim.
— A cerveja é um remédio eficaz.
—O mais prático que conheço — respondeu, jovial. —Convido-os a beber também.
— Obrigado, vaqueiro, estamos a beber «whisky».
Os olhos cruéis e penetrantes do «pistoleiro» observavam-no com atenção, e a sua mão fez um vago gesto.
— Eu e os meus amigos estamos aborrecidos, enquanto esperamos a hora de comer. Que lhe parece uma partida de «poker»?
— Os senhores são muito amáveis, mas eu sou um mau jogador. O jogo perderia o interesse.
— Não importa, é só para matar o tempo. Jogaremos com apostas pouco elevadas.
David compreendeu a intenção dos «pistoleiros»; estes fariam batota à descarada e quando os acusasse, apressar-se-iam a disparar contra ele, sem lhe dar tempo defender-se. A sua morte seria legal; dever-se-ia a uma discussão de jogo.
O jovem sorriu, levantando as mãos à altura dos ombros.
— Agradeço o convite, porém não aceito.
— Está a insinuar que não se fia em nós? — perguntou o «pistoleiro» com fúria.
— Não disse semelhante coisa — retorquiu David voltando a sorrir, e deixando cair os braços ao longo do corpo. — Como posso duvidar duns cavalheiros tão amáveis e distintos como os senhores?
— Não troce de nós! — disse outro dos «pistoleiros».
A atitude destes era francamente ameaçadora, parecendo dispostos a empunhar os seus revólveres e disparar contra o vaqueiro. Ele permanecia sereno, quase indiferente, enquanto o «barman» se achava disposto a deixar-se cair no solo, para não ser alcançado pelos tiros.
— Não troço dos senhores — respondeu David, com firmeza. — Somente disse que não desejo jogar ao «poker».
— As suas palavras foram uma ofensa para nós. Lamento-o, estou disposto a pagar-lhes uma rodada de «whisky». De nenhuma maneira quero que tenham uma má opinião de mim.
— Não queremos beber. Acaso julga que não temos dinheiro?
— Não pensei nisso, senhores.
Um dos «pistoleiros» deu uns passos para a esquerda, porém a voz de David deteve-o:
— Não se mexa! Se der outro passo, mato-o.
O pistoleiro olhou-o surpreendido, e a seu pesar estremeceu e o seu rosto ficou pálido, sem saber que responder. O que se encontrava frente a David é que perguntou:
— Que disse o senhor? — Ouviram perfeitamente. Estou farto de aturá-los, são uns cobardes! Podem disparar quando quiserem.
Estas palavras pronunciadas com firmeza acabaram de desconcertar os «pistoleiros», que se olharam entre si, surpreendidos. David estava em frente deles, desafiando-os com o olhar, sem mostrar o menor temor. Isto não esperavam aqueles bandidos, e era o que os desconcertava mais. O «barman» deslizou até ficar fora do raio de ação das balas que não tardariam a cruzar o espaço, disposto a não perder o mínimo detalhe da luta. Também os escassos clientes, surpreendidos pelo inesperado incidente, se mantinham a prudente distância.
David lançou uma risada trocista.
— Não se atrevem a disparar? — perguntou.
— Grande malandro! — vociferou o «pistoleiro», movendo o braço com toda a rapidez de que foi capaz.
Foi imitado pelos seus companheiros. O «barman» presenciou estupefacto como David Murray se lhes adiantou com pasmosa rapidez. Dois «pistoleiros» foram atingidos sem ter conseguido apertar o gatilho dos seus revólveres; o outro pôde fazê-lo, mas já estava morto quando caiu, ao ser atingido com um tiro no coração.
O jovem permaneceu imóvel, contemplando impassível os três cadáveres, que jaziam em grotesca atitude. O seu rosto não revelava nenhuma emoção. Os espectadores permaneciam surpreendidos.
O «barman» movia a cabeça, como se não acreditasse no que acabara de ver. A sangrenta e fulminante vitória do forasteiro superava em muito o que fizera na noite anterior. Levando em conta isso, o «barman» esperava vê-lo cair, disparando e derrubando um dos seus inimigos, o máximo dois, porém vencê-los com tão aparente facilidade, afigurava-se-lhe qualquer coisa de extraordinário.
— Os senhores viram como esses homens me provocaram —disse David, em voz alta e clara.
Nesse momento abriu-se a porta e vários homens entraram no «saloon», atraídos pelos tiros. Detiveram-se surpreendidos ao ver os três «pistoleiros» rodeados dum charco de sangue, e olharam a tranquila figura de David.
Este, todavia, sustinha o revólver, cujo cano fumegava de forma sinistra. O xerife adiantou-se. O seu penetrante olhar foi dos cadáveres a David. Como se não compreendesse o que acontecia. Avançou resoluto para o jovem.
— Isto é demasiado, forasteiro.
— Já lhe disse que sei defender-me.
— Que quer dizer?
— Esses homens provocaram-me, obrigando-me a puxar do revólver. Tratei de evitá-lo, mas não me foi possível; tinham combinado matar-me.
— Que motivo alegaram?
— Motivo? Convidaram-me a jogar o «poker», e como neguei, irritaram-se, fingindo crer que desconfiava deles, significando que os acusava de batoteiros. Expliquei que não era esse o motivo, porém puseram-se tão obstinados que não hesitei em fazer-lhes frente. O resultado está à vista.
— Não é possível. O senhor não podia vencê-los! Eram bons atiradores e muito rápidos.
— Nunca minto, xerife. Venci-os frente a frente; os presentes foram testemunhas.
O xerife olhou para o «barman». Este concordou com um gesto. — Não teve nenhuma vantagem; pelo contrário, Norton atirou primeiro. Tudo se passou como ele disse.
David guardou o revólver. Olhou para o xerife, sorrindo.
— Está convencido, xerife?
— Sim, mas também de que a sua presença é um perigo.
— Não provoco pessoa alguma, limito-me a defender-me. Ainda não fui afastado de nenhuma povoação. Provavelmente ir-me-ei embora dentro de três ou quatro dias. Julgo que não se oponha, xerife.
— Não, não, só o aviso para seu bem. Esses homens eram indesejáveis e não tenho de lamentar a sua morte.
David aproximou-se do balcão e acabou de beber a cerveja. Pagou, e depois acercou-se do xerife que examinava as feridas mortais nos cadáveres.
— Boa pontaria, forasteiro.
— Desde pequeno que sei disparar. Chamo-me Wallace.
— É o seu verdadeiro. nome? — perguntou o xerife, olhando-o fixamente.
— Pode ser, mas não tem importância. Prefiro que me chame Wallace em vez de forasteiro.
— De acordo, Wallace — concordou o xerife, sorrindo.
— Suponho que esses homens deixaram dinheiro para pagar o enterro; se não for assim, eu pago.
— Se estes homens não tiverem dinheiro, não se preocupe com a despesa do enterro, Wallace. Tratarei disso pessoalmente.
David inclinou a cabeça e saiu do «saloon». Os homens afastaram-se rapidamente para o deixar passar, olhando-o com admiração. Aquele vaqueiro tinha conseguido sensacionais proezas durante a sua curta permanência em Bristol.
Já não podia ter nenhuma dúvida de que a sua verdadeira identidade era conhecida pelo assassino de Taft. Este preparar-se-ia para cair sobre ele de improviso, no caso talvez de ser o próprio Kearney, cuja probabilidade julgava muito acertada. A não ser assim, teria dois poderosos inimigos aumentando as suas dificuldades.
62 —
Andava a passear um pouco despreocupado. De súbito, os seus nervos ficaram tensos. Passos aproximavam-se dele: eram firmes e vinham ao seu encontro. Uma pesada mão poisou no seu ombro.
— Alegro-me imenso de o tornar a ver, Wallace. Antes de se voltar ele já tinha reconhecido a voz do xerife.
— Eu também, xerife.
— O senhor possui grandes qualidades: é forte, valente e dispara como um demónio. Um homem como o senhor é que me faz falta. Posso oferecer-lhe um emprego. O ordenado não é grande, mas o senhor será uma grande ajuda para resolver esta maldita situação.
— Está a propor-me o cargo de comissário?
— Exato. Desta forma ficará protegido contra as manobras dos seus inimigos.
— Que quer dizer? Não julgo que me sirva de grande proteção a insígnia de comissário.
— Talvez. Esses ladrões de gado amargam-me a existência, são um horrível pesadelo. São audazes e conhecem a região como os seus dedos. Nunca conseguimos capturar nenhum membro dessa maldita quadrilha, desvanecem-se como por artes mágicas. E não se limitam a roubar o gado, como também disparam sobre os vaqueiros que encontram no caminho. São várias as vítimas que têm no seu ativo.
— São ligeiros e sanguinários, esses bandidos — comentou David.
— Sim, trata-se de uma terrível praga. Não sei como combatê-la.
— Não tenho experiência, xerife. Nunca lutei contra ladrões de gado.
— 63
—Isso não tem importância. Seria uma ajuda formidável para mim.
David ficou pensativo. O xerife observou-o e disse, sorrindo:
— O senhor poderá ir-se embora quando quiser. Nenhum contrato o ligará ao seu novo emprego; será provisório.
— Confia demasiado na minha pessoa, xerife.
— Assim é. Tenho a certeza que não se irá embora sem descobrir os ladrões de gado.
— Farei o possível para isso.
O xerife apertou com força a mão do jovem.
— Alegro-me bastante, Wallace. Nós os dois ferem grandes coisas.
— Esteja descansado que não o deixarei ficar mal. Faça o favor de me acompanhar ao escritório. Quero dar-lhe a nomeação.
—Tem medo que me arrependa?
— Não, somente quero ganhar tempo. Convido-o para almoçar.
— Não posso recusar o convite do meu superior.
Carroll começou a rir e com um gesto convidou David a segui-lo. Este obedeceu sem relutância. Tinha aceitado de forma impulsiva o oferecimento do xerife; na realidade, o seu novo emprego a nada o obrigava, podendo deixá-lo quando o julgasse oportuno.
Carroll tinha razão: a insígnia da Lei protegê-lo-ia e ajudá-lo-ia a realizar os seus negócios, permitindo-lhe também conhecer de mais perto o xerife. Se este fosse um homem honrado poderia falar-lhe com franqueza e encontrar nele um excelente colaborador. Tudo isto poderia facilitar a sua tarefa. No caso de que Carroll estivesse de acordo com Kearney, não perdia nada. Ficava tudo na mesma.
Chegaram ao escritório. O xerife apresentou-lhe o comissário que se encontrava nele.
— Tommy, apresento-te Wallace, um novo companheiro.
E colocou-lhe a estrela ao peito, ante a perplexidade de Tommy.
David examinou com atenção os prospetos e os três cartazes que cobriam uma pequena vitrine. Nestes pedia--se a captura de três famosos bandidos, oferecendo-se uma recompensa a quem os apanhasse. Voltou-se para o xerife e disse:
— O chefe dos ladrões de gado não pode ser um destes bandidos?
— Não o creio. Big Paterson acha-se no Arizona, segundo as últimas notícias recebidas. Roger Kimball foi ferido há uns dois meses, e quanto a Clem Gainer, há muito tempo que não se sabe dele. Ninguém conseguiu dar notícias a seu respeito; trata-se duma incógnita. Os seus golpes eram audazes e calculados, nenhum xerife conseguiu apanhá-lo.
David examinou com atenção as fotografias de Pater-son e Kimball; o primeiro era alto e delgado, a expressão do seu rosto indicava decisão e crueldade. O segundo era muito corpulento, a sua maciça cabeça descansava sobre um vigoroso e curto pescoço, o seu rosto coberto de barba indicava brutalidade. O cartaz de Clem Gainer não tinha fotografia, nem indícios que pudessem identificá-lo.
— Se Paterson se encontra no Arizona e Kimball talvez já morto, o mais provável é que seja Gainer o chefe da quadrilha dos bandidos.
— Não é possível. Há uns poucos de anos que não se sabe coisa alguma desse patife.
— Precisamente por isso é o mais suspeito. Por não ser conhecido pode passar perfeitamente por um honrado vaqueiro, ou pelo menos por um vulgar vaqueiro.
Carroll deu uma palmada na fronte, enquanto o comissário observava David com a boca aberta pelo assombro.
—É verdade. É muito provável até que Kearney seja o próprio Clem Gainer.
David levantou a mão com vivacidade.
— Um momento, xerife, eu não disse tanto.
— Eu sei, porém, trata-se duma possibilidade. É necessário descobri-lo e exterminar todos os bandidos, Wallace.
O xerife estava entusiasmado ante a possibilidade do uma luta aberta, capaz já de perseguir uns inimigos que se esfumavam como se fossem fantasmas. Sentou-se, agarrou numa caneta e num papel timbrado e escreveu com letras grandes e claras a notificação do Wallace como comissário, mas depois deteve-se, olhando interrogativamente para o jovem. Este sorriu e disse:
—Escreva Smith.
— Muito bem; o novo comissário Wallace Smith.
— Às suas ordens, xerife — respondeu David, perfilando-se.
—Belo, agora vamos comer. Até logo, Tommy.
O comissário não respondeu. Continuou olhando aturdido a porta, surpreendido pela rápida e inesperada cena. Com o forasteiro, já eram três os comissários. Significava um considerável reforço, mas na realidade insuficiente para combater contra os audazes ladrões de gado.
Carroll mostrava-se cordial e efusivo. Desaparecida sua reserva, falava sem cessar, embora em voz baixa, planeando projetos de ataque.
—Estava fazendo muita falta um homem decidido como o senhor.
Todos os transeuntes que cruzavam com eles olhavam surpreendidos a estrela que brilhava no peito de David e afastavam-se a cochichar. Os turbulentos e os «pistoleiros» franziam o cenho, preocupados. Após as exibições realizadas pelo forasteiro, não era animador saber que se encontrava ao lado da Lei; constituía um grave perigo para eles.
Quando David se separou do xerife, encaminhou-se para o seu alojamento, disposto a descansar. Despiu-se com rapidez e deitou-se. Os seus olhos estavam quase a fechar-se, quando ouviu um ruído que o fez pôr-se em pé dum salto. Um vidro da janela estava partido e dentro do quarto viu uma pedra envolta num papel. Apanhou-a com rapidez, ao mesmo tempo que ouvia chamar à porta. Abriu-a, achando-se perante Mac Gregor.
O irlandês olhava-o assustado.
— Aconteceu alguma coisa, Wallace?
David largou a pedra, desprovida do papel, que ocultava na mão esquerda.
— Partiram um vidro.
— Foi algum garoto, com certeza. Não se preocupe, esta tarde mando-o mudar.
— Obrigado, Mac Gregor.
— Não tem de quê. Estou satisfeito, pois não aconteceu nada de grave.
— Não vão começar a disparar continuamente sobre mim, Mac Gregor.
—Não sei, o senhor arranjou muitos inimigos.
— Mas agora sou um representante da Lei — e apontou a estrela que se divisava sobre a camisa caída em cima duma cadeira.
— Hum! — exclamou o irlandês. — Uma estrela não significa nada em Bristol, é até um cicate para ridicularizar a Lei.
E com um aceno de despedida saiu do quarto, fechando a porta. David desdobrou o papel e leu o seguinte: «Wallace, abandone o seu novo cargo e afaste-se quanto antes de Bristol. É um conselho do amigo X.»
O jovem sorriu. Não havia dúvida que a sua presença na povoação era pouco desejada. Não se atreviam a provocá-lo de frente e mandavam-lhe um bilhetinho anónimo desta maneira tentavam amedrontá-lo e fazer com que se fosse embora.
Voltou a deitar-se. Não havia dúvida de que o se cargo de comissário não era do agrado dos seus inimigos. Estes não se resignariam a tê-lo continuamente à sua frente e fariam outra tentativa para se livrar dele.
Os seus pensamentos vagueavam por muitos lados, mas neles aparecia sempre a imagem de Nancy Derek Quando as suas pálpebras se cerraram, continuava evocando a bela jovem, enquanto um leve sorriso entreabriu os seus lábios.
Saiu tarde da pensão. Foi ter com o xerife para lhe dizei que não queria ficar no escritório, de guarda; o s temperamento impulsivo impedia-lhe aceitar aquela disciplina. Carroll sorriu, dizendo-lhe que não se preocupava com aquele detalhe. Ele podia ficar onde quisesse, nomeado como homem de ação.
David despediu-se. Aproximava-se a hora da entrevista combinada com Harold Weeks. Não tardou em ver o capataz. Fez-lhe um sinal para que o seguisse e tomou o caminho da parte mais solitária da povoação.
Conhecia perfeitamente Bristol, pois tivera ocasião de a percorrer diversas vezes e fixara cuidadosamente as suas características. Deteve-se atrás dum muro; naquele lugar não podiam ser descobertos e notariam imediatamente se alguém se aproximasse. Quando Weeks se acercou, David reparou logo que ele se encontrava excitado.
— Que tem andado o senhor a fazer, Murray? Enlouqueceu?
— Não o entendo, Weeks. Tem arriscado a vida continuamente. Fiquei assombrado ao saber o que fez. Matou três «pistoleiros» e criou inimigos em Kearney e Strond. E prodigioso, mas excessivamente perigoso; esses homens matam-no.
— Até agora não o conseguiram.
—Como é possível o senhor ser tão rápida com o revólver?
—Já lhe disse que antes de ser advogado, fui vaqueiro.
— Como lhe surgiu a ideia de fazer-se comissário?
—O xerife propôs-mo esta manhã e eu aceitei.
— É fantástico! -- exclamou o capataz, assombrado.
— Que homem é o xerife Carroll? — perguntou David, de repente.
Weeks olhou-o surpreendido.
— Parece boa pessoa e cumpridor do seu dever. No que se refere aos ladrões de gado, necessita de meios para enfrentar esses bandidos. Há mais de dois anos que é xerife. Aos senhores também têm roubado gado?
—É o rancho mais castigado pelos ladrões. Trata-se do nosso pesadelo e Nancy sente-se bastante preocupada.
— Como está miss Derek?
Weeks tornou a olhá-lo com assombro.
— Muito animada, tem uma vontade de ferro e acha-se decidida a levar o rancho avante. Antes de Jimmy perder a cabeça, os dois irmãos entendiam-se muito bem. Suportou com grande coragem a absurda conduta do rapaz, seria ela que teria falado com o senhor em Topeka, se não tivesse torcido o pé. Esperta e decidida, como hoje, o comprovou por si mesmo, quando ela o descobriu e lhe apontou o revólver.
— Sim, sim, verifiquei isso. Fez-me passar um mau, bocado.
— Ela disse que o senhor permaneceu muito tranquilo.
— Naturalmente, depois de lhe ter dito a verdade, não a julguei capaz de disparar contra mim.
— Nancy não teria disparado, a menos que fosse atacada — respondeu o capataz, sorrindo.
—Eu não sabia isso, e um dos provérbios da minha profissão é desconfiar das mulheres.
— Não tem medo que o assassino de Taft descubra quem é o senhor?
— Não, e o mais provável é que ele já o saiba. Trata-se dum homem muito esperto e será muito difícil pode demonstrar a sua culpabilidade.
— Isso significa a morte de Jimmy.
— Sim, se fracassarmos, Jimmy Derek será condenado à morte.
— Deus meu! Isso não é possível, o rapaz está inocente, a pobre Nancy morreria de dor!
70 —
— Faremos tudo o que for humanamente possível para o evitar, Weeks.
— Estarei sempre à sua disposição. Não temo enfrentar a morte. Primeiro que tudo estão os meus garotos.
— Procuraremos triunfar. Porei nisso todo o meu empenho. Não é necessário dizê-lo, Murray. Não sei como poderemos pagar quanto tem feito.
— Não se preocupe com isso. No final apresentarei a minha fatura.
—Será necessário vender todo o rebanho para lhe poder pagar.
— Quase, quase — e David lançou uma gargalhada.
— Não se exponha muito, pois não quero ter na minha consciência o peso da sua morte.
— Só o necessário. Não sou um suicida, mas trata-se dum caso bastante difícil. Os nossos inimigos defender-se-ão com fúria e é muito provável que cenas semelhantes se sucedam com frequência.
— O senhor é muito valente. Combater contra três «pistoleiros» ...
— Não tinha outra alternativa. Aqueles homens estavam decididos a disparar contra mim. Sou rápido e experimentado com o «Colt» e não hesitei em fazer-lhes frente.
— Venceu-os com facilidade, segundo ouvi contar.
— Tive um pouco de sorte...
—Não foi isso que ouvi dizer. O senhor não se intimidou um só instante e até os provocou. Quando disparou contra Art Kearney destroçou-lhe o revólver sem lhe tocar na mão e Kearney é muito perigoso com o «Colt».
—Evite que miss Derek o saiba.
— Não é possível. Quando me contou a entrevista que teve com o senhor, tive que pô-la ao corrente de tudo. Não tinha outra solução. Pouco depois inteirei-me da ocorrência; Nancy ouviu ao mesmo tempo que eu.
—Julgará que sou um «pistoleiro» — comentou David, como se falasse consigo mesmo.
Weeks pestanejou, nervoso, ao ouvi-lo, e depois olhou fixamente o advogado e começou a rir.
— De que se ri? — perguntou David, desconfiado. Está a troçar de mim?
— De maneira nenhuma, rapaz! — respondeu o capataz, sem cessar de rir e dando uma palmada no ombro do jovem. — Preferia que me cortassem a mão direita.
— Então a que vem esse riso? — inquiriu David, com o cenho franzido.
— Não sei, talvez seja devido a um excesso de nervosismo. Ultimamente, tenho andado muito preocupado.
O seu interlocutor continuava olhando para ele, desconfiado.
—O senhor oculta-me qualquer coisa, Weeks.
— Absolutamente nada. Nancy, quando soube, disse que o senhor era um homem admirável e que jamais poderia pagar o que tem feito pelo irmão.
—Estou somente cumprindo o meu dever.
— Não creio que o seu dever consista em arriscar vida por um desconhecido.
—Jimmy Derek não é um desconhecido; trata-se de um inocente.
— Admiro-o bastante, Murray. Nancy é muito bonita, não é verdade?
—É linda.
O jovem mordeu os lábios ao fazer esta afirmação; acabava de descobrir o seu segredo. Agarrou o capataz por um ombro e este, apesar da sua corpulência, viu-se paralisado por aquela potente garra.
— Se o senhor disser alguma coisa a Nancy, matá-lo-ei.
— Não se preocupe. Nancy admira-o imenso e até me parece que o acha muito... simpático.
David largou-o. Permaneceu imóvel. O seu rosto estava contraído por uma expressão de espanto. Weeks afastou-se enquanto lhe fazia uma cordial saudação de despedida.
— Adeus rapaz, e tenha prudência.
Ao ficar sozinho, David foi-se tranquilizando, e um sorriso entreabriu os seus lábios. Harold insinuara que Nancy gostava dele. Isto não era possível, somente o tinha visto uma vez; porém, triunfou o seu ardor juvenil e a esperança apoderou-se dele, fazendo-o feliz. Agora já não temia enfrentar todos os «pistoleiros» que existiam em Bristol, convencido de que os venceria com facilidade.
— Alegro-me imenso de o tornar a ver, Wallace. Antes de se voltar ele já tinha reconhecido a voz do xerife.
— Eu também, xerife.
— O senhor possui grandes qualidades: é forte, valente e dispara como um demónio. Um homem como o senhor é que me faz falta. Posso oferecer-lhe um emprego. O ordenado não é grande, mas o senhor será uma grande ajuda para resolver esta maldita situação.
— Está a propor-me o cargo de comissário?
— Exato. Desta forma ficará protegido contra as manobras dos seus inimigos.
— Que quer dizer? Não julgo que me sirva de grande proteção a insígnia de comissário.
— Talvez. Esses ladrões de gado amargam-me a existência, são um horrível pesadelo. São audazes e conhecem a região como os seus dedos. Nunca conseguimos capturar nenhum membro dessa maldita quadrilha, desvanecem-se como por artes mágicas. E não se limitam a roubar o gado, como também disparam sobre os vaqueiros que encontram no caminho. São várias as vítimas que têm no seu ativo.
— São ligeiros e sanguinários, esses bandidos — comentou David.
— Sim, trata-se de uma terrível praga. Não sei como combatê-la.
— Não tenho experiência, xerife. Nunca lutei contra ladrões de gado.
— 63
—Isso não tem importância. Seria uma ajuda formidável para mim.
David ficou pensativo. O xerife observou-o e disse, sorrindo:
— O senhor poderá ir-se embora quando quiser. Nenhum contrato o ligará ao seu novo emprego; será provisório.
— Confia demasiado na minha pessoa, xerife.
— Assim é. Tenho a certeza que não se irá embora sem descobrir os ladrões de gado.
— Farei o possível para isso.
O xerife apertou com força a mão do jovem.
— Alegro-me bastante, Wallace. Nós os dois ferem grandes coisas.
— Esteja descansado que não o deixarei ficar mal. Faça o favor de me acompanhar ao escritório. Quero dar-lhe a nomeação.
—Tem medo que me arrependa?
— Não, somente quero ganhar tempo. Convido-o para almoçar.
— Não posso recusar o convite do meu superior.
Carroll começou a rir e com um gesto convidou David a segui-lo. Este obedeceu sem relutância. Tinha aceitado de forma impulsiva o oferecimento do xerife; na realidade, o seu novo emprego a nada o obrigava, podendo deixá-lo quando o julgasse oportuno.
Carroll tinha razão: a insígnia da Lei protegê-lo-ia e ajudá-lo-ia a realizar os seus negócios, permitindo-lhe também conhecer de mais perto o xerife. Se este fosse um homem honrado poderia falar-lhe com franqueza e encontrar nele um excelente colaborador. Tudo isto poderia facilitar a sua tarefa. No caso de que Carroll estivesse de acordo com Kearney, não perdia nada. Ficava tudo na mesma.
Chegaram ao escritório. O xerife apresentou-lhe o comissário que se encontrava nele.
— Tommy, apresento-te Wallace, um novo companheiro.
E colocou-lhe a estrela ao peito, ante a perplexidade de Tommy.
David examinou com atenção os prospetos e os três cartazes que cobriam uma pequena vitrine. Nestes pedia--se a captura de três famosos bandidos, oferecendo-se uma recompensa a quem os apanhasse. Voltou-se para o xerife e disse:
— O chefe dos ladrões de gado não pode ser um destes bandidos?
— Não o creio. Big Paterson acha-se no Arizona, segundo as últimas notícias recebidas. Roger Kimball foi ferido há uns dois meses, e quanto a Clem Gainer, há muito tempo que não se sabe dele. Ninguém conseguiu dar notícias a seu respeito; trata-se duma incógnita. Os seus golpes eram audazes e calculados, nenhum xerife conseguiu apanhá-lo.
David examinou com atenção as fotografias de Pater-son e Kimball; o primeiro era alto e delgado, a expressão do seu rosto indicava decisão e crueldade. O segundo era muito corpulento, a sua maciça cabeça descansava sobre um vigoroso e curto pescoço, o seu rosto coberto de barba indicava brutalidade. O cartaz de Clem Gainer não tinha fotografia, nem indícios que pudessem identificá-lo.
— Se Paterson se encontra no Arizona e Kimball talvez já morto, o mais provável é que seja Gainer o chefe da quadrilha dos bandidos.
— Não é possível. Há uns poucos de anos que não se sabe coisa alguma desse patife.
— Precisamente por isso é o mais suspeito. Por não ser conhecido pode passar perfeitamente por um honrado vaqueiro, ou pelo menos por um vulgar vaqueiro.
Carroll deu uma palmada na fronte, enquanto o comissário observava David com a boca aberta pelo assombro.
—É verdade. É muito provável até que Kearney seja o próprio Clem Gainer.
David levantou a mão com vivacidade.
— Um momento, xerife, eu não disse tanto.
— Eu sei, porém, trata-se duma possibilidade. É necessário descobri-lo e exterminar todos os bandidos, Wallace.
O xerife estava entusiasmado ante a possibilidade do uma luta aberta, capaz já de perseguir uns inimigos que se esfumavam como se fossem fantasmas. Sentou-se, agarrou numa caneta e num papel timbrado e escreveu com letras grandes e claras a notificação do Wallace como comissário, mas depois deteve-se, olhando interrogativamente para o jovem. Este sorriu e disse:
—Escreva Smith.
— Muito bem; o novo comissário Wallace Smith.
— Às suas ordens, xerife — respondeu David, perfilando-se.
—Belo, agora vamos comer. Até logo, Tommy.
O comissário não respondeu. Continuou olhando aturdido a porta, surpreendido pela rápida e inesperada cena. Com o forasteiro, já eram três os comissários. Significava um considerável reforço, mas na realidade insuficiente para combater contra os audazes ladrões de gado.
Carroll mostrava-se cordial e efusivo. Desaparecida sua reserva, falava sem cessar, embora em voz baixa, planeando projetos de ataque.
—Estava fazendo muita falta um homem decidido como o senhor.
Todos os transeuntes que cruzavam com eles olhavam surpreendidos a estrela que brilhava no peito de David e afastavam-se a cochichar. Os turbulentos e os «pistoleiros» franziam o cenho, preocupados. Após as exibições realizadas pelo forasteiro, não era animador saber que se encontrava ao lado da Lei; constituía um grave perigo para eles.
Quando David se separou do xerife, encaminhou-se para o seu alojamento, disposto a descansar. Despiu-se com rapidez e deitou-se. Os seus olhos estavam quase a fechar-se, quando ouviu um ruído que o fez pôr-se em pé dum salto. Um vidro da janela estava partido e dentro do quarto viu uma pedra envolta num papel. Apanhou-a com rapidez, ao mesmo tempo que ouvia chamar à porta. Abriu-a, achando-se perante Mac Gregor.
O irlandês olhava-o assustado.
— Aconteceu alguma coisa, Wallace?
David largou a pedra, desprovida do papel, que ocultava na mão esquerda.
— Partiram um vidro.
— Foi algum garoto, com certeza. Não se preocupe, esta tarde mando-o mudar.
— Obrigado, Mac Gregor.
— Não tem de quê. Estou satisfeito, pois não aconteceu nada de grave.
— Não vão começar a disparar continuamente sobre mim, Mac Gregor.
—Não sei, o senhor arranjou muitos inimigos.
— Mas agora sou um representante da Lei — e apontou a estrela que se divisava sobre a camisa caída em cima duma cadeira.
— Hum! — exclamou o irlandês. — Uma estrela não significa nada em Bristol, é até um cicate para ridicularizar a Lei.
E com um aceno de despedida saiu do quarto, fechando a porta. David desdobrou o papel e leu o seguinte: «Wallace, abandone o seu novo cargo e afaste-se quanto antes de Bristol. É um conselho do amigo X.»
O jovem sorriu. Não havia dúvida que a sua presença na povoação era pouco desejada. Não se atreviam a provocá-lo de frente e mandavam-lhe um bilhetinho anónimo desta maneira tentavam amedrontá-lo e fazer com que se fosse embora.
Voltou a deitar-se. Não havia dúvida de que o se cargo de comissário não era do agrado dos seus inimigos. Estes não se resignariam a tê-lo continuamente à sua frente e fariam outra tentativa para se livrar dele.
Os seus pensamentos vagueavam por muitos lados, mas neles aparecia sempre a imagem de Nancy Derek Quando as suas pálpebras se cerraram, continuava evocando a bela jovem, enquanto um leve sorriso entreabriu os seus lábios.
Saiu tarde da pensão. Foi ter com o xerife para lhe dizei que não queria ficar no escritório, de guarda; o s temperamento impulsivo impedia-lhe aceitar aquela disciplina. Carroll sorriu, dizendo-lhe que não se preocupava com aquele detalhe. Ele podia ficar onde quisesse, nomeado como homem de ação.
David despediu-se. Aproximava-se a hora da entrevista combinada com Harold Weeks. Não tardou em ver o capataz. Fez-lhe um sinal para que o seguisse e tomou o caminho da parte mais solitária da povoação.
Conhecia perfeitamente Bristol, pois tivera ocasião de a percorrer diversas vezes e fixara cuidadosamente as suas características. Deteve-se atrás dum muro; naquele lugar não podiam ser descobertos e notariam imediatamente se alguém se aproximasse. Quando Weeks se acercou, David reparou logo que ele se encontrava excitado.
— Que tem andado o senhor a fazer, Murray? Enlouqueceu?
— Não o entendo, Weeks. Tem arriscado a vida continuamente. Fiquei assombrado ao saber o que fez. Matou três «pistoleiros» e criou inimigos em Kearney e Strond. E prodigioso, mas excessivamente perigoso; esses homens matam-no.
— Até agora não o conseguiram.
—Como é possível o senhor ser tão rápida com o revólver?
—Já lhe disse que antes de ser advogado, fui vaqueiro.
— Como lhe surgiu a ideia de fazer-se comissário?
—O xerife propôs-mo esta manhã e eu aceitei.
— É fantástico! -- exclamou o capataz, assombrado.
— Que homem é o xerife Carroll? — perguntou David, de repente.
Weeks olhou-o surpreendido.
— Parece boa pessoa e cumpridor do seu dever. No que se refere aos ladrões de gado, necessita de meios para enfrentar esses bandidos. Há mais de dois anos que é xerife. Aos senhores também têm roubado gado?
—É o rancho mais castigado pelos ladrões. Trata-se do nosso pesadelo e Nancy sente-se bastante preocupada.
— Como está miss Derek?
Weeks tornou a olhá-lo com assombro.
— Muito animada, tem uma vontade de ferro e acha-se decidida a levar o rancho avante. Antes de Jimmy perder a cabeça, os dois irmãos entendiam-se muito bem. Suportou com grande coragem a absurda conduta do rapaz, seria ela que teria falado com o senhor em Topeka, se não tivesse torcido o pé. Esperta e decidida, como hoje, o comprovou por si mesmo, quando ela o descobriu e lhe apontou o revólver.
— Sim, sim, verifiquei isso. Fez-me passar um mau, bocado.
— Ela disse que o senhor permaneceu muito tranquilo.
— Naturalmente, depois de lhe ter dito a verdade, não a julguei capaz de disparar contra mim.
— Nancy não teria disparado, a menos que fosse atacada — respondeu o capataz, sorrindo.
—Eu não sabia isso, e um dos provérbios da minha profissão é desconfiar das mulheres.
— Não tem medo que o assassino de Taft descubra quem é o senhor?
— Não, e o mais provável é que ele já o saiba. Trata-se dum homem muito esperto e será muito difícil pode demonstrar a sua culpabilidade.
— Isso significa a morte de Jimmy.
— Sim, se fracassarmos, Jimmy Derek será condenado à morte.
— Deus meu! Isso não é possível, o rapaz está inocente, a pobre Nancy morreria de dor!
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— Faremos tudo o que for humanamente possível para o evitar, Weeks.
— Estarei sempre à sua disposição. Não temo enfrentar a morte. Primeiro que tudo estão os meus garotos.
— Procuraremos triunfar. Porei nisso todo o meu empenho. Não é necessário dizê-lo, Murray. Não sei como poderemos pagar quanto tem feito.
— Não se preocupe com isso. No final apresentarei a minha fatura.
—Será necessário vender todo o rebanho para lhe poder pagar.
— Quase, quase — e David lançou uma gargalhada.
— Não se exponha muito, pois não quero ter na minha consciência o peso da sua morte.
— Só o necessário. Não sou um suicida, mas trata-se dum caso bastante difícil. Os nossos inimigos defender-se-ão com fúria e é muito provável que cenas semelhantes se sucedam com frequência.
— O senhor é muito valente. Combater contra três «pistoleiros» ...
— Não tinha outra alternativa. Aqueles homens estavam decididos a disparar contra mim. Sou rápido e experimentado com o «Colt» e não hesitei em fazer-lhes frente.
— Venceu-os com facilidade, segundo ouvi contar.
— Tive um pouco de sorte...
—Não foi isso que ouvi dizer. O senhor não se intimidou um só instante e até os provocou. Quando disparou contra Art Kearney destroçou-lhe o revólver sem lhe tocar na mão e Kearney é muito perigoso com o «Colt».
—Evite que miss Derek o saiba.
— Não é possível. Quando me contou a entrevista que teve com o senhor, tive que pô-la ao corrente de tudo. Não tinha outra solução. Pouco depois inteirei-me da ocorrência; Nancy ouviu ao mesmo tempo que eu.
—Julgará que sou um «pistoleiro» — comentou David, como se falasse consigo mesmo.
Weeks pestanejou, nervoso, ao ouvi-lo, e depois olhou fixamente o advogado e começou a rir.
— De que se ri? — perguntou David, desconfiado. Está a troçar de mim?
— De maneira nenhuma, rapaz! — respondeu o capataz, sem cessar de rir e dando uma palmada no ombro do jovem. — Preferia que me cortassem a mão direita.
— Então a que vem esse riso? — inquiriu David, com o cenho franzido.
— Não sei, talvez seja devido a um excesso de nervosismo. Ultimamente, tenho andado muito preocupado.
O seu interlocutor continuava olhando para ele, desconfiado.
—O senhor oculta-me qualquer coisa, Weeks.
— Absolutamente nada. Nancy, quando soube, disse que o senhor era um homem admirável e que jamais poderia pagar o que tem feito pelo irmão.
—Estou somente cumprindo o meu dever.
— Não creio que o seu dever consista em arriscar vida por um desconhecido.
—Jimmy Derek não é um desconhecido; trata-se de um inocente.
— Admiro-o bastante, Murray. Nancy é muito bonita, não é verdade?
—É linda.
O jovem mordeu os lábios ao fazer esta afirmação; acabava de descobrir o seu segredo. Agarrou o capataz por um ombro e este, apesar da sua corpulência, viu-se paralisado por aquela potente garra.
— Se o senhor disser alguma coisa a Nancy, matá-lo-ei.
— Não se preocupe. Nancy admira-o imenso e até me parece que o acha muito... simpático.
David largou-o. Permaneceu imóvel. O seu rosto estava contraído por uma expressão de espanto. Weeks afastou-se enquanto lhe fazia uma cordial saudação de despedida.
— Adeus rapaz, e tenha prudência.
Ao ficar sozinho, David foi-se tranquilizando, e um sorriso entreabriu os seus lábios. Harold insinuara que Nancy gostava dele. Isto não era possível, somente o tinha visto uma vez; porém, triunfou o seu ardor juvenil e a esperança apoderou-se dele, fazendo-o feliz. Agora já não temia enfrentar todos os «pistoleiros» que existiam em Bristol, convencido de que os venceria com facilidade.
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