Harry estava em manifesta desvantagem. Numa fração de segundo, pensou que o futuro de Maria estava nas suas mãos. Mas Simão não disparou. Parecia comprazer-se daqueles últimos segundos de vida que lhe concedia.
—Esperavas escapar, não é verdade, amigo Freyer?
—Sim.
— Vamos! Entra para aí. E tu faz o mesmo! — disse para Maria.
—O que esperas para me matar? — perguntou Harry.
— Matar-te? — riu Simão. — Para que servem os mortos? Não, Harry. Já vi muitos mortos e todos eles eram tão inúteis como qualquer destas pedras. Tu serves-me muito melhor sem um só arranhão. A morte pode esperar. Tendo-te vivo, posso negociar com os que chegam, não como um vencido, mas em pé de igualdade. Compreendi que és para eles uma peça muito valiosa.
—Custa-me a crer que tenhas medo.
--Já me vista alguma vez com medo?
—Desta vez estás perdido.
—Nem com a corda à volta do pescoço me sentiria perdido.
Simão pareceu impacientar-se.
—Vamos! Entra!
Harry tentou ajudar Maria.
—Eu encarrego-me dela! —disse Simão.
Maria, coxeando, visivelmente, apoiou-se no seu braço. Nesse momento, a rapariga lançou-se ao solo. O gesto surpreendeu Simão, mas não Harry. Simão esperou um segundo e isso foi-lhe fatal.
Quando quis emendar o erro, já Harry empunhava os revólveres. Precipitou-se e compreendeu que se tinha equivocado. Uma bala arrancou-lhe uma das armas. Conseguiu disparar a outra, mas Harry também disparou. Simão sentiu o chumbo morder-lhe o corpo. Dobrou-se e estendeu um braço para se apoiar à parede. Uns braços sustiveram-no. Era Harry que se havia aproximado imediatamente depois de disparar.
— Cometi uma estupidez — disse o foragido.
Sustido por Harry e por Maria, Simão foi conduzido para o interior da choça. Imediatamente Harry cerrou a porta. Acendeu um fósforo e arranjou um archote. Simão viu que Freyer tinha a camisa manchada de sangue.
— Viva! — sorriu. — Não és tão vulnerável como parecia. Consegui tocar-te.
--Afortunadamente, atiras bastante mal.
— Sim, é possível. É curioso, rapaz. Apesar de tudo, não te guardo rancor. Foste-me simpático desde o primeiro momento e teríamos chegado a ser bons amigos.
—Talvez seja, porque eu vi em ti o único homem que tinha uma ideia de cavalheirismo entre tanta escória.
—Crês que agi com sentido?
—Fizeste o melhor que te foi possível. Doí-te muito a ferida?
—A ferida? Quase me tinha esquecido dela. Que pensas fazer, Harry?
—Procurar maneira de tirar Maria deste inferno.
—Será melhor esperares que chegue o dia. Nesta obscuridade, expões-te a que te crivem de chumbo. Estenderam Simão sobre uns sacos vazios. Depois, com as tiras que obteve, rasgando a sua camisa, Harry vedou-lhe a ferida. Entretanto, chegou a madrugada.
—Esperavas escapar, não é verdade, amigo Freyer?
—Sim.
— Vamos! Entra para aí. E tu faz o mesmo! — disse para Maria.
—O que esperas para me matar? — perguntou Harry.
— Matar-te? — riu Simão. — Para que servem os mortos? Não, Harry. Já vi muitos mortos e todos eles eram tão inúteis como qualquer destas pedras. Tu serves-me muito melhor sem um só arranhão. A morte pode esperar. Tendo-te vivo, posso negociar com os que chegam, não como um vencido, mas em pé de igualdade. Compreendi que és para eles uma peça muito valiosa.
—Custa-me a crer que tenhas medo.
--Já me vista alguma vez com medo?
—Desta vez estás perdido.
—Nem com a corda à volta do pescoço me sentiria perdido.
Simão pareceu impacientar-se.
—Vamos! Entra!
Harry tentou ajudar Maria.
—Eu encarrego-me dela! —disse Simão.
Maria, coxeando, visivelmente, apoiou-se no seu braço. Nesse momento, a rapariga lançou-se ao solo. O gesto surpreendeu Simão, mas não Harry. Simão esperou um segundo e isso foi-lhe fatal.
Quando quis emendar o erro, já Harry empunhava os revólveres. Precipitou-se e compreendeu que se tinha equivocado. Uma bala arrancou-lhe uma das armas. Conseguiu disparar a outra, mas Harry também disparou. Simão sentiu o chumbo morder-lhe o corpo. Dobrou-se e estendeu um braço para se apoiar à parede. Uns braços sustiveram-no. Era Harry que se havia aproximado imediatamente depois de disparar.
— Cometi uma estupidez — disse o foragido.
Sustido por Harry e por Maria, Simão foi conduzido para o interior da choça. Imediatamente Harry cerrou a porta. Acendeu um fósforo e arranjou um archote. Simão viu que Freyer tinha a camisa manchada de sangue.
— Viva! — sorriu. — Não és tão vulnerável como parecia. Consegui tocar-te.
--Afortunadamente, atiras bastante mal.
— Sim, é possível. É curioso, rapaz. Apesar de tudo, não te guardo rancor. Foste-me simpático desde o primeiro momento e teríamos chegado a ser bons amigos.
—Talvez seja, porque eu vi em ti o único homem que tinha uma ideia de cavalheirismo entre tanta escória.
—Crês que agi com sentido?
—Fizeste o melhor que te foi possível. Doí-te muito a ferida?
—A ferida? Quase me tinha esquecido dela. Que pensas fazer, Harry?
—Procurar maneira de tirar Maria deste inferno.
—Será melhor esperares que chegue o dia. Nesta obscuridade, expões-te a que te crivem de chumbo. Estenderam Simão sobre uns sacos vazios. Depois, com as tiras que obteve, rasgando a sua camisa, Harry vedou-lhe a ferida. Entretanto, chegou a madrugada.
* * *
As primeiras luzes do amanhecer foram aparecendo. O capitão Mac Clody, à frente do seu grupo, observava o movimento que havia no povoado. A poucos passos, e convenientemente vigiado por dois homens, estava Black Face.
— Tremem como galinhas, tenente — ria, satisfeito, o foragido. — Mais ainda tremeriam se soubessem que estou aqui, e que vão receber a minha visita.
Mac Clody sorriu. A sua preocupação concentrava-se em Harry. Temia que, ao verem-se perdidos, os bandidos concentrassem o seu furor no rapaz. O ataque de surpresa da véspera, frustrou-se devido a uma sentinela de Horácio ter dado sinal a tempo.
—Vamos já, tenente? —perguntou Black, impaciente por entrar em ação.
O tenente foi ter com o posto avançado dos seus homens.
—Está muita gente à espera? —perguntou. — Menos do que seria de esperar. É possível que preferiam entrincheirar-se aqui nas suas casas. De qualquer modo, não podemos demorar o ataque por mais tempo.
Fez um sinal ao homem que tinha trepado até ao alto da rocha e aquele agitou uma bandeira, três vezes consecutivas. Imediatamente começou o ataque ao reduto, dirigido de três sítios diferentes.
Desta maneira, a resistência não serviu de nada e os sobreviventes refugiaram-se em casa. Pouco depois, duas ou três casas começaram a arder. O fumo espalhou-se pela rua, ocultando assim os movimentos dos atacantes.
Uma figura deslizava por entre as habitações. Era Black Face que, aproveitando-se de um momento de distração dos seus vigilantes, conseguiu escapar-se. Entre a confusão localizara a casa de Horácio. Deslizou pelas traseiras e apresentou-se por detrás do seu inimigo.
—Horácio! — gritou muito de perto.
Horácio voltou-se. E ao ver o seu odiado rival, os músculos do rosto contraíram-se duramente.
— Tinhas de chegar com essa chusma, repugnante animal!
— Porco! Cobarde!
Horácio tentou levar a mão ao revólver, mas Black Face disparou-lhe o tambor no corpo.
— Revolve-te, lagarta imunda! — ria Black Face.
Não notou que uma sombra avançava para ele. Era uma mulher, que leva na mão uma afiada faca, que brilhou ao sol por uns momentos até se cravar no coração do bandido. O riso de Black Face gelou-se-lhe nos lábios. Quis voltar-se, mas morreu sem poder ver quem lhe descarregar o golpe mortal.
Nas ruas, Mac Clody e os seus homens estavam plenos vencedores. Ao virar uma esquina, o tenente viu uma pessoa conhecida.
— Harry! — exclamou com alegria. O rapaz foi ao seu encontro e ambos estreitaram as mãos. — Aonde te encerraram? — perguntou-lhe.
—Não tiveram tempo de o fazer. Não longe tenho Simão, mas está muito ferido.
—E Horácio?
—Acabo de o ver estendido na sua própria casa. E. o mais surpreendente é que Black Face está morto a seu lado com uma faca cravada nas costas.
—Esse diabo fez o que quis! —exclamou Mac Clody, com certa deceção. — Quis evitá-lo.
—Suspeitei que o tinhas traído.
—Necessitava chegar a tempo. Afortunadamente, está concluído.
—Falta ainda o principal cabecilha. Adivinhas quem é?
—Continuas a pensar no mesmo?
- Tive ocasião de comprová-lo. Trata-se nada mais nada menos do que do próprio governador. Nesta altura está em Benson.
—Não perdeste o juízo?
—Tenho provas. Em Benson está um homem ferido que declarará tudo quanto sabe. Chama-se «Sonora Jack>.
O oficial continuou a olhá-lo assombrado.
— Por certo — acrescentou Harry, como se se recordasse de alguma coisa — necessito que conheças uma pessoa que me prestou um valioso auxílio.
—A quem te referes?
—A minha noiva.
A acusação contra o governador foi tão cerrada e acumulavam-se contra ele tantas provas, que não pôde negar as suas relações com os foragidos. Recebia deles uma parte dos roubos e dava-lhes a sua proteção e valiosas confidências.
Harry foi chamado a Phoenix para receber uma menção especial e subida de posto. Uma diligência esperava-o à porta do hotel de Trayton. Estava ali há meia hora, esperando por certa pessoa.
— Não achas que se atrasou demasiado? — inquiriu Mac Clody. —A uma mulher não se deve limitar o tempo quando ela se quer arranjar. Além disso, é para ela um acontecimento importante.
— Mas deve compreender o valor da disciplina e as exigências do dever.
—Crês que agora posso falar-lhe disto?
— Seria conveniente.
— Tentá-lo-ei. Dentro de cinco minutos estará cá em baixo.
Harry subiu ao quarto e bateu à porta. A porta abriu-se e Maria abraçou-o.
— Sabia que subirias para me buscar, querido. Dececionar-me-ias se não o fizesses.
— Queria falar-te...
—De quê?
—Pois... bem... do rigor da disciplina. Devo submeter-me a um severo dever e este...
—O que é que te exige o teu dever?
Maria olhava-o com uma expressão cómica.
—Fazer tudo o que tu digas —sorriu ele, piscando-lhe um olho.
— Mas a diligência já está à espera há meia hora.
— Daqui em diante não disporemos de um só minuto para nós. Não é justo aproveitar estes momentos?
Maria deitou-lhe os braços à volta do pescoço e ofereceu-lhe uma vez mais os seus lábios sugestivos. Harry não vacilou. Com cada beijo sentia crescer o seu amor pela mexicana.
Mac Clody, em baixo, passeava, enervado pela demora. Mas agora as suas imprecações eram dirigidas ao seu subordinado por ter claudicado perante o mais simples e humano desejo de uma mulher enamorada.
—O que é que te exige o teu dever?
Maria olhava-o com uma expressão cómica.
—Fazer tudo o que tu digas —sorriu ele, piscando-lhe um olho.
— Mas a diligência já está à espera há meia hora.
— Daqui em diante não disporemos de um só minuto para nós. Não é justo aproveitar estes momentos?
Maria deitou-lhe os braços à volta do pescoço e ofereceu-lhe uma vez mais os seus lábios sugestivos. Harry não vacilou. Com cada beijo sentia crescer o seu amor pela mexicana.
Mac Clody, em baixo, passeava, enervado pela demora. Mas agora as suas imprecações eram dirigidas ao seu subordinado por ter claudicado perante o mais simples e humano desejo de uma mulher enamorada.
F I M
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