sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

KNS020.04 Segunda missão cumprida com êxito

Horácio regressou quando despontava o dia. Harry viu-o próximo do meio-dia, quando ele o avisou que fosse vê-lo. Estava pálido e as feições tinham covas. O braço esquerdo estava enfiando num lenço pendente do pescoço. Harry suspeitou que ele tinha tido algum encontro em que se salvara a custo.
— O que é que te sucedeu ontem à noite? — perguntou Horácio. — Quando estiveres fora daqui e um dos meus homens te mandar para o inferno, limitar-me-ei a encolher os ombros. Mas jamais consentirei que não respeitem a hospitalidade que dou a um amigo.
—Não consegui reconhecê-los.
— Procurarei que os reconheças.
E voltou-se para os que o acompanhavam, dando uma ordem. Meia hora mais tarde, no largo do povoado alinhavam-se meia centena de homens.
— Vem comigo — disse Horácio a Harry, que observava aqueles preparativos.
Harry observou um por um todos os homens, sem acusar ninguém. Ao passar diante de Thory, Horácio estendeu a mão em direção ao rapaz.
—Fixa bem este!
Thory nem mexeu, sequer, um músculo.
— Não o posso assegurar — disse Harry. — Estava muito escuro.
-- Continuas a não reconhecer os atacantes?
— Sinto-o, mas não é possível acusar sem fundamento.

Horácio não insistiu. Dirigiu-se a Simão e disse--lhe:
—Adverte-os de que na próxima vez que suceda algo parecido, os culpados receberão um castigo exemplar. Em seguida, fez um sinal a Harry para que este o seguisse até ao interior da sua vivenda. Harry viu Vera à janela. Devia ter presenciado tudo.
— Deixa-nos sós — disse-lhe Horácio, com um gesto expressivo.
Ela olhou Harry com uma expressão de ódio e saiu. Horácio falou então:
--Reparaste que eu vinha ferido?
—Sim. No braço?
— No ombro. E não foi nenhum dos teus antigos... companheiros. Suponho que já ouviste falar de Andy Black Face.
—É claro.
—Esta ferida devo-a a ele. Tínhamos um golpe preparado e os homens desse canalha adiantaram-se--nos. Trocámos umas palavras e terminámos a tiro.
— Black Face não esteve contigo há algum tempo?
— Sim, mas decidiu trabalhar por sua conta e levou alguns dos meus homens. Jamais lhe perdoarei.
— Ele é procurado por um assassínio que se praticou em Fossway.
—E o que se cometeu em Santa Rosa também era obra sua. Também assaltou uma granja e assassinos os seus três moradores. É um assassino indecente, que mata por puro capricho. Jamais ouviste dizer isso de Horácio ou de Simão. Só o fazemos em legitima defesa e nunca contra aleijados, nem mulheres ou crianças.
Harry escutava-o em silêncio. Nunca tivera melhor oportunidade de contemplar os rancores e assistir às disputas entre aquela gente, que numa grande extensão controlava o roubo e a pilhagem na fronteira.
Horácio levantou-se e procurou um frasco de «whisky». Encheu dois copos e ofereceu um a Harry.
—Langson disse-me que fizeste um bonito trabalho para o libertar. Nem tiros, nem alvoroços... Foi um bom trabalho.
Bebeu o líquido do copo e continuou:
—Notei que não quiseste comprometer esses porcos que ontem te quiseram matar. Tenho poucos homens que se te possam igualar.
Harry olhava-o, sem despregar os lábios. Horácio levantou-se, como que dando por terminada a entrevista.
—Bem, Freyer, cumpriste a primeira prova. Agora vai ser um pouco mais dura. Necessito que procures Black Face e o mates.
—É verdadeiramente necessário que o mate?
— A não ser que prefiras entregá-lo aos teus antigos companheiros. Mas isso já seria pedir demasiado. O importante é que necessito que alguém dê a esse bruto o que ele merece.
Harry levantou-se.
—Irei em busca dessa personagem. Sabes onde posso encontrá-lo?
— Andy costuma ir com frequência a um botequim em Lodge. Esse tugúrio fica junto à ponte que atravessa o rio. Ali não tens a temer que algum polícia te importune. É um local pouco grato para eles.
— Quando queres que lá vá?
—Quanto mais cedo, melhor. Custar-me-ia saber que quando lá chegasses esse pássaro já tivesse levantado voo.
— Partirei esta noite.
—Não te peço que me tragas a sua cabeça—disse, ao despedir-se. — Bastar-me-á saber que da próxima vez que eu for a Lodge ele não possa receber-me da maneira que deseja. 

• • • 

Harry saiu nessa mesma noite da povoação. Antes de montar a cavalo descobriu uma sombra que se aproximava da parede da cabana. Era Maria.
—Maria!
Impetuosa, a rapariga abraçou-se ao pescoço de Harry.
—Harry! — exclamou, esforçando-se por conter os soluços. — Não pude reprimir-me e tive de vir antes que partisses!
Acariciou os cabelos da rapariga, que tremia como uma corça assustada.
—Não devias tê-lo feito.
—Eu sei, mas temo pela tua sorte. Sei que Horácio te envia para matares Black Face. E esse bandido é o homem mais perigoso que corre a fronteira. Imaginas por que ele o faz?
—Suponho que pretende desfazer-se de mim, com relativa limpeza e elegância.
—Possivelmente, deseja que não voltes. E se matares Black Face, sentir-se-á tranquilo como nunca.
Harry sentiu uma estranha perturbação ao apertar Maria entre os braços. E não podendo dominar os sentidos, estreitou-a com força e beijou-a nos lábios.
—És a criatura mais bonita que conheci até agora.
—Amo-te, Harry. Desejo com toda a minha alma que voltes.
— Voltarei.
E inclinou-se para beijar, de novo, os lábios daquela pequena mexicana. Pouco depois Harry abandonava o povoado e perdia-se nos vales que lhe davam acesso. Antes de nascer o sol procurou um lugar escondido e descansou.
Era pouco mais de meio-dia quando se pôs de novo a caminho. Uma larga planície separava-o de uma nova linha de montanhas. Lodge estava por detrás das montanhas. Harry estivera ali há dois anos numa batida para limpar aquele reduto dos meliantes que o infestavam. Mas um mês mais tarde voltou a ser o ponto de convergência dos bandos que operavam junto ao rio e que necessitavam de um lugar de descanso para combinar as suas tarefas.
Lodge ficava muito longe dos lugares onde se exercia a ação da polícia. Ali não reinava mais do que a astúcia e o domínio do «Colt».
Harry chegou lá no começo da noite. Havia animação na única rua que havia no povoado. Mas o aspeto dos que passavam era o suficiente para se adivinhar a classe de vida que todos levavam.
Surpreendeu-se ao observar que naqueles dois anos tinham sido abertos mais dois estabelecimentos de jogo e bebidas. Entrou na primeira botica que encontrou. Era de reduzidas dimensões e estava atestada de gente.
A um canto do balcão estavam duas mulheres de idade Indefinida. Pareciam aborrecer-se ali, já que ninguém lhes fazia caso. A um canto da sala, um homem de idade avançada, a julgar pela sua barba branca, pretendia arrancar do piano uma alegre melodia.
Harry aproximou-se do balcão e apoderando-se de um dos frascos que ali se encontravam, encheu um copo que vazou de um trago. Deitou uma moeda para cima do balcão e voltou-se para observar os que ali se encontravam.
Falavam todos numa língua pouco compreensível, mescla de todos os idiomas que ali existiam. Alguns falavam somente espanhol, pois a maioria dos homens eram mexicanos. Discutiam-se transações de gado, contratavam-se homens para os mais dispares serviços, ainda que a maioria desses serviços fossem para encobrir o roubo de gado.
Harry compreendeu que ali nada havia que lhe Interessasse, e dirigiu-se ao tugúrio junto ao rio aonde, segundo Horácio, Black Face costumava ir.
A taberna ficava em frente à ponte de madeira que travessava o estreito rio. A maioria dos que por ela passavam ao ir para a taberna, à vinda prescindiam dela pois preferiam molhar os pés atravessando o rio do que cair da ponte e molharem-se todos, além de que se podiam aleijar.
Havia ali menos gente do que no primeiro botequim em que Harry entrara. Não havia nenhuma mulher nem ninguém que alegrasse o ambiente, correndo os dedos pelas amarelecidas teclas do piano.
Sem dúvida, ao primeiro olhar, Harry descobriu que estava ali o homem que lhe interessava. Andy Black Face devia ter uns quarenta anos, ou, muito possivelmente, só os aparentava. Era muito baixo e de corpo seco e musculoso. Mostrava continuamente os dentes num eterno e sinistro sorriso. O seu cabelo era de um negro azulado, revolto, e os olhos, muito verdes, pareciam despedir o ralo da morte, onde quer que pousassem. Mas sobretudo, a sua tez bronzeada, justificava perfeitamente a alcunha por que o conheciam.
Harry entrou e dirigiu-se diretamente ao balcão. Com Black Face encontravam-se cinco homens, com os quais conversava em voz baixa. Mas desta vez Harry não conseguiu fazer o que se propunha. Um dos que estava com Black Face entrepôs-se entre Harry e o balcão.
— Aonde vais? — perguntou friamente. Era um tipo grosseiro e de aspeto perigoso, que se adornava com um sorriso cínico. Chamava-se Mills e era o braço direito de Black Face. Harry olhou-o.
—Ali.
E com um movimento de cabeça indicou o balcão.
— Aqui não admitimos desconhecidos. Em Lodge há outros lugares onde poderás beber.
—Eu vim beber aqui—replicou Harry.
— Tenta-o.
Harry fintou-o com a esquerda. Com surpreendente agilidade, Mills encolheu-se e tentou golpear o estômago de Harry, mas antes de o conseguir, sentiu um choque formidável: um direto aos queixos fê-lo cair de costas no chão. Harry saltou sobre o corpo de Mills e alcançou o balcão.
—Serve-me qualquer coisa—disse ao dono do botequim, que ainda não havia saldo do seu assombro ao contemplar a rapidez com que o lugar-tenente de Black Face fora posto fora de combate.
Mills levantou-se. Nos seus olhos brilhava um forte desejo de matar.
— Quieto, Mills! — ordenou-lhe Black Face, adivinhando a sua intenção.
Mills conteve o seu gesto e Harry, que o observava, sorriu-se ao olhar o célebre bandido.
—Acabas de fazer um favor ao teu amigo. Já não viveria.
Black Face esboçou um estranho sorriso.
— És atrevido — falou, aproximando-se do balcão. — Isto pode ser um perigo ou uma virtude.
— Não me agrada que me ponham obstáculos.
— Um gosto acertado de que eu compartilho. Bebe o que quiseres. Pago eu.
—Só aceito o convite dos meus amigos.
—Não acreditas que posso ser teu amigo?
— Isso demonstra-se com atos e não com palavras.
—És um tipo estranho. Donde vens?
— Vou de um sítio para outro e pode dizer-se que venho de todos os lados.
— Procuras alguém.
— Todos procuramos algo.
—Possivelmente ouviste falar de mim. Chamam--me Andy Black Face. Aqui ninguém me desconhece e temem-me muito.
—Noutro sítio chamam-me Joe — respondeu Harry.
Black Face sorriu-se.
—Ouvi falar de ti. Conta-se de tudo um pouco. E agora quero que peças desculpa a Mills.
Harry olhou este último de relance e viu-o apoiado numa mesa.
— Creio que é ele quem o deveria fazer.
—Estás certo? — falou agora Mills, sorrindo.
Harry não respondeu. Afastou-se do balcão, como se quisesse encaminhar-se para a porta. Após ter andado cinco passos ouviu atrás de si um movimento e voltou-se. Mills empunhava nesse momento um revólver.
Harry saltou para o lado e a sua mão baixou rapidamente ao <Colt». As duas detonações que se seguiram tiveram apenas o intervalo de um centésimo de segundo. Mas bastou para que Harry se adiantasse e a bala do seu «Colt» se cravasse com precisão no coração de Mills. Este caiu no chão. Um impressionante silêncio fez-se no local.
— São estes os amigos de que te rodeias? —perguntou Harry, olhando Black Face e os seus acólitos.
Era evidente que o desenlace os tinha paralisado e nenhum ousava abrir os lábios. Black Face cofiou a barba, como se não pudesse compreender que Mills tivesse caído, vencido por um, homem mais rápido do que ele.
— Mataste Mills — murmurou.
—Um homem que se aproveita de um descuido para tentar matar outro, é indigno de figurar entre os teus amigos—disse Harry, com desprezo. —Sentir-te-ias orgulhoso se ele tivesse conseguido o seu propósito?
Black Face cuspiu sobre o morto e fez uma careta de repugnância.
—Tens razão. Envergonho-me que ele tenha sido meu amigo. Aceitas agora o meu convite?
— Agora Já é outra coisa.
—Vamos, idiota! — exclamou o foragido, dando uma palmada na mesa, para chamar a atenção do encarregado da taberna que permanecia algo distante do balcão. —Serve-nos uma garrafa de «whisky» legitimo, para celebrar os funerais desse imbecil que se Julgava um valente.
O taberneiro acudiu solicito e encheu os copos. Quando acabaram de beber, Black Face fez um sinal a Harry.
—Necessito que falemos a sós. Queres dar uma volta comigo?
Harry concordou. Os restantes homens ficaram no local, estranhando o que fazia o chefe. Saíram da taberna e passaram a ponte.
Junto ao caminho encontrava-se uma carroça que os ocupantes deixaram abandonada para se irem divertir. Tinham tirado o cavalo que, sem dúvida, devia estar nalguma das cavalariças da outra margem.
Subitamente passou pela mente de Harry uma arriscada ideia. Nesse momento, Black Face perguntou-lhe:
—Que vieste fazer a Lodge?
— Buscar homens para um golpe em Truenburg.
— Em Truenburg não há um centavo — riu o bandido. — Jamais teve a minha preferência.
—Sei o que digo. Antes de vinte e quatro horas haverá em Truenburg um carregamento de ouro no valor de cinquenta mil dólares.
— Estás seguro? — disse Black Face, assombrado.
—Só é preciso um pouco de audácia.0s que vierem comigo não deverão replicar as minhas ordens.
—Eu não sou dos que acatam as ordens dos demais.
— Queres dizer?...
— .... Que poderemos chegar a um acordo, se não te parece mal. Deixaste-me sem o meu homem de confiança. Podes ocupar o posto de Mills.
— Não me interessa.
—Julgas que depois do de Trueburg poderás ir sozinho por esse mundo?
— Arranjar-me-ia como puder. Consigo viver bastante tempo sem necessidade dos outros.
—O teu aspeto não indica que nades na abundância — ironizou.
Estavam a chegar às imediações da carruagem. O sítio estava deserto.
—Fazemos um contrato. Tu ajudas-me a dar o golpe de Trueburg. Se a coisa sair bem, não me importará acatar as tuas ordens.
—Tenho de pensar e discutir isso com os meus homens.
A casa mais próxima estava a umas cinquenta jardas e a única pessoa com quem se haviam cruzado já estava do outro lado do rio. Harry considerou que era chegado o momento de actuar. Imediatamente na sua destra apareceu revólver que pouco antes descansava no cinturão.
— Não te movas, Black Face — falou-lhe suavemente ainda que num tom que não admitia réplica.
O foragido olhou-o sem assombro.
—Isso é uma brincadeira ou faz parte do teu plano?
—Espero que não me obrigues a mandar-te para mesmo lugar que Mills...
—Sabes que nome dou aos homens que atuam assim?
— Não me importa! — cortou secamente. —Volta-te e segue para diante.
—Aonde queres levar-me?
—Caminha direito ao carro.
Black Face não fez com que repetissem a ordem
— Sobe para ele.
—Pensas dar um passeio?
—Disse que subas!
Black Face apoiou-se na tábua traseira do veículo. A sua mente trabalhava rapidamente para se livrar. da emboscada em que se tinha metido. Não podia arriscar-se a tirar o revólver, pois aquele desconhecido dispararia antes que ele tocasse só com a ponta dos dedos na coronha da arma.
Mas Harry não lhe deu tempo a forjar um plano. Com a coronha do revólver golpeou a cabeça de Black Face, com tal força que este caiu para diante, inconsciente. 0 corpo ficou dobrado sobre a plataforma do carro.
Imediatamente Harry lhe pegou nas pernas e acabou de o meter no veículo, e depois regressou a correr ao sítio onde tinha deixado o cavalo. No momento em que ia a montá-lo, um dos homens de Black Face saia da taberna. Ao vê-lo, levantou a mão para o chamar.
—Eh! Onde está Andy?
—Foi-se embora! — respondeu Harry, apontando para a direção contrária em que estava o carro.
Atravessou o rio com o cavalo e ao chegar à outra margem viu que o homem ainda continuava a olhá-lo. Pouco depois chegava ao carro. Colocou o animal entre os variais e prendeu-o ao mesmo, utilizando os arreios que ali mesmo tinha deixado.
Acto continuo, procedeu à imobilização do prisioneiro, com a corda que levava no selim da montada, e amordaçou-o com um lenço, para evitar que gritasse quando recobrasse os sentidos. Em seguida, fustigou o cavalo com o chicote e o veículo saiu disparado, dando saltos pelo caminho que descia até ao vale.
Tinha percorrido um par de milhas quando ouvi atrás de si o galopar de vários cavalos. Estava a atravessar um espaço descoberto e, de repente, viu surgir à direita e à esquerda, as sombras de quatro ginetes. O que vinha à frente colocou-se à frente do veículo até se situar a umas oito ou dez jardas. Então ergueu os braços.
—Para o carro! — gritou.
Harry parou-o.
— Que se passa? — perguntou com naturalidade.
—Não vimos Andy desde que saiu contigo —respondeu o homem, no qual Harry reconheceu um do que estavam na taberna. Os outros três tinham-se igualmente acercado observavam Harry, receosos.
—E foi por isso que me fizeste parar? — perguntou, de mau humor.
—Não nos agradou o que fizeste. Queremos ver que levas nesse carro.
—Pensam, por acaso, que trago comigo o vosso patrão?
—Ficaremos convencidos quando virmos o que levas aí.
Harry saltou do carro e apoiou as mãos na cintura.
— Não me interessa que acredites ou não. Se procurarem nas tabernas de Ladge, certamente encontrarão Black Face atarefado a procurar algum substituto de Mills.
Aqueles homens vacilavam por conhecerem a eficácia do seu revólver.
—Se Andy não está contigo, não te deves importar que examinemos o que trazes aí dentro.
—Levo umas coisas que interessa que ninguém veja.
Os quatro trocaram um olhar de inteligência.
— Bem. — disse o que tinha falado — como quiseres. Continuaremos a busca pelo povoado.
Mas não se mexiam de onde estavam. Harry subiu de novo para a carroça. E no momento em que ocupava o seu lugar na parte dianteira, reparava que dois deles deitavam as mãos às armas.
Não fez mais do que encolher-se e nas suas mãos brilharam dois relâmpagos. Sem chegar a disparar as armas, os dois tipos dobraram-se sobre os cavalos e caíram no chão. Os restantes companheiros não se moveram, surpreendidos com a rapidez do que tinha acontecido. Sem guardar os dois «Colt», Harry encarou-os.
— Algum de vocês ainda tem curiosidade em saber o que levo no carro?
Nem sequer despegaram os lábios. Estavam lívidos de medo. E Harry pensou que estavam à espera que recomeçasse a marcha para se afastar e regressar a Lodge. Contudo, Harry não podia correr um outro risco.
—Partam já de uma vez! —interpelou-os com energia.
Soltaram as rédeas e desapareceram como tinham chegado. Sem dúvida, quando já Harry fazia avançar o carro, ouviu atrás de si rumor, dos cascos dos cavalos que se afastavam. E, de repente, uma série de disparos fez-se ouvir no silêncio da noite. Os bandidos dispararam à sorte, guiados pelo ruído do veículo. Harry não respondeu aos disparos.
Refreou a marcha, e ao passar próximo de umas rochas, saltou par terra, ocultando-se entre as mesmas. Aguardou uns segundos. E não tardaram a surgir os dois ginetes. Harry saltou-lhes ao caminho.
—Quietos! — exclamou.
Os dois perseguidores compreenderam demasiado tarde que tinham caído numa emboscada. O medo fê-los tentar uma defesa desesperada. Harry limitou-se a apertar os gatilhos ao dar conta de que eles se preparavam para disparar.
Caíram, sem proferir um gemido, com balas certeiras cravadas no coração. Harry dirigiu-lhes um olhar de indiferença e volto ao carro. Quatro mortos tinham ficado pelo caminho; quatro bandidos a menos infestavam a fronteira. Se tenente Mac Clody tivesse podido vê-lo...
Sorriu-se enquanto subia para o carro. Ouviu um rumor dentro do carro e compreendeu que Black Face tinha despertado. Tinha de chegar o mais depressa a Trueburg onde daria por terminada a tarefa que se havia propôs levar a cabo. 

• • • 

Chegou a Trueburg às primeiras horas da alva. Deteve o veículo diante do edifício onde se alojava o «sheriff». Imediatamente desengatou o cavalo e colocou-lhe a cela. Bateu à porta. O «sheriff apareceu poucos minutos depois.
—O que há? — inquiriu, sonolento.
— Trago uma encomenda para o tenente Mac Clody — disse Harry, sem deixar que lhe visem o rosto.
—Faça com que seja entregue quanto antes.
— Quem diabo és tu? — gritou o homem intrigado.
Harry não respondeu. Tinha já montado e desaparecia pela saída do povoado. O «sheriff» coçou a cabeça, pensativo. Contemplava o veículo que acabavam de deixar à sua porta. Mentalmente, repetia as palavras que o desconhecido dissera naquela madrugada. Depois aproximou-se para examinar o conteúdo do carro. Observou que algo se agitava entre as mantas.
Desconfiado, entrou em casa e voltou munido de um candeeiro de petróleo. Uma exclamação de assombro saiu da sua boca. Dentro do veículo estava um homem fortemente imobilizado com ligaduras nos pés e nas mãos.
O prisioneiro voltou-se, mediante um poderoso esforço. Então o «sheriff» de Trueburg pôde contemplar o seu rosto. E com uma sensação de sobressalto e surpresa reconheceu aquelas feições.
—Santo Deus! —balbuciou, inclinando-se para trás. — Nada menos que Andy Black Face!

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