terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

CLF023.17 Confiança no futuro

John pôs as bolsas de couro sobre a mesa e acrescentou:
— Isto foi o que encontrámos no quarto de Carol.
Buttons abriu o fecho das bolsas e contemplou as moedas e as joias.
— Uma verdadeira fortuna — murmurou.
Depois olhou para Deborah e para Russ, que se encontravam diante dele, no seu gabinete.
— Nao tenho razão para duvidar da veracidade da sua história — disse. — Mais ainda, estou convencido de que é verdadeira. A sinistra fama de Cobb e o feito de ter assassinado o velho Wood, são provas mais do que suficientes. Por outro lado, todos os que estavam no saloon puderam ver como matou Carol, e vocês, alem disso, tiveram a honradez de devolver este dinheiro. Podiam ter ficado com ele sem que ninguém o soubesse.
A rapariga sacudiu a cabeça.
—Nao queremos nada que nao seja nosso. E este dinheiro esta manchado de sangue.
O xerife assentiu.
— Muito bem. Entregá-lo-ei ao Governador do Estado. Ele se encarregara de o fazer chegar às mãos dos herdeiros que possa ter esse mexicano chamado Vargas. Eu nao gosto de ter responsabilidades sobre os meus ombros.

Voltou-se para John e sorriu.
—Quanto a si, prestou um bom serviço a comunidade. Alegra-me que tenha mudado de vida. Só lhe quero pedir um favor. Já nao sou novo e nao me importa confessar que sempre gostei da vida sossegada. Esta cidade é bastante turbulenta, e, às vezes, para impor a ordem, é preciso recorrer a um homem novo e experimentado. Posso contar consigo, Lee, se algum dia tornar a aparecer por aqui outro tipo como Cobb?
O jovem assentiu.
—Sem dúvida. É o meu dever como habitante desta região.
Buttons apertou-lhe as mãos.
— Obrigado. Tenho todos os dados necessários para enviar o meu relatório ao governador. Nao os quero aborrecer mais.
Os dois homens e a rapariga saíram do gabinete do xerife.
*
O sol da manhã iluminava as calcinadas ruínas do rancho, algumas das quais ainda ardiam. Deborah e John contemplavam-nas em silencio; um pouco mais atras encontrava-se Russ.
— Tudo destruído, John — sussurrou a rapariga corn voz triste.
Ele concordou, mas na sua expressão nao havia pessimismo.
— É verdade; mas talvez seja melhor assim. Agora nao temos outro remedio senão construir tudo de novo e melhor que antes.
Ela olhou-o corn uma luz de esperança.
— John, falas a sério?
Ele, da maneira mais natural do mundo, passou-lhe um braço pelos ombros.
—Nunca na minha vida falei tao a sério como agora. Construiremos uma nova casa, novos currais, um novo celeiro...
—E as reses?
— Russ e eu iremos procurá-las. Nao devem estar muito longe. Claro que algumas devem estar perdidas, mas sempre conseguiremos reunir umas trezentas ou quatrocentas cabeças de gado. Isto é mais do que suficiente para começar. E, no prazo marcado, pagaremos a Strasberg o devido. Não tens confiança no futuro?
Ela, olhando-o nos olhos, murmurou:
— Agora, sim, John.
Nos lábios dele havia um sorriso quando disse:
— Mas talvez antes tenhamos de cumprir um. requisito.
—Qual?
John atraiu-a a si.
— Casarmo-nos. Ou tu não gostas de mim?
Ela olhou-o. como se não pudesse acreditar no que ouvia.
— Oh, John, quero-te com toda a minha alma.
—E eu amo-te desde o dia em que me deste um tiro à traição.
Beijaram-se e permaneceram estreitamente abraçados, até que Russ, violento, tossicou. Então John voltou-se para ele.
— Tu ficas connosco, não é verdade?
Russ encolheu os ombros.
— Toda a minha vida fui um vadio e um pândego, mas, pelos vistos, o meu destino era acabar a trabalhar como um imbecil, e os índios afirmam que ninguém foge ao seu destino.
Deborah e John começaram a rir. Em seguida ele murmurou:
— Estou a pensar que teremos de fazer uma casa muito maior.
—Porquê? —perguntou Deborah.
Ele rodeou-a com os seus braços.
— Porque vamos ter muitos filhos.
Russ sacudiu a cabeça.
— Pois claro. E eu até acabarei por ser ama-seca.
Mas, desta vez, John e Deborah não se riram porque quando um homem e unia mulher se beijam, não costumam notar o que se passa à sua volta.



FIM

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