domingo, 24 de fevereiro de 2019

CLF023.15 A história do tesouro dez anos depois

— Vamos, toca a sair —ordenou, dirigindo-se a Russ e a Deborah e acrescentou referindo-se a Wilkens: —E tu diz a dois dos nossos homens que se encarreguem de guardar o dinheiro e as joias nos bolsos de couro. Mas adverte-os que se faltar uma só moeda ou uma joia, lhes encherei a barriga de chumbo.
— Está descansado, chefe.
 Saíram do celeiro. A certa distância, junto dos cavalos, esperavam quatro homens e uma mulher. Russ fez uni gesto de profundo assombro.
—Carol!
Cobb olhou-o com unia expressão cínica.
—Sim, é ela! Surpreende-te vê-la aqui?
Entretanto a bailarina tinha-se aproximado com andar lento e balançando os quadris. Os seus lábios curvavam-se num sorriso de troça.
— Olá, Russ! Não esperavas que nos voltássemos a ver em semelhantes circunstâncias, não é verdade?
Depois fitou Deborah com ódio e inveja mal reprimida e acrescentou num tom que punha a manifesto o seu despeito: —Com que então é esta a «boneca» por quem John se apaixonou como um miúdo!
Deborah, que estava desconcertada voltou-se para Russ.
—Quem é esta mulher? De que está a falar?
Russ, em vez de responder, perguntou a Carol:
— Que fazes aqui?
A bailarina franziu os lábios.


— Aposto que me julgavas neste momento no Vale das Águias. Não, homem, não sou urna estúpida.
— Carol percebeu que era muito mais rendoso estar do meu lado — interveio Cobb.
— Mas, disseste-me que querias falar com o John — exclamou Russ. —Sim, foi isso o que te disse. E então? John já não me interessa. Dick vale muito mais e é mais esperto. Estou certa de que juntos iremos muito longe.
Russ apertou os punhos com força.
— Agora noto que me deixei enganar por ti. A única coisa que queriam era afastar o John destes lugares para poder levar a cabo os vossos planos com comodidade. E pensar que fui eu que o convenceu a ir em sua ajuda! Mas, quando voltar...
— Não voltará — cortou Cobb friamente.
Russ ficou paralisado. Os seus olhos, nos quais começava a brilhar a compreensão, passaram de Cobb a Carol. Esta encolheu os ombros.
— É verdade; não voltará.
O rosto de Russ tinha empalidecido intensamente.
— Que fizeram?
—Nada do outro mundo—replicou Cobb com refinada crueldade. — Só que, em vez da Cerol, no Vale das Águias havia três dos meus homens à espera de John. Neste momento já tudo deve ter terminado.
Russ cambaleou e teve de procurar apoio na parede.
— Santo Deus! — balbuciou. —E fui eu quem o convenceu a ir... era melhor que me matasses, Cobb.
Deborah ouvira a conversa sentindo que um, terrível pressentimento nascia no seu coração. Agarrando Russ por mil braço, exclamou:
— De que estão a falar?
— Diga-me, por favor: aconteceu alguma coisa a John? Oh, por favor, fale de uma vez.
Russ passou a mão pelos olhos.
— Não... não sei, Deborah.
— Por que tentas ocultar-lhe a verdade? — interveio Carol. Ao fim e ao cabo, não perdeu nada, sei-o por experiência própria. Olha, rapariga, esse John era um canalha, de modo que não deves ter pena. Três dos nossos homens acabaram com ele no Vale das Águias.
Deborah olhou para a mulher com os olhos muito abertos, ao mesmo tempo que empalidecia até ficar branca como o papel. Moveu os lábios como se quisesse dizer alguma coisa e, de repente, os seus joelhos dobraram-se. Teria caído se Russ não a segurasse.
— Deborah, Deborah! — exclamou este; mas, depois de ver os seus olhos fechados, murmurou: — Desmaiou. Precisava de alguma coisa para a reanimar.
— Leva-a para casa — ordenou Cobb.
Dirigiram-se para o interior da cabana. Russ, que levava a rapariga nos braços, estendeu-a na cama e depois fê-la beber um pouco de whisky. Depois de tossir uns momentos, Deborah recobrou o conhecimento e fitou os que a rodeavam. Então cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar silenciosamente.
—A verdade é que ele não merece tanta coisa — disse Carol com desprezo.
Cobb continuava com a arma apontada para Russ, apesar deste ter sido desarmado por Wilkens.
— Não podes negar que o meu plano foi bem traçado. Tudo saiu como eu calculava. Consegui com que John Lee caísse numa armadilha mortal, e, ao mesmo tempo, apoderei-me do dinheiro. Apesar de que, quando vim para aqui, nunca pensei que esta última coisa fosse tão fácil. Julgava que teria de rebuscar todo o rancho para encontrar essa bendita caixa. Mas, a sorte acompanhou-me.
Russ assentiu.
— Na verdade, és um homem de sorte.
— Pensávamos atacar-vos de surpresa. Sem o John seria fácil vencê-los. Mas, como nos surpreendeu encontrar tudo tão sossegado, só nos aproximámos Wilkens e eu. Foi então que ouvimos os disparos no celeiro. Só tivemos de espreitar para saber que tinham encontrado o tesouro.
— Era o que procuravas desde o princípio, nao é verdade? —perguntou Russ.
—Sim, a ao ouvir o que dizia a rapariga, compreendi que ela ignorava a sua existência e que o velho Wood nao nos enganava quando afirmava desconhecer do que falávamos. Mas eu julgava que eram subterfúgios para ficar com o dinheiro.
— Mas se nem os proprietários do rancho sabiam da sua existência, de onde saiu esse dinheiro?
Cobb fez uma careta.
— É uma história comprida que começou dez anos atras. Mas agora posso-ta contar. Começou tudo no Arizona, próximo da fronteira corn o México. Vivia aí um rico fazendeiro mexicano chamado Vargas. Esse homem cometeu a estupidez de guardar em casa uma verdadeira fortuna em moedas de ouro e em joias. Mas isso nao era de estranhar porque a sua mulher gastava muito e era muito vaidosa. Naquela época tinha um socio, e juntos decidimos fazer um golpe e roubar o mexicano. Assim o fizemos, mas Vargas era um homem valente e defendeu-se. Durante o tiroteio ele e a mulher morreram. Mas nós tivemos de fugir a toda a pressa para nao sermos capturados. Na confusão da fuga, o meu sócio fugiu corn todo o dinheiro e nunca mais o vi. Chamava-se Art Boydman.
Deborah olhou para Cobb.
— Art Boydman? Trabalhou connosco um vaqueiro que se chamava assim. Mas já faz muito tempo; devia eu ter então uns onze anos. Lembro-me que, alem do cavalo que montava, levava outro cavalo no que transportava a bagagem. Disse ao meu avô que estava disposto a trabalhar só pela comida e algum dinheiro. Mas esteve muito pouco tempo connosco. Três ou quatro meses depois morreu numa desordem no saloon.
— Era o mesmo homem. Pensou que se se escondesse aqui, eu nao o conseguiria encontrar. Pelos vistos, enterrou a caixa no celeiro, esperando recuperá-la mais tarde. Eu comecei a segui-lo e a tarefa levou-me dez longos anos. Perdi muitas vezes a sua pista e outras vezes segui uma errada. Por fim, alguém me informou que Boyd morrera quando trabalhava neste rancho. Ameacei o velho Wood para que me entregasse as joias e o dinheiro, apesar dele me ter jurado várias vezes que nada sabia do assunto; mas eu julgava que era mentira. Por fim, matei-o, convencido de que a sua morte serviria de exempla a sua neta. Mas esta desapareceu durante uns dias e depois apareceu o maldito John Lee a complicar as coisas.
—Isso já nao tem importância—interveio Carol, arranjando o cabelo. — 0 que interessa e que o dinheiro já esteja em nosso poder.
Cobb arqueou uma sobrancelha.
— Nosso poder?
Ela aproximou-se insinuante e acariciou-lhe os cabelos.
— Ao fim e ao cabo, prometeste-me que eu também o desfrutaria.
Cobb sorriu.
—Sim, ganharas alguma coisa. Dar-te-ei vestidos, joias, todos os luxos que uma mulher pode desejar. Mas nao to esqueças que o dinheiro e meu.
Um dos homens entrou para avisar que o dinheiro e as joias já estavam guardados nas bolsas de coiro. Cobb pôs-se em pé e olhou pela janela para o exterior, onde a tarde declinava rapidamente.
—Perdemos muito tempo e já e altura de nos irmos embora.
Voltou-se para Russ e Deborah e acrescentou:
— Vocês também se vão embora.
Russ levantou-se lentamente.
—Que pensam fazer connosco?
Cobb encolheu os ombros.
— Suponho que compreenderás que nao posso correr riscos e deixá-los corn vida seria um perigo tremendo. De maneira que nao tenho outro remedio senão…
Russ compreendeu que era inútil protestar. Limitou-se a olhar para Deborah e, ao ler o temor no seu rosto, tomou-lhe afetuosamente uma mão das suas. Sabia que era impotente e que, sem armas, nao podia lutar contra aqueles homens.
—Vocês encarregam-se do trabalho—dizia Cobb a Wilkens. — Temos de fazer as coisas de maneira a parecer um ataque. Faremos fugir todo o gado e incendiaremos tudo. Depois, vocês levam o Russ e a rapariga e acabam corn eles num lugar afastado. Ao encontrar os cadáveres longe daqui, será mais um motivo para atrapalhar o xerife. Carol e eu vamos para Dodge e esperaremos la por vocês.
Saíram de casa. Sabre a sela de montar de Cobb tinham sido colocadas duas grandes bolsas de coiro que continham o dinheiro e as joias.
Com lagrimas nos olhos e sentindo que uma tristeza muito grande feria o seu coração, Deborah viu os bandidos tirarem as reses dos currais e obrigarem-nas a fugir pelos campos e depois langarem fogo a todos os edifícios, que nao tardaram a arder como tochas nas sombras do anoitecer. Por fim, puseram-se em marcha. Cobb e Carol dirigiram-se para Dodge, enquanto que Deborah e Russ se dirigiam para o Norte escoltados por Wilkens e pelos quatro homens. Mas, a sua viagem só duraria umas milhas, onde umas balas poriam fim as suas vidas.

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