terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

CLF023.10 O criminoso Dick Cobb planeia eliminar o pistoleiro John Lee

—Ê preciso eliminar John Lee — disse Dick Cobb.
Wilkens, que era o seu lugar-tenente, olhou-o um tanto surpreendido quando respondeu:
—Creio que és a pessoa indicada para isso. Nenhum de nós pode competir com Lee. És o único que pode vencê-lo.
Cobb acendeu um cigarro e expulsou uma espessa coluna de fumo. Encontravam-se numa sala reservada, numa cantina de Dodge.
—Ê verdade, sou o único que o pode fazer, mas Lee é também o único que me pode vencer.
Wilkens franziu as sobranceias.
— Que diabo é que tens?
Os lábios de Cobb abriram-se então num sorriso que mais parecia um esgar dum tigre.
—Imaginas que tenho medo?
Ao ver o olhar que ardia nas pupilas de Cobb, Wilkens empalideceu, e balbuciou engolindo saliva:
—Não, não, claro que não...
Cobb dirigiu-lhe um olhar de desprezo.
—Não te atreves a dizer o que pensas. És um cobarde, mas vale mais ser um cobarde vivo do que um bravo morto.


—Juro-te que...
—Fecha a boca e deixa-me explicar-te o meu plano. Eu podia enfrentar Lee, mas é preciso usar a cabeça. Não se sabe qual dos dois é mais rápido. E se ele é mais do que eu? Que aconteceria ao nosso negócio se eu morresse?
Wilkens assentiu.
—Ê verdade. Não tinha pensado nisso.
—Nem é preciso, eu penso por todos. Visto que neste momento não posso permitir-me ao luxo de correr riscos, é preciso lançar mão a outros métodos para eliminar Lee. Por exemplo, uma armadilha bem preparada. Mas, para toda a armadilha, é preciso que exista uma isca.
— Referes-te a alguma coisa que o atraia? —perguntou Wilkens.
—Alguma coisa ou alguém. Nestes casos costuma ser muito recomendável uma mulher.
Os olhos de Wilkens iluminaram-se.
— Uma mulher? Conheço uma que nos poderia servir!
—Não é só que nos possa servir, mas também que esteja disposta a colaborar connosco.
Wilkens deixou escapar urna gargalhada:
—Esta estará disposta. a colaborar. Enamorou-se de Lee e agora está raivosa por ver que ele foi para junto de Deborah. Sabes bem que uma mulher despeitada é capaz de tudo.
Cobb recostou-se e tirou umas fumaças com deleite.
—Quem é essa mulher?
— Uma bailarina do saloon. Chama-se Carol.
— Gostava que me preparasses uma entrevista com ela.
Wilkens levantou-se sorridente.
—Deixa isso por minha conta, chefe. Encarrego-me de tudo.
Naquela mesma noite, Cobb mantinha uma conversa com Carol no quarto desta. A bailarina, em cujo rosto se notava uma dura expressão, escutou atentamente a proposta de Cobb, que terminou dizendo:
—A única coisa que tens a fazer é conseguir que Lee apareça no lugar que te indicaremos. O resto corre por nossa conta.
Carol fez uma careta.
—E esse resto consiste em matá-lo.
Cobb arqueou as sobrancelhas.
—Aborrece-te isso?
Carol sacudiu a cabeça, ao mesmo tempo que um brilho cruel se acendia nas suas pupilas.
— Pelo contrário. Ainda 'não nasceu o homem que se ria impunemente de mim! Desprezar-me por essa gata selvagem! Não, Cobb, ajudar-te-ei a matá-lo e a única coisa que me dá pena é não poder ser eu a apertar o gatilho do revólver.
Cobb sorriu satisfeito. 
—Então, está combinado. Apesar de saber que te dou um prazer, quero que tenhas também outro género de recompensa. Acho que quinhentos dólares não está mal. No momento oportuno dir-te-ei o que deves fazer.
Pôs-se em pé e caminhou para a porta, mas, antes de sair, Carol pegou-lhe no braço.
—Por que usas uma armadilha para acabar com John? Não te atreves á enfrentá-lo cara a cara?
No tom de voz da bailarina havia um fundo de ironia. Cobb apertou os lábios com força e desprendeu-se dela violentamente. Depois, sussurrou com raiva reprimida:
– São todos uns imbecis. Não tenho medo de Lee. Nunca o tive de ninguém. Mas tenho as minhas razões para o não enfrentar. Tenho demasiadas coisas em jogo e não posso cometer imprudências. Se não fosse por isso, asseguro-te que o iria procurar agora mesmo e exigir-lhe que se batesse comigo. Mas nem tu nem os outros o podem compreender, são uns estúpidos. Saiu do quarto batendo violentamente com a porta.
John e Deborah tinham ido juntos ao rancho «As Três Barras», situado a umas seis milhas do da rapariga. Era um rancho enorme e muito rico, um dos mais importantes da região. Strasberg, o seu proprietário, que era um homem robusto e jovial, recebeu-os amavelmente. Sem preâmbulos, John expôs-lhe o objeto da sua visita: desejavam adquirir duzentas cabeças de gado, especialmente novilhos e reses novas. Mas, naturalmente, a venda teria de ser a crédito. Strasberg esfregou pensativo o queixo.
— Não costumo vender a crédito — replicou.
John explicou-lhe que naquela altura não possuía dinheiro.
—É a única solução que Deborah tem para converter o seu rancho num negócio de verdade — acrescentou. — Se não o faz assim, nunca mais sairá da miséria. O senhor sabe-o muito bem, e também sabe que a propriedade Wood reúne excelentes condições para ser explorada, apesar de não ser muito grande. Com as suas duzentas cabeças de gado e as trezentas que já possui, pode começar a sério a criar gado.
—Sem dúvida—admitiu Strasberg. —No seu rancho estão talvez os melhores pastos da região. No entanto, levariam muito tempo a pagar-me.
—Dois anos—disse John com decisão. —Dou a minha palavra. Além disso pagar-lhe-emos com os juros correspondentes.
Strasberg apressou-se a negar.
— Não, não. Sou um criador de gado e não um usurário. O meu negócio consiste em vender gado a um justo preço, mas não especular com as misérias dos outros.
— Se o senhor quiser — interveio Deborah —, podemos fazer um contrato, pondo todo o meu rancho como garantia se não lho pagarmos dentro de dois anos.
Strasberg olhou-a sorridente e depois respondeu afetuoso.
— Não é necessário. Talvez faça uma asneira. Mas, mais uma vez, me vou deixar guiar pelo coração. Alguma coisa me diz que são sinceros. Além disso, sempre me causou pena que o seu avô não conseguisse prosperar tendo um terreno tão bom. E, ao fim e ao cabo, o nosso dever é ajudarmo-nos uns aos outros. Eu já estou bem. Por que não vou deitar a mão a uns jovens como vocês? Menina Wood, vender-lhe-ei a crédito essas duzentas cabeças de gado. Vou dar agora mesmo ordem para que lhas entreguem.
Deborah tinha de fazer esforços para que as lágrimas não lhe saltassem dos olhos.
— Sr. Strasberg, eu...
—Nada de palavras de agradecimento—interrompeu-a ele, amavelmente. —Quem sabe se amanhã têm vocês de me devolver o favor!
Uma hora mais tarde, John e Deborah empreendiam o caminho do regresso, conduzindo o novo gado. Strasberg tinha-lhes emprestado dois dos seus vaqueiros para que os ajudassem.
—Contente? —perguntou o rapaz à rapariga, enquanto cavalgavam um ao lado do outro.
Ela dirigiu um olhar às reses que avançavam à sua frente, e depois voltou os seus belos olhos para o rapaz.
— Estou mais do que contente, John. Como lhe poderei pagar tudo o que está a fazer por mim?
Ele encolheu os ombros.
—Já lhe disse que o único que ambicionava era poder trabalhar rio seu rancho. Asseguro-lhe que, desde que Russ e eu começámos a trabalhar a sério, sinto-me um homem novo, ou melhor dito, faz-me o efeito como se voltasse a ser um rapaz de dezoito anos.
Deborah desviou o olhar e murmurou com uma voz um tanto triste:
— Não compreendo como pode ter sido um... um...
— Um pistoleiro—concluiu ele, com uma nota de amargura.
Ela voltou a olhá-lo cheia de ansiedade.
—Por favor, não o leve a mal. Devo-lhe tudo e não queria ofendê-lo por nada deste mundo.
—Não se preocupe, não me ofende. Na realidade, desde que estou no seu rancho, também me pergunto como pude ser tão estúpido para empreender um caminho que não conduz a nenhuma parte. Mas nós, os homens, quando somos jovens, nunca nos sentimos satisfeitos com o que temos. A mim, parecia-me que a vida de vaqueiro era triste, monótona, sem horizontes. E abandonei-a desejoso de aventuras. Qual foi o resultado? O de todos que seguem este caminho: uma existência errante, sem objetivo, confiando só na habilidade com o revólver, temido e odiado por toda a gente.
Olhou em volta e acrescentou:
— Mas talvez fosse uma experiência por que devia passar, para compreender que a verdadeira vida está, precisamente, em tudo isto, nos espaços abertos, no contacto do vento, no trabalho esgotante, mas frutífero. Deborah, agradeço-lhe o ter-me dado oportunidade de me encontrar a mim mesmo.
Ela olhou-o nos olhos.
—De uma coisa estou certa, John. Você, apesar do que tenha feito no passado, é um homem bom.
Ele acenou com a cabeça, desconcertado, curioso por ouvir essa opinião da sua boca.
— Nunca pensei que alguém o dissesse. Mas, se lhe interessa saber, Deborah, nunca disparei contra ninguém a não ser em legítima defesa.

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