sábado, 23 de fevereiro de 2019

CLF023.14 A descoberta inesperada de um tesouro mexicano

Mas aqueles indivíduos não se sentiam completamente seguros e abriram fogo. John apertou os dentes e sentiu que os seus nervos se submetiam a uma tremenda tensão. As balas caíam à sua volta.
Os seus inimigos que agora atiravam à vontade, corrigiam cada vez mais a pontaria. Teve fazer um 'esforço para não se encolher instintivamente e estragar tudo. O zunir das balas era obcecante e obrigava-o a dominar-se.
Até que, por fim, sentiu como se lhe cravassem um ferro em brasa na mão esquerda, seguida duma dor tão intensa que lhe crispou todas as fibras do seu ser. Só graças a um alarde sobre-humano de força de vontade, conseguiu manter-se imóvel.
Viu o sangue a começar a sair da ferida e a empapar o chão. Pouco depois cessaram os disparos. Os seus agressores tinham, sem dúvida, visto a sua mão esquerda a sangrar. logicamente, a sua imobilidade convenceu-os de que estava morto. Não podiam sequer pensar que alguém levasse o fingimento até ao extremo de não fazer o menor movimento ao ser ferido. Só John sabia o que aquilo lhe custara.
Alguns momentos depois, viu, pelo canto do olho, duas figuras que emergiam detrás de uns penhascos numa das vertentes. Durante uns instantes estiveram a contemplá-lo e a falar entre si. Depois, como se tivessem chegado a unia conclusão, começaram a descer para o fundo do vale. 
Ao chegar ao fundo, caminharam na direção de John. Este, graças ao eco, podia já ouvir o barulho dos seus passos e compreender o que diziam. Um deles acionou a culatra da sua espingarda e disse ao companheiro:
— Dou-lhe eu o tiro na cabeça?


— É melhor fazê-lo os dois. Assim poderemos dizer a Cobb que temos ambos a certeza da sua morte.
John continuava completamente imóvel, observando os dois homens que cada vez estavam mais próximos. Estes tinham pronunciado o nome de Cobb, o que queria dizer que a Carol se tinha posto de acordo com o pistoleiro para o suprimir.
Só uns doze passos o separavam daqueles homens, quando o rapaz entrou em ação. Com uma velocidade espantosa, apoderou-se da sua arma e ergueu-se sobre o cotovelo esquerdo, voltando-se para os seus inimigos. Estes, surpreendidos, deram um salto, e um deles levou a espingarda à cara para disparar. Mas John foi mais rápido e fez fogo primeiro.
O homem deixou escapar um grito gutural e levando ambas as mãos ao peito, caiu de bruços, no chão. O seu companheiro, com a precipitação disparou sem apontar e sem sequer apoiar a espingarda ao ombro. Isto fê-lo falhar o tiro. Mas John tinha disparado ao mesmo tempo e acertou no alvo. O homem deixou cair a arma e cambaleou como um bêbedo, para, por fim, cair como um boneco de trapo.
John pôs-se lentamente de pé e contemplou os cadáveres dos dois homens. Sentia uma profunda sensação de alívio ao ver que tudo tinha corrido bem. Então notou que o sangue continuava a correr da sua mão esquerda.
Guardou o revólver e foi buscar o seu esburacado chapéu, pondo-o para se proteger dos raios solares. Depois sentou-se numa rocha e, com o lenço que levava ao pescoço, ligou fortemente a mão ferida a fim de deter a hemorragia. Para isso teve de valer-se da mão direita e dos próprios dentes.
Como sentia uma urgente necessidade de fumar, enrolou habilmente um cigarro com a mão direita. Acendeu-o, aspirando o fumo com deleite. O tabaco era um calmante depois da tensão que tivera de manter.
Supôs que aqueles homens tinham deixado os cavalos em qualquer lado. Escalou a vertente até o sítio onde tinham estado escondidos e, daí, esquadrinhou o terreno. Efetivamente, do outro lado viam-se três cavalos que procuravam inutilmente no árido terreno um pouco de erva.
Voltou para junto do seu cavalo morto e, tirando-lhe a sela, carregou-a sobre o ombro, e foi para junto dos três animais. Estes eram dóceis e não mostraram o menor temor ao vê-lo. John examinou-os com cuidado e depois elegeu o que lhe pareceu melhor. Era um animal negro, corpulento, que dava a sensação de ser veloz e resistente. Tirou-lhe a sela que levava e pôs-lhe a sua. Depois tirou a sela aos outros dois e, dando-lhes golpes na garupa, obrigou-os a fugir.
Montou no seu novo cavalo e afastou-se do Vale das Águias. Logo, como bom cavaleiro que era, compreendeu que não tinha perdido nada ao trocar de cavalo. Este obedecia perfeitamente às suas indicações e comportava-se como um puro-sangue. John teve o pressentimento que se iam dar muito bem.
O sol já estava bastante baixo e só levaria umas horas a desaparecer atrás dos montes do Oeste. 


Depois de John se ter ido embora, Russ continuou a trabalhar na construção do novo celeiro. Na verdade, só era novo em parte, pois que se erguia no mesmo lugar do velho e na sua construção tinha-se aproveitado muitas coisas deste como, por exemplo, as grandes vigas e pilares que o suportavam. Russ, no entanto, queria-o fazer maior. Para isso era necessário deitar abaixo uma antiga parede de troncos que o dividia em dois. Pegou numa picareta e começou a cavar a terra debaixo dos troncos para assim os soltar mais facilmente.
Ao meio-dia já terminara a sua fatigante tarefa. Só lhe faltava pouco mais de metro e meio, precisamente a parte mais próxima dum dos pilares. Desejando acabar quanto antes, entregou-se novamente ao trabalho. Mas a sua picareta de repente bateu em qualquer coisa dura.
Julgando tratar-se duma pedra, cavou um pouco mais adiante e, de novo, bateu naquela dura superfície. Intrigado, começou a cavar com mais cuidado, tratando de deixar a descoberto o objeto que permanecia invisível debaixo da terra. Não levou cinco minutos. E, espantado, viu que, ante os seus olhos, aparecia uma chapa de metal. Em seguida advertiu, no entanto, que a chapa não era outra coisa senão a tampa de urna caixa de meio metro de comprido, por vinte e cinco centímetros de largura.
Intrigado, começou a tirá-la do sítio onde estava enterrada; mas, para isso, foi necessário utilizar a picareta como o pé-de-cabra, visto ser incrivelmente pesada. Intrigado, Russ foi procurar Deborah e comunicou-lhe a sua descoberta. A rapariga mostrou-se tão surpreendida como ele e, juntos, voltaram para o celeiro, onde ela ficou a olhar a ferrugenta caixa.
— Nunca a tinha visto antes — murmurou. — Que contém?
— Não sei — replicou Russ. — Não me atrevi a abri-la sem o seu consentimento.
—O meu consentimento? Mas se isto não é meu.
— No entanto encontrei-a no seu rancho.  A rapariga fez um gesto de ignorância.
—Bem, então abra-a.
Russ tentou levantar a tampa, mas esta permanecia inamovível. O homem, depois de a examinar cuidadosamente, murmurou:
— Está fechada à chave.
—E não há maneira de a abrir? — perguntou ela, que se sentia dominada pela curiosidade.
— Acho que sim — replicou Russ, puxando do revólver.
Apontou para a fechadura e fez três disparos sucessivos. Aos estampidos unia-se o ruído das balas a bater no metal. O celeiro encheu-se do cheiro acre da pólvora queimada. Russ tentou abrir novamente e a tampa levantou-se lentamente, fazendo barulho sobre os gonzos.
Os olhos do homem, ao olhar para o interior da caixa, abriram-se desmesuradamente. Deborah, aproximando-se, também olhou. Ficou boquiaberta, incapaz de articular uma palavra. O primeiro a falar foi Russ, que balbuciou:
—Isto é... é fantástico!
A caixa estava repleta de moedas de ouro mexicanas e de joias de incalculável valor. A rapariga e o homem olharam-na incapazes de acreditar no que os seus olhos estavam a ver.
—Está aqui uma fortuna! — exclamou Russ por fim. —Estão milhões!
Deborah inclinou-se mais sobre aquela fortuna e contemplou-a fascinada. No seu rosto advertia-se uma intensa palidez quando se voltou para Russ e balbuciou:
— Mas, de quem é isto tudo? Como veio aqui parar?
Russ tremia de excitação.
—É seu, Deborah, é seu!
Ela pestanejava, desconcertada.
—Meu?!
— Claro que sim. Foi encontrado no rancho, não é verdade? Então é seu!
A rapariga passou a mão pela testa.
—Não pode ser, Russ. Eu nunca o tinha visto na minha vida, nem sequer sabia da sua existência. Como vou dizer que é meu? Não, não, não posso.
Mas ele fez um gesto de impaciência.
— Parvoíces! Que interessa quem o tenha posto aqui? É seu, Deborah, bem seu!
— Enganas-te. É meu.
O som daquela voz atrás dele, fê-los voltar rapidamente. A porta do celeiro, apontando-lhes -a sua arma, estava Dick Cobb. No seu rosto havia um sorriso cínico e frio. Ao seu lado, também armado com um revólver, estava Wilkens. A palidez de Deborah tornou-se mais intensa e, ao mesmo tempo que nas suas pupilas brilhava o terror, exclamou com voz afogada:
—Cobb!
O pistoleiro moveu a cabeça num sinal afirmativo.
— Sim, sou eu. E, pelo que vejo, cheguei no momento oportuno.
Sem se voltar, acrescentou referindo-se ao seu lugar-tenente:
— Wilkens, encarrega-te de os vigiar.
O outro fez urna careta.
— Encantado, chefe.
Cobb aproximou-se da caixa e esteve bastante tempo a contemplar as moedas e as joias com olhos cobiçosos. A sua respiração tinha-se alterado, tornando-se entrecortada. Acariciou com uma mão trémula as moedas de ouro e depois pegou em várias que apertou contra o peito.
—E meu, todo meu!
Passado aquele momento de emoção, voltou a pôr as moedas na caixa e olhou para Russ com olhos reluzentes.
— Passei dez longos anos a procurar isto.
Voltou a sorrir e disse:
—Tenho de te agradecer por o teres encontrado.
Russ humedeceu os lábios ressequidos e murmurou:
— Preferia deitá-lo ao fundo dum rio do que vê-lo nas tuas mãos.
Cobb deitou a cabeça para trás e deixou escapar uma ruidosa gargalhada.
— Tem graça. Sim, senhor. Tem graça. Pensar que nunca teríamos encontrado o tesouro se não chega a ser pela vossa estúpida vontade de reforma reste rancho nojento!
Wilkens também olhava a caixa com olhos codiciosos.
— Isto ainda vale mais do que tu nos tinhas dito, chefe — sussurrou.
— Sim, meu rapaz, ainda vale mais. Com os anos tinha-me esquecido de todas as riquezas que tinha metido nesta caixa.

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