Sanchez, o velho capataz de «A Encantada», viu-se no grande espelho do quarto de Jarvis Hamilton, enquanto resmungava:
— Isto é ridículo! Sinto-me como encolhido dentro destas roupas. Não me obrigues a vestir isto, Jarvis, pelo que mais queiras!...
O velho estava metido num fato severo, preto, um pouco usado, mas muito solene. Em especial o colete parecia sufocá-lo. Jarvis Hamilton ria, ao 'vê-lo resfolegar e puxar as roupas.
— Vamos, não sejas assim. Tens de fazer isso por mim, Não dizes sempre que a minha felicidade é a única coisa que te interessa?
— Mas não estou muito certo de que isto seja pela tua felicidade, Jarvis. Não estou! Lembra-te de que me prometeste consultar o xerife Terry. Ele era muito amigo de Stuart F. Jones. Bem vês, toda a gente julgava que lhe deixaria alguma coisa e Terry não se ralou quando viu que tu herdavas tudo. Terry é bom homem, tem experiência e estima-te, Jarvis.
— Sim, bem sei. Falaremos com ele, descansa. Anda, manda arranjar os cavalos.
O capataz saiu a resmungar. Pela sua parte, Jarvis vestia a sua roupa habitual. Pegou no grande chapéu branco e sacudiu as abas. Depois, pô-lo. Um sorriso alegre iluminava o rosto anguloso de Jarvis Hamilton.
«Margie acabará depressa com os receios do velho. Assim que lhe sorria duas vezes, conquistá-lo-á, como me conquistou a mim».
Fora esperavam dez homens a cavalo. O moço da cavalariça segurava o nervoso pigarço do patrão, ao pé da escadaria. Jarvis saltou para a sela e colocou-se ao lado do capataz, que estava muito sufocado pelos risos dos homens, que gracejavam acerca do seu elegante trajo.
O xerife Terry escutou o velho, quando este lhe explicou, em Green River, as pretensões de Hamilton.
—De modo que quer casar com essa menina Margie, a modista? Para que há-de dissimular, se todos sabem, na povoação, que está apaixonado por ela? Portanto, o mais natural é que se casem. Ela parece boa pequena, as três irmãs tão trabalhadoras e sérias...
Jarvis bateu nas costas do capataz.
— Vês, velho? Terry dá-me razão, não há outro motivo para hesitar. Vai representar a família que não tenho — explicou ao xerife nessa história do pedido de mão.
—Por isso se vestiu tão elegantemente!... — riu o xerife. — Espero que tenhas sorte, meu velho, e que ta concedam.
— Era o que faltava recusarem-na! O homem mais rico de Green River pretende casar com uma dessas pobres raparigas e você põe em dúvida que o aceitem? A sorte é para ela!
O capataz saiu do gabinete do xerife e Jarvis Hamilton também se despediu de Terry. Os seus homens esperavam e não perdiam de vista as casas e a rua, pois um deles dissera:
— Cuidado, não disparem contra o patrão de algum telhado.
Jarvis parecia ter esquecido que a sua vida corria perigo, que poucos dias antes se salvara de um ataque traiçoeiro. Esquecera-se de tudo e os seus homens tiveram de se apressar a rodeá-lo, quando começou a andar pelo passeio, a caminho da oficina das irmãs Cooper. Quando chegou diante da porta, disse ao capataz:
— São meninas, não te esqueças. Modera a linguagem. Tens de te dirigir à mais velha.
O velho bateu com força. Leonora Donovan, que os vira chegar, abriu imediatamente. Por um instante, o seu olhar cintilou com violência, ao contemplar Jarvis, mas logo sorriu.
— Bons dias! muito amável em visitar-nos, senhor Hamilton!...
Jarvis Hamilton endireitou-se e pôs-se sério. Por fim, entrou na oficina, onde Margie e Carolina estavam a coser. Margie soltou um gritinho de alegria.
— Oh, Jarvis, devias ter avisado que vinhas! Surpreendes-me por arranjar, sem graça nenhuma...
Carolina corara. O capataz pigarreou várias vezes; depois, começou a dizer, como se estivesse a recitar uma lição:
— Menina Leonora, o senhor Hamilton não tem família e, portanto, compete-me a mim, que cuidei dele desde que, em criança, o senhor Stuart F. Jones o levou para «A Encantada», fazer as vezes dos pais que...
Jarvis Hamilton adiantou-se um passo e, segurando Margie pelos ombros, com força, interrompeu o velho:
— Está bem, Sanchez, tinhas razão: estas cerimónias não são para nós. Leonora; amo Margie e desejo casar com ela. Providenciei para que a cerimónia se celebre no próximo sábado, às onze da manhã. O pastor irá a «A Encantada». Pronto, está tudo dito.
Puxou Margie para si e beijou-a com força nos lábios. Margie ria quando os braços do homem a largaram. Carolina encostara-se à parede. Primeiro, ficara sufocada; mas, de súbito, o seu rosto adquiriu terrível palidez.
—És extraordinário, Jarvis, querido! — dizia Margie. -- Leonora, tens de dizer que sim, tens de aceitar!
Leonora sorriu friamente.
— Claro que sim, Margie. Bem sei que o amas muito.
Jarvis Hamilton virou-se para Leonora e explicou:
— Devem saber uma coisa. Não sou o verdadeiro dono de «A Encantada», mas apenas o seu usufrutuário. Os nossos filhos não a herdarão, pois por minha morte a propriedade passará à posse da comunidade. Se me acontecesse alguma coisa, o que não é improvável, porque tenho alguns inimigos bastante obstinados, Margie não herdaria a propriedade.
— Nada disso interessa, senhor Hamilton. Nós somos pobres, sempre vivemos do nosso trabalho. Margie casa com o senhor e não com «A Encantada». Ela ama-o; o resto não importa.
— São excelentes raparigas, bem te disse. Agora retiro-me, porque tenho de comprar algumas coisas e de preparar tudo. Margie deitou-lhe os braços ao pescoço e beijou-o com entusiasmo.
— Não te arrependerás, Jarvis, não te arrependerás!... -- murmurou apaixonadamente.
Os dois homens saíram e Leonora, enquanto fechava a porta disse:
— Não, não se arrependerá, porque não terá tempo.
Carolina suplicou:
— Leonora, não podem fazer isso; não o podem enganar assim. É indigno, é...
— Cala-te, irmãzinha; faremos o que Leonora disser — atalhou Margie.
Carolina fitava-a com olhos espantados.
— Serás capaz de casar com ele para o assassinar enquanto durma, Margie?
— Oh, espero que não seja preciso chegar a isso! Leonora disporá as coisas de modo a evitar-me esse trabalho. Ela fá-lo-á desaparecer mais discretamente, não é verdade?
— Margie é uma boa irmã; pensa em Francis, o que tu não fazes, Carolina. Casando com Jarvis Hamilton, teremos uma boa oportunidade.
Margie ria.
— É um louco, um louco!...
— E tu um monstro, Margie. Se o odeias tanto, se vais ajudar a matá-lo, como o podes beijar desse modo?
— É um bonito rapaz. Tu confundes as coisas, Carolina. Vou casar com ele; portanto, devo beijá-lo. tão simpático! Na verdade, vou sentir que me dure tão pouco o marido. Mas com certeza encontrarei outro, pois sou a rapariga mais bonita que há por aqui. Não será difícil...
Carolina correu para a cozinha e bateu com a porta. Margie encolheu os ombros, enquanto perguntava à irmã:
— Que tem a Carolina?
— Nada. Não ligues importância. Não tem nada.
— Isto é ridículo! Sinto-me como encolhido dentro destas roupas. Não me obrigues a vestir isto, Jarvis, pelo que mais queiras!...
O velho estava metido num fato severo, preto, um pouco usado, mas muito solene. Em especial o colete parecia sufocá-lo. Jarvis Hamilton ria, ao 'vê-lo resfolegar e puxar as roupas.
— Vamos, não sejas assim. Tens de fazer isso por mim, Não dizes sempre que a minha felicidade é a única coisa que te interessa?
— Mas não estou muito certo de que isto seja pela tua felicidade, Jarvis. Não estou! Lembra-te de que me prometeste consultar o xerife Terry. Ele era muito amigo de Stuart F. Jones. Bem vês, toda a gente julgava que lhe deixaria alguma coisa e Terry não se ralou quando viu que tu herdavas tudo. Terry é bom homem, tem experiência e estima-te, Jarvis.
— Sim, bem sei. Falaremos com ele, descansa. Anda, manda arranjar os cavalos.
O capataz saiu a resmungar. Pela sua parte, Jarvis vestia a sua roupa habitual. Pegou no grande chapéu branco e sacudiu as abas. Depois, pô-lo. Um sorriso alegre iluminava o rosto anguloso de Jarvis Hamilton.
«Margie acabará depressa com os receios do velho. Assim que lhe sorria duas vezes, conquistá-lo-á, como me conquistou a mim».
Fora esperavam dez homens a cavalo. O moço da cavalariça segurava o nervoso pigarço do patrão, ao pé da escadaria. Jarvis saltou para a sela e colocou-se ao lado do capataz, que estava muito sufocado pelos risos dos homens, que gracejavam acerca do seu elegante trajo.
O xerife Terry escutou o velho, quando este lhe explicou, em Green River, as pretensões de Hamilton.
—De modo que quer casar com essa menina Margie, a modista? Para que há-de dissimular, se todos sabem, na povoação, que está apaixonado por ela? Portanto, o mais natural é que se casem. Ela parece boa pequena, as três irmãs tão trabalhadoras e sérias...
Jarvis bateu nas costas do capataz.
— Vês, velho? Terry dá-me razão, não há outro motivo para hesitar. Vai representar a família que não tenho — explicou ao xerife nessa história do pedido de mão.
—Por isso se vestiu tão elegantemente!... — riu o xerife. — Espero que tenhas sorte, meu velho, e que ta concedam.
— Era o que faltava recusarem-na! O homem mais rico de Green River pretende casar com uma dessas pobres raparigas e você põe em dúvida que o aceitem? A sorte é para ela!
O capataz saiu do gabinete do xerife e Jarvis Hamilton também se despediu de Terry. Os seus homens esperavam e não perdiam de vista as casas e a rua, pois um deles dissera:
— Cuidado, não disparem contra o patrão de algum telhado.
Jarvis parecia ter esquecido que a sua vida corria perigo, que poucos dias antes se salvara de um ataque traiçoeiro. Esquecera-se de tudo e os seus homens tiveram de se apressar a rodeá-lo, quando começou a andar pelo passeio, a caminho da oficina das irmãs Cooper. Quando chegou diante da porta, disse ao capataz:
— São meninas, não te esqueças. Modera a linguagem. Tens de te dirigir à mais velha.
O velho bateu com força. Leonora Donovan, que os vira chegar, abriu imediatamente. Por um instante, o seu olhar cintilou com violência, ao contemplar Jarvis, mas logo sorriu.
— Bons dias! muito amável em visitar-nos, senhor Hamilton!...
Jarvis Hamilton endireitou-se e pôs-se sério. Por fim, entrou na oficina, onde Margie e Carolina estavam a coser. Margie soltou um gritinho de alegria.
— Oh, Jarvis, devias ter avisado que vinhas! Surpreendes-me por arranjar, sem graça nenhuma...
Carolina corara. O capataz pigarreou várias vezes; depois, começou a dizer, como se estivesse a recitar uma lição:
— Menina Leonora, o senhor Hamilton não tem família e, portanto, compete-me a mim, que cuidei dele desde que, em criança, o senhor Stuart F. Jones o levou para «A Encantada», fazer as vezes dos pais que...
Jarvis Hamilton adiantou-se um passo e, segurando Margie pelos ombros, com força, interrompeu o velho:
— Está bem, Sanchez, tinhas razão: estas cerimónias não são para nós. Leonora; amo Margie e desejo casar com ela. Providenciei para que a cerimónia se celebre no próximo sábado, às onze da manhã. O pastor irá a «A Encantada». Pronto, está tudo dito.
Puxou Margie para si e beijou-a com força nos lábios. Margie ria quando os braços do homem a largaram. Carolina encostara-se à parede. Primeiro, ficara sufocada; mas, de súbito, o seu rosto adquiriu terrível palidez.
—És extraordinário, Jarvis, querido! — dizia Margie. -- Leonora, tens de dizer que sim, tens de aceitar!
Leonora sorriu friamente.
— Claro que sim, Margie. Bem sei que o amas muito.
Jarvis Hamilton virou-se para Leonora e explicou:
— Devem saber uma coisa. Não sou o verdadeiro dono de «A Encantada», mas apenas o seu usufrutuário. Os nossos filhos não a herdarão, pois por minha morte a propriedade passará à posse da comunidade. Se me acontecesse alguma coisa, o que não é improvável, porque tenho alguns inimigos bastante obstinados, Margie não herdaria a propriedade.
— Nada disso interessa, senhor Hamilton. Nós somos pobres, sempre vivemos do nosso trabalho. Margie casa com o senhor e não com «A Encantada». Ela ama-o; o resto não importa.
— São excelentes raparigas, bem te disse. Agora retiro-me, porque tenho de comprar algumas coisas e de preparar tudo. Margie deitou-lhe os braços ao pescoço e beijou-o com entusiasmo.
— Não te arrependerás, Jarvis, não te arrependerás!... -- murmurou apaixonadamente.
Os dois homens saíram e Leonora, enquanto fechava a porta disse:
— Não, não se arrependerá, porque não terá tempo.
Carolina suplicou:
— Leonora, não podem fazer isso; não o podem enganar assim. É indigno, é...
— Cala-te, irmãzinha; faremos o que Leonora disser — atalhou Margie.
Carolina fitava-a com olhos espantados.
— Serás capaz de casar com ele para o assassinar enquanto durma, Margie?
— Oh, espero que não seja preciso chegar a isso! Leonora disporá as coisas de modo a evitar-me esse trabalho. Ela fá-lo-á desaparecer mais discretamente, não é verdade?
— Margie é uma boa irmã; pensa em Francis, o que tu não fazes, Carolina. Casando com Jarvis Hamilton, teremos uma boa oportunidade.
Margie ria.
— É um louco, um louco!...
— E tu um monstro, Margie. Se o odeias tanto, se vais ajudar a matá-lo, como o podes beijar desse modo?
— É um bonito rapaz. Tu confundes as coisas, Carolina. Vou casar com ele; portanto, devo beijá-lo. tão simpático! Na verdade, vou sentir que me dure tão pouco o marido. Mas com certeza encontrarei outro, pois sou a rapariga mais bonita que há por aqui. Não será difícil...
Carolina correu para a cozinha e bateu com a porta. Margie encolheu os ombros, enquanto perguntava à irmã:
— Que tem a Carolina?
— Nada. Não ligues importância. Não tem nada.
Sem comentários:
Enviar um comentário