Helen passou o lenço pelo rosto belo. Depois, ao examiná-lo, reparou que tinha ficado sujo de poeira e de suor.
Olhou pelas janelas da diligência. Não lhe era agradável viajar naquela época, com aquele sol e aquelas nuvens imensas de poeira, que se colava em toda a parte.
Abanou-se com o lenço. Observou os companheiros de viagem. Havia dois homens, um deles elegantemente vestido e de maneiras esmeradas, e uma velha que, desde o início da viagem, não se movera nem um centímetro do seu canto.
Voltou a olhar pela janela. Diante dela desfilava uma paisagem dura, seca, poeirenta, entre montanhas.
Abanou-se de novo.
De repente sentia estalar o chicote e depois o relincho furioso dos cavalos, relincho dolorido provocado pelo freio a ser puxado para trás bruscamente. A diligência estacou de chofre e, no interior, os quatro ocupantes foram sacudidos com violência. A velhota, que não se havia movido, saltou, projetada, sobre um dos passageiros. Helen agarrou-se à janela para não rolar sobre o outro.
— O que se passou, condutor? — perguntou este, assomando a cabeça à janela.
Não foi necessária resposta para compreender.
— Desçam e não façam disparates! — disse-lhe uma voz, ao mesmo tempo que abriam a porta.
Helena ficou com a respiração paralisada pelo susto durante uns segundos. Na sua frente estava um homem mascarado, do qual apenas via os olhos, negros e brilhantes, e que empunhava um «Colt».
— Desçam! — repetiu.
Todos obedeceram. A velhota tremia dos pés à cabeça.
Mais três homens rodeavam a diligência. Um deles estava armado com uma espingarda de repetição. Os outros dois mantinham-se também empunhando armas.
O condutor e o ajudante continuavam sentados na boleia, de chicote na mão.
Um dos mascarados aproximou-se dos passageiros.
— Peço-lhes que não façam disparates e que me entreguem todos os valores... Será preferível a ter de revistá-los eu. E aviso-a, senhora, que seria um prazer fazê-lo.
— Canalha! — gritou Helen, sem poder conter-se.
— Dito por si, parece-me um galanteio. Quer repetir para que tenha o prazer de sentir-me deleitado de novo? — na voz do homem notava-se um acento frio que não pressagiava nada de bom.
— Canalha! Porco! — voltou a gritar a rapariga.
Não pôde continuar. Uma bofetada terrível estalou-lhe na face, e por momentos tudo andou à roda em seu redor, sem conseguir localizar nada. Mergulhada naquele turbilhão alucinante viu o homem elegante e esmerado com quem compartilhara a viagem lançar-se como um furacão contra o mascarado.
Aos seus ouvidos ressoou um disparo. Depois, tudo pareceu acalmar-se e a dança maldita terminou.
No chão, quase a seus pés, estava o corpo de um homem assassinado.
Os outros três aproximaram-se lentamente.
— Teria sido preferível evitar isto — disse um deles.
— Não pude.
Um dos mascarados, servindo-se do pé, deu uma volta ao cadáver. O seu rosto ficou virado para o céu, com a boca estranhamente aberta e os olhos vítreos. Um fio de sangue escorria-lhe entre os lábios.
— Não percamos mais tempo — disse. Depois, dirigindo-se ao condutor e ao ajudante, acrescentou: — E vocês, desçam, que precisamos de rebuscar debaixo dos vossos assentos!
Os interpelados moveram-se lentamente.
— Desçam de uma vez, malditos!
O condutor foi o primeiro a obedecer. Apoiou um pé num dos estribos e inclinou o corpo sobre esse pé. Os seus olhos miraram por momentos o que o vigiava. Viu-o a olhar para Helen. Pensou que aquele era o instante apropriado para agir e o seu pé saiu como que lançado por uma catapulta contra o resto do bandido. No mesmo instante, homem de uns trinta anos, saltou como um tigre sobre outros dos bandidos.
O pé do condutor passou roçando a cabeça do adversário. Foi o último gesto que fez com vida. Depois, o desprender-se do assento e resvalar foi já realizado por um corpo morto. Uma bala atravessara-lhe o coração.
O seu ajudante atingiu com um murro terrível outro
dos bandidos, mas não pôde fazer mais nada. Era um contra quatro e lutava sem armas. Tentou voltar-se e desferir novo golpe em outro bandido, mas o punho não chegou ao seu destino. Um tiro soou atrás de si. O corpo enrolou-se sobre si próprio e girou completamente. A mão agitou-se-lhe no ar, mas outro disparo fê-lo cair desamparado no solo.
— Venham, não percamos tempo! — rugiu um deles, o que parecia ter voz cantante.
Dois deles apoiaram-se nas rodas da diligência e no eixo e saltaram para a boleia. Com um sacão arrojaram para longe a manta que cobria a caixa existente debaixo do assento. No espaço aberto surgiu então um cofre.
— Está aqui — murmurou um deles.
— Os sacos! — ordenou o outro.
Tentaram então abrir o cofre, forçando-o, mas não o conseguiram.
— Um tiro, prega-lhe um tiro e abrir-se-á — gritou de novo o primeiro bandido.
Um deles voltou a empunhar o «Colt» e encostou a boca do cano à fechadura.
Soou um tiro.
Todos se quedaram. Helen voltou a cabeça para a direita, de onde soara o tiro. Os bandidos entreolharam--se durante uns segundos. Viram, ao longe, um cavaleiro que se aproximava a galope. Um pouco mais atrás uns metros apenas, aproximavam-se mais quatro.
— Que fazemos?
A velhota continuava a tremer, incapaz de se conter, choramingando. Helen permanecia muda, suspendendo a respiração, receosa de que a determinação que os bandidos viessem a adotar significasse mais cinco mortes.
Os mascarados entreolharam-se. Durante uns segundos hesitaram. Voltou a soar outro tiro. A bala passou silvando muito perto das suas cabeças.
— Que fazemos? — voltou a perguntar um dos que estavam em cima da boleia.
— Vamo-nos — gritou o que parecia ser o chefe.
Os dois homens que estavam no lugar do condutor saltaram. Um deles, ao falhar-lhe- ligeiramente o braço esquerdo, desequilibrou-se de encontro à diligência. Naquele instante o lenço escorregou-lhe e o rosto ficou a descoberto. Um rosto frio, inexpressivo, mas com algo peculiar e inconfundível. O lábio inferior descaia-lhe ligeiramente e dava-lhe um aspeto desagradável.
Segurou o lenço com a mão e correu em busca dos cavalos.
Momentos depois partiam a galope.
Vários disparos mais cruzaram o ar, mas já era tarde para que as balas pudessem cumprir a sua missão.
Quando Stevens chegou ao pé da diligência compreendeu que seria loucura lançar-se numa perseguição. Não havia a menor possibilidade de os alcançar e ainda menos não conhecendo o terreno.
Saltou do cavalo e aproximou-se dos sobreviventes.
— Como se sentem?... Aconteceu-lhe alguma coisa, senhora? — perguntou.
Instantes depois desmontaram Jim, Pierre e Luci. Paul pareceu hesitar uns momentos e por fim também se apeou, aproximando-se dos viajantes que tão desagradavelmente tinham sido surpreendidos pelos bandidos.
A velhota continuava a tremer como se fosse uma folha de árvore, sem conseguir dominar os nervos.
Stevens fê-la subir para a diligência evitar a visão dos mortos.
Depois, ajudado pelos companheiros de colocou os cadáveres sobre a capota do veículo
— Para onde iam? — perguntou.
— Para Marburg... fica a umas três ou daqui — replicou o passageiro que até àquele instante. — Pois acompanhá-los-emos. Nós também vamos para lá.
Stevens fez sinal a Paul para se sentar a seu lado, na boleia. Ao subir, o olhar deste fixou-se no cofre que estava no interior da caixa do assento. Não pôde reprimir um assobio de admiração.
— Viste isto, Stevens? — perguntou.
— Sim.
— Já sabes o que é?
Stevens assentiu com a cabeça. Desagradava-lhe aquela conversa porque pressentia o final.
— A defender esta caixa — continuou Paul — morreram o condutor e o ajudante. Estou certo de que eram eles os únicos que sabiam o que transportavam. E um cofre dos que os Bancos utilizam para transferir o dinheiro de uma região para outra e deixaria cortar o pescoço se não está cheio de dólares.
— Melhor, assim seremos recebidos com mais alegria.
— E porquê sermos recebidos? — perguntou Paul, nervosamente. — Podemos acabar o que os outros começaram e...
— Senta-te e cala-te!
— ...fugimos para longe daqui. Reparaste que é muito dinheiro?... Poderíamos ficar ricos.
— Cala-te!
Ao mesmo tempo, Stevens fez estalar o chicote por cima das cabeças dos animais que, excitados de novo, se lançaram num galope rápido.
Quando a diligência chegou a Marburg, ainda os cadáveres sangravam.
Um grupo silencioso rodeou-os, com curiosidade.
Olhou pelas janelas da diligência. Não lhe era agradável viajar naquela época, com aquele sol e aquelas nuvens imensas de poeira, que se colava em toda a parte.
Abanou-se com o lenço. Observou os companheiros de viagem. Havia dois homens, um deles elegantemente vestido e de maneiras esmeradas, e uma velha que, desde o início da viagem, não se movera nem um centímetro do seu canto.
Voltou a olhar pela janela. Diante dela desfilava uma paisagem dura, seca, poeirenta, entre montanhas.
Abanou-se de novo.
De repente sentia estalar o chicote e depois o relincho furioso dos cavalos, relincho dolorido provocado pelo freio a ser puxado para trás bruscamente. A diligência estacou de chofre e, no interior, os quatro ocupantes foram sacudidos com violência. A velhota, que não se havia movido, saltou, projetada, sobre um dos passageiros. Helen agarrou-se à janela para não rolar sobre o outro.
— O que se passou, condutor? — perguntou este, assomando a cabeça à janela.
Não foi necessária resposta para compreender.
— Desçam e não façam disparates! — disse-lhe uma voz, ao mesmo tempo que abriam a porta.
Helena ficou com a respiração paralisada pelo susto durante uns segundos. Na sua frente estava um homem mascarado, do qual apenas via os olhos, negros e brilhantes, e que empunhava um «Colt».
— Desçam! — repetiu.
Todos obedeceram. A velhota tremia dos pés à cabeça.
Mais três homens rodeavam a diligência. Um deles estava armado com uma espingarda de repetição. Os outros dois mantinham-se também empunhando armas.
O condutor e o ajudante continuavam sentados na boleia, de chicote na mão.
Um dos mascarados aproximou-se dos passageiros.
— Peço-lhes que não façam disparates e que me entreguem todos os valores... Será preferível a ter de revistá-los eu. E aviso-a, senhora, que seria um prazer fazê-lo.
— Canalha! — gritou Helen, sem poder conter-se.
— Dito por si, parece-me um galanteio. Quer repetir para que tenha o prazer de sentir-me deleitado de novo? — na voz do homem notava-se um acento frio que não pressagiava nada de bom.
— Canalha! Porco! — voltou a gritar a rapariga.
Não pôde continuar. Uma bofetada terrível estalou-lhe na face, e por momentos tudo andou à roda em seu redor, sem conseguir localizar nada. Mergulhada naquele turbilhão alucinante viu o homem elegante e esmerado com quem compartilhara a viagem lançar-se como um furacão contra o mascarado.
Aos seus ouvidos ressoou um disparo. Depois, tudo pareceu acalmar-se e a dança maldita terminou.
No chão, quase a seus pés, estava o corpo de um homem assassinado.
Os outros três aproximaram-se lentamente.
— Teria sido preferível evitar isto — disse um deles.
— Não pude.
Um dos mascarados, servindo-se do pé, deu uma volta ao cadáver. O seu rosto ficou virado para o céu, com a boca estranhamente aberta e os olhos vítreos. Um fio de sangue escorria-lhe entre os lábios.
— Não percamos mais tempo — disse. Depois, dirigindo-se ao condutor e ao ajudante, acrescentou: — E vocês, desçam, que precisamos de rebuscar debaixo dos vossos assentos!
Os interpelados moveram-se lentamente.
— Desçam de uma vez, malditos!
O condutor foi o primeiro a obedecer. Apoiou um pé num dos estribos e inclinou o corpo sobre esse pé. Os seus olhos miraram por momentos o que o vigiava. Viu-o a olhar para Helen. Pensou que aquele era o instante apropriado para agir e o seu pé saiu como que lançado por uma catapulta contra o resto do bandido. No mesmo instante, homem de uns trinta anos, saltou como um tigre sobre outros dos bandidos.
O pé do condutor passou roçando a cabeça do adversário. Foi o último gesto que fez com vida. Depois, o desprender-se do assento e resvalar foi já realizado por um corpo morto. Uma bala atravessara-lhe o coração.
O seu ajudante atingiu com um murro terrível outro
dos bandidos, mas não pôde fazer mais nada. Era um contra quatro e lutava sem armas. Tentou voltar-se e desferir novo golpe em outro bandido, mas o punho não chegou ao seu destino. Um tiro soou atrás de si. O corpo enrolou-se sobre si próprio e girou completamente. A mão agitou-se-lhe no ar, mas outro disparo fê-lo cair desamparado no solo.
— Venham, não percamos tempo! — rugiu um deles, o que parecia ter voz cantante.
Dois deles apoiaram-se nas rodas da diligência e no eixo e saltaram para a boleia. Com um sacão arrojaram para longe a manta que cobria a caixa existente debaixo do assento. No espaço aberto surgiu então um cofre.
— Está aqui — murmurou um deles.
— Os sacos! — ordenou o outro.
Tentaram então abrir o cofre, forçando-o, mas não o conseguiram.
— Um tiro, prega-lhe um tiro e abrir-se-á — gritou de novo o primeiro bandido.
Um deles voltou a empunhar o «Colt» e encostou a boca do cano à fechadura.
Soou um tiro.
Todos se quedaram. Helen voltou a cabeça para a direita, de onde soara o tiro. Os bandidos entreolharam--se durante uns segundos. Viram, ao longe, um cavaleiro que se aproximava a galope. Um pouco mais atrás uns metros apenas, aproximavam-se mais quatro.
— Que fazemos?
A velhota continuava a tremer, incapaz de se conter, choramingando. Helen permanecia muda, suspendendo a respiração, receosa de que a determinação que os bandidos viessem a adotar significasse mais cinco mortes.
Os mascarados entreolharam-se. Durante uns segundos hesitaram. Voltou a soar outro tiro. A bala passou silvando muito perto das suas cabeças.
— Que fazemos? — voltou a perguntar um dos que estavam em cima da boleia.
— Vamo-nos — gritou o que parecia ser o chefe.
Os dois homens que estavam no lugar do condutor saltaram. Um deles, ao falhar-lhe- ligeiramente o braço esquerdo, desequilibrou-se de encontro à diligência. Naquele instante o lenço escorregou-lhe e o rosto ficou a descoberto. Um rosto frio, inexpressivo, mas com algo peculiar e inconfundível. O lábio inferior descaia-lhe ligeiramente e dava-lhe um aspeto desagradável.
Segurou o lenço com a mão e correu em busca dos cavalos.
Momentos depois partiam a galope.
Vários disparos mais cruzaram o ar, mas já era tarde para que as balas pudessem cumprir a sua missão.
Quando Stevens chegou ao pé da diligência compreendeu que seria loucura lançar-se numa perseguição. Não havia a menor possibilidade de os alcançar e ainda menos não conhecendo o terreno.
Saltou do cavalo e aproximou-se dos sobreviventes.
— Como se sentem?... Aconteceu-lhe alguma coisa, senhora? — perguntou.
Instantes depois desmontaram Jim, Pierre e Luci. Paul pareceu hesitar uns momentos e por fim também se apeou, aproximando-se dos viajantes que tão desagradavelmente tinham sido surpreendidos pelos bandidos.
A velhota continuava a tremer como se fosse uma folha de árvore, sem conseguir dominar os nervos.
Stevens fê-la subir para a diligência evitar a visão dos mortos.
Depois, ajudado pelos companheiros de colocou os cadáveres sobre a capota do veículo
— Para onde iam? — perguntou.
— Para Marburg... fica a umas três ou daqui — replicou o passageiro que até àquele instante. — Pois acompanhá-los-emos. Nós também vamos para lá.
Stevens fez sinal a Paul para se sentar a seu lado, na boleia. Ao subir, o olhar deste fixou-se no cofre que estava no interior da caixa do assento. Não pôde reprimir um assobio de admiração.
— Viste isto, Stevens? — perguntou.
— Sim.
— Já sabes o que é?
Stevens assentiu com a cabeça. Desagradava-lhe aquela conversa porque pressentia o final.
— A defender esta caixa — continuou Paul — morreram o condutor e o ajudante. Estou certo de que eram eles os únicos que sabiam o que transportavam. E um cofre dos que os Bancos utilizam para transferir o dinheiro de uma região para outra e deixaria cortar o pescoço se não está cheio de dólares.
— Melhor, assim seremos recebidos com mais alegria.
— E porquê sermos recebidos? — perguntou Paul, nervosamente. — Podemos acabar o que os outros começaram e...
— Senta-te e cala-te!
— ...fugimos para longe daqui. Reparaste que é muito dinheiro?... Poderíamos ficar ricos.
— Cala-te!
Ao mesmo tempo, Stevens fez estalar o chicote por cima das cabeças dos animais que, excitados de novo, se lançaram num galope rápido.
Quando a diligência chegou a Marburg, ainda os cadáveres sangravam.
Um grupo silencioso rodeou-os, com curiosidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário