terça-feira, 21 de julho de 2015

PAS509. Um rosto belo na hora da vingança

-- Vim saldar uma dívida de Justiça.
— Pois bem, por que esperas? — desafiou Growell, sem se mover, o mínimo. — Pretendes que suplique e implore misericórdia? Julgas que vou oferecer-te a minha fortuna para reparar o mal que então pudesse ter feito?.
-- Não necessito de um só dólar da tua porca fortuna — exclamou Chuck, irritado. — O sangue do me pai só pode ser vingado com o daqueles que conjuraram para a derramar.
Growell guardou silêncio. Evidentemente, pensava na sua trágica situação ou talvez tentasse ganhar tempo.
— Creio que eu também tenho de dizer algum coisa — quis intervir a mulher que tinha aberto, a porta a Chuck.
— Cala-te! — exigiu Growell com energia. — não imploro piedade, nem quero que outros a solicitem para mim. O teu pai foi morto por Donally em união com Jansen. Para que me serviria mentir, se estou nas tuas mãos?
— Uma última tentativa para salvares a tua repugnante pele.
— Você não pode disparar! — exclamou agora aquela mulher, intervindo para se situar entre Growell e Chuck Aliston. — Isso é o que menos lhe importa a ele. Dar-se-á o caso de não ter dado conta do seu estado? — acrescentou, estendendo um braço para o apontar. — Olhe bem para ele. Inutilizado para o resto dos seus dias e sem poder fazer um único movimento! Já reparais que, apertando o gatilho, não faria senão conceder-lhe um bem?
— Quem te manda a ti falar, velha intriguista? — gritou Growell, sem se poder mover daquele cadeirão. E olhando para Chuck, gritou: — Dispara de uma vez para sempre! Não foi isso que vieste fazer? Vai tremer agora a tua mão, porque sentes medo de descarregar o teu revólver sobre um inutilizado?
A surpresa impediu Chuck de dizer qualquer coisa. Estava surpreendido e abatido. Toda a sua animosidade e sede de vingança que o abrasava se tinham dissipado num momento, em virtude das palavras que acabava de proferir a mulher que estava com eles. Agora, compreendia a atitude de Growell e o seu aspeto tão diferente do que foi sempre.
Retrocedeu uns passos, lentamente. Considerava-se já suficientemente satisfeito pela forma como, aquele homem expiava todas as suas faltas. Uma Justiça superior à administrada pelos homens tinha-o condenado a uma sorte dura, mil vezes pior do que a prisão, pois a paralisia de que Growell sofria reduzia-o- à inutilidade para o resto da sua vida.
Retrocedeu até sentir a porta nas suas costas. Sem se voltar, fez correr o fecho e os seus dedos puxaram o trinco.
— Encontraste o inferno que merecias, Growell — foi a sua despedida. — De que te serviu amontoar dinheiro e mais dinheiro?...
Fez girar o trinco e empurrou a porta, mas esta não cedeu. Tentou novamente para sair dali. A madeira resistia aos seus esforços. Irritado, deu um grande pontapé, mas não obteve melhor resultado.
Compreendeu imediatamente que tinham fechado por fora e que se encontrava encerrado numa ratoeira. Começou a correr para a janela, mas retirou-se prontamente, assim que verificou que em baixo, no jardim, havia alguns homens armados.
O próprio Growell e a mulher pareciam surpreendidos pelo que se estava a passar.
— Vais ordenar que abram imediatamente ou...! — exigiu, apoiando o cano do revólver nas costas do paralítico.
— Ou quê? — troçou. o própria Growell. — Vais disparar se não o fizer? Convences-te, Alston, de que não tens outro remédio senão matar-me?
Growell continuava a troçar dele, da impotência de levar adiante a sua ameaça e do nervosismo que dava mostras, ao ver-se encerrado numa armadilha.
Naquele momento, reparou numa porta lateral, meio oculta atrás de uma cortina e que, até então, não tinha visto. Correu para ali e já estava quase a alcançá-la quando a viu abrir-se e uma mulher entrar no escritório.
Era uma rapariga de uns vinte e dois ou vinte e três anos. Vestia um fato de corpinho justo e saia rodada de veludo vermelho. O seu cabelo negro e caindo-lhe em brilhantes caracóis., pelas costas, era apanhado atrás par uma fita da mesma cor.
— Você é um louco e um irreflectido — reprovou com dureza. — Sabe que podia custar-libe bem caro o que fez?
— Também você faz parte da conjura? — atirou-lhe Chuck, à cara, sem poder conter a sua irritação.
— Se chegasse a tentar alguma coisa contra esse homem, teria passado um mau bocado — acrescentou ela. — Tenho estado a vigiá-lo por aquele postigo. E na minha mão estava um revólver.
Chuck viu que ela apontava um buraco que se via no artesoado do tecto, mesmo por cima de um quadro.
— Sim; teria disparado contra si. Mas qualquer coisa me conteve. E é tudo quanto acaba de dizer. É por isso que tentarei ajudá-lo a sair daqui sem que Blod e os seus homens se apercebam.
Ela desviou-se para um lado e Chuck ;abandonou o compartimento.
— Que é que pretende? — perguntou o rapaz, olhando-a com curiosidade.
— Ajudá-lo. Não lho disse claramente?
— Pata mim não é muito claro. Quem é você e que traz aqui?
— Stanton Growell é meu tio — disse ela — e a mulher que está agora com ele é minha mãe. Há um mês que viemos para Phoenix, porque ele nas mandou chamar. Sentia-se doente e necessitava de nos ter a seu lado. Ao princípio, a minha mãe opôs-se. Conhecia a espécie de vida que Stanton tinha levado; mas ao fim ao cabo, era seu irmão e acabou por aceder.
Tinha atravessado um segundo compartimento e a rapariga adiantou-se para examinar a escada de saída.
— Duvido que possa voltar para onde deixou o seu cavalo — disse-lhe. —  Bloyd deve ter imaginado qualquer coisa, pois está com os seus homens a vigiar a saída. Não há dúvida de que estão à espera que saia.
— Obrigado — disse Chuck, porque não lhe ocorria outra coisa.
— Você veio com um fim que depois se desvaneceu — a jovem sorriu-lhe. — Obrigada estou eu..
Chuck afastou-se, correndo entre as árvores, mas não tinha dado uma dúzia de passos, quando da esquerda partiram uns tiros. Sentiu um forte golpe nas costas, sentindo uma dor aguda. Voltou-se para responder à agressão, mas um tropeção fê-lo perder o equilíbrio e cair de bruços sobre a areia.
Instintivamente, arrastou-se até à protecção de um canal de rega. Ouviu um grito de mulher e viu a mancha avermelhada de vestido da rapariga oscilar de um lado para o outro, aproximando-se de onde ele estava.
Alguém gritou do outro lado do gradeamento e a rapariga respondeu, indignada. Chuck ouvia a sua voz bem timbrada e melodiosa, mas não podia compreender uma única palavra. Sentia que a cabeça se enchia de um crescente zumbido e que uma angústia mortal começava a invadi-la.
Ainda antes da vista se lhe turvar, viu aquele rosto muito pálido e com olhos dilatados pela surpresa e terror, olhar para ele, de muito perto. Era uma agradável visão e Chuck pensou que valia a pena morrer, com a imagem de um rosto tão belo.
Depois, de uma maneira súbita, a visão desvaneceu-se e um mundo de sombras fez-se em seu redor.
 

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