A noite era plácida e corria uma aragem suave e agradável. Ao longo da rua central via-se o resplendor dos estabelecimentos iluminados, e passavam cavaleiros que iam e vinham animadamente.
Jas ajustou bem a roupa nova, acendeu um charuto havano e caminhou lentamente pelo passeio, a gozar o fresco. Sentia-se jovial, cheio de prazer ao notar que era o alvo das atenções de todos com quem se cruzava. Sobretudo, ao sentir no fundo da algibeira o maço de notas e pensar que podia gastá-las tranquilamente, sem se ralar nada.
Era um sentimento novo, que lhe embriagava os sentidos corno uma garrafa do pior «whisky».
«A Mexicana» era um edifício de adobe, decorado ao estilo espanhol com muitos letreiros de cores vivas na fachada. Ali havia sempre música, bom humor, boa bebida e raparigas alegres que se aplicavam em tornar agradável a estada dos clientes. Sobretudo dos clientes que traziam as algibeiras bem recheadas. E Jas precisava terrivelmente de que lhe tornassem a vida agradável. Precisava de ver os outros fazer tudo para o satisfazer. Jas vivia como num sonho.
Quando estava quase a alcançar a porta, o seu sentido de vigilância, que ainda funcionava 'com a rigidez dos tempos difíceis, disse-lhe que estava a ser seguido.
Foi uma sensação estranha, incómoda, indefinida. Os seus próprios passos sobre o chão de tábuas abafavam as passadas do outro homem.
Bruscamente, Jas deteve-se e deu meia volta, mantendo a mão direita junto da coronha do seu revólver. Efetivamente alguém caminhava atrás dele a dez passos de distância.
Não pôde ver-lhe imediatamente o rosto pois o passeio era mal iluminado. E o outro, ao vê-lo parado e a olhá-lo, hesitou um segundo. Mas logo continuou a andar.
Quando chegou perto de Jas, este pôde ver que se tratava de um tipo curioso. Teria à volta de cinquenta anos e era forte como um toiro. Mas o rosto não correspondia à sua força física. Parecia, pelo contrário, brando e despreocupado. Estava mal barbeado, com as guedelhas a cair-lhe para a frente, sob o sujo e roto penante.
A roupa não era melhor. Mas sorria, e os seus olhos pareceram a Jas os mais trocistas que já vira.
Em vez de se aborrecer com a descarada observação de Jas, o tipo brindou-o com um sorriso e levou dois dedos à aba do chapéu, desbarretando-se, como se saudasse uma dama.
— Boas noites, «mister» Conley — cumprimentou. — Agradável temperatura, não é verdade?
E dispôs-se a seguir o seu caminho.
Jas nunca o tinha visto anteriormente, e sentiu-se incapaz de deixá-lo seguir, sem esclarecer a sua presença e o motivo por que lhe conhecia o nome.
— Espere — disse.
O outro parou, quando já o tinha ultrapassado alguns passos.
— Chamava-me a mim?
— Não creio que haja aqui outra pessoa perto.
Conley pôs-se à frente dele com cara de poucos amigos.
— Que quer? — perguntou-lhe.
E como o outro esboçasse um gesto de divertido assombro, corno a dizer que não queria nada, atalhou:
— Não se faça parvo. Vem a seguir-me.
O desconhecido quase soltou urna gargalhada.
— Porque conhece o meu nome? Foi Merrick quem o mandou?
— Oh, não! Garanto-lhe que não ando a mandado de ninguém. Simples curiosidade pessoal. Fala-se tanto de si na cidade que não pude resistir à tentação de conhecê-lo de perto. Espero que não se importe, hã?
Jas decidiu pôr-se em guarda.
— Os espiões põem-me nervoso avisou. — Se tem alguma ideia, o melhor é pôr as cartas na mesa.
— Garanto-lhe que não. Mas, já que estamos de conversa, aproveito para dizer-lhe uma coisa: chamo-me Lynn Buzby, sou forasteiro em Sakerfield, não tenho amigos por cá e às vezes falo pelos cotovelos de coisas agradáveis, quando alguém sabe soltar-me a língua... Se algum dia se sentir aborrecido e com vontade de conversar, avise-me.
Que quereria insinuar? Saberia Buzby alguma coisa de interesse e pretenderia extrair-lhe dinheiro a troco de informações?
O forasteiro voltou a tirar o esfarrapado chapéu brindou-o com novo sorriso.
— E se me vir por acaso em sítios onde o senhor esteja, não se inquiete. Não ando a espiá-lo. Simples curiosidade, já lhe disse. Boas noites, «mister» Conley. Que se divirta!
Jas deixou-o ir sem tentar detê-lo. Depois entrou no «A Mexicana».
Jas ajustou bem a roupa nova, acendeu um charuto havano e caminhou lentamente pelo passeio, a gozar o fresco. Sentia-se jovial, cheio de prazer ao notar que era o alvo das atenções de todos com quem se cruzava. Sobretudo, ao sentir no fundo da algibeira o maço de notas e pensar que podia gastá-las tranquilamente, sem se ralar nada.
Era um sentimento novo, que lhe embriagava os sentidos corno uma garrafa do pior «whisky».
«A Mexicana» era um edifício de adobe, decorado ao estilo espanhol com muitos letreiros de cores vivas na fachada. Ali havia sempre música, bom humor, boa bebida e raparigas alegres que se aplicavam em tornar agradável a estada dos clientes. Sobretudo dos clientes que traziam as algibeiras bem recheadas. E Jas precisava terrivelmente de que lhe tornassem a vida agradável. Precisava de ver os outros fazer tudo para o satisfazer. Jas vivia como num sonho.
Quando estava quase a alcançar a porta, o seu sentido de vigilância, que ainda funcionava 'com a rigidez dos tempos difíceis, disse-lhe que estava a ser seguido.
Foi uma sensação estranha, incómoda, indefinida. Os seus próprios passos sobre o chão de tábuas abafavam as passadas do outro homem.
Bruscamente, Jas deteve-se e deu meia volta, mantendo a mão direita junto da coronha do seu revólver. Efetivamente alguém caminhava atrás dele a dez passos de distância.
Não pôde ver-lhe imediatamente o rosto pois o passeio era mal iluminado. E o outro, ao vê-lo parado e a olhá-lo, hesitou um segundo. Mas logo continuou a andar.
Quando chegou perto de Jas, este pôde ver que se tratava de um tipo curioso. Teria à volta de cinquenta anos e era forte como um toiro. Mas o rosto não correspondia à sua força física. Parecia, pelo contrário, brando e despreocupado. Estava mal barbeado, com as guedelhas a cair-lhe para a frente, sob o sujo e roto penante.
A roupa não era melhor. Mas sorria, e os seus olhos pareceram a Jas os mais trocistas que já vira.
Em vez de se aborrecer com a descarada observação de Jas, o tipo brindou-o com um sorriso e levou dois dedos à aba do chapéu, desbarretando-se, como se saudasse uma dama.
— Boas noites, «mister» Conley — cumprimentou. — Agradável temperatura, não é verdade?
E dispôs-se a seguir o seu caminho.
Jas nunca o tinha visto anteriormente, e sentiu-se incapaz de deixá-lo seguir, sem esclarecer a sua presença e o motivo por que lhe conhecia o nome.
— Espere — disse.
O outro parou, quando já o tinha ultrapassado alguns passos.
— Chamava-me a mim?
— Não creio que haja aqui outra pessoa perto.
Conley pôs-se à frente dele com cara de poucos amigos.
— Que quer? — perguntou-lhe.
E como o outro esboçasse um gesto de divertido assombro, corno a dizer que não queria nada, atalhou:
— Não se faça parvo. Vem a seguir-me.
O desconhecido quase soltou urna gargalhada.
— Porque conhece o meu nome? Foi Merrick quem o mandou?
— Oh, não! Garanto-lhe que não ando a mandado de ninguém. Simples curiosidade pessoal. Fala-se tanto de si na cidade que não pude resistir à tentação de conhecê-lo de perto. Espero que não se importe, hã?
Jas decidiu pôr-se em guarda.
— Os espiões põem-me nervoso avisou. — Se tem alguma ideia, o melhor é pôr as cartas na mesa.
— Garanto-lhe que não. Mas, já que estamos de conversa, aproveito para dizer-lhe uma coisa: chamo-me Lynn Buzby, sou forasteiro em Sakerfield, não tenho amigos por cá e às vezes falo pelos cotovelos de coisas agradáveis, quando alguém sabe soltar-me a língua... Se algum dia se sentir aborrecido e com vontade de conversar, avise-me.
Que quereria insinuar? Saberia Buzby alguma coisa de interesse e pretenderia extrair-lhe dinheiro a troco de informações?
O forasteiro voltou a tirar o esfarrapado chapéu brindou-o com novo sorriso.
— E se me vir por acaso em sítios onde o senhor esteja, não se inquiete. Não ando a espiá-lo. Simples curiosidade, já lhe disse. Boas noites, «mister» Conley. Que se divirta!
Jas deixou-o ir sem tentar detê-lo. Depois entrou no «A Mexicana».
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