Aquilo era Coffeyville. Oklahoma distava apenas três milhas deste amplo agrupamento de edifícios de ladrilho, madeira e pedra, que era um ponto estratégico, abundante em milícia de uniforme azul, com a qual Shady Dolan e a sua inseparável companheira se cruzaram, nas ruas de acesso à cidade, aparentando total serenidade.
Rondas de vigilância militar, solicitavam documentos ou passaportes militares aos viajantes de aspeto suspeito que entravam em Coffeyville. mas evidentemente Dolan e a rapariga, não faziam parte desse número, porque ao cruzar com total indiferença e ostentação o portão guarnecido do quartel unionista, soldados e oficiais olharam, meio curiosos meio admirados, a bela loira sem pensar sequer em importuná-los.
— Primeira prova satisfatória — disse olhando Dolan de soslaio.
Shady sorriu. Virgínia tinha a virtude de fazer o perigo divertido. Como se em vez de arriscar a vida a cada passo, estivesse fazendo um alegre jogo sem consequências.
— Veremos se há tanta sorte na segunda vez — comentou entre dentes.
Essa segunda vez não tardou a surgir... começou com uma violentíssima explosão quase em frente deles ao dobrar uma das labirínticas vielas do bairro extremo da cidade, cujos edifícios apareciam ainda cheios de influência colonial.
A explosão levantou uma espessa fumarada no fim da rua, ao mesmo tempo que rubras línguas de fogo serpenteavam no céu azul da manhã, e começaram a ouvir-se gritos, correrias, e uma voz estridente que gritava:
— A ele, que não escape! É um sulista, é um traidor assassino! Agarrem-no! É um índio!
A barafunda era indiscritível, um edifício era pasto das chamas. Shady, rapidamente, fugiu para um dos lados da rua, e tomando as rédeas do cavalo de Virgínia, puxou-as com firmeza, para tirá-lo também do caminho seguido pelos possíveis fugitivos.
Mal acabara de o fazer, do meio do fumo saltou um homenzinho fugidio, de cabelos crespos, expressão angustiada e face muito pálida, olhando para trás com olhares aterrorizados. Atrás dele, sem surgir ainda do fumo, soavam as vozes de alarme.
Dolan, saltou impulsivamente, do cavalo quando o salteador cruzou na sua frente. Caiu com tão matemática precisão, que lhe dobrou as pernas sob o seu peso, e ambos rolaram no meio de uma nuvem de pó, pelo meio da rua. O pele vermelha rugiu entre os dentes:
— Maldito yanque! — e num gesto rápido, a sua mão desapareceu nas pregas da sua camisa, para reaparecer armada de um afilado punhal, procurando a garganta de Dolan.
Shady, veloz, agarrou-lhe no pulso, fez uma férrea pressão sobre ele, dobrando-o, fazendo-o soltar a arma. Tilintou a lâmina sobre o pó pedregoso. À distância apareceram os primeiros perseguidores, vociferantes e precipitados.
— Por caridade... — gemeu o 'homenzinho, retorcendo o braço sob a força de Dolan.— Vão-me linchar... Ajude-me!...
Dolan vacilou um momento. Esqueceu-se de que era um nortista, e que tinha por missão combater homens como aquele. Por outro lado, não podia chegar a Coffeyville, alardeando ser unionista, se queria obter algo proveitoso nas suas pesquisas. Rápido sussurrou entre dentes:
— Está bem escape. Dê-me um golpe, como se me colhesse de surpresa. Depois, pegue no meu revólver e fuja... procure não matar ninguém...
O pele vermelha não se fez rogado. Disparou o seu punho direito como uma catapulta, Dolan fez a sua parte, deixando-se cair de costas na ruela, o pele vermelha saiu disparado como que impulsionado por uma mola, e em vez de perder tempo a tirar a arma a Dolan, desapareceu com incrível rapidez por uma ruazinha próxima. A grande maioria dos seus perseguidores lançou-se no seu encalce, enquanto que os últimos, um oficial e três soldados com uniforme azul, se detinham, ajudando Dolan a recompor-se.
— Fez-lhe algum mal esse assassino? — perguntou solícito o oficial.
— O homenzinho luta com alma! — assentiu Dolan. O que é que ele fez?
— Pôs uma bomba num depósito de munições e armamento militar, aproveitando-se dum pequeno descuido dos guardas. Os sulistas são assim, senhor. Fanáticos, leais até à morte à sua bandeira. Creio que não acabará esta guerra enquanto houver muitos assim...
— Calculo que tenha razão, oficial — disse Dolan, dispensando a ajuda, para dirigir-se ao seu cavalo.
Virgínia, montada no seu cavalo, ouvia a conversa com um ar aparentemente tranquilo. Sob a pele, os nervos retesavam-se.
— Obrigado. Tenho que seguir o meu caminho. Foi uma pena que se tivesse escapado. Confiei demasiado no seu ar inofensivo...
— Compreendo, senhor — sorriu por sua vez o oficial. —Esses piratas conhecem muito bem todos os cantos desta cidade e uma vez em fuga, não há quem lhes dê caça. De qualquer modo, muito agradecidos, senhor...
— Harris — disse rapidamente Shady Chuck Harris, da Califórnia.
— Agora, terá que perdoar-me, senhor Harris — o sorriso do oficial fez-se mais amplo e vacilante. — Temos que pedir os documentos a todos os viajantes que chegam a Coffeyville. São ordens rigorosas.
— Compreendo — o sorriso de Dolan também cresceu. Torna-se divertido que um homem que luta com um sulista para o prender, tenha que mostrar o salvo-conduto. Mas enfim, se não há outro remédio...
— Não há, senhor, e deveras o lamento — desculpou-se o oficial. — A ordem é tão severa que corro o perigo dum Conselho de Guerra, se a não cumpro à risca. Naturalmente, o senhor está fora de suspeita, mas será melhor evitar complicações. E um pró-forma. Quere-me deixar ver o seu salvo-conduto e o da senhora?
— Também o dela? — Dolan fingiu surpreender-se.
— Oh, sim. Otimamente, temos sofrido uma invasão de formosas espias sulistas. A sua... companheira é formosa, senhor Harris.
— Mas não sulista — riu Dolan.
Esteve quase para dizer que ela era a filha do Juiz Hodgins. Mas... e se o próprio Juiz já os tinha denunciado?
— Bem, estou perdendo um tempo precioso para os meus negócios, mas como tanto se empenha...
— Demorá-lo-ei apenas um minuto — prometeu o oficial olhando-o com firmeza.
Shady levou a mão ao casaco com a maior naturalidade. Tinha previsto tudo desde muito antes. Já o tinha combinado com Virgínia. Esperava que ela respondesse a tempo, ao ver o seu gesto de procurar a inexistente documentação. Ao todo eram só três soldados e um oficial demasiado jovem...
— Deploro-o, oficial — disse com suavidade, exibindo o revólver engatilhado, perante o pasmo dos quatro militares. O senhor obriga-me.
— Mas senhor Harris...
— Chamo-me Dolan, Shady Dolan. Esta senhora é Virgínia Hodgins, a filha do Juiz Hodgins. Carecemos de salvo-condutos, mas somos nortistas. No entanto, como ninguém vai acreditar em nós, terei que utilizar este salvo-conduto de aço.
— Muito eficaz — disse friamente o oficial, sem se mover. — Mas não me convencerão de que são nortistas... Shady Dolan, procurado por espionagem a favor da Confederação. Julga que não sabemos estas coisas em Coffeyville?
Shady teve um trejeito trocista, e acercou-se do seu cavalo. Virgínia na sua sela, tinha correspondido à sua ação. Outro revólver aparecia na sua mão, apontado aos restantes soldados.
— Não poderão ir longe — disse o oficial. — É somente uma vitória temporária.
— Conformo-me — riu Dolan. — Vamos, Virgínia. Temos que andar um pouco depressa por agora...
Subiu para o cavalo, de forma a ter sempre os quatro homens na mira da sua pistola. Inesperadamente o perigo surgiu-lhes por detrás das costas, na rua deserta, donde parecia improvável poder vir alguém, pois tudo o que se abarcava com a vista eram tapumes e cercas de tábuas velhas.
Por detrás de uma dessas cercas, apareceram os rostos de vários soldados unionistas, armados de rifles, e um sargento comunicou-lhes:
— Não se mexam, senão fazemos de vocês um passador!
Dolan apesar disso, voltou-se, e a resposta imediata foi um disparo que lhe levou o revólver das mãos, deixando-o inerme frente ao inimigo. Quanto a Virgínia, tentou disparar, mas um dos soldados a mando do oficial, caiu sobre ela, derrubando-a do cavalo aparatosamente, e desarmando-a um momento depois.
Shady encontrou-se rodeado de armas de fogo, e o oficial, encarando-o com ar jocoso, disse alegremente:
— Bem, Dolan, a partida terminou. Larga viagem a sua para terminar assim. Compreendo a sua atitude, porque estamos em guerra, você e eu. Compreenda, pois, também a minha atitude. Vamos!
No duro olhar cinzento do oficial, lia-se a determinação. O alto californiano encolheu os ombros filosoficamente, olhou Virgínia, e consolou-a suavemente:
—Não te desesperes querida. Somente poderíamos esperar coisas assim, ao fim e ao cabo...
Nem Shady nem ela, ao afastarem-se rodeados de soldados de azul, em direção ao centro da cidade, se aperceberam da presença dum homem, metido num obscuro portal, que os seguia com a vista à medida que se afastavam. Prontamente, esse homem saiu do portal e começou a correr, e perdeu-se por outra ruela contígua ao armazém militar, que ardia ainda.
Antes do edifício do quartel militar da União, uma rua escura corria entre duas altas paredes de edifícios de pedra.
O oficial, que tinha interesse em evitar as ruas mais frequentadas, sem dúvida para evitar um possível linchamento, adiantou-se por ali, à cabeça dos seus homens. Depressa se deteve, ao ver cruzar um grande carro de mato, pela saída da rua e aí estacar, bloqueando aquela saída. Ao mesmo tempo, ouviu-se um agudo chiar pelas suas costas. O oficial e os soldados voltaram-se rapidamente, à procura do motivo causador dele... e encontraram-se com outro carro de mato que lhes cobria a saída oposta. Estavam bloqueados!
— Todos alerta! — ordenou o oficial. Isto cheira-me a emboscada e...
Não prosseguiu. Shady Dolan viu aparecer a uma janela um grupo de homens armados, ao mesmo tempo que dos telhados das casas e das janelas próximas, caía em cima dos soldados uma autêntica nuvem formada por mais de uma dezena de homens. Os sete soldados e o oficial reagiram, dispostos a usar as armas de fogo para repelir o ataque, mas a chuva de homens caídos literalmente do céu, surpreendeu-os, impedindo a luta a tiros e o seu consequente alarme.
O oficial rolou inerte aos pés de Dolan, sob uma dura coronhada na nuca, e um indivíduo, totalmente desconhecido lançou-se sobre Dolan, entregando-lhe um revólver e dizendo rapidamente:
— Vamos, lute sem fazer ruído! Há que evitar o alarme geral!
Shady entendia perfeitamente, se bem que não compreendesse a razão do ataque. Um soldado voltou-se para ele, e o californiano limitou-se a aplicar-lhe um murro no ventre, que o fez vergar. Logo, um golpe da esquerda ao queixo, colhendo-o de alto a baixo. Enviou-o aparatosamente contra um muro, por onde resvalou, até se dobrar completamente no solo poeirento.
Virgínia julgou ser aquele momento propício a prestar apoio a Dolan, e arrebatando o revólver ao oficial caído, aproximou-se donde combatia um dos atacantes, tentando impedir que um soldado apertasse o gatilho do seu rifle, no que ele concentrava todas as suas energias e a rapariga solucionou rapidamente a questão com um impressionante golpe na nuca, que deixou o soldado prostrado.
O atacante olhou-a, atónito, mas acto contínuo acudiu em defesa dos seus companheiros, para eliminar o resto dos militares. Shady Dolan, fazendo apelo à sua alta estatura e às suas invulgares forças, fazia girar o revólver, e em cada volta tombava um adversário. Instantes depois, o chão parecia atapetado de azul, e nesse momento numa das extremidades da rua surgiu um homem fazendo vigorosos sinais aos combatentes.
— Depressa, vamos! Vêm aí as patrulhas! Metam-nos no esconderijo da palha e fujamos antes que seja tarde! Não se fizeram esperar.
Dolan sentiu-se empurrado por umas mãos amigas que o compeliam a correr, ao mesmo tempo que uma voz sussurrava dirigindo-se a ele e a Virgínia: —
Vamos companheiros! Estes cães destes yanques abundam como ratas! Depressa, que agora já estão livres de novo!
Naquelas insólitas circunstâncias, totalmente alheias aos seus planos, Shady não podia fazer outra coisa senão seguir os seus imprevistos salvadores, fossem eles quem fossem. E foi o que fez, agarrando Virgínia por uma mão, correram ambos atrás dos assaltantes.
Quando alcançaram o extremo oposto da rua aconteceu algo de surpreendente: um homenzarrão alto e loiro, de ombros largos, que conduzia o carro de mato, puxou uma alavanca escondida na palha e abriu-se uma porta circular, muito bem disfarçada de palha.
Rapidamente, Dolan e ela foram forçados a entrar por ela, seguidos sem perda de tempo por todos os outros. Assombrado, Dolan verificou que o suposto monte de palha não era mais .do que uma cavidade totalmente oca e recoberta por uma armação firme e resistente, sobre a qual a palha estava colocada, à guisa de camuflagem, ocultando o esconderijo.
Na obscuridade do lugar, aonde só chegava a difusa claridade que se filtrava através das frestas, dissimuladas pela palha exterior e que ao mesmo tempo eram respiradores engenhosos e atalaias para tudo o que ocorresse lá fora, Shady Dolan oprimiu com força ,a mão de Virgínia, que disse lentamente:
— Mas, Shady, o que significa tudo isto?
— Espero que depressa o saberemos — disse num murmúrio alentador o alto californiano. — De um modo ou doutro as coisas precipitaram-se.
— Para onde?
— Quem o sabe? Talvez dentro de algumas horas vejamos mais claro.
Irritado Dolan passeava de um lado para o outro.
— É uma coisa maravilhosa — exclamou irado. — Parece que vamos de cela em cela e de carcereiro em carcereiro. Que raio nos querem fazer fechando-nos aqui.
— Acalma-te Shady — recomendou Virgínia, sentada num banco carunchoso, junto à única mesa que mobilava o retângulo de sólidas tábuas, onde se encontravam. — Parece-me que sou eu quem tem atraído a desgraça. Não param de nos suceder coisas desagradáveis.
— Não digas tolices. És a única coisa boa e realmente bela de tudo isto... — os seus olhares cruzaram-se doces e ternos. — Jamais devias ter unido o teu destino a um homem como eu, aventureiro, temerário e vagabundo. Necessitavas de um homem de outra espécie, mais digno de ti.
— Adoro a vida aventureira. E esta indecisão de agora, este temor latente, o ignorar o nosso destino imediato, faz-me sentir uma emoção selvagem, Shady. Só temo por ti, pela tua vida, não pela minha.
Dolan sorriu, admirado uma vez mais pelo carácter estranho e impetuoso daquela audaz criatura. Não tinha sentido terror ao viajar naquele carro de mato, nem sequer das duas ou três ocasiões em que foram detidos por soldados da União, antes de entrar no que sem dúvida era um telheiro ou estábulo coberto, donde, por uma galeria húmida, que provavelmente era subterrânea, haviam sido conduzidos até ali. Antes de deixá-los ali sós e desarmados, fechando-lhes a porta com chave e ferrolho, um dos seus salvadores tinha-lhes dito brevemente:
— Dentro em pouco o chefe os receberá.
E ali estavam ainda, passadas já duas horas de interminável espera. A que chefe se teria ele referido? A um simples cabecilha, ou ao autêntico chefe do sistema de espionagem sulista em Kansas? Já desconfiava de tudo.
Sentou-se na terra, sobre um monte de feno, junto a Virgínia, refletindo sobre as mil coisas que não conseguia entender naquele enredo iniciado quando recebeu uma ordem de um importante membro do Governo Federal, ordenando-o a dirigir-se a Fort Copper e pôr-se em contacto com o comandante Wilkers, para uma missão da máxima importância. O próprio Wilkers, requeria Dolan, famoso por tantos motivos, para aquele difícil e arriscado trabalho. Aonde estaria agora Wilkers, desaparecido do Fort Cooper? Morto, prisioneiro? Era o único homem que podia evitar a sua execução, e tinha desaparecido.
Agora, estava à mercê dos seus próprios amigos e inimigos, já que o carácter real da sua missão, chegaria quando tosse demasiado tarde, com as dificuldades provocadas pela guerra nas comunicações e mensagens.
De repente, o fio dos seus pensamentos foi cortado. Estavam movendo o ferrolho da porta. Depois uma chave girou na fechadura. Retesou-se alerta, olhando para Virgínia com intensidade. Ela retribuiu-lhe o olhar. Esperaram em silêncio.
Rondas de vigilância militar, solicitavam documentos ou passaportes militares aos viajantes de aspeto suspeito que entravam em Coffeyville. mas evidentemente Dolan e a rapariga, não faziam parte desse número, porque ao cruzar com total indiferença e ostentação o portão guarnecido do quartel unionista, soldados e oficiais olharam, meio curiosos meio admirados, a bela loira sem pensar sequer em importuná-los.
— Primeira prova satisfatória — disse olhando Dolan de soslaio.
Shady sorriu. Virgínia tinha a virtude de fazer o perigo divertido. Como se em vez de arriscar a vida a cada passo, estivesse fazendo um alegre jogo sem consequências.
— Veremos se há tanta sorte na segunda vez — comentou entre dentes.
Essa segunda vez não tardou a surgir... começou com uma violentíssima explosão quase em frente deles ao dobrar uma das labirínticas vielas do bairro extremo da cidade, cujos edifícios apareciam ainda cheios de influência colonial.
A explosão levantou uma espessa fumarada no fim da rua, ao mesmo tempo que rubras línguas de fogo serpenteavam no céu azul da manhã, e começaram a ouvir-se gritos, correrias, e uma voz estridente que gritava:
— A ele, que não escape! É um sulista, é um traidor assassino! Agarrem-no! É um índio!
A barafunda era indiscritível, um edifício era pasto das chamas. Shady, rapidamente, fugiu para um dos lados da rua, e tomando as rédeas do cavalo de Virgínia, puxou-as com firmeza, para tirá-lo também do caminho seguido pelos possíveis fugitivos.
Mal acabara de o fazer, do meio do fumo saltou um homenzinho fugidio, de cabelos crespos, expressão angustiada e face muito pálida, olhando para trás com olhares aterrorizados. Atrás dele, sem surgir ainda do fumo, soavam as vozes de alarme.
Dolan, saltou impulsivamente, do cavalo quando o salteador cruzou na sua frente. Caiu com tão matemática precisão, que lhe dobrou as pernas sob o seu peso, e ambos rolaram no meio de uma nuvem de pó, pelo meio da rua. O pele vermelha rugiu entre os dentes:
— Maldito yanque! — e num gesto rápido, a sua mão desapareceu nas pregas da sua camisa, para reaparecer armada de um afilado punhal, procurando a garganta de Dolan.
Shady, veloz, agarrou-lhe no pulso, fez uma férrea pressão sobre ele, dobrando-o, fazendo-o soltar a arma. Tilintou a lâmina sobre o pó pedregoso. À distância apareceram os primeiros perseguidores, vociferantes e precipitados.
— Por caridade... — gemeu o 'homenzinho, retorcendo o braço sob a força de Dolan.— Vão-me linchar... Ajude-me!...
Dolan vacilou um momento. Esqueceu-se de que era um nortista, e que tinha por missão combater homens como aquele. Por outro lado, não podia chegar a Coffeyville, alardeando ser unionista, se queria obter algo proveitoso nas suas pesquisas. Rápido sussurrou entre dentes:
— Está bem escape. Dê-me um golpe, como se me colhesse de surpresa. Depois, pegue no meu revólver e fuja... procure não matar ninguém...
O pele vermelha não se fez rogado. Disparou o seu punho direito como uma catapulta, Dolan fez a sua parte, deixando-se cair de costas na ruela, o pele vermelha saiu disparado como que impulsionado por uma mola, e em vez de perder tempo a tirar a arma a Dolan, desapareceu com incrível rapidez por uma ruazinha próxima. A grande maioria dos seus perseguidores lançou-se no seu encalce, enquanto que os últimos, um oficial e três soldados com uniforme azul, se detinham, ajudando Dolan a recompor-se.
— Fez-lhe algum mal esse assassino? — perguntou solícito o oficial.
— O homenzinho luta com alma! — assentiu Dolan. O que é que ele fez?
— Pôs uma bomba num depósito de munições e armamento militar, aproveitando-se dum pequeno descuido dos guardas. Os sulistas são assim, senhor. Fanáticos, leais até à morte à sua bandeira. Creio que não acabará esta guerra enquanto houver muitos assim...
— Calculo que tenha razão, oficial — disse Dolan, dispensando a ajuda, para dirigir-se ao seu cavalo.
Virgínia, montada no seu cavalo, ouvia a conversa com um ar aparentemente tranquilo. Sob a pele, os nervos retesavam-se.
— Obrigado. Tenho que seguir o meu caminho. Foi uma pena que se tivesse escapado. Confiei demasiado no seu ar inofensivo...
— Compreendo, senhor — sorriu por sua vez o oficial. —Esses piratas conhecem muito bem todos os cantos desta cidade e uma vez em fuga, não há quem lhes dê caça. De qualquer modo, muito agradecidos, senhor...
— Harris — disse rapidamente Shady Chuck Harris, da Califórnia.
— Agora, terá que perdoar-me, senhor Harris — o sorriso do oficial fez-se mais amplo e vacilante. — Temos que pedir os documentos a todos os viajantes que chegam a Coffeyville. São ordens rigorosas.
— Compreendo — o sorriso de Dolan também cresceu. Torna-se divertido que um homem que luta com um sulista para o prender, tenha que mostrar o salvo-conduto. Mas enfim, se não há outro remédio...
— Não há, senhor, e deveras o lamento — desculpou-se o oficial. — A ordem é tão severa que corro o perigo dum Conselho de Guerra, se a não cumpro à risca. Naturalmente, o senhor está fora de suspeita, mas será melhor evitar complicações. E um pró-forma. Quere-me deixar ver o seu salvo-conduto e o da senhora?
— Também o dela? — Dolan fingiu surpreender-se.
— Oh, sim. Otimamente, temos sofrido uma invasão de formosas espias sulistas. A sua... companheira é formosa, senhor Harris.
— Mas não sulista — riu Dolan.
Esteve quase para dizer que ela era a filha do Juiz Hodgins. Mas... e se o próprio Juiz já os tinha denunciado?
— Bem, estou perdendo um tempo precioso para os meus negócios, mas como tanto se empenha...
— Demorá-lo-ei apenas um minuto — prometeu o oficial olhando-o com firmeza.
Shady levou a mão ao casaco com a maior naturalidade. Tinha previsto tudo desde muito antes. Já o tinha combinado com Virgínia. Esperava que ela respondesse a tempo, ao ver o seu gesto de procurar a inexistente documentação. Ao todo eram só três soldados e um oficial demasiado jovem...
— Deploro-o, oficial — disse com suavidade, exibindo o revólver engatilhado, perante o pasmo dos quatro militares. O senhor obriga-me.
— Mas senhor Harris...
— Chamo-me Dolan, Shady Dolan. Esta senhora é Virgínia Hodgins, a filha do Juiz Hodgins. Carecemos de salvo-condutos, mas somos nortistas. No entanto, como ninguém vai acreditar em nós, terei que utilizar este salvo-conduto de aço.
— Muito eficaz — disse friamente o oficial, sem se mover. — Mas não me convencerão de que são nortistas... Shady Dolan, procurado por espionagem a favor da Confederação. Julga que não sabemos estas coisas em Coffeyville?
Shady teve um trejeito trocista, e acercou-se do seu cavalo. Virgínia na sua sela, tinha correspondido à sua ação. Outro revólver aparecia na sua mão, apontado aos restantes soldados.
— Não poderão ir longe — disse o oficial. — É somente uma vitória temporária.
— Conformo-me — riu Dolan. — Vamos, Virgínia. Temos que andar um pouco depressa por agora...
Subiu para o cavalo, de forma a ter sempre os quatro homens na mira da sua pistola. Inesperadamente o perigo surgiu-lhes por detrás das costas, na rua deserta, donde parecia improvável poder vir alguém, pois tudo o que se abarcava com a vista eram tapumes e cercas de tábuas velhas.
Por detrás de uma dessas cercas, apareceram os rostos de vários soldados unionistas, armados de rifles, e um sargento comunicou-lhes:
— Não se mexam, senão fazemos de vocês um passador!
Dolan apesar disso, voltou-se, e a resposta imediata foi um disparo que lhe levou o revólver das mãos, deixando-o inerme frente ao inimigo. Quanto a Virgínia, tentou disparar, mas um dos soldados a mando do oficial, caiu sobre ela, derrubando-a do cavalo aparatosamente, e desarmando-a um momento depois.
Shady encontrou-se rodeado de armas de fogo, e o oficial, encarando-o com ar jocoso, disse alegremente:
— Bem, Dolan, a partida terminou. Larga viagem a sua para terminar assim. Compreendo a sua atitude, porque estamos em guerra, você e eu. Compreenda, pois, também a minha atitude. Vamos!
No duro olhar cinzento do oficial, lia-se a determinação. O alto californiano encolheu os ombros filosoficamente, olhou Virgínia, e consolou-a suavemente:
—Não te desesperes querida. Somente poderíamos esperar coisas assim, ao fim e ao cabo...
Nem Shady nem ela, ao afastarem-se rodeados de soldados de azul, em direção ao centro da cidade, se aperceberam da presença dum homem, metido num obscuro portal, que os seguia com a vista à medida que se afastavam. Prontamente, esse homem saiu do portal e começou a correr, e perdeu-se por outra ruela contígua ao armazém militar, que ardia ainda.
Antes do edifício do quartel militar da União, uma rua escura corria entre duas altas paredes de edifícios de pedra.
O oficial, que tinha interesse em evitar as ruas mais frequentadas, sem dúvida para evitar um possível linchamento, adiantou-se por ali, à cabeça dos seus homens. Depressa se deteve, ao ver cruzar um grande carro de mato, pela saída da rua e aí estacar, bloqueando aquela saída. Ao mesmo tempo, ouviu-se um agudo chiar pelas suas costas. O oficial e os soldados voltaram-se rapidamente, à procura do motivo causador dele... e encontraram-se com outro carro de mato que lhes cobria a saída oposta. Estavam bloqueados!
— Todos alerta! — ordenou o oficial. Isto cheira-me a emboscada e...
Não prosseguiu. Shady Dolan viu aparecer a uma janela um grupo de homens armados, ao mesmo tempo que dos telhados das casas e das janelas próximas, caía em cima dos soldados uma autêntica nuvem formada por mais de uma dezena de homens. Os sete soldados e o oficial reagiram, dispostos a usar as armas de fogo para repelir o ataque, mas a chuva de homens caídos literalmente do céu, surpreendeu-os, impedindo a luta a tiros e o seu consequente alarme.
O oficial rolou inerte aos pés de Dolan, sob uma dura coronhada na nuca, e um indivíduo, totalmente desconhecido lançou-se sobre Dolan, entregando-lhe um revólver e dizendo rapidamente:
— Vamos, lute sem fazer ruído! Há que evitar o alarme geral!
Shady entendia perfeitamente, se bem que não compreendesse a razão do ataque. Um soldado voltou-se para ele, e o californiano limitou-se a aplicar-lhe um murro no ventre, que o fez vergar. Logo, um golpe da esquerda ao queixo, colhendo-o de alto a baixo. Enviou-o aparatosamente contra um muro, por onde resvalou, até se dobrar completamente no solo poeirento.
Virgínia julgou ser aquele momento propício a prestar apoio a Dolan, e arrebatando o revólver ao oficial caído, aproximou-se donde combatia um dos atacantes, tentando impedir que um soldado apertasse o gatilho do seu rifle, no que ele concentrava todas as suas energias e a rapariga solucionou rapidamente a questão com um impressionante golpe na nuca, que deixou o soldado prostrado.
O atacante olhou-a, atónito, mas acto contínuo acudiu em defesa dos seus companheiros, para eliminar o resto dos militares. Shady Dolan, fazendo apelo à sua alta estatura e às suas invulgares forças, fazia girar o revólver, e em cada volta tombava um adversário. Instantes depois, o chão parecia atapetado de azul, e nesse momento numa das extremidades da rua surgiu um homem fazendo vigorosos sinais aos combatentes.
— Depressa, vamos! Vêm aí as patrulhas! Metam-nos no esconderijo da palha e fujamos antes que seja tarde! Não se fizeram esperar.
Dolan sentiu-se empurrado por umas mãos amigas que o compeliam a correr, ao mesmo tempo que uma voz sussurrava dirigindo-se a ele e a Virgínia: —
Vamos companheiros! Estes cães destes yanques abundam como ratas! Depressa, que agora já estão livres de novo!
Naquelas insólitas circunstâncias, totalmente alheias aos seus planos, Shady não podia fazer outra coisa senão seguir os seus imprevistos salvadores, fossem eles quem fossem. E foi o que fez, agarrando Virgínia por uma mão, correram ambos atrás dos assaltantes.
Quando alcançaram o extremo oposto da rua aconteceu algo de surpreendente: um homenzarrão alto e loiro, de ombros largos, que conduzia o carro de mato, puxou uma alavanca escondida na palha e abriu-se uma porta circular, muito bem disfarçada de palha.
Rapidamente, Dolan e ela foram forçados a entrar por ela, seguidos sem perda de tempo por todos os outros. Assombrado, Dolan verificou que o suposto monte de palha não era mais .do que uma cavidade totalmente oca e recoberta por uma armação firme e resistente, sobre a qual a palha estava colocada, à guisa de camuflagem, ocultando o esconderijo.
Na obscuridade do lugar, aonde só chegava a difusa claridade que se filtrava através das frestas, dissimuladas pela palha exterior e que ao mesmo tempo eram respiradores engenhosos e atalaias para tudo o que ocorresse lá fora, Shady Dolan oprimiu com força ,a mão de Virgínia, que disse lentamente:
— Mas, Shady, o que significa tudo isto?
— Espero que depressa o saberemos — disse num murmúrio alentador o alto californiano. — De um modo ou doutro as coisas precipitaram-se.
— Para onde?
— Quem o sabe? Talvez dentro de algumas horas vejamos mais claro.
Irritado Dolan passeava de um lado para o outro.
— É uma coisa maravilhosa — exclamou irado. — Parece que vamos de cela em cela e de carcereiro em carcereiro. Que raio nos querem fazer fechando-nos aqui.
— Acalma-te Shady — recomendou Virgínia, sentada num banco carunchoso, junto à única mesa que mobilava o retângulo de sólidas tábuas, onde se encontravam. — Parece-me que sou eu quem tem atraído a desgraça. Não param de nos suceder coisas desagradáveis.
— Não digas tolices. És a única coisa boa e realmente bela de tudo isto... — os seus olhares cruzaram-se doces e ternos. — Jamais devias ter unido o teu destino a um homem como eu, aventureiro, temerário e vagabundo. Necessitavas de um homem de outra espécie, mais digno de ti.
— Adoro a vida aventureira. E esta indecisão de agora, este temor latente, o ignorar o nosso destino imediato, faz-me sentir uma emoção selvagem, Shady. Só temo por ti, pela tua vida, não pela minha.
Dolan sorriu, admirado uma vez mais pelo carácter estranho e impetuoso daquela audaz criatura. Não tinha sentido terror ao viajar naquele carro de mato, nem sequer das duas ou três ocasiões em que foram detidos por soldados da União, antes de entrar no que sem dúvida era um telheiro ou estábulo coberto, donde, por uma galeria húmida, que provavelmente era subterrânea, haviam sido conduzidos até ali. Antes de deixá-los ali sós e desarmados, fechando-lhes a porta com chave e ferrolho, um dos seus salvadores tinha-lhes dito brevemente:
— Dentro em pouco o chefe os receberá.
E ali estavam ainda, passadas já duas horas de interminável espera. A que chefe se teria ele referido? A um simples cabecilha, ou ao autêntico chefe do sistema de espionagem sulista em Kansas? Já desconfiava de tudo.
Sentou-se na terra, sobre um monte de feno, junto a Virgínia, refletindo sobre as mil coisas que não conseguia entender naquele enredo iniciado quando recebeu uma ordem de um importante membro do Governo Federal, ordenando-o a dirigir-se a Fort Copper e pôr-se em contacto com o comandante Wilkers, para uma missão da máxima importância. O próprio Wilkers, requeria Dolan, famoso por tantos motivos, para aquele difícil e arriscado trabalho. Aonde estaria agora Wilkers, desaparecido do Fort Cooper? Morto, prisioneiro? Era o único homem que podia evitar a sua execução, e tinha desaparecido.
Agora, estava à mercê dos seus próprios amigos e inimigos, já que o carácter real da sua missão, chegaria quando tosse demasiado tarde, com as dificuldades provocadas pela guerra nas comunicações e mensagens.
De repente, o fio dos seus pensamentos foi cortado. Estavam movendo o ferrolho da porta. Depois uma chave girou na fechadura. Retesou-se alerta, olhando para Virgínia com intensidade. Ela retribuiu-lhe o olhar. Esperaram em silêncio.
Ao abrir-se a porta, apareceu um dos sulistas, armado de revólver. Olhou para ambos e indicou-lhes, com ar inexpressivo:
— Venham comigo. O chefe quer falar consigo, Dolan.
Voltaram a olhar-se, Shady e ela. Depois, com as mãos fortemente agarradas, empreenderam a marcha atrás do sulista. que não fez qualquer ação agressiva com a sua arma, nem sequer apontando-a para eles.
Um corredor partia da porta daquele quarto, e nele cheirava intensamente a feno. Cruzaram um pequeno pátio interior, onde havia palha amontoada, arreios para cavalos, carros de mato e mil outros utensílios, antes de entrarem num enorme pórtico, no qual uma portazinha os levou a um corredor mais estreito. Terminava bruscamente, depois dum cotovelo, noutra portazita de tábuas, situadas no vão formado por uma escada que se perdia no piso superior do edifício.
O sulista parou, bateu três vezes 'com o punho, rápido, outras três vagarosamente, e uma última série de outras três pancadas rápidas na madeira. Imediatamente, uma voz profunda, disse do outro lado da porta:
— Entrem. Entraram.
Shady sofreu uma desilusão, porque se encontraram num enorme recinto que tinha todo o aspeto dum grande estábulo coberto, em cujas portas e janelas montavam guarda homens armados de raies. Numa parede, um retrato de Jefferson Davies, encimado pela bandeira de estrelas com pontas azuis: emblema do sul.
— Entre, entre, Dolan — disse com afabilidade um homem, situado no centro do estábulo, de pé junto a uma mesa. — Seja bem-vindo a Coffeyville.
Dolan olhou à sua volta, à medida que avançava com Virgínia. Contou para cima de vinte homens. Entre eles, viam-se o cara-de-fuinha do pele-vermelha sabotador, o gordo condutor do carro que lhe salvou a vida, e muitos outros, todos estudando-o atentamente.
O homem que falava, era rijo, não muito alto, mas de poderosa personalidade. Tinha o cabelo grisalho, ondulado e abundante, rosto bronzeado, e olhos escuros cor de âmbar.
Estendia-lhe a mão, e Dolan apertou-a, sem lhe tirar os olhos de cima. Sorria cordialmente o desconhecido, e ele sorriu também por sua vez, perguntando com simplicidade:
— Obrigado por tudo, senhor... Mas com quem tenho a honra de falar?
— Sou Mike Dodds, dono dos Armazéns Gerais de Coffeyville — disse, serenamente.
Dolan compreendeu. Estavam perante Dodds, o homem citado por Albert Crooks, depois da fuga de Fort Copper. Dodds o seu homem-chave em Coffeyville... estava ali agora.
— Venham comigo. O chefe quer falar consigo, Dolan.
Voltaram a olhar-se, Shady e ela. Depois, com as mãos fortemente agarradas, empreenderam a marcha atrás do sulista. que não fez qualquer ação agressiva com a sua arma, nem sequer apontando-a para eles.
Um corredor partia da porta daquele quarto, e nele cheirava intensamente a feno. Cruzaram um pequeno pátio interior, onde havia palha amontoada, arreios para cavalos, carros de mato e mil outros utensílios, antes de entrarem num enorme pórtico, no qual uma portazinha os levou a um corredor mais estreito. Terminava bruscamente, depois dum cotovelo, noutra portazita de tábuas, situadas no vão formado por uma escada que se perdia no piso superior do edifício.
O sulista parou, bateu três vezes 'com o punho, rápido, outras três vagarosamente, e uma última série de outras três pancadas rápidas na madeira. Imediatamente, uma voz profunda, disse do outro lado da porta:
— Entrem. Entraram.
Shady sofreu uma desilusão, porque se encontraram num enorme recinto que tinha todo o aspeto dum grande estábulo coberto, em cujas portas e janelas montavam guarda homens armados de raies. Numa parede, um retrato de Jefferson Davies, encimado pela bandeira de estrelas com pontas azuis: emblema do sul.
— Entre, entre, Dolan — disse com afabilidade um homem, situado no centro do estábulo, de pé junto a uma mesa. — Seja bem-vindo a Coffeyville.
Dolan olhou à sua volta, à medida que avançava com Virgínia. Contou para cima de vinte homens. Entre eles, viam-se o cara-de-fuinha do pele-vermelha sabotador, o gordo condutor do carro que lhe salvou a vida, e muitos outros, todos estudando-o atentamente.
O homem que falava, era rijo, não muito alto, mas de poderosa personalidade. Tinha o cabelo grisalho, ondulado e abundante, rosto bronzeado, e olhos escuros cor de âmbar.
Estendia-lhe a mão, e Dolan apertou-a, sem lhe tirar os olhos de cima. Sorria cordialmente o desconhecido, e ele sorriu também por sua vez, perguntando com simplicidade:
— Obrigado por tudo, senhor... Mas com quem tenho a honra de falar?
— Sou Mike Dodds, dono dos Armazéns Gerais de Coffeyville — disse, serenamente.
Dolan compreendeu. Estavam perante Dodds, o homem citado por Albert Crooks, depois da fuga de Fort Copper. Dodds o seu homem-chave em Coffeyville... estava ali agora.
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