domingo, 20 de agosto de 2017

BUF015. CAP VIII. O impostor desmascarado

Victória saiu do quarto de seu pai acompanhando o doutor Morley.
— Como é que o acha, doutor? — perguntou ansiosamente.
— Uma pequena coisa, Vic. Nada que dê razão para andares preocupada.
— Recompor-se-á?
— O quê, pensas o contrário? Esse grandalhão do Jonathan ainda fará muita guerra. Tens aquele remédio que lhe receitei?
— Sim, ainda resta meio frasco.
— Pois dá-lhe uma colher antes de cada refeição, e estas que sejam ligeiras!
Dialogavam descendo a escada. Victória viu Campbell sentado num banco do vestíbulo. O advogado estava pensativo e levantou os olhos ao ouvir passos, mostrando o rosto tisnado.
Victória fez as apresentações e logo perguntou a John:
— Conseguiste salvar o gado?
— Conseguiram-no os rapazes. Portaram-se bem.
— E tu? Deves estar esgotado.
— Nem por isso. Sentei-me apenas uns segundos. Ia subir agora para ver... o nosso pai. Contaram-me o que se passou esta tarde.
O doutor despediu-se e Campbell seguiu-o, desculpando-se perante a rapariga.
— Já volto, Vic. Tenha cuidado, doutor Morley, a noite está escura...
Fora de casa, junto ao carro do médico, John perguntou-lhe o estado do enfermo.
— Não quis assustar a sua irmã, David, mas o seu pai encontra-se bastante mal.
— Não se pode fazer nada?
Morley pigarreou, replicando:
— Meu filho, há casos perante os quais, desgraçadamente, a ciência se vê impotente. O seu pai é como um relógio que trabalha há muito tempo e que têm sofrido pancadas e reparações... Chega um dia em que não bastam arranjos. Pode-se pôr um coração novo?
— Compreendo-o. Obrigado, doutor.
O médico fustigou os cavalos e o carro partiu. Campbell regressou para junto de Victória que continuava no vestíbulo.
— Que pensas fazer, David?
— A respeito de quê?
— Sabes ao que me refiro. Projetas alguma coisa contra esses bandidos e quero que mo digas.
— São coisas de homens, compreendes? — respondeu o advogado, com voz autoritária. — Deixa-me proceder conforme eu desejo.
— Suponho que o teu gosto será meteres-te na boca do lobo! Não percebes que é isso exatamente o que eles procuraram?
— E que posso fazer? Vamos esperar que se cansem ou que façam marcha atrás? Esses foragidos estão dispostos a tudo; e se continuamos com os braços cruzados, ardemos também nós, mais dia menos dia. Hoje pegaram fogo à pradaria, amanhã pode ser a esta mesma casa... Não, Vic, há que nos enfrentarmos abertamente com a situação que eles criaram. Até agora, o pessoal do rancho Hubert terá estado na defensiva, tem-se limitado a acudir onde eles querem, para evitar uma catástrofe. Já suportámos demasiado!...
—Isso significará a nossa ruína total, David. Por que razão é que o há-de ser?
— Matarão os nossos homens, matar-te-ão a ti. Não haverá, depois, mais ninguém no rancho «Hubert»!
— E o que importa? — gritou Campbell. — Não os estão assassinando um a um? O que pensas tu que se passaria se eu amanhã fosse à cidade e intentasse recrutar gente?... Ninguém se atreveria a ajudar-nos! Cada baixa que temos transforma-se em vaga que nunca mais se preencherá, porque só um louco, no juízo de todos, se atreveria a ocupá-la...
Victória suspirou enquanto nos seus lábios florescia um sorriso.
— Agrada-me que sejas assim, David. Queria estar certa de que és como eu te sonhei...
O advogado teve uma expressão de amargura e murmurou:
— Como tu me sonhaste...
— Sim, David. Aprovo o teu plano. Ensina a Burnet e Grieser que nós não os tememos.
— Pedi a Parker que envie mensageiros a todos os pequenos lavradores da região. Quero trocar impressões com eles amanhã. A reunião será aqui. Subirei para ver o nosso pai...
— Não, deixa isso para amanhã. Estava a dormir quando saí do seu quarto.
— Está bem.
Despediram-se. Victória esperou, com a mão no puxador da porta, que John desaparecesse em direção à biblioteca.
As oito da manhã, Parker entrou na sala onde estava Campbell.
— Como correu isso, William? — perguntou.
— Não foi mau de todo. Cinco lavradores prometeram que estariam aqui às duas. Naturalmente, não sabem para que fim o senhor os chamou, já que eu nada lhes disse, mas ontem mesmo o adverti: eles vêm porque julgam que o rancho Hubert se deu por vencido na luta com Burnet e se dispõe a vender as suas reses...
— Bom! O importante é que não faltem é reunião.
Parker coçou o queixo, e disse:
— O senhor é quem manda, mas lembre-se do que lhe digo. Os lavradores chegarão com dinheiro para comprar o gado. Vêm dispostos a fazer um grande negócio. E quando o senhor lhes começar a falar de Burnet, dos seus sequazes, dos seus crimes e de que os chamou para formar um exército, deixá-lo-ão a meio do discurso.
— Mas eles serão assim tão boçais que não vejam as intenções de Burnet? Se até agora os deixou em paz é porque os seus ranchos não confinam com o seu, mas se cai o «Hubert», os seus dias estarão contados...
— Não farão caso. Eles pouco ou nada percebem de solidariedade. Os lavradores dizem que o que são o devem a eles mesmos e é certo. Trata-se de homens puramente individualistas, que romperam há, décadas com os laços que os unia à sociedade. Começaram com uma parelha, uma carroça, um pedaço de dinheiro e um raio de esperança. Isso era tudo quanto possuíam. O seu pai mostrara-lhes o caminho! Lutaram contra a chuva, a tempestade, a seca, as enfermidades e saíram triunfantes.' Mas, recorde, só lutam contra o que veem. Fale-lhes o senhor do perigo que representa a vizinhança de Burnet. Eles não o sentem! Rir-se-ão na sua própria cara...
— Obrigado, Parker, pelas suas informações. Confesso que sei pouco acerca das pessoas que vivem por aqui. De qualquer modo, tentarei convencê-los...
— Desejo-lhe a eloquência dum advogado. Necessita bastante dela!
Campbell tossiu várias vezes e repetiu:
— Obrigado, Parker.
O capataz saiu da sala, deixando John concentrado em profundas reflexões.
Às nove sentiu desejos de respirar a brisa fresca da manhã e abandonou a casa. Passeava talvez aí há uma meia hora por entre o pequeno bosque de álamos que havia junto ao tanque, quando ouviu o relinchar dum cavalo. Encontrou este sem ninguém e enrugou a testa pensando que era raro. Só havia uma explicação: que o animal pertencesse a qualquer pessoa estranha ao rancho, já que a camuflagem entre os álamos era evidente. Decidido a comprovar a sua suspeita, escondeu-se entre as várias árvores mais próximas, e esperou.
Dez minutos depois ouviu ruído de passos e saiu do seu esconderijo, quando um homem de rosto enegrecido se dispunha a montar o cavalo.
— O senhor tem um bonito animal! — comentou.
O outro voltou-se como uma flecha levando a mão ao revólver, mas ao ver o cano que lhe apontavam, desistiu desse movimento.
— Os visitantes bem educados não se retiram sem cumprimentar o dono da casa — acrescentou John, acercando-se do intruso.
Este, como resposta, torceu a boca.
— Estou à espera que me comunique o motivo da sua presença.
— Ia de viagem e tinha sede — explicou o outro. — Vi a casa e aproximei-me para pedir água.
— E deram-lha?
— Sim.
— Quem?
O desconhecido titubeou, exclamando por fim: — Uma mulher.
— Bonita?
— Não fixei.
— Então foi a Carolina. Uma senhora gorda, de olhos claros sugeriu o advogado.
— Sim. Disse-me que era esse o seu nome.
— E agora vai-se embora. Para onde é que se dirige?
— Para o Oeste.
Sem destino fixo, não é verdade?
— Bem... não tenho preferências. Se gosto dum sítio, fico nele, e pronto!...
— Suponho, então, que se achará otimamente instalado na casa de Burnet e Grieser...
O outro passou a língua pelos lábios e perguntou:
— Burnet e Grieser ? Quem são?
— Não se faça de novas. Para seu conhecimento dir-lhe-ei que nesta casa não há mulher alguma que seja gorda e tenha os olhos claros. Nem há, tão-pouco, quem se chame Carolina.
— Bem... e depois?
— E depois, vai-me dizer o objeto da sua visita.
— Perde o seu tempo e é uma lástima.
— Oxalá não pense assim daqui a pouco. Vamos a andar até à casa!
O desconhecido encolheu os ombros e obedeceu.
Quando se acercavam da escada, Parker saiu¬-lhes ao encontro. Olhou o prisioneiro de Campbell e deu um assobio.
— Onde é que o encontrou, David?
— Entre os álamos do tanque.
— Sabe que é?
— Ainda não teve a gentileza de dizer o seu nome!
— É Barry «el Nino», um dos atiradores de Burnet.
O aludido moveu a cabeça num gesto de estúpida vaidade.
— Pois está bastante crescido! — disse John, com ironia. — Por que terá ele vindo visitar-nos, Parker?
— Que me matem se o sei! — respondeu o capataz, coçando perplexo o coiro cabeludo.
— Mande vários homens revistar a casa. A firma Burnet & Grieser pode ter-nos obsequiado, desta feita, com alguma formosa bomba. Onde é que podemos encerrar este pássaro, de momento, sem perigo de que nos bata a asa?...
— Há uma cela que seu pai construiu, vai fazer quinze anos, para os delinquentes, enquanto o xerife não tomava conta deles. É por dar a ordem de revista e acompanhá-lo-ei.
Assim atuou. Momentos mais tarde John disse ao foragido:
— Para a frente. Hoje começam as tuas férias! Foi desarmado e metido na prisão situada na parte traseira da casa.
Campbell e o capataz caminharam um ao lado do outro, após terem-no fechado à chave. O primeiro pensava em voz alta:
— Esses bandidos não dão um passo sem que exista uma causa que o justifique. Para que teriam enviado um dos seus melhores homens?
— Para vigiar os nossos movimentos — respondeu, logo, Parker. — Eis a explicação. Temem que o senhor consiga aquilo que está tentando com os lavradores!
— É mais lógico que eles, conhecedores do terreno que pisam, pensem, como você, que os peque-nos rancheiros jamais nos ajudem. Não, não creio que seja por isso.
— Então não sei.
Sentaram-se no último degrau da escada e ficaram pensativos durante um bom pedaço, até que compareceram os homens encarregados de revistar a casa. Nenhum deles tinha encontrado o que quer que fosse de anormal.
— Viram a minha irmã? — perguntou John. — Sim — disse um. — Está no seu quarto, de-
certo que... — não terminou a frase, gaguejando. — Que se passa?
— Creio que esteve a chorar. Deve preocupá-la muito a enfermidade de seu pai.
O advogado levantou-se, agradeceu aos cow¬boys e entrou na vivenda.
Chamou suavemente, da porta dos aposentos de Victória, e uma voz débil autorizou-o a entrar.
— Que tal vai isso, Victória? — saudou Camp-bel com otimismo.
Ela não respondeu, abstraída na contemplação do exterior através das janelas.
— Não estejas a pensar no assunto — disse John. — O teu pai, quero dizer o papá, curar-se-á em breve...
Vic fixou-o de olhos vermelhos e murmurou: — Decidi terminar com tudo.
— Terminar com tudo? Que queres dizer? —Direi ao pai que aceite a oferta de Burnet e Grieser.
Campbell arqueou as sobrancelhas numa expressão muito característica.
— Estás no teu juízo perfeito, Vic?
— Precisamente por o estar é que adotei esta decisão! Não há mais intranquilidade, nem mais luta! Julgas que é humano ver como cada dia morrem os nossos rapazes? Quem será o próximo cadáver? — A rapariga falava nervosa. — Pode ser o papá!... Ou Parker!... Ou tu!...
— Mas, Victória, tu ontem não pensavas assim!... Aprovaste o meu plano, deste-me ânimo! O que é que se passa agora?
— Que pensei melhor. Direi ao pai qual é o teu desejo, que irás de novo para o Este. Para que nos havemos de arriscar mais? Continuar a resistir equivale ao suicídio. Depois de tudo, a oferta de Burnet e Grieser é aceitável.
— Quanto dão?
— Trinta mil dólares. Quinze mil a pronto e os outros quinze mil a pagar num prazo de seis meses.
—É uma fraude! E tu bem o sabes! — exclamou Campbell. — Não pagam nem a quinta parte do seu valor. E essa metade aprazada nunca mais os teus olhos a verão! Não posso permitir esse sacrifício!
— Lamento-o! Já te disse que está decidido.
— E julgas que o nosso pai vai dar consentimento a esse negócio sujo? É impossível!
— Farei com que assine o contrato sem saber o que é...
— Victória! Não podes fazer isso! Cometerias um crime!
— Faço-o pelo seu bem, que é o nosso. Campbell agarrou fortemente a jovem pelos braços.
— Olha para mim!... Bem de frente!
Ela, após vacilar uns segundos, obedeceu. Ele então perguntou:
— O que é que se está a passar? Exijo que mo digas! Tenho direito a sabê-lo!
Transcorreu um minuto de silêncio.
Por fim, Vic murmurou:
— Tens direito, dizes?
Campbell não pôde evitar um estremecimento, mas afirmou com firmeza:
— Tanto como tu!
— És muito engraçado, David. Não seria melhor que tirasses a máscara?
— Do que é que estás a falar?
Victória sorriu e respondeu:
— Voltaste por causa da herança. Soube-o desde o primeiro momento. Recebeste a carta em que te punha ao corrente da gravidade de nosso pai, e pensaste que não era mau negócio vir até Rockville. Aceitando a oferta de Burnet, fica tudo liquidado. Apanhas um bocado de dinheiro que te corresponda e tornas para essa mulherzinha que adoras. Quando te vir chegar com a carteira repleta, não mais te terá asco.
Campbell esbofeteou a cara de Victória com uma raiva que não conseguiu dominar.
A jovem soltou um gemido e ficou com o corpo dobrado, levando as mãos ao rosto.
O advogado olhou-a pelo espaço de uns segundos, girou sobre os calcanhares e saiu do aposento batendo com a porta.
Victória, quando se achou só, correu para a cama e arrojou-se para cima dela, rompendo em soluços.

*
Campbell passeava pelo atalho que conduzia à casa, presa de uma grande excitação. Apertava-se as mãos, e os seus olhos não se detinham num ponto fixo mais de três segundos. Consultou o relógio. Estava próxima a hora combinada para a reunião com os pequenos lavradores. De um momento para o outro começariam a chegar.
Por fim, depois de muita vacilação, dirigiu-se para a cela ocupada por Barry «el Niño». Abriu a porta com a chave que Parker lhe havia entregue, e penetrou no interior sem se incomodar a fechá-la.
O bandido, que se achava encostado a um enxergão, ergueu-se ao ouvir ruído, ficando sentado. Sorriu ironicamente, perguntando;
— Encontrou a bomba?
— Quero fazer um acordo com você.
— Sim? Que interessante.
— Aí tem a porta que o conduz à liberdade. — Solta-me já?! — disse Barry, impressionado. — É uma aldrabice?
—É o prémio para o que ficar vencedor no concurso que vamos realizar!
— Não me diga! Como num «Rodeo»?
— Mais emocionante, contudo!
— Quais são as bases? Não me inscrevo sem as conhecer!
— Vamos combater de homem para homem. Nas mesmas condições. Se você ganhar, vai-se embora; mas se eu vencer dir-me-á o que comunicou à minha irmã.
— É só isso? — inquiriu Barry, levantando-se.
— Quero adverti-lo duma coisa.
— Mais bases?
— Um simples esclarecimento. Poderia atormentá-lo até que me dissesse tudo o que necessito saber, mas repugna-me utilizar esses métodos.
— É um sentimental, não?
— Mas juro-lhe que não o serei se o vencer e não cumprir o prometido. Nesse caso marcá-lo-ei como a uma rês.
— Creio que não haverá necessidade de utilizar o ferro. Não disse de homem para homem? O senhor tem armas!
O advogado assentiu, desfivelou o cinturão e atirou-o para um canto, voltando a cabeça para o lado.
Nesse instante, Barry lançou o seu punho direito de encontro à mandíbula do confiado John, o qual foi arremessado até à parede.
O foragido deu um salto, dirigindo-se para o lugar onde descansavam as pistolas. Mas antes que pudesse tocar-lhes, Campbell caiu em cima dele, fazendo-o retroceder com duas pancadas nas costas.
— Devia ter compreendido que não jogava limpo... — articulou ao deter-se enquanto Barry recuava.
Este enrugou o nariz e respondeu:
— Quer lutar de verdade, não é? Bem, quando acabar consigo, nem os seus homens o vão conhecer...
Fintou com a esquerda e lançou um direto que Campbell recebeu junto a uma orelha, produzindo-lhe forte dor. John esquivou-se a um rapidíssimo gancho e respondeu com uma série ao estômago, que Barry encaixou mal. Então o bandido lançou-se para a frente e conseguiu tocar o fígado do seu rival que, ao dobrar-se, recebeu uma ajoelhada num ombro que o fez cair de costas contra a parede. Ficou estonteado, e Barry aproveitou a oportunidade para o golpear no rosto uma e outra vez. Campbell reuniu as suas forças e conseguiu apanhar o seu antagonista com uma terrível esquerda que o fez cambalear até ao centro da cela. Isso proporcionou-lhe um tempo precioso para se recompor, dissipando as sombras que lhe lançavam nos olhos e enchendo os pulmões de ar.
Quando apanhou, de novo, Barry na sua frente, fez uma ameaça com o corpo, correu para a direita e no instante em que o outro baixava guarda crendo que fugia, disparou-lhe os seus punhos, um atrás do outro, com uma rapidez vertiginosa. O foragido não esperava tal chuva e agachou-se tentando inutilizar os golpes. Campbell, que o vigiava, caçou-o com um gancho demolidor, levantando-o alguns centímetros do solo. Na queda torceu-se como um boneco de trapos e ficou inerte.
O advogado acercou-se, cambaleando, da parede, apanhou o seu cinturão e pô-lo. Depois esperou que o seu vencido rival voltasse a si.
Barry levantou-se passado um bocado, aos tropeções. Tinha o rosto ferido; mas o de John não teria melhor aspeto.
Este disse:
— Bem, agora é a sua vez.
Barry «el Niño» olhou o vencedor e pareceu pouco disposto a dar explicações.
— Que vai fazer comigo, se dou à língua?
— Continuará aqui encerrado. Terá de responder às queixas que houver contra você!
— Não me matará?
— Tem a minha palavra de que não o farei. Será julgado legalmente pela sua intervenção nos trabalhos de Burnet e Grieser.
— De acordo, senhor Campbell!
John ficou estupefacto ao ouvir-se chamar pelo seu nome.
— Não se admire — explicou o outro. — Burnet chegou à conclusão de que o senhor era o advogado de Tuscaloosa que falou com David Hubert antes de ser enforcado.
— E como é que ele pode afirmar isso?
— Porque tem a carta que Victória Hubert recebeu do seu irmão! — seguidamente Barry esclareceu Campbell do conteúdo dessa carta.
Pelo cérebro do advogado cruzou um pensamento insuspeito. Victória tinha sabido antes dele chegar a Rockville que não era David Hubert! Preferiu deixar para mais tarde a análise da situação que tal descobrimento originava, e continuou fazendo perguntas ao seu informador. Assim, soube a forma porque Burnet conseguira inteirar-se do que ele julgava um segredo.
— E qual foi, então, o plano dos seus patrões?
— Obrigar a menina Hubert a conseguir a assinatura de seu pai no documento de venda do rancho. Se antes desta noite não entregar o contrato que lhe trouxe, devidamente cumprido, Burnet informará Jonathan Hubert de que o senhor não é seu filho, mas sim um impostor.
Agora, tudo se tornava claro para Campbell. A atitude de Victória e as suas frases mordazes. Tinha pretendido feri-lo para justificar a sua mudança de opiniões a respeito da batalha que travavam.
Quando abandonou a cela, havia um sorriso nos seus lábios.
Parker viu-o da porta e gritou-lhe:
— Eh! Senhor Hubert!... Temos andado à sua procura! — e quando já estava mais perto e reparou no seu rosto, acrescentou: — O que é que se passou?
— Arrumei um assunto com Barry.
— Espero que ele tenha a cara pior do que a sua. Já estão aqui os lavradores. Não necessito repetir-lhe o plano que trazem!
— Levou-os para o escritório?
— Sim, senhor! Lá estão a mirar-se de soslaio, sem falar, preocupados apenas em levar a melhor talhada do que eles julgam uma liquidação.
— Quantos são?
— Seis. Houve um que, pelos vistos, se decidiu à última hora.
— Está bem. Vamos até lá.
— Preferia ficar por aqui...
— O senhor é o capataz. Deve estar informado das minhas decisões. Venha comigo.
Parker suspirou e seguiu Campbell.

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