segunda-feira, 21 de agosto de 2017

BUF015. CAP IX. Duas balas para cinco bandidos

John fez um exame rápido aos homens que se encontravam no escritório. Tinham sido apresentados por Parker e esperavam que aquele que eles julgavam filho de Jonathan Hubert fosse direito à questão que lhes interessava.
Campbell, falando claro, perguntou dirigindo-se a Peter Gaumont:
— Há quanto tempo está o senhor na comarca, Gaumont?
O aludido olhou para o advogado, mexeu-se na cadeira e esteve vários segundos sem responder. Depois abriu a boca:
— Vinte anos.
— E você, senhor Whislire?
— Vinte e dois.
— Estou seguro que os outros se encontram em Rockville mais ou menos desde essa altura!...
Os quatro lavradores restantes aquiesceram, um pouco perplexos.
— Custou-lhes muito chegar ao que são hoje — continuou a falar Campbell. — Aqui encontraram o sítio que procuravam. A maioria dos senhores terá mulher e filhos. É justo que um homem assegure a descendência. Todos queremos que o velho tronco não seque, e consola-nos pensar que no dia em que nos toque deixar este mundo, haverá outros que se encarreguem da nossa obra e a continuem. Mas há coisas que muitas vezes não tomamos em consideração. Já acaso fizeram esta pergunta a vós mesmos: «Terão os nossos filhos, quando morrermos, meios para defender a sua herança?» Não é vosso dever certificarem-se se, de facto, contribuíram para que eles tenham uma vida melhor? Ou são tão egoístas que só pensem nas dificuldades que vocês atravessaram, encolhendo os ombros ante as que claramente observam que se levantarão ante eles? Apostaria a minha cabeça em como teriam que responder afirmativamente a última pergunta.
Campbell fez uma pausa, contemplando, um a um, os lavradores. Parker coçava a cabeça conforme o seu costume. Logo, sabendo que lograra interessar o auditório, continuou:
— Há poucos dias que cheguei a Rockville, mas já sei tanto ou mais do que vocês a respeito do futuro dos vossos filhos. Não pretendo ser um mago. É algo que salta à vista e que os senhores se obstinam em não reparar. Dois homens, Burnet e Grieser, estão dispostos a ser os donos do território. Para levar a cabo os seus planos, necessitam apoderar-se deste rancho. Logo, quando o possuírem, tocará o turno de vocês ou de vossos filhos. Far-lhe-ão guerra com todos os seus meios, legais ou criminosos, como nos fazem a nós. Sabem perfeitamente que constituíram um bando com a pior gente que puderam encontrar em cinco Estados. Ladrões, assassinos, atiradores profissionais, a escória da sociedade... o xerife pode fazer muito pouco, quase nada, porque não encontra colaboradores. — Parou de falar vendo que os lavradores se moviam inquietos e, então, prosseguiu com mais rapidez: — Quando pensam em acordar? É este o momento de decidir sobre o futuro de todos os homens honrados de Rockville e de suas famílias. O caminho a seguir é este: Falar com o xerife e oferecer os nossos esforços para acabar o despotismo de Burnet e Grieser. Hoje mesmo, sem esperar o dia de amanhã, devemos atacar o covil dessas feras e destruir a sua força! Senhores, foi por esta razão que vos chamei! Têm um dever a cumprir, entre vocês e a sociedade! Não podem permitir a injustiça perante a vossa cara. Chegou a hora de punir, de pôr fora de combate, os que vivem à margem da lei! Se se decidem por isto, prepararão o caminho a seguir por vossos filhos, como disse ao princípio! Se autorizam o crime, e ficam impávidos à sua frente, sujeitam-se às mais graves consequências, e serão liquidados na primeira altura. E é tudo.
Um silêncio sepulcral caiu em toda a casa.
Correu um largo minuto antes que Gaumont o rompesse, dizendo:
— É muito simpático o que acaba de dizer, senhor Hubert; no entanto, acho que o assunto não é connosco. Compreendo a situação de Jonathan e lamento-a, mas creio que quando Burnet e Griesei consigam... este rancho, voltará a reinar a paz! Por isso, não posso dar a minha ajuda. Não quero expor os meus homens a uma morte quase certa por uma coisa que não nos diz respeito.
Depois de Gaumont, falou Nancey, um homem de cerca de sessenta anos.
— Que me atem ao rabo de um cavalo e me cortem o cabelo à escovinha se já ouvi algo maior que o seu discurso, senhor Hubert! Evidentemente que tenho de estar com o Gaumont. Esses tipos só querem a grande pradaria. Burnet mo tem assegurado várias vezes. Quando a possuírem, acabaram-se os tiros e os bandidos!
— Não conte comigo, tão-pouco — disse Whislire. — Seria uma verdadeira guerra civil e a vida das nossas mulheres, e desses filhos a que o senhor se refere, ficariam em perigo!
Campbell, dececionado, observou os rostos dos três que faltavam emitir as suas opiniões, mas nos seus olhares leu quais eram elas, e saiu em silêncio do escritório.
Parker uniu-se-lhe no vestíbulo.
— Sinto imenso — disse o capataz.
— O senhor tinha razão. Devia ter concordado consigo e não os chamar.
— Que pensa fazer agora?
— Vim aqui com um propósito e não me irei embora sem o ter levado a efeito. Vou procurar Burnet e Grieser.
— Com que finalidade?
— Prendê-los-ei e levá-los-ei atados com cordas ao xerife.
— Está louco? Sabe que não o conseguirá! Pelo contrário, se vai aos domínios desses foragidos não voltará com vida.
— Vou tentá-lo, Parker.
O capataz fixou-o nas pupilas. Por fim, declarou a Campbell:
— Já o conheço suficientemente para saber que nada o poderá dissuadir. Está bem, o senhor venceu! Quando saímos?
O advogado sorriu e respondeu, pondo a mão no ombro do amigo:
— Eu também sei que posso contar consigo e com a maioria dos rapazes, mas prometi a mim mesmo evitar uma carnificina. Irei só!
— É uma loucura! Haverá carnificina de qualquer das maneiras.
— Está enganado. Se eu fracassar, o rancho Hubert vender-se-á esta noite.
— Não o posso acreditar!...
— Está decidido por... Jonathan Hubert. Se não voltar dentro de cinco horas, fale com Victória. Ela há-de entregar-lhe o contrato que o senhor levará a Burnet. Adeus, Parker.
Este encontrava-se tão surpreendido, que não foi capaz de articular uma palavra de despedida.

* * *

O projétil trazia um silvo sinistro. Ricocheteou numa rocha e Campbell deteve o seu alazão. Recebeu ordem de levantar os braços e obedeceu, ouvindo uma gargalhada sardónica.
— Mas se é mesmo David Hubert! — exclamou Lionel, o sobrevivente do ataque à diligência, acercando-se do advogado, de revólver em punho. — Desmonte!
— Leve-me à presença de Burnet — pediu John, quando se encontrou em terra.
— Está habituado a dar ordens, não é verdade? — replicou Lionel, desarmando o seu prisioneiro pelas costas.
— Aceite-as apenas como uma sugestão...
— Que bem que ele fala. Vê-se logo que é um pombinho bem educado!
— Por que não acaba com as ironias e vamos ver os seus patrões?
O desalmado deu-lhe uma coronhada rápida e certeira na cara e ele caiu dolorosamente no chão.
— Sou eu quem manda! — e logo, ao ver que o homem que odiava se erguia, correndo-lhe o sangue pelos lábios, acrescentou: — Recorda-se do outro dia? Deu-me as armas dos meus companheiros para que me refrescassem a memória. Foi um bom conselho. Somente que se voltou contra si. Vou matá-lo.
Nesse caso você também não durará muito! Se eu morrer, os seus patrões perderão um negócio de cinquenta mil dólares.
Lionel ficou a olhar Campbell. Ao cabo duns segundos declarou:
— Não creio que seja um truque, porque seria pior para si. Onde está Barry? Ele devia ter regressado há muito tempo!
— Era isso o que eu queria dizer-lhe. Teve um acidente e eu ocupei o seu posto.
— Com que então, um acidente! Creio que o levarei mesmo aos meus chefes! Deve-lhes interessar saber porque é que você vem em lugar de Barry.
Quinze minutos mais tarde, John era introduzido no gabinete de Burnet e Grieser. Os dois biltres, de pé junto a uma mesa, sorriam maliciosamente.
— Caramba! É o nosso jovem Hubert, o homem da profecia! — exclamou Burnet.
Pode chamar-me pelo meu nome — respondeu o advogado, sorrindo também. E esclareceu: — Pelo verdadeiro.
— Muito bem, senhor Campbell! Parece que desta vez quis levar à boca um bocado demasiado grande e não o pode digerir... Tenho que felicitá-lo! Não estava mal pensado. Além de rapidez com a pistola, o senhor tem cérebro. Lastimo imenso não o ter conhecido antes. Tinha-o contratado com o dobro do ordenado que dou ao melhor dos meus homens.
— Não sei a que se refere.
— Eh, eh!... Não se faça parvo. Estamos aqui como em família. Apresentou-se como David Hubert para apanhar as propriedades ao velho. Há, porém, esta casualidade: a nós também nos interessa o rancho!
— A mim não me interessa.
— Não me diga, Campbell. O senhor deixa-me assombrado.
— Quero dizer: não me seduz no sentido que você lhe atribui!
— Já surgiu o advogado! — riu Burnet, mostrando os dentes separados.
— Acreditará ou não! Eu vim ~ente a Rockville para ajudar Jonathan Hubert na luta contra os senhores.
Grieser e Burnet olharam-se bastante admirados.
— Onde é que você quer chegar? — perguntou Grieser, dando um forte murro na mesa.
— E vim por cá pela vossa casa -- continuou Campbell — para que abandonem o que tencionam fazer e licenciem os seus profissionais do revólver.
— Está bom de cabeça? — perguntou em voz sumida Burnet, franzindo o cenho.
— Perfeitamente, e dou-lhes o prazo de meia hora para que decidam este assunto.
— Que espécie de jogo é o seu? — inquiriu Grieser.
— Se dentro de meia hora eu não tiver regressado a certo sítio perto do Vale das Sombras, os lavradores da comarca, com os seus homens, reduzirão esta casa a cinzas. Nem um de vocês escapará com vida.
Lionel deu um passo e exclamou:
— Está a mentir! Segui-o desde cinco milhas antes de chegar ao vale e vinha só. É uma treta!
— Que de nada lhe valerá, senhor Campbell —advertiu Burnet.
— Eu não lhe disse que me ia salvar. Ao vir aqui sabia que me expunha a não me acreditarem, mas resolvi entrevistar-me com os senhores para evitar que corra mais sangue.
Houve um silêncio, no fim do qual Burnet ordenou a Lionel:
— Agarra em seis homens e percorre todo o vale numa extensão de dez milhas.
— Repito-lhe que vinha só! Está-os a enganar! — Que ia adiantar com isso? — argumentou o advogado, com um sorriso.
— Vai fazer essa exploração! — vociferou Grieser.
Lionel moveu a cabeça, em sinal de acordo, e depois de dirigir a John um olhar venenoso, saiu do gabinete.
O plano de Campbell era simples, e ao mesmo tempo dificílimo de resultar com êxito. Baseava-se única e exclusivamente — uma vez dentro da sala em que estavam apenas os dois sócios —em aproveitar uma oportunidade para os derrotar, apontando-lhes um revólver. John reconhecia que era um plano quase desmiolado, mas não podia escolher; os minutos passavam vertiginosamente e, ao anoitecer, Jonathan Hubert teria assinado o contrato de venda que Victória lhe apresentaria sob qualquer pretexto.
A sua presença no quartel-general dos foragidos não era mais do que um intento desesperado para anular a expropriação, já que todos outros tinham fracassado.
— Sente-se, senhor Campbell — convidou Bur-net. — Temos muito que esperar.
John aceitou a cadeira e, então, ouviu Grieser que lhe perguntava:
—O que é que fez com o Barry? — Pouca coisa.
— A sua cara apresenta certos ferimentos. Dir-se-ia que alguém se entreteve a aborrecê-lo. Foi Barry?
— Inteligente dedução!
Cambell nada mais disse. Burnet havia colocado o revólver sobre a mesa. Separavam-no dele uns três passos, já que estava sentado no centro da sala. Se conseguisse distraí-los com a conversa, talvez se apresentasse a oportunidade desejada.
— Que farão quando tiverem o rancho? — animou-os. Supondo, evidentemente, que eu os tenha enganado.
— Não o inquieta a sua situação, se comprovarmos que nos mentiu? — replicou Grieser.
—O quê, comportar-se-ão melhor comigo se lhes disse a verdade? Vamos, senhores, um pouco de seriedade. Sei que, na realidade, em qualquer dos casos, o final será o mesmo.
— Responderei à sua pergunta—interveio Burnet. — Quando esta noite formos os donos do ancho Hubert, proporei à filha de Jonathan que se case comigo.
— O senhor é terrivelmente engraçado -- articulou John, contendo a muito custo a sua raiva. — Acha que ela me recusaria?
— Se espera uma resposta afirmativa, dir-lhe-ei que você é o mais arrogante, fanfarrão e repulsivo dos homens que tenho conhecido na minha vida!
Burnet deu uma gargalhada e exclamou:
— Parece que isso o incomoda, hem, Campbell? Enamorou-se de Victória Hubert, é isso, não é verdade? Magnífico, pois assim digo-lhe que, efetivamente, espero uma resposta afirmativa. Não, não se excite. Espere para ouvir o final. A minha arrogância, como você diz, baseia-se na seguinte eventualidade: como lhe comuniquei, esta noite teremos o contrato de venda do rancho em nosso poder... — os olhos de Burnet brilharam malignamente — ou seja: obrigá-la-ei a casar-se comigo sob a ameaça de comunicar a seu pai que David Hubert morreu enforcado...
— Canalha! — rebentou John. E saltou da cadeira como impulsionado por uma mola, atirando-se sobre Burnet.
O ataque foi tão repentino que este não teve tempo de alcançar o revólver, e ambos os contendores rolaram pelo solo, enlaçados. Campbell lançou o punho direito ao estômago do seu inimigo, e logo lhe fechou a boca com um fortíssimo esquerdo.
Grieser acudiu rápido em socorro do amigo el pregou uma tremenda coronhada na cabeça do advogado. Este, sem emitir um só gemido, viu-se privado da razão.
Quando voltou a si, calculou que devia ter transcorrido muito tempo porque no aposento, além dos dois sócios, encontravam-se Lionel e quatro homens a quem via pela primeira vez.
Lionel pregou-lhe um pontapé no fígado, ordenando:
— Vamos, levanta-te! Chegou a tua hora! John tentou erguer-se e o bandido deu-lhe um soco na cara.
Não chegou a cair de novo porque dois desconhecidos o seguraram enquanto lhe apertavam fortemente os braços e Lionel o ia golpeando.
— Mentiste-nos, então! — dizia Burnet, ao mesmo tempo que projetava os seus punhos uma e outra vez no rosto magoado. — Eu te ensinarei... Este é pelo homem que mataste antes de chegar a Rockville!... E este pelo seu companheiro!... Outro por Lube «Relâmpago»!... Mais outro por Barry! E aqui tens um especial em meu nome !...
Campbell dobrou as pernas ao ficar novamente sem sentidos nas mãos dos sicários que o sustinham.
— Remolha-lhe a cabeça! — ordenou Grieser.
Lionel saiu da casa e pouco depois regressou com um balde de água que arrojou sobre o desmaiado. Este voltou a abrir os olhos.
Burnet sorria.
— Vês isto? — disse, mostrando-lhe dois «Colts». — São os teus revólveres.
Campbell verificou que, efetivamente, eram os seus.
— Pois escuta! — continuou Burnet. — Os rapazes e eu pensámos dar-te uma oportunidade. Sabemos que és um grande atirador. Eles têm uma vontade enorme de competir contigo e, claro, pensei em satisfazer toda a gente. São cinco os que querem enfrentar-se com o ás de Rockville, e os cinco terás como rivais, ao mesmo tempo. Mas, naturalmente, tu serias capaz de liquidá-los. Por isso, tens de conceder-lhes alguma vantagem. És um bom rapaz e não te ralas, não é, verdade? Em cada revólver tens um projétil, um só. Portanto só poderás disparar duas vezes. Mas, o que é isso para ti, Campbell? — Os foragidos soltaram estrepitosas gargalhadas, enquanto Burnet, fazia uma pausa. — Tu farás com que os projéteis batam uns nos outros liquidando todos. Serás um verdadeiro campeão!
O advogado via como o sócio de Grieser girava os cilindros mostrando unicamente um compartimento com duas balas.
— E escuta ainda, Campbell. Nós ficamos nesta janela, contemplando o desafio. Se te lembras de voltar o corpo ou as mãos um centímetro para aqui, os rapazes transformam-te num passador. Os meus cinco homens sairão primeiro e ficam em frente à casa. Depois é a tua vez. Pões-te a dez passos deles; e quando estiveres imóvel, contarei até três e poderás fazer fogo. De acordo? — Não deixou que John respondesse e exclamou com autoridade: — Vamos, saiam já vocês!
Os cinco bandidos, entre os quais se achava Lionel, abandonaram a sala.
Griser assomou à porta e passado um minuto voltou a cabeça e disse:
— Pronto, Gorman!
Burnet encostou as armas de Campbell nos rins deste e fê-lo avançar. No umbral, colocou rapidamente os dois «Colts» no cinturão do advogado e deu-lhe um empurrão para fora, fechando logo a porta e correndo para junto de Grieser que já se achava na janela. Dali, viram que o homem que ia morrer caminhava lentamente para se colocar aos dez passos dos seus rivais. Estes, formados em linha, seguiam atentamente os movimentos do solitário.
— Já está no seu sítio! — advertiu Grieser. —Começa a contar. Que esperas?
— Estava a observar a solenidade que Campbell dá ao desafio. Qualquer diria que, efetivamente, vai fazer carambolas com os dois projéteis que tem.
— Não digas maluquices e começa a contar!
— Um!
Os cinco facínoras prepararam-se, dobrando ligeiramente os braços para que as suas mãos ficassem mais perto das culatras.
— Dois!
John não movia um músculo. Ã direita dele estavam quinze homens do bando de Burnet e Grieser. Todos teriam jurado que Campbell era exatamente uma estátua.
— Três!
Os dois sócios, pendentes da morte do homem que os tinha burlado várias vezes, nem sequer viram como ele tirava as armas. Foi como se por arte de magia, sem mover os dedos, os «Colts» tivessem saltado para as suas mãos.
Então ocorreu o inaudito. Saíram duas labaredas dos revólveres de Campbell. Duas! E os cinco homens contorceram-se como bonecos antes de pegar nas armas, e tombaram no solo.
— Não! — gritou Burnet, sem dar crédito ao que viam os seus olhos.
— Fez as carambolas! — exclamou Grieser, apertando a cabeça.
Naquele instante, um tropel de homens a cavalo apareceu por uma das esquinas da casa.
— Todos quietos! — ordenou Parker, o capataz do rancho «Hubert», com a sua pistola ainda fumegante.
— O que se mover, deito-o abaixo! — sentenciou Whislire, o lavrador, que também tinha utilizado o rifle que apontava.
Campbell viu que Gaumont, um dos que se
tinha negado a ajudá-lo, obrigava Burnet e Grieser a desfazer-se das suas armas.
Os bandidos, aparvalhados, levantaram os braços entregando-se.
— Chegámos a tempo! — disse Parker, olhando sorridente o advogado. — Vimo-lo em frente desses tipos e decidimos dar-lhes o que mereciam. Por todo o pais correrá a história de que certa
vez John Campbell liquidou cinco homens em desafio...
— Mas... Você também conhece o meu nome?
— Todos nós o sabemos e por isso mesmo esta-
mos aqui. O que é que se passou? Andou outra vez à bulha?
— Isso recorda-me que ainda tenho algo pendente.
John dirigiu-se para a casa e entrou. Os dois sócios continuavam à janela, de braços no ar. — Saia, Grieser! — mandou o advogado.
Quando o bandido mais gordo obedeceu, Campbell olhou raivosamente Burnet e propôs:
— Que lhe parece se reatássemos a luta onde a deixámos?
— Eu... eu estou em inferioridade.
— Você é um repugnante cobarde! Defenda-se!
Burnet atirou-se para a frente, mas John endereçou-lhe um soco e levou-o até à parede, castigando-lhe o estômago e o fígado. O foragido gemia, vendo-se impotente para resolver o combate a seu favor.
— Este é por Jonathan Hubert! Aqui tem um pelo seu filho!... Outro mais pelo cow-boy que morreu no incêndio da pradaria!... Este pelos outros crimes que cometeu! — Campbell encheu os pulmões, reuniu as suas energias e logo disparou o seu punho direito contra a mandíbula do seu rival, gritando selvaticamente: — E este em meu nome!
Burnet caiu no solo, fulminado.
Nesse instante abriu-se a porta e o xerife de Rockville entrou pela sala dentro. Depois de ver Burnet inanimado, cofiou os flácidos bigodes e olhou Johnny, sorrindo.
— Bom trabalho, rapaz — declarou. — Pareceu-me que a sua presença me traria complicações. Lembra-se que o adverti? Mas, pelo meu tio Zacarias, que adoro esta complicação!
— Muito bem. Já a possui. Que vai fazer agora?
—E pergunta-mo? Vamo-nos divertir à grande! Entre os tipos que estão aí fora, há dois homens que mataram, há dois meses, Rock Heston, um negociante de Chicago que vinha comprar gado ao velho Hubert. Também será fácil identificar os cinco foragidos que há seis semanas atacaram um grupo de cow-boys de Hubert, matando um dos seus componentes. E ainda há outros que responderão por roubos de gado, incêndios de pastos e mais patifarias. — O xerife fez uma pausa, passou a língua pelos lábios e acrescentou: —Você já sabe que eu me encontrava atado de pés e mãos, pois ninguém colaborava comigo. E eu sozinho, nada podia fazer. Como é que me poderia apresentar aqui para levar os delinquentes, se não tinha um mínimo auxílio e provas diretas? Fizeram-me a cabeça em água! Mas agora o senhor conseguiu pôr tudo nos eixos! Burnet e Grieser, autores de todas as patifarias, estão perdidos. Asseguro-lhe que logo que o Juiz pronuncie o seu veredicto, nem um só dos seus sequazes deixará de cumprir a sua pena. E já conhece o final. Pendurados numa árvore! 

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