Porter saltou no seu assento ao ver aparecer-lhe na frente aquele homem coberto de poeira e suor. Tentou ainda levar a mão ao seu revólver, mas já Donkey o alvejava com o seu.
— Quieto, Porter — disse friamente —. Esteja tranquilo... e sentado.
O xerife voltou a deixar-se cair na cadeira, de onde por momentos se erguera.
— Porque fez isso, Donkey? Porquê? E precisamente agora que recebi isto de Cheyenne — mostrou um largo sobrescrito —. É do xerife de Cheyenne, e chegou precisamente quando "mister” Miller se apresentou aqui, para me participar que você lhe raptou a filha. Isso paga-se com uma corda ao pescoço, sabia?
O sorriso de Donkey era mais frio do que nunca.
— E se eu provar que Hellen foi comigo por sua própria vontade? Por outro lado, mesmo que a acusação fosse verdadeira, no meu caso carecia de base. E você sabe-o, não é verdade, xerife?
— De acordo, Donkey. Mas onde está "mistress” Donkey?
— Desde quando o sabe? — perguntou este por sua vez.
— Ela mesma mo disse, quando veio aqui denunciá-lo. Disse-me que você lhe assassinara o irmão no próprio dia do vosso casamento.
— Sabe também o resto?
— Sim.
Donkey guardou o "Colt" e sentou-se.
— Então não falemos mais disso — proferiu secamente — E já que mo perguntou, dir-lhe-ei que Hellen se encontra no único hotel de La Junta, a poucas milhas daqui, como vê. Portanto, monte a cavalo e vá dizer ao velho Miller que sua filha necessita dele agora. Fizeram-nos uma emboscada a porta do hotel onde passámos a noite, e feriram-na. Encontra-se sob a vigilância do xerife, e assistida pelo médico e sua esposa.
— E como é que veio aqui deixando-a, sozinha, Donkey?
— Por algo que só a mim diz respeito, xerife.
Seguiram-se uns segundos de silêncio que Porter interrompeu.
— Porque não me explica tudo, Donkey?
— Adiantaria alguma coisa se o fizesse?
— Sim. Agora sim.
Donkey pensou uns instantes e, lentamente, começou a contar tudo. Quando acabou, fez uma pergunta que desconcertou Porter:
— Que sabe a respeito de um homem chamado Tracy?
— Encontra-se aqui, em Pueblo. Que pretende dele?
— Matá-lo, xerife.
— Você sozinho?
— Claro, visto ser assunto meu, não lhe parece?
— Era-o antes de receber a carta do xerife de Cheyenne...
E Porter informou Donkey de que pusera dois comissários na peugada de Tracy, tendo apurado que ele estava concluído com dois pistoleiros chamados Prescoe e Callender.
Por fim, Donkey levantou-se, pretextando ir descansar um pouco enquanto Porter preveniria Miller do ocorrido em La Junta. Todavia, o xerife recomendou-lhe:
— Tenha cuidado, Donkey. Não faça nada enquanto eu estiver ausente. Continuo interessado na limpeza de Pueblo, mas com a minha ajuda, não se esqueça.
Saíram juntos e, já na rua, Porter perguntou ainda a Donkey com um sorriso:
— Quando terminemos tudo isto, você ainda estará interessado em vir à minha procura?
— Decidi esquecer isso, xerife — respondeu Donkey com um sorriso que não tinha agora nada de frieza.
*
Diana, ao vê-lo, iluminou os seus grandes e rasgados olhos, e correu para ele, embora a paralisasse a expressão dura que havia no seu rosto serviu-lhe o uísque que ele lhe pediu. A certa altura, Diana, que, como toda a gente em Pueblo, não desconhecia a história do rapto de Hellen, perguntou-lhe:
— Que significa ela para ti, Joe? Tudo.
— É minha mulher, Diana — replicou ele sinceramente, embora custando-lhe ferir aquela ruiva tão terna e dedicada.
— Porque te separaste dela?
— Disseram que eu matei o seu irmão no próprio dia do nosso casamento.
Diana pressentiu que havia um drama por detrás de tudo aquilo.
— Porque não me contas tudo? Talvez te fizesse bem, Joe.
Donkey pediu outro uísque. A rapariga serviu-lhe e ele começou a falar com os olhos perdidos num ponto indefinido da parede oposta.
— O rancho que Miller tinha em Cheyenne ia por água abaixo. Miller e meu pai eram bons amigos e meu pai proporcionou-lhe um empréstimo importante. Hellen estava noiva, mas eu... Bem, eu meti-me de permeio e consegui-a. A partir desse momento não houve paz entre seu irmão e eu, talvez por em certa ocasião eu lhe ter dito que se me casava com Hellen era por ela se ter vendido por cento e cinquenta mil dólares. Ele não mo perdoou e jurou que me mataria se o casamento se realizasse.
"Entretanto, as nossas relações azedaram-se e chegámos algumas vezes a vias de facto. Por fim, chegou o dia fixado para o casamento e este consumou-se. Fomos de Cheyenne para o rancho e ali celebrámos a festa. Estávamos a dançar, a rir e a beber quando um dos meus vaqueiros me foi avisar de que o irmão da que já era minha mulher me esperava na parte traseira do rancho. Segundo dizia, queria falar comigo. Hesitei, mas entendi preferível acabar com aquele estado de coisas e, disposto a dar-lhe todo o género de explicações, fui ao seu encontro.
"Ao chegar ali ouvi um disparo. Corri para ele, mas quando cheguei a seu lado, estava já caído por terra com uma bala nas costas que lhe atravessara o coração. E o meu "Colt”, este "Colt" que trago comigo, e que não pusera desde a véspera, encontrava-se junto do cadáver. Toda a gente, incluindo os convidados do casamento, surgiram em tropel. Corri, montei um cavalo e fugi. Depois tudo se complicou de uma maneira absurda... E.… é tudo.
Não era e Diana sabia-o.
— Não suspeitas de quem tivesse sido?...
A resposta de Donkey soou demasiado rápida.
— Não... Não faço a menor ideia.
Mas ela sabia que não era verdade.
— Tens a certeza, Joe?
— Sim.
Ela não insistiu mais e ele esvaziou o resto do uísque de um só trago, dirigindo-se para a porta.
— Adeus, Diana...
Comovida, a doce e sensível rapariga, adivinhando o que lhe ia no coração e sabendo para onde se dirigia, deixou-o ir, incapaz de o deter...
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