Donkey voltou a Pueblo caia já a noite. Entrou no hotel, onde Diana o esperava com certa ansiedade. Estavam sozinhos e Donkey não resistiu à tentação de beijar a bonita ruiva. Mas, enquanto, os seus lábios se uniam longa e apaixonadamente, era em Hellen que ele pensava.
E continuava a pensar nela quando começou a subir a escada e se encaminhou para o seu quarto.
Empurrou a porta e ficou parado no umbral com os olhos cravados nos três indivíduos que o aguardavam ali. Um deles era o xerife Porter, cujo "Colt", estava apontado ao seu peito.
— Um acolhimento perfeito, Porter — disse, entrando e fechando a porta nas suas costas. — Posso saber quem são esses dois?
— O da direita é o juiz Eliot Parker, e o da minha esquerda é o "mayor" da cidade, Richard Farrow. Pretendemos falar-lhe os três.
— Nesse caso, explique-se, xerife...
— Recorda-se da minha pretensão quando o livrei de uma emboscada, Donkey? — ante o gesto de assentimento de Joe, prosseguiu — Pois se é assim agora não vai ter outro remédio senão ajudar-nos a limpar a cidade da sua escória. Compreendido?
— Compreendido. Mas como demónio pensa obrigar-me a isso?
— Muito simplesmente. Vou dar-lhe a escolher duas hipóteses: ou partir de Pueblo logo que amanheça, ou aceitar a nossa proposta. Se o não fizer, depressa se saberá que se oferecem dez mil dólares pela sua cabeça, vivo ou morto, nesta última hipótese pagáveis no próprio lugar onde a sua morte se verifique. Que decide, Donkey?
Donkey extraiu a sua bolsa de tabaco e fez um cigarro. Acendeu-o e meditou durante largo tempo. Sabia quem pagaria aqueles dez mil dólares. Ele mesmo. Por uma sangrenta ironia do destino, seu pai emprestara alguns milhares deles, parte dos quais iriam agora servir para a morte do filho. Sim, Hellen pagaria aquele dinheiro. Acima de tudo e contra todos.
— De acordo, xerife. Mas escute uma coisa. Quando terminar o meu encargo virei por si. Se não é isso o que deseja, aperte esse gatilho e acabe comigo de uma vez. Terá duas boas testemunhas no juiz e no "mayor” para justificar o meu assassínio, não é verdade?
Vendo que nenhum dos três dizia nada, deu meia-volta apesar do "Colt" empunhado pelo xerife, abriu a porta e desceu ao piso inferior. Diana empalideceu quando o viu aproximar-se.
— Obrigado, minha linda — disse friamente —, pela receção que me tinhas preparado.
E, sem esperar uma desculpa, saiu, indo direito ao "Saloon" de Spencer. Mas não entrou, continuando rua acima, sem abandonar o passei o e afastar a mão do seu "Colt", até que umas dezenas de jardas percorridas, entrou no de Chuck Carrigan.
Dirigiu-se ao balcão e pediu um uísque. Pouco depois, uma voz obrigava-o a voltar a cabeça.
— O meu nome é Carrigan. Chuck Carrigan, e sou o proprietário deste local.
Donkey olhou-o dos pés à cabeça. Era um homem alto e forte. Quase tanto como ele e, talvez mais jovem do que Spencer.
— A sua presença aqui não é grata. Compreende, não?
Donkey deixou decorrer alguns segundos, enquanto os seus olhos percorriam o estabelecimento pleno de concorrência.
— Feche a porta se não deseja a presença de indesejáveis nele, amigo. Eu sinto-me bem aqui e tenho com que pagar o que bebe e até para jogar um bom bocado. E é o que vou fazer.
— Quer dizer com isso que vai repetir aqui o que já fez no "Saloon" de Spencer?
Donkey sorriu, friamente.
— Não, se não me derem motivo para isso. Avise os seus homens para que não façam trapaças e não se preocupe.
Com estas palavras, Donkey pediu outro uísque, desta vez duplo, e com o copo na mão aproximou-se de uma mesa de jogo, sem se preocupar com o que Carrigan pudesse estar a fazer naquele momento.
Na rua, em frente do "Saloon", Porter permanecia na expectativa. Mas Donkey não o sabia.
Donkey começou a jogar, atento a quanto se passava à sua volta. Esperava que as horas fossem passando e os clientes fossem saindo, deixando o "Saloon” completamente vazio. Nessa altura saberia contra quantos pistoleiros teria de disparar. Depois poderia ir em busca de Porter, como lhe prometera, ou, na sua falta, em busca de Spencer.
Estava a ganhar, e as fichas amontoavam-se a seu lado ante os olhos frios de Carrigan, que, um pouco afastado, jurava não o deixar sair vivo do "Saloon".
Continuou a jogar, ganhando sempre, até que verificou encontrarem-se no estabelecimento, apenas cinco homens. Cinco homens mais os três jogadores profissionais que tinha na sua frente.
Carrigan era um deles. Encostado a uma das colunas, fumava um grosso charuto. Os outros quatro espalhavam-se pela vasta sala.
Donkey acabava de pôr sobre a mesa em joga das sucessivas três sequências de figuras. Aquela era a quarta. E estendia as mãos para recolher as fichas quando um dos jogadores disse, lentamente:
— Está a fazer batota, forasteiro.
Donkey recostou-se na cadeira, olhou-os um a um e respondeu:
— Estou a pagar-lhes na mesma moeda, amigos. Algo em contrário?
Após uns segundos de silêncio, e sem prévio aviso, os três levaram as mãos aos bolsos interiores dos casacos. Donkey balanceou as pernas, golpeando a mesa e lançando-a contra eles, fazendo fogo por duas vezes, enquanto se deixava cair para trás.
Dois dos jogadores caíram, enquanto as balas disparadas por Carrigan e os seus quatro homens passavam sobre a sua cabeça. Entretanto, Donkey dava duas voltas sobre si mesmo e disparava pela terceira vez, agora contra o dono da casa. Este caiu de costas com uma bala na cabeça no preciso momento em que o xerife Porter fazia acto de presença no "Saloon".
Desencadeou-se um verdadeiro inferno ali dentro, que durou apenas alguns segundos. O tempo suficiente para que os dois homens acabassem com o resto dos sequazes de Carrigan.
— Não lhe agradeço pelo que fez, xerife — disse Donkey, começando a erguer-se de detrás de uma mesa e cambaleando, ligeiramente.
Deu alguns passos para a porta e o xerife agarrou-o por um braço.
— Que quer agora? — perguntou-lhe Donkey.
— Vamos. Venha comigo.
— Vai deter-me novamente, xerife?
— Não, mas desejo que me acompanhe, Donkey. Você está ferido e quero ver o que tem.
As palavras de Donkey em resposta foram altamente irónicas.
— Também se preocupa agora com a minha saúde, xerife? Pois será melhor que me deixe em paz. O ferimento é, exclusivamente, meu e já arranjarei quem me trate dele.
Cambaleando ligeiramente, pareceu recordar-se de qualquer coisa importante para ele. E Porter, fascinado, viu-o começar a recolher no solo todos os seus ganhos, que acto-contínuo guardou no bolso.
Dirigiu-se, a seguir, para a porta. Mas vendo que o xerife não largava, ia a insurgir-se, de novo, contra a companhia. Todavia, Porter não lhe permitiu que falasse.
— Aceito que não queira que o trate, Donkey. Não posso obrigá-lo a isso, mas estou resolvido a acompanhá-lo à porta do hotel em que se hospeda.
Donkey compreendeu as intenções do xerife, mas não se furtou a alguns comentários que tinham tanto de sardónicos como de agressivos. No entanto, a companhia que Porter teimava em fazer ao pistoleiro haveria de desgostar mais Elmer Tracy e os seus dois sequazes que, maldizendo o xerife se afastaram, discretamente, na direção da ruela onde ficava a casa que habitavam.
Mal transpôs a porta do hotel, Donkey experimentou a agradável sensação de uns braços bem torneados que lhe cingiam o pescoço, e Porter viu através do vidro fosco da porta as silhuetas de Diana e Donkey que se beijavam. E os seus pensamentos voaram para Hellen Miller.
Entretanto, no interior do hotel, Diana constatava, horrorizada, à luz frouxa do candeeiro de petróleo, que o sangue escorria do ombro de Donkey com abundância. Libertou-se, imediatamente, do braço que lhe rodeava a cintura, exclamando:
— Joe! Tu estás ferido? Que foi que aconteceu? Deixa-me ver isso.
Entraram os dois no quarto, e uma vez ali, Diana preparou tudo para o necessário tratamento.
Quando ela terminou, ele prendeu-a pela cintura e atraiu-a contra o seu peito, E beijaram-se mais uma vez, esquecidos de que em Pueblo havia homens como Tracy e Spencer, para pensarem unicamente neles.
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