terça-feira, 12 de outubro de 2021

CWB011.06 Um índio na cidade

 — Eh, Lader! Não vês? Que me enforquem se não é um índio disfarçado de branco! Vai já ver o que lhe faço! 

O que falara, um tipo magro e sardento levantou-se e foi ao encontro dum corpulento índio, vestido de caçador que acabava de entrar no «saloon», procurando alguém. 

— Meia-volta e rua, cão sarnoso! — disse-lhe o homenzito magro. — Mas antes despe esse fato que não te pertence, ou sais de pés para a frente! 

O índio fitou-o com desprezo e não respondeu. 

— Não ouviste? — insistiu o homenzito. —Nesse caso vou dizer-to de maneira mais clara. 

Tirou um revólver do coldre para indicar com ele a porta da rua. Mas assim que pretendeu ameaçar o índio, este arrancou-lhe a arma da mão, levantou-o no ar e atirou-o a uns dois metros de distância, indo cair sobre uma mesa onde estavam quatro indivíduos sentados. 

O choque produziu grande estrépito, que se juntou aos gritos de protesto dos companheiros do homenzito, que avançavam agora para o índio. Eram três tipos com aspeto de hábeis pistoleiros, com as armas nas mãos, segundo parecia dispostos a crivá-lo de balas. Mas não foi assim. 

Começaram a disparar em torno dos pés do índio para o obrigar a saltar, para que ele próprio se colocasse na linha das balas. Era um assassinato premeditado, com aspeto de acidente. O índio, porém, não se mexeu. Parecia uma estátua de pedra. 

Toda a gente olhava com admiração para o índio. Despeitados e furiosos, pelo ridículo que aquilo representava para eles, os pistoleiros deixaram de fazer fogo. Um deles então avançou e disse: 

— De nada te vale essa tranquilidade, cão andrajoso. Vau pagar-me do que fizeste a Ropes. E começarei por... 

— Porquê? Por onde vais começar? — disse da porta Búfalo Bill. — Responde, Lader! 

Os outros dois guardaram as armas. O que falava com o índio continuou a empunhar a sua, embora tivesse empalidecido. 

— Não se meta nisto, Búfalo. Só pretendo castigar este cão índio pela audácia de maltratar Ropes. 

— E que fez o teu amigo Ropes? — intimou Búfalo. 

— Quis pô-lo na rua. Não costumamos acompanhar com índios piolhosos e... 

— Basta Lader! —  Interrompeu Búfalo Bill. —Já insultaste demasiado. Agora, ouve bem: nem tu nem os teus amigos valem a milésima parte dele. Em comparação, são vocês os piolhosos. 

Era demasiado para Lader se conter. Levantou o braço, e o mesmo fizeram os outros dois, confiados na superioridade numérica. Mas de nada lhes serviu. Búfalo Bill, com a sua maravilhosa rapidez e pontaria varreu-os, antes de apertarem os gatinhos. Apenas escapou Ropes, porque não se mexeu. 

— Ouve, Murray — disse então Búfalo Bill, dirigindo-se ao dono do «saloon». — Encarrega-te de mandarem esses três para o cemitério — e apontou os três cadáveres. — Eu explicarei ao xerife como isto aconteceu. Toma, aí tens para as despesas. 

Atirou com uma bolsa para cima do balcão e saiu para a rua com o índio. Pouco depois, disse: 

— «Águia Guerreira» não devia ter entrado ali, onde se reúnem os homens maus. Foi uma imprudência que podia ter custado cara! Se não ouvisse os tiros... 

— «Pahaska» tem sempre razão. — respondeu o índio. — Não devia ter entrado, mas fui procurar o meu amigo. 

— Está bem, mas eu disse para esperar à porta, e não lá dentro. Pronto... já chegamos. 

Búfalo Bill parou o cavalo à porta dum comerciante chamado Jens Macy, grande amigo de Búfalo. 

— O meu amigo Macy — disse para o índio, — aceitará as tuas conchas como moeda. Podes comprar o que quiseres. Nunca pagues com ouro, pais não convém chamarmos a atenção com ele. 

O índio agradeceu o conselho, comovido. Jens Macy acolheu Búfalo Bill com sincera alegria, mandando-o entrar com o amigo para o interior do estabelecimento, onde a família se dispunha a jantar. 

Búfalo Bill aceitou o convite para jantar por duas razões: por não querer desconsiderar a gentil oferta, e para provar a «Águia Guerreira» que nem todos os brancos eram como Ropes, Lader e os seus amigos. 

Durante a refeição toda a família do velho Macy foi atenciosa com o índio, que estava encantado com os brancos e disposto a comunicá-lo ao seu povo. Chegou à conclusão de que nem todos eram maus. 

No final do jantar, Búfalo Bill expos ao amigo o que o levara a visitá-lo. 

— Preciso saber tudo quanto se refere aos comerciantes que vendem por grosso, e se algum prosperou rapidamente, vendendo «Whisky» aos índios, por exemplo. 

— Só há aqui um nessas condições, mas deve dispor de grande influência. Tanta, que conseguiu arruinar vários comerciantes mais antigos que ele na cidade, conseguindo ser o fornecedor exclusivo do exército... 

— Quem é esse indivíduo, Macy? 

— Chama-se Kurt Graves e tem o estabelecimento na praça. Praticamente, é o dono de Deadwood. Há até quem garanta que não comprou a loja do velho Richard, mas que lha roubou. 

— Que diz Richard a isso? 

— Diz o quê? Como havemos de saber? Ninguém voltou a vê-lo. Groves diz que partiu logo que recebeu o dinheiro. 

— Sabe se Groves dispõe de pistoleiros contratados? 

— Naturalmente que deve tê-los, mas fora da cidade. Aqui, utiliza uns quantos soldados, dos mais conflituosos que conheço, percebe? Deve ser generoso com eles, para estar bem protegido. 

Búfalo Bill já não perguntou mais nada. Levantou-se, afivelou a cartucheira e disse: 

— Vou visitar esse Groves. Se for ele o homem que procuro... — deteve-se ao ver levantar--se também «Águia Guerreira» disposto a acompanhá-lo, dizendo: — «Águia Guerreira» deve ficar aqui. De noite não convém que o vejam na cidade. Não me demoro. Quero apenas sair de dúvidas, para agir logo que amanheça. 

O caudilho índio apenas resmungou e sentou-se. 

— Uma advertência, Macy — disse, ao dono da casa. — Se eu não voltar dentro duma hora, faça chegar este sobrescrito ao comandante do destacamento militar. De contrário, devolve-mo quando regressar. Entendido? 


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