domingo, 10 de outubro de 2021

CWB011.04 A derrota da resistência índia

O cavaleiro cambaleava dum lado para o outro a cada movimento do cavalo, dando a impressão de ir cair dum momento a outro. Apesar disso continuava a galopar com a mesma fúria. O cavaleiro vestia o uniforme azul da cavalaria dos Estados Unidos. Levava a cabeça descoberta, o rosto desfigurado e nas costas... duas flechas índias enterradas até meio. Do outro lado do vale ficava um forte militar, que era sem dúvida o destino do cavaleiro porque, ao vê-lo, deu um suspiro de alívio. Mais uns três quilómetros e o cavaleiro entrou o portão do forte. 

Meia hora depois saía um esquadrão de cavalaria que empreendeu logo um galope rasgado. 

— Capitão Herrick — dizia o coronel ao ajudante, sem afrouxar o andamento —, precisamos de chegar ao rio White antes de anoitecer. O mensageiro morreu antes de dizer-nos tudo, mas sabemos que o comandante Gardner precisa de nós. Os «sioux» uniram-se, e dispõem-se a liquidar todos os brancos. 

— Desculpe, coronel Nixon, mas ouvi dizer que, graças a Búfalo Bill, o coronel Stenton lhes tinha infligido pesada derrota. Acha que é preciso exterminá-los todos para nos deixarem em paz? 

— Não, capitão; basta que lhes demos uma boa lição, o que não é tão fácil como supõe. Não recebemos reforços e os índios ocuparam Pine Ridge. O general Selby teve de evacuar a região há um mês, e as forças do comandante Gardner foram obrigadas a atravessar o rio White, se ainda lá estiverem. É tudo o que sabemos. 

— Não seria melhor, coronel, mandarmos à frente uma guarda-avançada? 

— Não é preciso, capitão. Não encontraremos Índios antes de várias horas. Agora, ouça: a partir daqui até à margem do rio, o terreno é plano. Podemos aproveitá-lo em maior andamento. Galoparemos quinze quilómetros, mais oito a passo e os restantes quinze a trote. Entendidos? Bem, comunique-o aos comandantes de pelotão. Darei ordem de galope logo que regresse. 

Porém, enquanto o esquadrão avançava para Pine Ridge, quarenta quilómetros mais ao norte... 

Cerca de mil guerreiros Índios ali reunidos e montados, escutavam «Águia Guerreira», que dizia:

— A nossa luta para expulsar os rostos pálidos começa a surtir efeito. Voltamos a ser os donos de grande parte da planície. Porém, isto não basta. Temos que lutar muito mais ainda até obrigarmos os brancos a sair das nossas terras. Só restam nesta zona os soldados que defendem a outra margem. do rio. O nosso objetivo, portanto, deve ser apoderarmo-nos das suas armas. 

Começava a declinar o dia quando «Águia Guerreira» indicou um ponto do horizonte, por detrás do troço de rio que eles dominavam, e disse: 

— «Olho Negro» e os seus guerreiros já ocuparam os seus postos. Ouçam-me agora. Atacaremos quando o sol desaparecer. Os que têm armas de fogo encarregam-se de distrair os soldados, enquanto os restantes atravessam o rio comigo. «Olho Negro» e os seus bravos atacarão também pela retaguarda para os impedir de recuarem. De vocês depende, pois, que os «sioux» voltem a ser donos da planície. 

«Águia Guerreira» fez um sinal e das filas compactas de índios destacaram-se, avançando para ele uns doze guerreiros com insígnias de chefes de tribo. No final deste conselho e seguindo as instruções de «Águia Guerreira», duzentos guerreiros dos quinhentos que dispunham de espingardas postaram-se nas colinas que dominavam a enorme planície de Pine Ridge. A seguir ao pôr do sol, «Águia Guerreira» fez entrar em ação as trezentas espingardas restantes dos seus efetivos. 

Os tiros atroavam o espaço naquele troço do rio White, que representava o último baluarte dos brancos nas planícies de Dakota. As forças do comandante Gardner aprestaram--se para a batalha, que sabiam ser definitiva. Mas... 

«Águia Guerreira» era um famoso estratega. Ao fogo que os soldados tinham pela frente, juntou-se o de mais cem espingardas pela retaguarda. Como se fosse pouco, outros quinhentos Guerreiros, dirigidos pessoalmente pelo famoso caudilho índio, armados de lanças e «tomahawks», atravessaram o rio no meio do fragor da batalha. Tão hábil foi a manobra, que os soldados do comandante Gardner só deram por eles quando os tinham em cima. Começou então uma luta sem tréguas. 

Durante longas horas predominou o grito de guerra dos «sioux», sobre os gemidos dos feridos. Um a um, os soldados do comandante Gardner foram caindo. E quando chegou a vez ao próprio comandante... 

Do outro lado do rio ouviu-se um clarim. Eram os reforços que chegavam... demasiado tarde. «Águia Guerreira» ganhara mais uma batalha e além disso, dispunha agora de armas e munições para prosseguir na luta. Todavia... «Águia Guerreira», pela primeira vez na sua vida, esqueceu o que mais tarde o conduziria à derrota. Não se lembrou do que acontecera meses antes a «Mão Amarela». E Búfalo Bill, o temível «Pahaska» dos «sioux» já vinha a caminho para combatê-lo! 

Quando «Águia Guerreira» regressava às montanhas Negras, para organizar uma ofensiva decisiva, reuniu-se próximo de Hot Spring, o coronel Nixon e o general Pattinson. Este era acompanhado pelo famoso batedor e guia Búfalo Bill. Depois do coronel explicar o fracasso do seu auxílio ao comandante Gardner, por tardio, o general Pattinson, reconhecendo a gravidade da situação, foi interrompido nos seus planos por Búfalo Bill. 

— Dê-me licença, General. Acabo de ter uma ideia para aproveitarmos as forças reunidas, de que ambos dispõem, ou seja um total de quinhentos homens. 

Falou bastante tempo, expondo o seu plano. Horas depois, partiam vários mensageiros em diversas direções. E passada uma semana, a 2 de Setembro de 1876... 

A sorte começou a voltar as costas a «Águia Guerreira», Acabavam-se as munições apreendidas ao comandante Gardner. Em breve seriam inúteis as espingardas. 

As hostes de «Águia Guerreira» avançavam para as Black Hills sem encontrarem qualquer inimigo que lhes tolhesse o passo. Não viam ninguém, nem soldados nem civis. Mas naquele dia, já à vista do Monte Rushmore, surgiu o inesperado. Subitamente, como se saísse do chão, apareceu a cavalaria dos Estados Unidos. Um milhar de espingardas cuspiu fogo contra eles. Ao inesperado ataque dos soldados uma centena de índios que ia à frente rolou pelo chão, sem tempo para defender-se. «Águia Guerreira», prudentemente, ordenou a retirada, pois de contrário teriam sido todos dizimados. Acossados pelos soldados galoparam sem descanso, sem sequer olharem para trás. E assim terminou a resistência dos «sioux» à entrada nas suas terras ao homem branco. «Águia Guerreira» voltou à vida de caçador, resignado com o inevitável. Mas quando meses depois soube que o culpado do seu fracasso foi precisamente o famoso «Pahaska», o maior inimigo da sua raça... 


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