quinta-feira, 21 de novembro de 2019

COL012. 11 Epílogo


Valerie Louis voltou-se, incomodadíssima.
—Zane! Oh, Zane, minha vida!
Refugiou-se impulsivamente nos seus braços, e cobriu-o de beijos nervosos, emocionados. Chorava, ria e pronunciava palavras sem nexo, e
Zane Preston, demasiado cansado, se deixava acariciar pelos braços femininos, sem lhe resistir. Cinicamente quando Valerie, teve um ataque de soluços, se separou dele, para se apoiar contra a porta de uma janela, Zane Preston, olhou silenciosamente para os dois homens de pé no meio da sala que presenciavam a cena sem abrir a boca, sem mostrar qualquer impressão.
—Olá — saudou, Zane. — Encontraram-me, Aldo. Agora não tereis de lamentar a intervenção de estranhos. Valerie será boa pequena e nos deixará sós... para saldarem as vossas contas comigo.
Aldo e Leyland continuaram olhando fixamente Zane. Em seguida trocaram um olhar entre si, e Leyland engoliu em seco, baixando a cabeça. Foi Aldo que começou a falar, pausadamente, quase sem resistir ao olhar de Preston.
—Zane, passaram-se determinadas coisas desde ontem à noite... muitas coisas — começou balbuciando. — Então odiávamos-te com toda a alma. Mary não... Nunca te odiou, apesar do que lhe fizeste.
— Por favor, Aldo, não continues — rogou, um pouco pálido, Zane Preston. — Não menciones o nome dela, se for possível. Tu... tu não sabes o duro que é para mim tudo isso.
—Sim, Zane, irmão, o sei—disse Aldo enternecido. —O doutor Haven falou-me esta manhã, não sei como se inteirou do sucedido ontem à noite no «Trebol Negro». Disse-me... toda a verdade...
—Aldo! O doutor prometeu-me...
—O doutor fez-te uma promessa quando te falou sinceramente sobre Mary, e a respeitou até hoje, apesar de duvidar da tua reputação e honradez. Mas não podia consentir que matássemos um homem que... que teve o valor para renunciar a uma mulher a quem queria, precisamente por amá-la demasiado... Por saber que um casamento com ela fazia antecipar o seu final... a causa da incurável doença de que sofre Mary...
—Aldo, é preciso continuar a falar disto? — pediu Zane, alterado.
Valerie tinha-se voltado, contendo os soluços, assombrada com tudo o que ouvia. Com uma mescla entre dolorosa e jubilosa, olhava Preston, aquele novo Prestou desconhecido para ela, que mostrava o lado humano, a sua ternura e capacidade de renunciamento por pura generosidade e nobreza. Que havia suportado os insultos, sem revelar o segredo de Mary Coffin, a última mulher que abandonara.
—Sim, é preciso, Zane! —exclamou Leyland depois, avançando até ele e abraçando-o com firmeza nos seus braços. —Tens de perdoar muitas coisas... Mary também sabe a verdade...
— Não é possível!
—Sim, tinha que o saber. Está muito pior e só se curará se seguir um repouso absoluto, uma vida aprazível num clima diferente, na Califórnia ou Oregon, talvez. Ela... ela pediu-nos que te agradeçamos tudo e que lhe perdoes, mas se sente incapaz de voltar a encontrar-se contigo... para dizer-te adeus e agradecer-te, Zane.
Depois disto ninguém mais falou na sala.
—De modo que ao fim e ao cabo, Zane Preston é um sentimental — disse Valerie ao silencioso Zane, depois de um longo silêncio. — Nunca o teria pensado, Zane e isto te converte num homem maravilhoso, podes crer. Agora compreendo que nunca alcançarei o teu amor, porque amas essa jovem Mary Coffin, a quem jamais poderás fazer tua esposa, a teu lado só seria um estorvo. Mas irei com a imagem distinta do homem a quem sempre amei. Isso me dará consolo.
Inesperadamente, Zane levantou a cabeça. Os seus olhos límpidos e nobres olharam com lealdade para Valerie. O seu tom era grave, solene.
—Valerie, aonde vais? Não queres casar comigo?
—Zane! Estás louco. Sei que só queres reparar outro velho mal que fizeste. Mas eu não posso aceitar. Só com o meu amor, não seríamos felizes, nem tu nem eu. Não, Zane.
—Desta vez é verdade, Valerie. Aprendi a estimar-te, e a querer-te profundamente nestes dias terríveis. Dei conta de que o destino, não reserva um só amor ao homem, senão que uma cicatriz dolorosa, há remédios que as conseguem fechar e cicatrizar para sempre. Mary teve e tem o seu destino, sua vida breve e doente. A evocarei com carinho, não te nego. Em mim não há paixão, a paixão que uma jovem formosa como tu considera imprescindível na vida: Mas garanto-te que serei um bom marido, que assentarei cabeça... e acabarei por pensar só em ti, viver só para ti... e vale a pena tentar a sorte, não crês?
—E é Zane Preston quem diz isso, que arrisca a apostar com cartas tapadas, sem jogo e amor? «Podes perder, advirto-te!»
—Jogando com cartas marcadas, ninguém perde —sorriu Zane. —Tu és minha, és a carta que me dá sorte, Valerie. Ou preferes que continue sendo um solteirão vagabundo e sempre com as pistolas na mão, até que alguém seja mais rápido e que ponha o epitáfio na minha tumba?
—Isso não, Zane! Casar-me-ei contigo e desta vez não te deixarei escapar! Levar-te-ei à igreja ainda que seja sobre a ameaça duma pistola!
— Não é preciso tanto—riu Zane, tomando-a nos braços.
—Desta vez é de verdade...
Aproximou-se dele, até que juntaram os lábios, e demoraram muito tempo para se separarem de novo...



FIM

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