quarta-feira, 3 de outubro de 2018

CLF017.10 A vingança de Jeff

Jeff contemplou o cadáver de Gus que jazia imóvel no meio da cabana. Depois voltou-se para Cherokee que permanecia silencioso atrás dele.
— Temos que encontrar Joe e Clark.
O outro assentiu e saíram juntos para o exterior onde tinham deixado os cavalos. O mestiço, curvado para diante, procurou observar em redor procurando uma pista. Jeff, encostado contra a parede da cabana, fumava pensativo um cigarro.
—Está aqui o rasto—disse Cherokee apontando para o chão.
—Bom, vamos segui-lo.
Os dois homens montaram a cavalo e seguiram as marcas que o mestiço ia descobrindo sobre a terra ressequida e farta em pedra. Chegaram ao Desfiladeiro do Enforcado e pouco tardaram em descobrir os cadáveres de Joe e Clark no meio das moitas.
—Pelos vistos tentaram cumprir as minhas ordens, mas Eddie foi mais esperto do que eles—murmurou Winters.
— Esse Parker deve ser um tipo perigoso — mastigou entre dentes Cherokee.
Winters concordou.
— É, na verdade; mas eu encarrego-me para que deixe de o ser para sempre. Algum dia encontro-me com ele cara a cara e rebento-lhe o coração com um tiro. Vamos regressar à cabana.
Depois de retirar o cadáver de Gus, Jeff sentou-se num banco. Apoiando os cotovelos sobre a mesa expeliu uma grande fumaça.
—Cherokee, vai à cidade e traz Mamie. Quero falar com ela.
O mestiço olhou-o impassível.
—Tu esperas aqui?
—Sim. E não percas tempo. Tenho que solucionar um assunto com essa mulher.
Quando Cherokee Banion abandonou a cabana, Winters deitou-se num dos colchões que havia na cabana e colocou o chapéu sobre o rosto. Tinha passado uma noite má e teve que levantar-se cedo. Precisava de dormir. Fechou os olhos e não tardou a adormecer.
Despertou-o o galope de cavalos que se aproximavam. Abriu os olhos e afastou o chapéu do rosto, embora mantendo-se deitado. O cigarro que deixara sobre a mesa estava totalmente consumido, tendo queimado um pouco a madeira, pelo que calculou terem decorrido umas duas horas desde que adormecera.
A porta abriu-se de par em par e Mamie entrou na cabana seguida por Cherokee. A mulher, que parecia um tanto aborrecida, colocou-se na frente de Jeff.
— Para que me obrigaste a sair da cama a estas horas?
Jeff sorriu friamente.
—Preciso de falar contigo sobre algo muito importante.
—Mas tu nem sequer te incomodas a levantar. Sabes muito bem que sempre me deito tarde e que não costumo levantar-me antes do meio-dia. Não podias ter esperado uma hora mais agradável?
—Já te disse que se trata dum assunto muito importante. A mulher num gesto instintivo de natural vaidade feminina, alisou o vestido sobre as ancas bem moldadas.
—E não podias ter tido a delicadeza de ires tu falar comigo? Ao fim e ao cabo sou uma senhora.
Jeff deixou escapar uma gargalhada meio sufocada.
—Não me faças rir, Mamie.
Ela encolheu os ombros e voltou à carga apontando para o mestiço.
— Além disso este bruto quase me trouxe aos empurrões.
Winters sem fazer caso do que ela dissera, levantou-se e saiu da cabana. Mamie e o mestiço seguiram-no.
— Mamie, já sabemos quem esta noite levou Joyce McCarey.
O rosto da mulher tornou-se subitamente sério.
—Sim? Quem foi?
—Eddie Parker —respondeu Jeff sem a olhar.
Mamie mordeu o lábio inferior para vencer a perturbação que a assaltava.
—Mas... não é possível. Gus e os outros tinham--se encarregado de liquidar Eddie.
— Não; foi ele quem os liquidou. Encontrámos os seus cadáveres. Depois ao que parece dirigiu-se à cidade e levou a rapariga.
Fez-se um silêncio pesado.
—E preciso ir procurá-la — balbuciou a mulher.
—Sim, teremos que o fazer—disse Jeff arrastando as palavras.
Depois acrescentou absolutamente indiferente, como coisa sem qualquer importância:
—O que mais me preocupa é isto: como pôde Eddie levar a rapariga, abrindo a porta do quarto onde ela estava?
Mamie engoliu em seco.
—Não sei...
Desta vez Jeff voltou-se para ela e olhou-a fixamente, com um olhar frio, duro, implacável.
—A chave tenho-a eu. E no mundo só há uma pessoa que podia ter outra igual: tu.
Mamie sentiu que os joelhos fraquejavam. com a garganta ressequida, sussurrou:
—Jeff, não vais pensar que eu...
Calou-se ao escutar o riso gelado e escarninho de Winters.
—Não querida; eu não penso nada. Sei que foste tu.
A mulher encarou-o como um passarinho fita uma serpente. Tinha-o ali na frente, dominador, cruel, lendo-lhe os pensamentos com o seu olhar penetrante e astuto. Por experiência sabia que era inútil continuar a mentir. Tinha cometido um erro. De súbito, rodeou-lhe o pescoço com os seus braços e exclamou com a voz entrecortada:
—Fiz isso por ti, Jeff, porque te amo. Temia que essa rapariga nos separasse. Precisava de me desembaraçar dela, afastá-la do teu lado. Juro que fiz isso por ti. Amo-te, Jeff: tu sabes bem, e tinha uns ciúmes horríveis... Jeff, tu compreendes. Não é verdade que compreendes?
Winters afastou-a com violência. Aterrorizada, com os olhos muito abertos, Mamie contemplava-o. Ele permanecia a uns passos de distância, muito direito, a expressão fria e nos olhos um brilho acerado, terrível, um brilhe; que demonstrava toda a crueldade da sua alma. Aterrada, como pressentindo o que ia acontecer, a mulher balbuciou:
—Não, Jeff!
Um estampido cortou as suas palavras. Com uma rapidez incrível, quase superior à da vista humana, empunhou um dos revólveres e disparou. Uma expressão de intensa dor crispou as feições de Mamie, que levou as mãos ao estômago. Soluçando, caiu de joelhos e ainda dirigiu um olhar, o último olhar ao seu assassino. Nos seus olhos havia surpresa, desilusão e amor.
Sussurrou:
--Jeff...
Depois, caiu de bruços.
Cherokee tinha presenciado a cena com um sorriso de indulgência.
*
Eddie deteve bruscamente a montada. Joyce imitou-o e, atemorizada, viu que no rosto do jovem havia uma expressão de alarme.
—Sucedeu alguma coisa? — perguntou.
—Ê estranho. Diante da cabana está um corpo de pessoa caído por terra. E não estava quando esta noite saí daqui.
Eddie tinha obrigado a jovem a dormir até que fosse dia; foi só uma questão de três ou quatro horas mas era suficiente para que Joyce descansasse e recuperasse as forças. Depois, quando ela despertou, já o sol ia bastante alto. Eddie explicou que melhor seria regressarem à cabana onde estivera prisioneiro a noite anterior. Era possível que ali encontrassem alguma pista que lhes fosse útil para averiguar do paradeiro de seu pai. Tinha tanta pressa em acudir a Joyce quando se livrou dos seus captores, que não tivera tempo para o fazer; mas agora seria uma boa medida fazê-lo. Havia a possibilidade de encontrar uma pista nas roupas dos mortos ou em qualquer recanto da cabana. Contudo, ao chegar próximo da cabana, viu um corpo caído junto à porta. Após uns instantes disse para Joyce:
—Vamos, é preciso averiguar o que há.
Desmontaram e percorreram a pé os duzentos metros que os separavam da cabana. Avançavam cautelosamente, procurando não pôr o corpo a descoberto. O jovem empunhava o revólver, resolvido a fazer fogo ao menor sinal de agressão. Bastante perto já, viram que se tratava dum corpo de mulher. Eddie deteve Joyce.
—Ficas aqui. Não creio que seja um espetáculo agradável.
—Não, deixa-me ir contigo. Não quero que vás sozinho.
O cadáver estava horrivelmente mutilado. Com um breve olhar via-se que lhe tinham despejado toda a carga dum revólver. Joyce sem poder conter--se, voltou o rosto que cobria horrorizada com as mãos.
Eddie ajoelhou-se junto ao corpo. Na sua fronte formaram-se duas rugas bem salientes enquanto murmurava com ira mal contida:
— Mamie.
Pôs-se em pé, e conduziu Joyce para o interior da cabana.
—Espera-me aqui.
Joyce, intensamente pálida, perguntou com voz insegura:
—Está morta?
A expressão de Eddie era sombria.
—Sim. Cozeram-na a tiros. Vingaram-se nela. E a maior selvajaria que até hoje vi.
Joyce tomou entre as suas as mãos de Eddie e perguntou com ansiedade.
—Mas, quem teria sido?
A expressão do rosto tornou-se ainda mais dura.
— Só podia ser Jeff. Deve ter descoberto que foi ela quem me abriu a porta do quarto onde estavas presa.
Joyce deixou-se cair num banco. Parecia aturdida, como se tivesse apanhado um golpe brutal.
— Então, morreu por nossa causa — balbuciou.
—O pior é que Mamie amava Jeff com toda a sua alma—murmurou verdadeiramente emocionado. —E ele assassinou-a...
Deu meia volta e dirigiu-se para a porta, mas antes de sair disse ainda:
—Vou tentar dar-lhe sepultura. Creio que é a única coisa que podemos fazer por ela... agora.
 

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