terça-feira, 30 de junho de 2015

PAS488. Um tiro na noite escura

— Não sejas criança — sorriu-se Farley. — Eu próprio me sentirei mais tranquilo sabendo-te em lugar seguro.
— É verdade tudo isso que me dizes? — perguntou ela levantando para ele o rosto.
— Nunca falei tanto a sério. Creio que seria muito penoso para mim separar-me de ti — murmurou. — Temos passado momentos difíceis e jamais poderei abandonar-te.
Margarida permaneceu uns instantes silenciosa.
— Importas-te se te perguntar uma coisa? — inquiriu em tom travesso.
— Nunca poderás incomodar-me.
— Neste caso... Existe alguma mulher na tua vida?
— Nenhuma — respondeu Farley, sem titubear.
Então, num repentino impulso, Margarida deitou-lhe os braços ao pescoço.
— Oh! Donald! =exclamou. — Que feliz me torna saber que posso ser a primeira!
Farley ficou imóvel, surpreendido com a repentina reação da rapariga. Mas esta aproximava já o seu rosto e oferecia-lhe os lábios com tão cândida sugestão, que Farley não foi capaz de resistir a provar a doçura do beijo, que estremecia como a gota de orvalho no cálice de uma rosa de fogo.
Durante uns instantes permaneceram estreitamente enlaçados. Depois, como se se apercebesse da sua fraqueza, Farley afrouxou a pressão dos seus braços e Margarida deixou resvalar a cabeça até apoiá-la no peito do americano.
Farley passou a mão por aquele cabelo brilhante e sedoso, acariciando a cabeça de Margarida com um sentimento de profunda veneração e carinho.
— Amo-te — murmurou ela, baixinho. — Nunca pude imaginar que o amor proporcionasse uma felicidade tão grande...
Farley continuava calado. O seu espírito sentia-se igualmente perturbado, mas à doce sensação que o amor de Margarida lhe causava unia-se um sentimento de vergonha e confusão.
De repente, de um ponto situado um pouco acima do rio, partiu o estampido de um tiro, e um grito penetrante rasgou o silêncio da noite.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

PAS487. Margarida em perigo

Não oferecia dúvida alguma de que um grupo de cavaleiros se aproximava. O bater dos cascos num solo pedregoso era bastante percetível para poder duvidar da sua procedência.
Num repente, Farley suspeitou de que o objetivo dos que chegavam era precisamente o local onde ele se abrigara a descansar. Se o encontrassem ali corria um grave risco, quer se tratasse dos partidários de um bando ou do outro.
Saiu do refúgio das árvores e correu para a ladeira da montanha. Os penhascos ofereciam-lhe urna relativa segurança, embora neles estivesse oculto dos olhares dos que atravessavam o vale.
Olhou pela última vez para a casa, mas não viu a rapariga voltar. Pelo menos, a ela nada fariam. Logo que observasse o seu regresso, chamaria a sua atenção para que fosse ter com ele e abandonassem sem mais demoras aquelas paragens.
Ocultou-se atrás de uns pedregulhos e espreitou por uma abertura que ficava entre eles. Pelo lido oposto do vale e exatamente no mesmo lugar que meia hora antes tinha percorrido, uma dúzia de cavaleiros militares acabava de fazer a sua aparição. Passaram a grande velocidade e só refrearam a marcha das montadas quando alcançaram o grupo de acácias. Então, em lugar de se deterem, continuaram em direção à casa.
Farley experimentou uma súbita inquietação. Seguiu o grupo com o olhar e viu-o deter-se diante da cerca. Os soldados desmontaram e penetraram na fazenda.

domingo, 28 de junho de 2015

PAS486. Que fazer quando os amigos nos avisam?

Em qualquer sítio do andar térreo, um relógio de parede fez soar, lentas e sonoras, as doze badaladas da meia-noite. Todos pareciam dormir no rancho. Uma quietude profunda o envolvia.
Farley continuava sem se deitar. Passeava de um para o outro lado no quarto e, a espaços, a sua figura recortava-se no fundo luminoso da janela.
Fumava cigarros atrás de cigarros, pensando no enigma que se encerrava nos muros da casa que se lhe havia oferecido para alojamento. Alguém dela estava relacionado com Os homens que traficavam com as forças rebeldes do mexicano Vélez. Seria a bela e enigmática Guadalupe, a filha mais velha de D. António, ou talvez fosse a doce e sonhadora Alice quem se tinha apoderado do lenço para evitar ser descoberta a sua cumplicidade com os contrabandistas? Tão-pouco cabia excluir o próprio dono da casa ou o mais insignificante dos seus fiéis servidores.
Farley sentia-se intrigado e o sono tinha-lhe fugido da mente atarefada em descobrir a relação que poderia existir entre uns factos aparentemente transcendentes.
Naquele momento algo vibrou na noite calma, e urna pancada seca soou com a violência de um choque de bala.
Farley voltou-se bruscamente. No caixilho da janela aparecia cravada uma flecha. A sua inclinação mostrava que tinha sido disparada de um ponto próximo das cavalariças.
Intrigado, Farley foi até à janela e arrancou a flecha. Os seus olhos descobriram num instante um papel enrolado e atado com um cordel. Desdobrou-o e leu apressadamente as breves linhas que continha:
 
«Amigo Farley:
Farás melhor em seguir o teu caminho e procurares o rastro de Steve Keller. Este é um jogo que pode tornar-se perigoso. Um leal aviso do teu amigo
Sam Pecker».
Pela segunda vez Farley leu a missiva. Depois amarrotou a mensagem e todo o seu corpo tremeu de indignação.
Porque acabava de reconhecer naquelas linhas os traços da escrita do seu antigo companheiro Pecker.

sábado, 27 de junho de 2015

PAS485. O mistério do lenço desaparecido

Foi pouco antes do jantar que Farley conheceu as duas filhas de D. António. Guadalupe, a mais velha, era uma linda mulher, de olhos verdes e cablo muito negro. As suas feições revelavam a ascendência da raça, tendo em conta que D. António tinha contraído matrimónio com uma americana, mas o espírito decidido tinha-o herdado do pai. Alice, pelo contrário, era loira e de olhos azuis. Aparentava um temperamento doce e sonhador, mas Farley cedo se apercebeu de que era tudo precisamente ao contrário. Irritava-se com frequência e disputava até com a irmã. Ambas deram mostra de uma desmedida curiosidade ao saber da presença de Farley na fazenda. Encheram-no de perguntas e desfizeram-se em amabilidades por lhe tornar agradável a sua presença ali.
Farley, observando-as, deixava que uma ideia se infiltrasse no seu cérebro. Seria, acaso, uma das duas irmãs a dona do lenço escarlate que servira de isca para o atrair à cilada, junto ao rio? E ocorreu-lhe a ideia de que mostrando-o e referindo a sua história talvez pudesse descobrir, pelas suas reações, se alguma delas se havia cruzado com ele antes da sua chegada ao rancho.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

PAS484. Encontro com um lenço perfumado de mulher

O rio corria preguiçosamente mais à esquerda, por um terreno pantanoso povoado de juncos, através do qual era com dificuldade que se passava, motivo por que Farley tinha escolhido o caminho do interior, mais firme e menos exposto a emboscadas.
À saída do desfiladeiro iniciava-se um pequeno bosque de acácias. Farley deteve-se, olhando para a direita e para a esquerda, para melhor avaliar as possibilidades que os dois caminhos lhe ofereciam.
E foi então, que o seu olhar descobriu algo que o fez franzir o sobrolho. Dos lábios escapou-se um ligeiro assobio de assombro. Depois, obrigou o cavalo a virar para a esquerda, sem pressas.
A umas quinze jardas, no centro da vereda, havia um objeto de cor vermelha. Era um lenço, conforme pôde averiguar quando se aproximou; um lenço de seda que pertenceria, certamente, a uma mulher.
Farley desmontou e aproximou-se do lugar onde parecia estar abandonado aquele objeto. Agachou-para o apanhar e agarrou-o com um incontido sentimento de receio.
Tratava-se, com efeito, de um finíssimo lenço de seda, dos que as mulheres costumam colocar em redor do pescoço e lhes cobre uma parte dos ombros. Era de cor «grenat» e salpicado de uma infinidade de bolas brancas e, ao aproximá-lo do rosto, Farley aspirou um finíssimo perfume de jasmim que parecia desprender-se das suas pregas.
Farley tratou de imaginar a mulher a quem ele pertenceria, mas não teve tempo de o fazer. O seco estampido de um tiro de espingarda quebrou, com o seu aviso de morte, a agradável quietude do ambiente.
 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

BIS082. Rio Grande

 


 
Uma revolução estalou no México e logo, do lado americano, se organizou o tráfico de armas de que os revoltosos careciam. Um guarda rural foi encarregado de deter os responsáveis pelo tráfico e chegou às margens do Rio Grande(1). Uma emboscada pô-lo nas mãos dos revoltosos onde conheceu uma menina, a belíssima Margarita, irmã de um cabecilha destes, que passou a acompanhá-lo num conjunto de peripécias onde a galhardia mexicana se misturou com a traição e a mentira.
R. C. Lindsmall, com doze registos em Portugal entre 1959 e 1965, traz-nos um livro onde o inesperado acontece permanentemente.
A capa, não assinada, mostra o agente rural em fuga para o lado americano sob o olhar de perseguidores mexicanos.
 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

BIS081. Aluga-se um revólver



Tinha sido Guarda Rural no Texas. Um dia, fugiu ao cumprimento do dever e preferiu ficar na companhia de uma mulher em vez de apoiar os seus colegas de profissão. Foi expulso. Tentou o lugar de xerife mas não o aceitaram em lugar algum. Passou então a procurar criminosos com a cabeça a prémio e ganhou uma fama inigualável. Por todo o lado, o seu nome impunha respeito. Até que chegou àquela povoação onde reencontrou a mulher que o ajudara a cair em desgraça e onde se cruzou pela primeira vez com outra, maravilhosa, com quem desejou partilhar a vida. Esta não era fácil naquele local onde um cacique pretendia abarbatar as terras de todos os rancheiros. Tentou esquivar-se a esta luta, fugiu inclusivamente ao apelo da mulher amada, mas o sacrifício daquela que um dia contribuira para a sua desgraça foi o detonador final para a sua acção.
Eis uma obra de J. Leon. 11 livros registados em Portugal dos quais 9 na APR entre 1955 e 1959.
A capa, não assinada, mostra um pormenor da luta do ex-Guarda Rural contra os malfeitores sob o olhar aterrorizado de uma mulher.

terça-feira, 23 de junho de 2015

KANSAS_KID#02. O plano do presidiário

Um homem chega ao rancho «Duplo D» e o seu aspeto faminto leva a que seja bem acolhido. O homem consegue ser admitido como vaqueiro, matéria em que não parece ser muito competente, mas a sua vontade torna-o aceitável. Só Kansas tem a sensação de conhecer a sua cara. Que se passará?

sábado, 20 de junho de 2015

KANSAS_KID#01. Rivalidade Fatal

A eleição do «Mayor» de Cactus City leva ao confronto entre o barbeiro Rawson e o rancheiro Marney. O pior é que o rancheiro, cheio de ambição, procura vencer por todos os meios, lícitos ou ilícitos.
As ameaças na cidade atingem todos os habitantes e o mau clima chega à barbearia num dia em que, por acaso, Kansas Kid se encontra ali.
O relato do que se passou apareceu no MA 580. Ei-lo...

quarta-feira, 17 de junho de 2015

RED_RYDER#06. O segredo dos gémeos


Red estava convencido que um período de calma iria sentir-se no rancho. O Pequeno Castor tinha ido ver a família. O velho Zeke tinha regressado a casa. Parecia que nada poderia perturbar a paz. Mas eis que dois irmãos gémeos ali chegam trazendo consigo um segredo importante. O que se passou veio publicado no Mundo de Aventuras 593. Apreciem...

domingo, 14 de junho de 2015

RED_RYDER#05. O regresso de Zeke Ó Connor

É final do ano. No rancho de Red Ryder todos se preparam para a festa da meia-noite. Mas algo vai introduzir um fator de perturbação. Um velho esfarrapado e cansado aproxima-se cambaleante, julgando estar a chegar a casa dos pais.
Esta história veio publicada no MUndo de Aventuras 580.

sábado, 13 de junho de 2015

POL082. Encontrou um amigo

(Coleção Pólvora, nº 82). Capa e texto indisponíveis. O título foi apurada por consulta ao PORBASE, não havendo certeza sobre o mesmo, já que a referência não tem número de coleção. Sabe-se que este título figura no lote dos publicados em 1965 e à falta do mesmo no nosso rol, concluímos que pode ser...

POL081. Frente a frente

(Coleção Pólvora, nº 81)

terça-feira, 9 de junho de 2015

PAS483. O momento da liberdade e reabilitação

Passaram dois meses até ser revisto o processo de John Foster. Durante essas oito semanas sucederam algumas coisas: a mais interessante para a Lei foi que se encontrou o roubo do Bank West Texas escondido numa falsa prateleira de um armário.
Outra das coisas ocorridas nao interessava muito Guarda Rural do Texas, que era quem conduzia a investigação. Mas interessava a John.
Mary esperava um novo filho.
John Foster chorou de alegria quando ela lho disse.
Dias depois voltou a verter lagrimas e também de alegria.
Comunicaram-lhe o resultado da revisão do processo.
Quando leu o auto que punha fim à investigação nao viu outras palavras que nao fossem as que lhe interessavam.
«...visto o passado... dadas as circunstancias... cumpre proclamar e proclamamos a sua liberdade e a sua reabilitação».
— A minha liberdade e reabilitação — grltou.
Mary saltou sobre ele. Abraçaram-se.
— Mary... Mary...
Ela nao o deixou continuar. Selou-lhe os lábios com um beijo.
Começava a felicidade outra vez, esquecendo o passado.

PAS482. Uma mulher de armas salva um homem derrotado

Estava derrotado. O sangue continuava a jorrar pela sobrancelha aberta. Toldava-se-lhe a vista.
Mal distinguia as feições de Gerson. As casas, os «saloons», esfumavam-se. Os contornos desapareciam entre sombras e névoas vermelhas.
A silhueta da diligência aparecia-lhe transformada numa sombra imóvel.
Gerson avançou um passo mais. Bastava-lhe premir o gatilho para lhe fazer saltar a cabeça, desfeita.
Foster tentou agarrar-lhe os pés, mas Gerson afastou-se, dando-lhe um pontapé na mão, e Foster caiu desamparado no chão, quedando-se imóvel, vencido.
— Não devias ter vindo... — murmurou Gerson, apontando friamente à cabeça de Foster. Teria sido melhor para todos... Eu continuaria aqui... E tu continuarias no mundo dos vivos...
Gerson sentiu um prazer satânico no momento em que pensou que ia premir o gatilho.
De novo ressoou o ruído de um tiro.
Mas desta vez não provinha do revólver que Frankie Gerson empunhava.
Vinha de uma espingarda, atrás de si.
O projétil queimou-lhe o braço esquerdo, desfazendo--lhe o cotovelo e fazendo-o uivar de dor.
Gerson revolveu-se como se uma cascavel o tivesse mordido.
Enfrentou a solidão, procurando quem disparava contra ele.
No meio da rua continuava imóvel a diligência. Na boleia, com os braços ao alto, estavam o cocheiro e o ajudante.
Toda a gente se sumiu pelas portas e das janelas. Temiam que de um momento para o outro se desencadeasse o inferno na rua.
— Cobarde, sai! — rugiu Gerson, louco de dor, sem dominar os nervos.
A única resposta foi urna voz vinda da diligência.
Era uma voz de mulher.
— O único cobarde és tu, Gerson... Maldito Gerson.
— Sai! Sai, ou, irei buscar-te!
— Vieste uma vez, Gerson, e não tinha uma espingarda à mão para me defender... Agora tenho-a e estou disposta a fazer-te pagar todo o mal que me fizeste... Gerson, recorda aquela maldita noite de Cortewood... Recorda-a, canalha, porque a tua vida não vai durar muito tempo!
Gerson avançou para a diligência. Uma suspeita atravessou-lhe o cérebro.
— Estás morta, estás morta! — gritou, avançando.
— Não, Gerson, não... Não estou morta... E tenho uma espingarda nas mãos...
Assim era. Mary, ao ver Foster saltar, teve uns momentos de hesitação. Depois, ao compreender que o marido conseguira evitar a morte, arrebatou a espingarda a um dos viajantes e apontou com cuidado a Gerson.
Teria podido matá-lo. Mas quis fazê-lo sofrer, pelo menos, uma pequena parte do que ela sofrera.
— Estás morta...! Eu matei-te, eu matei-te! — rugiu Frankie, desatando a correr para a diligência.
Não conseguiu chegar nem a dez jardas.
Apareceu uma figura à janela. Era Mary.
Empunhava a espingarda com segurança, com decisão, sem medo, firmemente disposta a matar, sem sentir vergonha nem receio disso.
Ao vê-la, Gerson quis parar, tentou dominar os movimentos e disparar.
Mas apenas conseguiu mover grotescamente os braços quando soou o primeiro tiro. Deu a impressão de que acabava de embater numa barreira invisível.
Depois outro tiro. E outro.
Mary manejou com rapidez o carregador da espingarda. E disparou com a mesma serenidade e tranquilidade.
Frankie, a menos de quinze jardas, retorceu-se a cada tiro. Não queria cair; pôs nisso todas as forças. Era o seu último gesto, a sua última façanha, estúpida e inútil.
Quis resistir, como se desejasse morrer de pé. Mas as energias escaparam-se dos seus músculos. E os revólveres caíram no chão.
Depois, foram os joelhos que se inclinaram, que falharam.
Mary disparou de novo. O corpo do foragido agitou-se como um boneco de palha e caiu de joelhos.
Manteve-se naquela posição durante uns segundos, apoiado às mãos. Depois, rolou.
A morte chegava definitivamente. Frankie Gerson acabava a sua vida acanalhada numa rua poeirenta, de botas calçada, como morrem os fora-da-lei.
Mary suspirou profundamente. Pela primeira vez tinha matado um homem. E o surpreendente era que não o lamentava. Pelo contrário, fora como se acabasse de libertar-se de um peso. Deixou cair a espingarda e saltou da diligência. Correu para o corpo inanimado de seu marido. — John! — gritou, ao ajoelhar-se. Segurou-o pelos ombros, ergueu-o, acariciou-lhe o rosto ensanguentado.
Os olhos de Foster moveram-se lentamente.
— Mary... — murmurou.
Naquele instante, perdeu o conhecimento.
Ela abraçou o corpo do único homem que sempre amara.
Sentiu que umas mãos se apoiavam nos seus ombros.
— Tratá-lo-emos melhor, senhora — disse uma voz. Era Swede, o xerife de Springtown.
Entre ele e os ajudantes levantaram o corpo de Foster e dirigiram-se para as casas. Mary seguiu-os.
— Xerife... que pensam fazer? — murmurou, suspeitando que começava uma nova odisseia.
— Nada receie, senhora... Todos somos testemunhas do que sucedeu... E do que confessou este canalha... Não lhe sucederá nada. Agiu em legítima defesa... E seu marido estava desarmado, lutava a corpo limpo... Nada receie, senhora...
Transportaram John Foster para a casa do médico. Pousaram-no numa cama e o doutor iniciou o seu trabalho.
Bastou-lhe um ligeiro exame para diagnosticar:
— Esgotamento geral em consequência de pancadaria brutal... Havia muito tempo que não via um homem tão golpeado como este... Quem é?
— Um forasteiro.
— E o seu inimigo?
— Morto... Era Frankie Gerson.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

PAS481. Ouvir um estalido de revólver

Dois dias mais tarde, John Foster despediu-se Mary.
Ela já sabia tudo. Explicara-lhe o plano e as precauções que tinham sido tomadas. O importante era evita que Frankie Gerson fugisse. Para isso, teria de o caçar no seu próprio covil.
John partiu ao amanhecer.
Um homem esperava-o na rua e acompanhou-o até que dobraram a esquina e se perderam da vista de Mary.
Ela ficou em Two Steel's, aguardando o regresso.
Seriam horas angustiosas. Tão angustiosas que não pôde resistir-lhes.
Tentou passear pelo quarto. Sair à rua, comer, ler... Tentou dormir.
Não o conseguiu.
Uma ideia obsessiva mantinha-se sempre na sua cabeça; John marchava ao encontro da morte! John ia em busca da vingança! Recordou aquele ser odioso que dava pelo nome de Frankie Gerson.
Recordou o assassínio do filho que levava nas entranhas. Recordou o que sucedera naquela maldita tarde...
— Não! — gritou, sem poder conter-se.
Saiu, correndo, do quarto e desceu ao «hall» do hotel.
Nervosa, perguntou ao rececionista o horário das diligências e as mudanças que devia fazer para chegar a Springtown.
Quando a si própria perguntou o que ia fazer àquela povoação desconhecida já estava na diligência, transpirando, sentada entre desconhecidos, acompanhada pelas suas recordações, com o ruído do girar das rodas como música de fundo.
Não fixou a paisagem.
Apenas se dava conta do passar do tempo.
Para que ia a Springtown...? E, uma vez ali, que faria?
Não o sabia. Contudo, ao empreender a marcha, não fazia outra coisa que não fosse obedecer a um impulso interior que a atirava para essa cidade desconhecida.
Anoitecia quando entraram em Springtown.
 A povoação era, na realidade, uma vilória formada por uma rua central, cuja única importância consistia em ser o ponto-chave para o embarque de gado, pois era urna das terminais do caminho-de-ferro.
Os arredores de Springtown estavam cheios de currais, a maior parte deles vazios.
A diligência entrou na povoação velozmente. O cocheiro fazia estalar o chicote, como se não bastasse-o ruído da caranguejola para chamar a atenção.
Mary assomou o rosto pelo postigo para observar.
Foi então que sucedeu o imprevisto, o que não podia pensar.
O cocheiro agarrou nas rédeas com todas as forças
No mesmo instante ouviu-se o relinchar dorido de animais e o ruído de vidros que caíam estilhaçados.
Ouviram-se também gritos.
Mary olhou para lá.
Viu um homem que rolava pelo solo, confundido co as sombras, levantando a poeira.
Viu os cavalos que puxavam a diligência erguer as patas no ar.
Viu o cocheiro de pé na boleia, com uma «Winchester entre as mãos.
Viu... Viu demasiadas coisas para se fixar concretamente numa delas: o homem que havia sido projetado por uma janela e rolava pelo chão.
O homem ficou estendido de bruços, tentando erguer-se, apoiando-se com todas as forças, nas mãos...
Abriu-se a porta do «saloon».
No limiar, iluminado pela luz do interior, sem que pudesse distinguir-se-lhe o rosto, apareceu um tipo alto e magro, empunhando um revólver.
Não disparou.
Avançou até ao centro da rua. Fê-lo com lentidão, como se sentisse prazer nos seus próprios movimentos.
E logo, na rua, ressoou uma gargalhada sádica, brutal.
— Ah, ah, ah, ah...! Ah, ah, ah, ah!
Ao rir-se, o homem inclinou-se para a direita e o rosto permaneceu iluminado umas décimas de segundo.
Tempo mais do que suficiente para que Mary o reconhecesse.
Era Frankie Gerson!
E o homem que estava no chão era seu marido, era John Foster!
Mary mordeu os lábios para não gritar.
Mas não pôde evitar um grito de horror quando ouviu o estalido do revólver que Gerson empunhava e viu John saltar pelo ar.
Mary pensou que tudo havia terminado para ela. A vida carecia de valor.
 

PAS480. Um sonho mau

— John, quase não podia acreditar... Parece-me um sonho...
- Um sonho mau, Mary... Esquece-o, e perdoa-me, por favor, perdoa-me...
— John, quando se ama, pode perdoar-se tudo.
— Fi-lo por ti... e pelo menino... Tive um momento mau. Depois já era demasiado tarde para o evitar.
— Não fales mais disso, John... Nem do menino. Derramei muitas lágrimas por ele. Queria um filho, sabes, um rapaz, mas...
— Não te tortures recordando, Mary... Dizem que a pior hora da vida de urna pessoa dura sessenta minutos. E aquela foi a tua hora maldita... Mas agora cairá ele, morderá o pó...
— Não, John, não, por favor... Não tentes vingar-me, não tentes fazer nada. Estás solto e o importante é tornar a reconstruir a nossa vida...
— Sim, mas antes tenho de saldar uma dívida... Estou em dívida com a Justiça e devo saldá-la.
— John, pensa em nós, pensa em...
— Sim, Mary, faço-o por nós... Por ti e por mim... Ao mesmo tempo que falava, empurrou-a suavemente para o quarto que permanecia aberto.
— Fá-lo-ei por nós, Mary... — repetiu John, enquanto, cerrava a porta suavemente...

domingo, 7 de junho de 2015

COWBOY_LOVE#01.4 - The Feud


Um jovem é espancado à vista de Cora que não hesita em ajudá-lo. Desse convívio obviamente vem a nascer o amor... A imagem que selecionei para introdução recorda-me uma capa do MA com o encontro de Valente e a bela Aleta.






sábado, 6 de junho de 2015

PAS479. A hora dolorosa de Mary Foster

Era um homem. A primeira coisa em que Mary reparou foi na sua pele muito escura, acobreada, como se descendesse de índios.
Mary colocou-se atrás do balcão.
– Que deseja, senhor?
O homem não respondeu. Limitou-se a sorrir e a fitá-la com olhos profundos, negros, penetrantes.
– Que deseja? — insistiu.
Gerson não respondeu. Via agora porque Foster, mesmo na prisão, se preocupava tanto com aquela mulher. Reparou como era bela. Ocorreu-lhe também a ideia de que faltavam cinco meses para ser mãe. Mas a sua silhueta não quebrava a harmonia do conjunto.
Avançou e encostou-se ao balcão.
Mary receou que se tratasse de um bêbado. Desde que se encontrara só, desde que John cumpria a pena em Salt Lake, temia sempre aqueles momentos de solidão, quando enfrentava um desconhecido.
De resto, estava certa de que muitos poucos a ajudariam. Em Cortewood não perdoavam o que seu marido fizera.
Mary afastou-se do homem, aproximando-se do sítio onde guardava as maças com que partia o carvão. Sentia-se mais segura perto daqueles instrumentos.

PAS478. A amizade na prisão

Passaram semanas. O dia da libertação de Frankie Gerson aproximava-se.
Entre os homens tinha-se estabelecido uma corrente de amizade.
Por fim, chegou o último jantar servido por Frankie.
Os reclusos formavam várias filas com dois pratos nas mãos.
Os caldeiros com a comida estavam colocados ao fundo e os presos avançavam lentamente para eles.
Gerson ia enchendo os pratos.
Alguns presos felicitavam-no pelo termo da condenação. Outros não diziam nada. A conduta de Gerson não Linha sido muito cordial com os seus companheiros, pelo que todos se alegravam com a sua próxima liberdade.
Foster estava à frente de uma fila próxima, aguardando que chegasse a altura de se aproximar dos caldeiros.
Gerson não dissimulava a sua alegria. Sorria abertamente enquanto servia os pratos.
De súbito tudo mudou. O seu sorriso interrompeu-se. Foster, que o observava, pôde dar-se perfeita conta do que se passou.
Um preso, alto e forte, corpulento, de pele lustrosa e bigode negro, atirou o seu prato cheio de puré de batata contra Gerson.
Armou-se uma gritaria impressionante.
O recluso descarregou o punho, com toda a violência, no estômago de Gerson, atingindo-o em cheio.
Foster compreendeu o que ia acontecer. Largou os dois pratos e saltou como um gamo.
No momento exato em que o atacante ia descarregar, pela segunda vez, um murro, Foster deteve-lhe o braço que já iniciara a trajetória, e empurrou-o violentamente, fazendo-o dar meia volta.
O rosto engordurado do homem ofereceu-se, descoberto, a Foster.
O golpe que lhe descarregou foi terrível e brutal. O nariz do preso pareceu estalar e o sangue jorrou com violência.
O tipo tentou defender-se, mas só conseguiu exasperar ainda mais Foster, que lhe atirou uma série de cinco socos consecutivos, em pleno rosto, que o entonteceram.
Era um tipo gigantesco mas falho de reflexos.
Quando caía, Foster empurrou-o contra um dos caldeiros, precipitando-o lá dentro.
Gerson, recomposto do golpe recebido, havia-se afastado do cenário da luta.
Os presos gritavam, excitados.
Rapidamente três guardas levaram Foster.
Uma hora mais tarde, devolviam-no à cela, onde encontrou Gerson, de pé, aguardando-o.
Quando o viu entrar, lançou-se sobre ele, estreitando-o nos braços.
— Obrigado, obrigado... — murmurou. — Se não fosses tu, amanhã não sairia.
— Limitei-me a cumprir o meu dever. Julgo que aquele tipo só pretendia prejudicar-te.
— Assim era... Há um par de anos...
— Não me interessa o que sucedeu, Gerson. Sei o que são oito semanas em Salt Lake e quis evitar-tas.
— À custa de as cumprires tu.
— Quando restam dez anos à nossa frente, não se pensa muito nessas coisas.
— John, és um excelente homem... Gostaria de ajudar tua mulher... Posso ir em busca do que fugiu com o dinheiro... Sabes que Mary precisa de dólares, precisa de ajuda... E sabes que não lha deram.
— Não cumpriram a palavra.
— Farei com que a cumpram... John, podes depositar absoluta confiança em mim. Estou-te muito agradecido e serei digno do favor que me prestaste... Se me disseres onde poderei encontrar o que fugiu com o roubo, procurá-lo-ei e obrigá-lo-ei a cumprir a sua promessa.
Foster hesitou. Olhou para Gerson e julgou ver sinceridade nos seus olhos.
— Sai do teu mutismo... É a mim que o dizes, não à Lei... Não faltará nada a Mary, compreendes... ? Ajudá--la-ei como se tu mesmo o fizesses... Espera o menino dentro de cinco meses e precisa que a ajudem...
 -- Sim... chama-se Dayli e vive em Visount. É tudo o que sei.
Gerson sentiu uma alegria feroz no seu íntimo. Conteve-se para não a mostrar.
— Cumprirei, Foster, como os bons — murmurou, deixando-se cair no catre.
Pela cabeça passaram-lhe estranhas ideias de sangue e de morte. Gerson via-se já nadando em ouro.
Noventa e sete mil e trezentos dólares era muito. Mesmo que Dayli tivesse gastado a mãos largas, restaria, pelo menos, metade.
Ainda era uma importância suficiente para fazer feliz um homem como Frankie Gerson.
Eram oito horas da noite, quando as portas do armazém se abriram.
Mary estava a fechar as contas do dia. Não era frequente vender alguma coisa a partir daquela hora.
Quando ouviu o ruído metálico da campainha que tocava ao abrir-se a porta, Mary saiu das traseiras e foi ao encontro do cliente.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

PAS477. A partida do presidiário

Contexto da passagem: na sequência de um assalto mal sucedido ao banco de Butler, John Foster ficou desastradamente fechado numa gaiola de segurança e foi preso e condenado a dez anos de prisão. Este é o momento da partida





Faltavam poucos minutos para as dez.
O cocheiro estava já na boleia, aguardando o momento de partir.
Dentro da diligência encontravam-se o xerife, os dois ajudantes e Foster.
Cá fora, contendo a muito custo, as lágrimas, apoia na porta, encontrava-se Mary.
Foster acariciava-lhe a cabeça através do postigo. Os seus pulsos estavam algemados.
— Mary, cuidarão de ti, não temas... --- murmurou ele.
Ela mordeu os lábios para conter as lágrimas.
— Quero-te, apesar de tudo... — murmurou.
O relógio assinalou as dez. O cocheiro fez estalar o chicote e o carro pesadão pôs-se em movimento.
-- Cuidarão de ti — repetiu Foster.
— Quero-te, John, quero-te... — murmurou ela.
A mão dele deslizou sobre a cabeça de Mary.
Separavam-se. Talvez para sempre.

PAS476. A vida difícil de um texano após a guerra da Secessão

Nove de Abril de 1866. Fazia precisamente um ano que a guerra terminara. Teoricamente era um dia de alegria para toda a gente. Para todos, menos para John Foster.
O dia amanhecera encoberto. Nuvens cinzentas apareciam no horizonte, avançando lentamente.
Enquanto iam desfraldando bandeiras na rua principal de Cortewood, caíram os primeiros pingos. O pó transformou-se em lama. Logo que a chuva parou, a animação voltou a aumentar.
Chegavam vaqueiros de toda a região, dispostos a divertir-se, desejosos de passar um bom dia. Formavam--se grupos alegres e coloridos, de velhos e novos.
Alguns traziam gorros militares, com os distintivos e números dos batalhões a que haviam pertencido. Outros envergavam peças de fardamento. Outros, ainda, transportavam os bornais de folha que o Sul usara durante a guerra e que nessa altura foram objeto de constantes zombarias.
Só numa coisa coincidiam todos: nos revólveres. Pendurados sobre as coxas, presos por correias atadas às pernas. Os cabos das navalhas brilhavam, reluzentes e limpos. Os cinturões-cartucheira apareciam cheios de balas.
 John Foster contemplava a cena da varanda de sua casa.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

ARZ087. Falso amigo

 
(Coleção Arizona, nº 87)
 
«Em Abril de 1865, no Palácio da Justiça de Appomatox, o general da Confederação Robert E. Lee assinava a rendição perante o general Ulisses Grant, da União.
Terminavam quatro anos de guerra. Ao mesmo tempo, porém, começavam muitas lutas individuais.
Os homens, afastados das suas ocupações, regressavam a elas. Uns, como vencedores, convencidos de possuírem direitos que, na realidade, eram abusos. Outros, como vencidos, mas também com o orgulho tipicamente sulista.
Milhares de homens se transformaram em desempregados. Alguns, por falta de ocupação. Outros, porque as coisas não haviam corrido bem na sua ausência.
Durante semanas, o território da União ficou cheio de ex-combatentes que regressavam às suas terras, de aventureiros acostumados à luta, a premir o gatilho das armas, à morte...
O trabalho recomeçou, renasceram os negócios e as indústrias, a vida continuava... Os que haviam pensado que a rendição seria o fim para o Sul enganavam-se. A União estendeu a mão aos que haviam sido seus inimigos e empreendeu-se o trabalho de reconstrução.
Para muitos, contudo, o pós-guerra não significava a paz nem a tranquilidade.
Para esses, o pós-guerra era difícil, tão difícil como a guerra.
E um deles era John Foster, homem de vinte e sete anos, alto, forte, de pele curtida pelo sol e pela vida ao ar livre.
O seu rosto tinha uma expressão entre inteligente e decidida. Os seus olhos, negros, fixavam-se penetrantemente. Era um autêntico texano.»
 
Começa assim este belo livro de John Weiber que nos faz o relato das necessidades de Foster que o conduziram ao crime e, depois, à prisão onde se fez amigo de um homem que o veio a atraiçoar.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

COWBOY_LOVE#01.3 - The Tall Stranger


«The tall stranger» é mais uma passagem do Oeste extraída de «Cowboy Love». O recém-chegado à cidade acaba por atrair uma jovem e o desenlace todos adivinham qual será, embora tivesse necessidade de ultrapassar obstáculos muito fortes.