quinta-feira, 2 de abril de 2015

PAS453. Entrevista na noite

Contexto da passagem: Andy conhece os Danvers e protege Betty de um mau bocado que os Colton lhe pretendiam proporcionar. Fica com aquela família, mas vem a conhecer Stella Colton e a sua mente oscila entre uma e outra…
 
 
Durante o caminho até ao vale, não pensou senão em Betty e em Stella. Duas maneiras de atuar muito diferentes e ao mesmo tempo parecidas. A diferença estava nos caracteres e nas idades. Mas as duas obrigavam-no a pôr-se à defesa, produzindo--lhe uma nunca sentida emoção. Melhor dizendo, duas sensações diferentes. Em Betty Danvers agradava-lhe tudo e demasiado. Em Stella Colton desagradavam-lhe umas quantas coisas, mas não o suficiente para estar imune ao seu atrativo.
 O caminho, se tal podia chamar-se a uma sucessão de montes quase cobertos pelo bosque, conduziu-o a um vale onde estavam os cavalos e o gado, misturados.
Terrel descobriu uma pequena cabana e dirigiu-se para lá.
Era pequena e não estava nada limpa. Havia três camas desfeitas, utensílios de cozinha, e pouco mais. Havia restos de provisões numa improvisada dispensa, além de um bom monte de lenha seca e em parte cortada.
Acendeu o lume, porque com a caída da noite o frio era intenso.
Abriu o embrulho. Aquela comida arranjada por Betty trouxe-lhe a imagem da rapariga à ideia. Seria maravilhoso que ela lhe preparasse assim a comida, todos os dias, e se despedisse dele sempre que partisse para a caça. Seria maravilhoso viver numa casa como a dos Danvers, ele, que já se tinha esquecido do que era um lar.
Afastou aqueles pensamentos perigosos. Betty Danvers era algo demasiado bom para ele, um desconhecido sem dinheiro, um vagabundo acostumado à solidão. Melhor seria não sonhar...
Mas sonhou com ela e com Stella Colton. Os seus pensamentos concentraram-se na segunda. Era diferente de Betty e não lhe provocava emoções doces. Ela esperá-lo-ia até á meia-noite. Eram pouco mais ou menos nove horas. Dali ao rancho dos Colton iam umas dez milhas. Duas horas de bom galope. Conhecia a localização do rancho, parte por informação dos Danvers, parte pelas pesquisas que fizera, vagabundeando pela zona. E ainda que não estivesse muito familiarizado com o terreno, possuía uma espécie de sexto sentido infalível que o levaria através dos bosques ao ponto necessário. Simplesmente, não devia, não queria ir.
Jantou e reforçou a sua decisão de não ir à entrevista. Era uma cilada, com certeza.
No entanto...
«King» voltou a cabeça, surpreso, ao sentir a sela em cima. Pouco depois, maldizendo-se pela sua falta de vontade, Terrel dirigiu o cavalo para o rancho dos Colton.
Ainda não era meia-noite quando o avistou.
Procurou o rio. Pouco depois via o algodoeiro, pois era noite de lua cheia e tudo estava iluminado.
Quando estava a uns trinta metros do arvoredo viu surgir uma figura debaixo do mesmo, que se deteve uns instantes e caminhou de regresso ao rancho. Uma figura feminina, inconfundível...
Terrel hesitou. Deixá-la-ia partir? Era o mais sensato. Chamou-a. Ergueu a voz o suficiente para chegar aos seus ouvidos.
— Stella!
A mulher deteve-se um momento e depois virou-se rapidamente, procurando-o. Ele avançou ao seu encontro, sentindo que lhe ardia o sangue...
— Já não o esperava — disse ela, numa mistura de alegria e irritação.
— Vim do interior das montanhas. E ainda não estou seguro de ter atuado com prudência. Ela riu-se.
— De modo que tem medo de mim.
— Sim, e você deveria ter medo de mim...
— Porquê?
 — Quem a viu vir?
--Ninguém. Quase todos os vaqueiros foram ao povoado. O meu irmão Louis, também. No rancho só ficaram. Ed, os dois que você feriu e o cozinheiro, além de dois vaqueiros que seguramente já dormem.
— Porque me pediu que viesse?
— Porque veio?
— De sobra o sabe. E isso deveria pô-la em guarda.
— Contra si?
— Contra mim. Que poderia fazer-me?
— Beijá-la, por exemplo.
— Atrever-se-ia?
Deu um passo em frente, desafiando-o. Terrel respirou fundo. Sentia fogo nas veias.
— Bem sabe Deus que agora me atreveria a tudo; e não por minha culpa. Ela voltou a rir.
— Você é um homem extraordinário. Estamos aqui, sozinhos em plena campo, à meia-noite, e fala e atua como se nunca tivesse beijado uma mulher.
— Assim é. Não beijei mulheres como você ou Betty Danvers.
Viu-a estremecer e soube que a tinha ofendido. A sua voz também lho disse:
— Porque fala nela, agora?
— Não sei. Veio-me à cabeça. São tão diferentes... Vá-se, ou não respondo pelo que possa acontecer.
Em vez de obedecer-lhe, ela deu mais um passo., Já estava ao alcance das suas mãos.
— Você agrada-me, Terrel. Agrada-me muito. É tão ingénuo... Aposto que nem sequer sabe como atuar agora. Nem sequer beijar...
Era demasiado. Terrel atraiu-a a si e procurou--lhe os lábios, sem que ela opusesse resistência...
Duas horas mais tarde levou o cavalo para onde ela o esperava. Olharam-se fixamente durante uns instantes, num silêncio completo, que Stella rompeu:
— Volte amanhã, à mesma hora.
— Não voltarei. Não quero. É uma loucura que a nada de bom pode conduzir.
— Virás. Ou então julgarei que és um cobarde e: irei contar tudo a Betty Danvers.
Ele afastou-se, em silêncio. Sabia que voltaria na noite seguinte e nas outras.

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