Tinha-se passado um dia inteiro sem haver novidade.
A cidade parecia completamente calma, mas todos sabiam que aquela quietude precedia a tormenta. As pessoas procuravam sair à rua o menos possível. E todos se olhavam com receia, coma se aquele homem que passava horas sentado à porta do hotel, bem visível, modelando estranhas figuras num bocado de madeira, fosse um empestado.
Se bem que não parecesse, Roy tinha os nervos tensos. Sabia que de um momento para o outro os acontecimentos se desencadeariam. O ambiente estava carregado de eletricidade.
Key foi a única pessoa que se aproximou dele. Levava um olho tapado. O seu vulto recortara-se, solitário e tranquilo, na rua vazia.
— Olá, Roy. — Olá, rapaz.
— Vejo que ninguém se aproxima de ti. Estás mais solitário do que uma mulher coxa num baile paroquial.
— Eu sou como um barril de pólvora. As pessoas sabem que quando começar a baile, todas as balas virão. para este lado.
— Compreendo.
— Como vai o teu olho? Veja que tens aí um penso de um tamanho descomunal.
— É só uma precaução. O médico disse-me que estou bem, mas que foi uma grande ideia ir consultá-lo a tempo.
— Isso acontece-te por te meteres com as mulheres sem que ninguém te mande fazê-lo.
— Mas se foste tu mesmo que me mandaste lá!
— Não devias ter feito caso!
— O pior é que gosto da rapariga. Tenho pensado nela e quanto mais penso mais bonita a acho. Vejo-a só com um olho e parece-me que a vejo com os dois. Mas agora não devemos falar disso.
— Porque não?
— Existem coisas mais importantes. Queria dizer-te uma coisa triste.
— Homem, se é uma coisa triste não me aborreças agora. Precisas de dinheiro?
— Não... não. De dinheiro estou bem.
— Então se se trata de outra coisa deixa-a para mais tarde. Bastantes preocupações já eu tenho.
— Tens razão. Para coisas tristes há sempre tempo. Mais a mais passa-se qualquer coisa grave.
— O quê?
— A «Amalgamated» fechou as suas partas. Porém todos o sabem que o fez porque precisa de todos os seus homens.
— Contra mim?
Key acenou afirmativamente com a cabeça.
— Eu diria que estás metido numa grande embrulhada. Se tivesses um pouco de senso abandonarias o assunto.
— Agora já é tarde.
— Eles escolheram um momento para te atacar e desta vez não vão falhar. Quando não se toma a iniciativa está-se perdido.
— Não te preocupes. Eu também tenho o meu truque.
— O pior é que esta tensão se torna insuportável. Não se saber quando a coisa vai começar...
— Pode ser que seja agora — disse Roy pensativamente.
Foi justamente nessa altura que tudo começou.
Não houve tiros. Aparentemente nada mostrou que as coisas tivessem mudado. Viram apenas o dono do hotel a sair nesse momento a toda a pressa, do seu estabelecimento, mas não sabiam porquê.
— Senhor Roy...
O hoteleiro estava ofegante.
— O que é?
— Raptaram Ingrid!
— Mas o que é que diz? Coma sucedeu isso?
— Só agora é que dei por isso. O pai da rapariga estava no quarto e pediu-me que lhe levasse lá acima uma garrafa de uísque. Subi as escadas e, quando cheguei lá acima, vi o velho caído no chão com a cabeça cheia de sangue. Não está morto, mas deram-lhe uma pancada forte pelas costas... Corri então para o quarto da rapariga. Tinham-na apanhado de surpresa também porque estava amarrada e amordaçada. Iam levá-la.
— Quem?
— Três homens.
— Reconheceu-os, não? Não me minta.
O hoteleiro torceu os dedos.
— Senhor Roy. Estou a comprometer-me falando assim. Isto pode custar-me a vida.
— Não se preocupe. Eles não quiseram fazer segredo. Se quisessem guardar segredo, tinham-lhe dado um tiro. Deixaram-no vivo precisamente para que me dissesse. Não é preciso ser muito esperto para compreender que eram homens da «Amalgamated Trust».
— Com... com efeito.
Roy suspirou. Singer não tinha mentido. Ali estava a armadilha.
— Para onde se dirigiram? — perguntou calmamente. — Porque é certo que eles não viram inconveniente em que o senhor visse.
— Corno o sabe?
— Já tenho vinte e três anos e conheço muita coisa. Diga-me, para onde se dirigiram eles?
— Para norte. Eu diria que foram para a «Quebrada del Índio».
«Quebrada del Índio» ...
Roy conhecia aquele sítio. Era bom para uma emboscada.
— Obrigado — disse. — Vou buscar o meu cavalo.
— Vai... vai enfrentá-los?
— Era uma coisa que tinha de suceder.
— Eu ajudava-te — disse tremulamente Key. — Mas estou zarolho.
— Mas isso é uma vantagem, rapaz. Assim, em lugar de dois inimigos vias apenas um e tinhas menos medo.
— Sim, mas o que me assusta é precisamente o que não vejo.
— Nisso tens razão. Até breve, Key.
Roy foi buscar o cavalo. Aspirou o ar calmo da rua. Tudo pressagiava morte. A cidade estava demasiadamente tranquila. Como um túmulo. Não tinha remédio senão meter a cabeça na armadilha. Mas confiava em que Bart estaria atento, como sempre. Porque se não...
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