Na realidade os sarilhos depressa começaram. Muito mais depressa do que Roy pensava.
No entanto, Roy adivinhou o que se passava quando viu aproximarem-se aqueles dois tipos arrastando os pés, parecendo não terem pressa de chegarem a parte alguma. Naturalmente que a velocidade deles se encontrava nas mãos e não nos pés.
Tinham tipo de texanos e por conseguinte de pistoleiros.
Roy, que se entretinha a aparar um palito com a sua navalha, perto da entrada do «Grand Bassin», viu que os dois se dirigiam para ali. «Estão a preparar-se para entrar em ação», pensou.
Os dois indivíduos pararam a pouca distância de Roy, apenas a uns cinco passos e fitaram-no fixamente
— Tu chamas-te Roy — disse um deles.
— E tu, Donald — respondeu calmamente o outro. — Não és mais do que um pistoleiro de segunda categoria. Que fazes aqui?
— Trabalho.
— Sim? Para a «Amalgamated»?
— Suponhamos que sim.
— E que é que eu tenho a ver com isso? Se tu trabalhas e te pagam a mim tanto se me dá.
— Os chefes conhecem-te!
— Sim? E pensam oferecer-me um emprego?
— Sabemos que já aceitaste o emprego de outro lado.
— Em todo o caso o assunto diz-me respeito apenas a mim, não acham?
— Sabemos — disse Donald — que és o que chamam um pacificador. Limpas uma cidade quando te pagam para isso. Mas agora meteste-te num assunto muito diferente; vendeste o teu revólver a entidades particulares. Dois particulares ou uma- cidade inteira. Que dá mais? Os dólares com que me pagam são iguais. Não gostamos nada que te metas nos nossos assuntos, Roy.
— E quais são os vossos assuntos?
— Estamos a perder tempo com palavras e isso não me agrada. Os dois compreendemo-nos perfeitamente desde o primeiro momento, por isso vou fazer a minha oferta: Se queres viver desaparece daqui. Se ficas espera pelas consequências.
— Parece-me uma combinação muito razoável — disse Roy, dissimulando um sorriso. — Ou foges ou ficas, mas para sempre. Quanto tempo tenho para lhes dar uma resposta?
— Tempo nenhum. Tens de resolver agora mesmo.
O jovem riu abertamente.
— Bom, fico...
— «Ficas» — disse Donald dando enfâse à palavra.
Quem se moveu primeiro, porém foi o seu companheiro. Pensavam que Roy estaria somente atento à conversa de Donald e que o esqueceria a ele. Mas Roy era demasiadamente sabido para cair naquela armadilha. Sabia que quando um dos pistoleiros falava e o outro só ouvia, o segundo é que era mais perigoso. Por isso fingia observar Donald, mas estava atento aos movimentos do outro.
Quando o homem levou a mão direita ao coldre já Roy se pusera em movimento. Era um autêntico profissional, um verdadeiro diabo. Atirou através do coldre e apanhou o inimigo na garganta, fazendo-o saltar para trás com um grito de horror e de angústia.
A curta distância a que se encontravam permitiu aquele género, de tiro ultrarrápido, através do coldre, quase sem apontar.
Em seguida o corpo de Roy girou velozmente e disparou para a cabeça dê Donald. Haviam chegado quatro segundos para que os homens se encontrassem caídos aos pés de Roy. Este volteou o revólver no ar como o havia feito Flanagan, na tarde anterior. E guardou-o no coldre.
Naquele instante apareceu um tipo que tinha as pernas arqueadas de tanto andar a cavalo. Trazia uma estrela presa na camisa.
— Não sabe como estou encantado em conhecê-lo, xerife — disse ironicamente Roy, ao vê-lo aproximar-se, levando ao mesmo tempo um dedo ao chapéu.
— Que se passou aqui? — perguntou o xerife.
— Não vê? Houve uma festa.
— Estes dois homens trabalhavam para a «Amal-gamated».
— E o senhor?
O xerife mudou de cor ao ouvir a insinuação de Roy.
— Que quer dizer?
— Nada.
— Gostaria de saber como se passou isto — disse o da estrela.
— Nada mais fácil. Pergunte aos vizinhos porque houve mais gente a espreitar às janelas do que se todas as bailarinas do saloon resolvessem mudar de roupa no meio da rua, E se não se convencer com o que lhe disserem, julgue por si mesmo. Dois contra um e cara a cara. Não é o que chamam por aqui um duelo legal?
O xerife mordeu o lábio inferior. Não precisava de ser muito esperto para compreender que as possibilidades para a acusação de homicídio eram nulas naquele caso. De maneira que não mencionou o assunto.
— Vive no «Grand Bassin» e chama-se Roy? — perguntou.
— Vejo que está bem informado.
— Sei que pessoas entram e saem na cidade.
— Pois é. Estes dois «saem» ...
O xerife mordeu outra vez o lábio inferior, raivosamente.
— Por agora não o detenho — disse por fim. — Mas proíbo-o de que se exiba pelas ruas e arranje conflitos. Sei bem que é um pistoleiro profissional. Os tipos como você são um perigo na cidade, de modo que talvez decida expulsá-lo. Entretanto deixe-se estar no hotel e não saia à rua sob nenhum pretexto.
—É a única coisa que pode mandar-me fazer, xerife. E nada mais.
— Pois é isso mesmo que o mando fazer.
— Quanto a expulsar-me quando é que se decidirá? Quero dizer quando é que os da «Amalgamated» lhe dirão o que deve fazer?
— Está a passar das marcas, Roy!
— Porquê? Eu não o insulto, xerife. Quero saber apenas qual será o meu futuro, o que é uma coisa muito razoável. Por aí nada poderá fazer-me também. Ah, já me esquecia de uma coisa...
— O quê?
Roy atirou um dólar para o chão.
— Certamente quer multar-me por deitar lixo para as ruas da cidade. Aí está o dinheiro da multa. E aí fica o lixo.
Apontou para os dois cadáveres. O xerife levou a mão ao queixo, coçando-o com fúria, enquanto Roy entrava no hotel.
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